segunda-feira, 31 de maio de 2010
LULA FALA SOBRE 3º FÓRUM MUNDIAL E SELEÇÃO BRASILEIRA
Programa de rádio “Café com o Presidente”, com o Presidente da República
Luciano Seixas: Olá, você em todo o Brasil. Eu sou Luciano Seixas e começa agora o “Café com o Presidente”, o programa de rádio do presidente Lula. Olá, Presidente, como vai? Tudo bem?
Presidente: Tudo bem, Luciano.
Luciano Seixas: Presidente, o Brasil recebeu líderes de diversos países para o 3º Fórum Mundial da Aliança de Civilizações, que terminou nessa sexta-feira, no Rio de Janeiro. O que marcou esse encontro, Presidente?
Presidente: Olha, é importante, primeiro, Luciano, saber que a Aliança de Civilizações foi uma proposta apresentada pelo presidente da Espanha, o nosso companheiro José Luiz Zapatero, durante a Assembleia Geral da ONU, após os atentados ao metrô em Madri, no ano de 2004. Já houve a primeira na Espanha, houve a segunda na Turquia, e a terceira se realizou no Brasil. A Aliança de Civilizações, na verdade, é uma resposta para aqueles países que pretenderam, um dia, dividir o mundo a partir de um suposto choque de civilizações. Luciano, é preciso que a gente tenha em mente a necessidade de construir uma cultura de paz entre as nações, estreitar as relações, apostando na continuidade do diálogo entre os diversos povos. O Brasil hoje tem competência, pela nossa própria história, história de tolerância, história de igualdade de oportunidades, e nós sabemos que todos precisam ter essas oportunidades, e são peças fundamentais para um ambiente de paz. O Brasil aposta no entendimento, e somente o diálogo é que vai fazer com que a gente cale o barulho das armas. Eu digo, todo santo dia, Luciano, que existem milhões de razões para que a gente construa a paz e não existe uma única razão que justifique a guerra. É por isso que o Brasil aposta na paz, é por isso que o Brasil aposta no diálogo, é por isso que o Brasil acredita na relação fraterna entre os Estados e entre os povos. O 3º Fórum Mundial da Aliança de Civilizações, foi muito importante ser realizado no Brasil. Tinha gente de mais de cem países do mundo inteiro, tinha 14 chefes de Estado que vieram. Então, o pessoal estava numa alegria extraordinária, participando ativamente, e eu acho que foi mais um acerto do Brasil, quando tomou a decisão de sediar o 3º Fórum [Mundial] da Aliança de Civilizações.
Luciano Seixas: Você está ouvindo o “Café com o Presidente”, o programa de rádio do presidente Lula. Presidente, na semana passada o senhor recebeu aqui no Palácio da Alvorada, em Brasília, a Seleção brasileira, antes do embarque para a Copa da África do Sul. Qual a sua mensagem para a nossa Seleção?
Presidente: Você sabe que quando vai chegando perto da Copa do Mundo, 190 milhões de brasileiros começam a pensar em futebol. E nós, brasileiros, temos a mania... somos 190 milhões de técnicos, todo mundo sabe escalar a Seleção, todo mundo julga os jogadores, todo mundo julga o técnico, sempre foi assim. A minha tese é que a primeira coisa que nós temos que fazer é todo mundo estar unido, torcendo para a Seleção brasileira ser campeã do mundo mais uma vez. Se, por acaso, não tivermos sorte de chegar à final, que a gente faça o melhor, que jogue o melhor futebol, que corramos, que dê tudo aquilo que jogador fala – “vou dar o meu melhor” –; que eles deem o melhor deles para que o povo brasileiro sinta cada vez mais orgulho da nossa Seleção. Eu tenho notado uns comentários, muita gente fica julgando a Seleção. É importante lembrar que não foram poucas as vezes em que o Brasil tinha uma Seleção considerada perfeita e não ganhou. A gente poderia pegar dois momentos importantes da Seleção brasileira que foi para a Copa do Mundo de [19]82 e [19]86, com o Telê Santana, e nós fomos desclassificados, não chegamos nem na final. Mas depois, em [19]94, nós ganhamos a Copa do Mundo, jogando não um futebol muito vistoso, não um futebol como nós estávamos acostumados a ver jogar. O dado concreto é que nós trouxemos a Copa do Mundo. Para o povo brasileiro o que interessa é isso. Não adianta nada a gente ganhar de 6 ou 7X0, como ganhamos da Espanha em 1950, e na final perder de 2X1 para o Uruguai.
Então, eu quero que a gente ganhe a Copa do Mundo. Eu acho que o Dunga convocou o que nós temos de melhor jogando nesse momento. A gente pode, se comparar com Pelé, se comparar com Garrincha, se comparar com não sei quem, você pode dizer: está faltando alguém. Mas, veja, nós estamos convocando o time que está jogando bola atualmente. Eu acho que ele convocou um time, um time em que ele tem confiança, um time, eu diria, coeso. Não é um time das grandes individualidades, mas é um time de trabalho conjunto. O pessoal está motivado, o Dunga tem o controle do time. Eu, sinceramente, acho que o Brasil pode fazer um papel extraordinário. Eu estou indo à África no dia 11. Eu tenho uma visita de chefe de Estado no dia 09 e pretendo ficar lá para ver a final. Deus queira que seja, a final, [entre o] Brasil e outro time qualquer. Mas eu terei que ficar para a final, independentemente de ser o Brasil, porque o Brasil será o próximo país a realizar a Copa do Mundo. De qualquer forma, eu estou esperançoso. Vou assistir todos os jogos. Dedicarei meu tempinho na hora do jogo para poder assistir e torcer pelo Brasil, e esperar que a gente possa ganhar mais uma vez. Eu só posso desejar aos jogadores toda a sorte do mundo, que aqui tem muita gente torcendo por eles, muita gente.
Luciano Seixas: Muito obrigado, presidente Lula, e até a próxima semana.
Presidente: Obrigado a você, Luciano, e até a próxima semana."
FONTE: publicado hoje (31/05) no "Blog do Planalto".
ONU FAZ REUNIÃO DE EMERGÊNCIA SOBRE A MATANÇA ISRAELENSE DOS PACIFISTAS
"Conselho de Segurança da ONU faz reunião de emergência sobre Gaza
O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas se reunirá na tarde desta segunda-feira em uma sessão de emergência para discutir o ataque de Israel contra um comboio de navios que levavam ajuda humanitária a Gaza, disseram diplomatas do Conselho de Segurança à Reuters.
O horário da reunião ainda não foi agendado, e não foram dados maiores detalhes.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, fez um apelo nesta segunda-feira por uma investigação completa e mostrou-se chocado com o ataque israelense, que matou ao menos dez pessoas.
"É vital que haja uma investigação completa para determinar exatamente como o ataque ocorreu. Eu acredito que Israel deve fornecer urgentemente uma explicação", disse ele em coletiva de imprensa realizada na capital de Uganda, Kampala.
O secretário-geral está em Kampala para participar de uma conferência de revisão do Tribunal Penal Internacional (ICC, sigla em inglês).
Ataque
O Exército de Israel atacou na madrugada desta segunda-feira um comboio de barcos organizado pela ONG Free Gaza, um grupo de seis navios, liderados por uma embarcação turca, que transportava mais de 750 pessoas e 10 mil toneladas de ajuda humanitária para a faixa de Gaza, deixando ao menos dez mortos e cerca de 30 feridos.
Arte/Folha
O grupo tentava furar o bloqueio de Israel à entrega de mercadorias aos palestinos. De acordo com a imprensa turca o ataque ocorreu em águas internacionais, mas as forças de defesa de Israel mantêm que as embarcações tinham invadido seu território.
A imprensa turca mostrou imagens captadas dentro do navio turco Mavi Marmara, nas quais se viam os soldados israelenses abrindo fogo. Em Istambul cerca de 10 mil pessoas protestaram contra os ataques.
O presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, decretou três dias de luto nos territórios palestinos devido ao ataque israelense à "Frota da Liberdade".
Em comunicado emitido na cidade cisjordaniana de Ramallah através da agência oficial palestina "Wafa", Abbas não anunciou, no entanto, uma interrupção do diálogo indireto de paz que mantém com Israel.
EUA
Os Estados Unidos lamentaram a ação e indicaram que uma investigação deve apurar os detalhes da ação militar.
"Os EUA [jamais condenam e sempre apóiam Israel em suas sangrentas invasões e ocupações das terras palestinas] mas [para efeito de mídia] 'lamentam profundamente a perda de vidas humanas e o saldo de feridos', e neste momento tentam entender as circunstâncias em que esta tragédia ocorreu", sinalizou o porta-voz da Casa Branca, Bill Burton.
O ataque também motivou forte reação na comunidade internacional. A Turquia já pediu à ONU (Organização das Nações Unidas), uma reunião urgente sobre o tema.
A alta comissária para os Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay, se manifestou, e em seu discurso na abertura da 14ª sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU disse estar "comovida" com as informações do ataque, que provocou "mortos e feridos".
Irã
O ministro de Defesa do Irã fez nesta segunda-feira um apelo à comunidade internacional para que cortem todas as relações com Israel após a morte de ativistas que levavam ajuda humanitária à faixa de Gaza a bordo de navios nesta segunda-feira.
"O mínimo que a comunidade internacional deveria fazer com relação ao horrível crime cometido pelo regime sionista é boicotá-lo e cortar todas as relações diplomáticas, econômicas e políticas", disse Ahmad Vahidi, segundo a agência semi-oficial de notícias Irna.
Anteriormente, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, denunciou o ataque do Exército israelense contra a frota, qualificando-o de um "ato desumano do regime sionista".
"O ato desumano do regime sionista contra o povo palestino e o fato de impedir que a ajuda humanitária destinada à população chegasse a Gaza não é um sinal de força, e sim de fragilidade deste regime", declarou Ahmadinejad.
"Tudo isto mostra que o fim deste sinistro regime fantoche está mais perto do que nunca", acrescentou."
FONTE: divulgado hoje (3105) pela agência norte-americana de notícias REUTERS, nas NAÇÕES UNIDAS, e postado no portal UOL [título e entre colchetes colocados por este blog].
AS REAÇÕES SOBRE OS ASSASSINATOS DE PACIFISTAS POR ISRAEL
[Gaza: conheça algumas reações internacionais ao ataque militar israelense à frota de ajuda humanitária à Palestina invadida, ocupada e bloqueada por Israel]
"Ao menos 10 pessoas morreram quando forças de Israel interceptaram e atacaram [em águas internacionais] um comboio de embarcações que levava ajuda humanitária à Faixa de Gaza. Um barco turco que liderava a frota estava entre os atacados. Houve forte reação internacional ao incidente. Conheça algumas delas.
Ministério das Relações Exteriores da Turquia
"Condenamos com veemência essas práticas desumanas de Israel. Esse incidente deplorável, que aconteceu em mar aberto e constitui uma violação flagrante das leis internacionais, pode levar a consequências irreparáveis em nossas relações bilaterais".
Greta Berlin, porta-voz do Movimento Free Gaza
"É revoltante que eles tenham abordado e atacado civis. Somos civis.
Como o Exército de Israel pode atacar civis assim? Eles acham que porque podem atacar palestinos indiscriminadamente podem atacar qualquer um?"
Saeb Erekat, negociador-chefe palestino
"O que vimos essa manhã foi um crime de guerra. Esses eram barcos civis, carregando civis e bens civis - remédios, cadeiras de roda, comida, material de construção - destinados aos 1,5 milhão de palestinos confinados sob um cerco cruel e criminoso de Israel. E, por conta disso, muitos pagaram com suas vidas. O que Israel faz em Gaza é chocante; nenhum ser humano decente e informado pode dizer o contrário.
Os civis desarmados foram atacados em barcos estrangeiros enquanto navegavam em águas internacionais. Esse é um outro incidente que confirma que Israel age como um Estado acima da lei. A comunidade internacional deve tomar medidas rápidas e apropriadas".
Mark Regev, porta-voz do primeiro-ministro de Israel
"Apesar de nossos marinheiros [invasores de assalto às embarcações pacifistas que estavam em águas internacionais] terem sido instruídos a exercer controle máximo [de todos os pacifistas], eles foram "atacados". [Durante a invasão militar das forças aerotransportadas de Israel aos navios dos pacifistas] Eles [fortemente armados] foram "atacados" com facas, com barras de metal e com armas de fogo" [risos].
"Infelizmente temos 10 militares feridos, um deles muito, muito seriamente. A violência [de resistência nos navios às forças militares israelenses invasoras] foi iniciada, infelizmente, por esses ativistas, e isso é lamentável" [risos].
Sami Abu Zuhri, porta-voz do Hamas
"Nós no Hamas consideramos o ataque de Israel à frota da liberdade como um grande crime e uma enorme violação da lei internacional. Apesar do grande dano sofrido pelas pessoas que se juntaram à frota, consideramos que sua mensagem foi passada.
Graças a esses heróis de outros países que mostraram sua solidariedade para com Gaza, o cerco de Israel é agora um assunto internacional, e consideramos que os ocupantes, por causa desse crime, é que estão sitiados agora".
Escritório da Baronesa Ashton, Alta Representante para Relações Exteriores da União Européia
"A Alta Representante Catherine Ashton expressa seu profundo pesar diante da notícia da perda de vidas e da violência e envia suas condolências às famílias dos mortos e feridos. Em nome da União Européia, ela exige um inquérito extenso sobre as circunstâncias do incidente.
Ela reitera a posição da União Européia em relação a Gaza - a política de bloqueio contínua é inaceitável e politicamente contraproducente. Ela pede uma abertura imediata, sustentável e incondicional das fronteiras para permitir o fluxo de ajuda humanitária, bens comerciais e pessoas de e para Gaza".
Amr Moussa, secretário-geral da Liga Árabe
"O secretário-geral da Liga Árabe convocou uma reunião urgente no nível de representantes para investigar esse crime hediondo cometido pelas forças de Israel contra civis desarmados, que deixou mortos e feridos. A Liga Árabe condena fortemente esse ato terrorista".
Altos oficiais da ONU Robert Serry e Filippo Grandi
"Estamos chocados com os relatos de mortos e feridos entre pessoas a bordo de barcos carregando suprimentos para Gaza, aparentemente em águas internacionais. Condenamos a violência e exigimos seu fim. A situação ainda está se desenrolando e estamos esperando confirmação do que aconteceu.
Desejamos deixar claro que tais tragédias são inteiramente evitáveis se Israel aceitar os chamados repetidos da comunidade internacional para pôr fim a esse bloqueio contrapoducente e inaceitável de Gaza".
Navi Pillay, alto comissário da ONU para Direitos Humanos
"Para estimular a reconciliação política a longo prazo, exorto o governo (de Israel) a garantir que uma investigação independente dos recentes episódios seja conduzida, e que os considerados responsáveis por violações dos direitos humanos sejam julgados".
Bernard Kouchner, ministro das Relações Exteriores da França
"Estou profundamente chocado com as trágicas consequências da operação militar de Israel contra a frota de paz para Gaza. Nada pode justificar o uso de violência como essa, o que condenamos.
As circunstâncias desse drama devem ser totalmente esclarecidas e desejamos que um inquérito em profundidade seja estabelecido sem atraso".
Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irã
"A ação desumana do regime sionista contra o povo palestino, impedindo que ajuda humanitária chegue aos moradores de Gaza, mostra não a força desse regime, mas sim um sinal de sua fraqueza, e tudo isso leva esse regime sinistro e falso para mais perto de seu fim do que nunca".
FONTE: publicado hoje (31/05) no portal UOL [título e entre colchetes colocados por este blog].
BRASIL VIRA MODELO PARA OS ARGENTINOS
País deixou de olhar a Europa e os EUA como exemplo e passou a admirar o vizinho
"Há 100 anos a Argentina se empenhava em imitar a Europa. Empresários, políticos e formadores de opinião sustentavam que o estilo de administração governamental e empresarial a seguir era o europeu.
A diplomacia local tentava adular o governo britânico com a esperança de entrar para o Commonwealth (comunidade britânica) e ter um pedaço permanente desse mercado. Nos anos 30, o chanceler Julio Roca provocou polêmica ao afirmar que a Argentina era “uma das joias da coroa britânica”.
Essa ideia de estar ligada à Europa por uma espécie de cordão umbilical comercial e cultural persistiu ao longo de nove décadas e intercalava-se com admirações pelos Estados Unidos.
O Brasil, durante o século 20, foi encarado inicialmente com desprezo e depois como rival econômico e político. Mas a crise de 2001-2002 alterou os modelos argentinos.
O país deixou de olhar para o Velho Continente e os EUA como exemplos. O Brasil deixou de ser visto como rival e começou a ser avaliado como líder regional e o novo modelo a seguir.
Muitos argentinos indicam que já existe uma relação de dependência com o Brasil. Um dos primeiros a trazer a imagem a público foi o empresário Franco Macri – símbolo do capitalismo local nos anos 90 – que, em 1995, afirmou: “Em breve, a Argentina se transformará no Estado número 27 do Brasil.” Há um mês, Macri repetiu o conceito, mas como fato consumado: “A Argentina é uma província do Brasil.”
Nos últimos meses, o peso crescente do Brasil no cenário mundial, junto com a expansão das empresas brasileiras na Argentina, fez com que o modelo agora seja o brasileiro. Jornais, revistas e programas de TV em Buenos Aires dedicam grande espaço ao “sucesso” do Brasil.
O analista Rosendo Fraga, diretor do Centro de Estudos Nueva Mayoría, ressaltou ao Estado como o cenário entre os dois países deu um giro de 180 graus em um século: “Em 1910, o PIB argentino era o dobro do brasileiro. Mas em 2010 o PIB argentino é a quinta parte do brasileiro”.
Série de crises. As desventuras argentinas acentuaram-se a partir de 1975, quando começou uma série de seis pesadas crises econômicas, acompanhadas de turbulências políticas que implicaram a passagem de 16 presidentes (o Brasil teve sete presidentes nesse período). Além de fuga de divisas, a Argentina sofreu um êxodo de profissionais que minou a capacidade técnica do país.
No entanto, apesar das crises, o país consegue manter elevado IDH (índice de desenvolvimento da humano, que mede a qualidade de vida da população). No índice elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a Argentina ocupa o posto número 49 entre 180 países, o segundo lugar na América Latina, atrás do Chile (no ranking mundial, o Brasil está no 75.º lugar). Mas, quando o índice começou a ser elaborado, há 20 anos, a Argentina estava no 38.º lugar nesse ranking.
Sem estratégias. O ex-vice-ministro da Economia Orlando Ferreres disse ao Estado que, ao contrário do Brasil, a Argentina “careceu de estratégias de longo prazo”.
Segundo o economista, por esse motivo o país vive um cenário no qual até a carne – símbolo nacional – possui uma presença cada vez maior do Brasil: “Frigoríficos argentinos são comprados por empresas brasileiras, com respaldo do BNDES, organismo que invejamos, sem similar na Argentina.”
Ceferino Reato, autor da primeira biografia de Lula escrita fora do Brasil – Lula, a Esquerda no Divã -, disse que os argentinos admiram do Brasil “a pujança dos empresários, a estabilidade econômica, o bom ambiente para negócios. Na política, admiramos o estilo negociador e conciliador das elites brasileiras.”
Os líderes da oposição na Argentina elogiam o Brasil para, por tabela, criticar o governo da presidente Cristina Kirchner. Mas esse fenômeno também é usado na contramão pela presidente Cristina, que há uma semana afirmou ter “melhor relacionamento com os empresários brasileiros que investem na Argentina do que com os próprios industriais argentinos”.
No discurso de lançamento de campanha, em 2007, Cristina Kirchner citou uma única empresa – a Embraer – como modelo a ser imitado.
Produtos brasileiros. Os produtos “made in Brazil” já fazem parte do cotidiano dos argentinos e resistem a qualquer tentativa de boicote. Ao longo da década, em várias ocasiões, sindicatos e associações empresariais tentaram deflagrar campanhas contra produtos brasileiros. Todas fracassaram.
Um portenho pode acordar de manhã, lavar o rosto e secá-lo com uma toalha da Coteminas, produzida na Província de Santiago del Estero.
Depois, poderá vestir um jeans (70% do denim argentino está em mãos de empresas brasileiras) e colocar nos pés um calçado produzido pela indústria brasileira Paquetá em Chivilcoy. Na sequência, ao sair de casa em seu automóvel, abasteceria o tanque em um posto de gasolina da Petrobrás.
Na hora do almoço, em restaurante construído com cimento da Loma Negra (comprada pela Camargo Correa), poderia saborear um bife de um dos vários frigoríficos brasileiros – entre eles o Friboi e Marfrig – que nos últimos anos adquiriram empresas na Argentina. Na hora de pagar, poderá fazê-lo com seu cartão de débito do banco Itaú."
FONTE: reportagem de Ariel Palacios publicada no "O Estado de S.Paulo" e postada no blog de Luis Favre.
"Há 100 anos a Argentina se empenhava em imitar a Europa. Empresários, políticos e formadores de opinião sustentavam que o estilo de administração governamental e empresarial a seguir era o europeu.
A diplomacia local tentava adular o governo britânico com a esperança de entrar para o Commonwealth (comunidade britânica) e ter um pedaço permanente desse mercado. Nos anos 30, o chanceler Julio Roca provocou polêmica ao afirmar que a Argentina era “uma das joias da coroa britânica”.
Essa ideia de estar ligada à Europa por uma espécie de cordão umbilical comercial e cultural persistiu ao longo de nove décadas e intercalava-se com admirações pelos Estados Unidos.
O Brasil, durante o século 20, foi encarado inicialmente com desprezo e depois como rival econômico e político. Mas a crise de 2001-2002 alterou os modelos argentinos.
O país deixou de olhar para o Velho Continente e os EUA como exemplos. O Brasil deixou de ser visto como rival e começou a ser avaliado como líder regional e o novo modelo a seguir.
Muitos argentinos indicam que já existe uma relação de dependência com o Brasil. Um dos primeiros a trazer a imagem a público foi o empresário Franco Macri – símbolo do capitalismo local nos anos 90 – que, em 1995, afirmou: “Em breve, a Argentina se transformará no Estado número 27 do Brasil.” Há um mês, Macri repetiu o conceito, mas como fato consumado: “A Argentina é uma província do Brasil.”
Nos últimos meses, o peso crescente do Brasil no cenário mundial, junto com a expansão das empresas brasileiras na Argentina, fez com que o modelo agora seja o brasileiro. Jornais, revistas e programas de TV em Buenos Aires dedicam grande espaço ao “sucesso” do Brasil.
O analista Rosendo Fraga, diretor do Centro de Estudos Nueva Mayoría, ressaltou ao Estado como o cenário entre os dois países deu um giro de 180 graus em um século: “Em 1910, o PIB argentino era o dobro do brasileiro. Mas em 2010 o PIB argentino é a quinta parte do brasileiro”.
Série de crises. As desventuras argentinas acentuaram-se a partir de 1975, quando começou uma série de seis pesadas crises econômicas, acompanhadas de turbulências políticas que implicaram a passagem de 16 presidentes (o Brasil teve sete presidentes nesse período). Além de fuga de divisas, a Argentina sofreu um êxodo de profissionais que minou a capacidade técnica do país.
No entanto, apesar das crises, o país consegue manter elevado IDH (índice de desenvolvimento da humano, que mede a qualidade de vida da população). No índice elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a Argentina ocupa o posto número 49 entre 180 países, o segundo lugar na América Latina, atrás do Chile (no ranking mundial, o Brasil está no 75.º lugar). Mas, quando o índice começou a ser elaborado, há 20 anos, a Argentina estava no 38.º lugar nesse ranking.
Sem estratégias. O ex-vice-ministro da Economia Orlando Ferreres disse ao Estado que, ao contrário do Brasil, a Argentina “careceu de estratégias de longo prazo”.
Segundo o economista, por esse motivo o país vive um cenário no qual até a carne – símbolo nacional – possui uma presença cada vez maior do Brasil: “Frigoríficos argentinos são comprados por empresas brasileiras, com respaldo do BNDES, organismo que invejamos, sem similar na Argentina.”
Ceferino Reato, autor da primeira biografia de Lula escrita fora do Brasil – Lula, a Esquerda no Divã -, disse que os argentinos admiram do Brasil “a pujança dos empresários, a estabilidade econômica, o bom ambiente para negócios. Na política, admiramos o estilo negociador e conciliador das elites brasileiras.”
Os líderes da oposição na Argentina elogiam o Brasil para, por tabela, criticar o governo da presidente Cristina Kirchner. Mas esse fenômeno também é usado na contramão pela presidente Cristina, que há uma semana afirmou ter “melhor relacionamento com os empresários brasileiros que investem na Argentina do que com os próprios industriais argentinos”.
No discurso de lançamento de campanha, em 2007, Cristina Kirchner citou uma única empresa – a Embraer – como modelo a ser imitado.
Produtos brasileiros. Os produtos “made in Brazil” já fazem parte do cotidiano dos argentinos e resistem a qualquer tentativa de boicote. Ao longo da década, em várias ocasiões, sindicatos e associações empresariais tentaram deflagrar campanhas contra produtos brasileiros. Todas fracassaram.
Um portenho pode acordar de manhã, lavar o rosto e secá-lo com uma toalha da Coteminas, produzida na Província de Santiago del Estero.
Depois, poderá vestir um jeans (70% do denim argentino está em mãos de empresas brasileiras) e colocar nos pés um calçado produzido pela indústria brasileira Paquetá em Chivilcoy. Na sequência, ao sair de casa em seu automóvel, abasteceria o tanque em um posto de gasolina da Petrobrás.
Na hora do almoço, em restaurante construído com cimento da Loma Negra (comprada pela Camargo Correa), poderia saborear um bife de um dos vários frigoríficos brasileiros – entre eles o Friboi e Marfrig – que nos últimos anos adquiriram empresas na Argentina. Na hora de pagar, poderá fazê-lo com seu cartão de débito do banco Itaú."
FONTE: reportagem de Ariel Palacios publicada no "O Estado de S.Paulo" e postada no blog de Luis Favre.
GALBRAITH: "O PERIGO QUE O DÉFICIT PÚBLICO REPRESENTA É ZERO"
"Em entrevista ao jornal Washington Post, o economista norte-americano James K. Galbraith, critica a receita ortodoxa que recomenda o corte de gastos públicos como maneira de enfrentar a crise. Para ele, trata-se de uma receita totalmente falaciosa e que está sendo imposta neste momento a vários países. "Isso está ocorrendo agora na Europa e é desolador. Exige-se que os gregos cortem 10% do gasto público em poucos anos. E se supõe que isso não afetará o PIB. É evidente que afetará. E estão obrigando a Espanha a fazer o mesmo", critica.
Ezra Klein - Washington Post
“A idéia de que as dificuldades de financiamento (do Estado) emanam dos déficits públicos é um argumento apoiado em uma metáfora muito potente, mas não nos fatos, não na teoria e não na experiência cotidiana.”
“A receita que se sugere agora, de que é possível cortar o gasto público sem cortar a atividade econômica é completamente falaciosa. Isso está ocorrendo agora na Europa e é desolador. Exige-se que os gregos cortem 10% do gasto público em poucos anos. E se supõe que isso não afetará o PIB. É evidente que afetará. E afetará de uma maneira tal que eles não terão os ingressos fiscais necessários para financiar sequer um nível mais baixo de gasto público. E estão obrigando a Espanha a fazer o mesmo. A zona do euro caminha para o abismo.”
Um dos principais economistas de nosso tempo destrói sem contemplações o mito do déficit público e zomba da incompetência de seus colegas. Ezra Klein entrevistou James Galbraith para o jornal Washington Post. Reproduzimos a entrevista abaixo:
WP - Você acredita que o perigo representado pelo déficit no longo prazo está sendo superestimado pela maioria dos economistas e jornalistas econômicos?
JG - Não. O que eu acredito é que o perigo é zero e não que esteja sendo superestimado. Essa questão está muito mal posta.
WP - Por que?
JG - Qual é a natureza do perigo? A única resposta possível é que este déficit maior possa causar um aumento das taxas de juro. Bem, se os mercados achassem que isso representa um risco sério, as taxas de juro sobre os bônus do Tesouro a 20 anos não seriam de 4% e começariam a mudar agora mesmo. Se os mercados pensassem que as taxas de juro sofrem pressões por problemas de financiamento daqui a dez anos, isso se refletiria já em um aumento dos juros para os bônus de 20 anos. O que tem ocorrido, ao invés disso, é que os juros têm baixado em conseqüência da crise européia.
Assim, há duas possibilidades. Uma é que a teoria está equivocada. A outra é que o mercado é irracional. E se o mercado é irracional, não faz sentido desenhar uma política para adequar-se aos mercados, porque não cabe adequar-se a uma entidade irracional.
WP - Mas por que a maioria de seus colegas está tão preocupada com isso então?
JG - Aprofundemos um pouco os prognósticos do Escritório Orçamentário do Congresso. Trata-se de um conjunto de projeções. Uma delas é que a economia voltará a níveis normais de elevado emprego com baixa inflação nos próximos dez anos. Se é verdade, seriam notícias muito boas. Algumas linhas abaixo, vemos que também prevêem taxas de juro de curto prazo em alta até 5%.
O que gera esses prognósticos de enormes déficits futuros é esta combinação entre taxas de juro altas no curto prazo e inflação baixa. E esses prognósticos se baseiam na suposição de que os custos da assistência de saúde crescerão para sempre a uma taxa maior do que qualquer outra coisa, e também na suposição de que os juros de devolução da dívida representarão algo entre 21 e 25% do PIB.
Neste ponto, a coisa se torna completamente incoerente. Não se pode passar cheques para todo o mundo sem que o dinheiro entre na economia e aumente o emprego e a inflação. E se isso ocorre, então a proporção da dívida em relação ao PIB tem de decrescer, porque a inflação afeta o volume de nossa dívida. Todas essas cifras hão de se agrupar numa história coerente, e os prognósticos do Gabinete Orçamentário do Congresso não a oferece, de maneira que qualquer coisa que se diga, baseada neles é, falando estritamente, sem sentido.
WP – Não poderia haver um meio termo entre o levantamento do Gabinete Orçamentário do Congresso e a idéia de que a dívida não representa problema algum? Parece claro, por exemplo, que os custos da assistência em saúde seguirão crescendo mais rapidamente que os outros setores da economia.
JG – Não. Não é razoável. A proporção dos custos da assistência em saúde em relação ao PIB e a inflação cresceriam até que a taxa de inflação se aproximasse da assistência em saúde. E se a assistência em saúde se tornar tão cara terminemos pagando 20% do PIB, enquanto outros pagam 12%, poderíamos comprar Paris e todos os seus médicos e trasladar nossos idosos para lá.
WP – Mas deixando de lado a inflação, por acaso o hiato entre receitas e despesas não teria outros efeitos perversos?
JG – O fato de que não tenhamos financiado previamente nosso orçamento militar trouxe consigo alguma consequência terrível? Não. Há uma só autoridade orçamentária e creditícia, e a única coisa que importa é o que esta autoridade paga. Suponha que eu seja o governo federal e queira pagar a você, Ezra Klein, um bilhão de dólares para construir um porta-aviões. O que faço é transferir dinheiro para sua conta bancária. O Banco Central preocupar-se-á com isso? Terá que se preocupar com o IRS [Internal Revenue Service, a Receita Federal dos EUA]? Para gastar, o governo não precisa de dinheiro: isso é tão óbvio como que uma pista de boliche não descarrilha.
O que preocupa as pessoas é que o governo federal não seja capaz de vender títulos da dívida. Mas o governo federal não pode nunca ter problemas para vender sua dívida. Ao contrário. O gasto público é o que cria demanda bancária de títulos da dívida, porque os bancos querem rendimentos maiores para o dinheiro que o governo põe na economia. Meu pai dizia que o processo é tão sutil que a mente se bloqueia perante sua simplicidade.
WP – Que implicações políticas isso tem?
JG – Que deveríamos nos focar nos problemas reais e não nos fictícios. Temos problemas graves. O desemprego está em 10%. Muito melhor seria se nos dispuséssemos à tarefa de desenvolver políticas de emprego. E podemos fazê-lo, imediatamente.
Temos uma crise energética e uma crise climática urgentes. Deveríamos nos dedicar durante toda uma geração a enfrentar esses problemas de um modo que nos permita reconstruir paulatinamente o nosso país. Do ponto de vista fiscal, o que há que se fazer é inverter a carga tributária, que atualmente é sustentada pelos trabalhadores. Desde o começo da crise eu venho defendendo uma isenção fiscal temporária, de modo que todos experimentem um incremento em suas rendas líquidas e possam encurtar suas hipotecas seria uma coisa boa. Também há que se incentivar aos ricos para que reciclem seu dinheiro, e por isso estou a favor de um imposto sobre os bens imóveis, um imposto que tradicionalmente tem beneficiado enormemente as nossas maiores universidades e a organizações filantrópicas sem fins lucrativos. Essa é uma diferença entre a Europa e nós.
WP – Bem, creio que isso responde a minhas perguntas.
JG - Mas eu ainda tenho mais uma resposta! Desde 1970 com que frequência o governo deixou de incorrer em déficit? Em seis curtos períodos, todos seguidos de recessão. Por que? Porque o governo necessita do déficit; é a única maneira de injetar recursos financeiros na economia. Se não se incorre em déficit, o que se faz é esvaziar os bolsos do setor privado. No mês passado estive num congresso em Cambridge em que o diretor executivo do FMI disse ser contrário aos déficits e partidário do arrocho fiscal: mas ambas são a mesma coisa! O déficit público significa mais dinheiro nos bolsos privados.
A forma como agora se sugere o corte de gastos sem retrair a atividade econômica é completamente falaciosa. Agora mesmo isso é desolador na Europa. Exige-se dos gregos que cortem 10% do gasto em poucos anos. E se supõe que isso não afetará o PIB.
Evidentemente que o fará! De tal maneira que não disporão de receitas fiscais necessárias para financiar sequer o nível mais baixo de gasto. Ontem obrigou-se a Espanha a fazer o mesmo. A zona do euro está num despenhadeiro.
Por outro lado, olhe para o Japão. O país teve déficits enormes ininterruptos desde o crash de 1988. Qual foi a taxa de juros da dívida pública japonesa desde então? Zero! Não tiveram o menor problema em financiar-se. O melhor ativo que se pode possuir no Japão é o dinheiro a vista, porque o nível dos preços cai. Te dá um rendimento de 4%. A idéia de que as dificuldades de financiamento se originam nos déficits é um argumento sustentado numa metáfora muito potente, mas não nos fatos, não na teoria e não na experiência cotidiana."
FONTE: entrevista de Ezra Klein, do Washington Post, com James K. Galbraith, professor de economia na Lyndon B. Johnson School of Public Affairs, da Universidade do Texas, em Austin. Publicado no site "Carta Maior" com tradução de Katarina Peixoto.
Ezra Klein - Washington Post
“A idéia de que as dificuldades de financiamento (do Estado) emanam dos déficits públicos é um argumento apoiado em uma metáfora muito potente, mas não nos fatos, não na teoria e não na experiência cotidiana.”
“A receita que se sugere agora, de que é possível cortar o gasto público sem cortar a atividade econômica é completamente falaciosa. Isso está ocorrendo agora na Europa e é desolador. Exige-se que os gregos cortem 10% do gasto público em poucos anos. E se supõe que isso não afetará o PIB. É evidente que afetará. E afetará de uma maneira tal que eles não terão os ingressos fiscais necessários para financiar sequer um nível mais baixo de gasto público. E estão obrigando a Espanha a fazer o mesmo. A zona do euro caminha para o abismo.”
Um dos principais economistas de nosso tempo destrói sem contemplações o mito do déficit público e zomba da incompetência de seus colegas. Ezra Klein entrevistou James Galbraith para o jornal Washington Post. Reproduzimos a entrevista abaixo:
WP - Você acredita que o perigo representado pelo déficit no longo prazo está sendo superestimado pela maioria dos economistas e jornalistas econômicos?
JG - Não. O que eu acredito é que o perigo é zero e não que esteja sendo superestimado. Essa questão está muito mal posta.
WP - Por que?
JG - Qual é a natureza do perigo? A única resposta possível é que este déficit maior possa causar um aumento das taxas de juro. Bem, se os mercados achassem que isso representa um risco sério, as taxas de juro sobre os bônus do Tesouro a 20 anos não seriam de 4% e começariam a mudar agora mesmo. Se os mercados pensassem que as taxas de juro sofrem pressões por problemas de financiamento daqui a dez anos, isso se refletiria já em um aumento dos juros para os bônus de 20 anos. O que tem ocorrido, ao invés disso, é que os juros têm baixado em conseqüência da crise européia.
Assim, há duas possibilidades. Uma é que a teoria está equivocada. A outra é que o mercado é irracional. E se o mercado é irracional, não faz sentido desenhar uma política para adequar-se aos mercados, porque não cabe adequar-se a uma entidade irracional.
WP - Mas por que a maioria de seus colegas está tão preocupada com isso então?
JG - Aprofundemos um pouco os prognósticos do Escritório Orçamentário do Congresso. Trata-se de um conjunto de projeções. Uma delas é que a economia voltará a níveis normais de elevado emprego com baixa inflação nos próximos dez anos. Se é verdade, seriam notícias muito boas. Algumas linhas abaixo, vemos que também prevêem taxas de juro de curto prazo em alta até 5%.
O que gera esses prognósticos de enormes déficits futuros é esta combinação entre taxas de juro altas no curto prazo e inflação baixa. E esses prognósticos se baseiam na suposição de que os custos da assistência de saúde crescerão para sempre a uma taxa maior do que qualquer outra coisa, e também na suposição de que os juros de devolução da dívida representarão algo entre 21 e 25% do PIB.
Neste ponto, a coisa se torna completamente incoerente. Não se pode passar cheques para todo o mundo sem que o dinheiro entre na economia e aumente o emprego e a inflação. E se isso ocorre, então a proporção da dívida em relação ao PIB tem de decrescer, porque a inflação afeta o volume de nossa dívida. Todas essas cifras hão de se agrupar numa história coerente, e os prognósticos do Gabinete Orçamentário do Congresso não a oferece, de maneira que qualquer coisa que se diga, baseada neles é, falando estritamente, sem sentido.
WP – Não poderia haver um meio termo entre o levantamento do Gabinete Orçamentário do Congresso e a idéia de que a dívida não representa problema algum? Parece claro, por exemplo, que os custos da assistência em saúde seguirão crescendo mais rapidamente que os outros setores da economia.
JG – Não. Não é razoável. A proporção dos custos da assistência em saúde em relação ao PIB e a inflação cresceriam até que a taxa de inflação se aproximasse da assistência em saúde. E se a assistência em saúde se tornar tão cara terminemos pagando 20% do PIB, enquanto outros pagam 12%, poderíamos comprar Paris e todos os seus médicos e trasladar nossos idosos para lá.
WP – Mas deixando de lado a inflação, por acaso o hiato entre receitas e despesas não teria outros efeitos perversos?
JG – O fato de que não tenhamos financiado previamente nosso orçamento militar trouxe consigo alguma consequência terrível? Não. Há uma só autoridade orçamentária e creditícia, e a única coisa que importa é o que esta autoridade paga. Suponha que eu seja o governo federal e queira pagar a você, Ezra Klein, um bilhão de dólares para construir um porta-aviões. O que faço é transferir dinheiro para sua conta bancária. O Banco Central preocupar-se-á com isso? Terá que se preocupar com o IRS [Internal Revenue Service, a Receita Federal dos EUA]? Para gastar, o governo não precisa de dinheiro: isso é tão óbvio como que uma pista de boliche não descarrilha.
O que preocupa as pessoas é que o governo federal não seja capaz de vender títulos da dívida. Mas o governo federal não pode nunca ter problemas para vender sua dívida. Ao contrário. O gasto público é o que cria demanda bancária de títulos da dívida, porque os bancos querem rendimentos maiores para o dinheiro que o governo põe na economia. Meu pai dizia que o processo é tão sutil que a mente se bloqueia perante sua simplicidade.
WP – Que implicações políticas isso tem?
JG – Que deveríamos nos focar nos problemas reais e não nos fictícios. Temos problemas graves. O desemprego está em 10%. Muito melhor seria se nos dispuséssemos à tarefa de desenvolver políticas de emprego. E podemos fazê-lo, imediatamente.
Temos uma crise energética e uma crise climática urgentes. Deveríamos nos dedicar durante toda uma geração a enfrentar esses problemas de um modo que nos permita reconstruir paulatinamente o nosso país. Do ponto de vista fiscal, o que há que se fazer é inverter a carga tributária, que atualmente é sustentada pelos trabalhadores. Desde o começo da crise eu venho defendendo uma isenção fiscal temporária, de modo que todos experimentem um incremento em suas rendas líquidas e possam encurtar suas hipotecas seria uma coisa boa. Também há que se incentivar aos ricos para que reciclem seu dinheiro, e por isso estou a favor de um imposto sobre os bens imóveis, um imposto que tradicionalmente tem beneficiado enormemente as nossas maiores universidades e a organizações filantrópicas sem fins lucrativos. Essa é uma diferença entre a Europa e nós.
WP – Bem, creio que isso responde a minhas perguntas.
JG - Mas eu ainda tenho mais uma resposta! Desde 1970 com que frequência o governo deixou de incorrer em déficit? Em seis curtos períodos, todos seguidos de recessão. Por que? Porque o governo necessita do déficit; é a única maneira de injetar recursos financeiros na economia. Se não se incorre em déficit, o que se faz é esvaziar os bolsos do setor privado. No mês passado estive num congresso em Cambridge em que o diretor executivo do FMI disse ser contrário aos déficits e partidário do arrocho fiscal: mas ambas são a mesma coisa! O déficit público significa mais dinheiro nos bolsos privados.
A forma como agora se sugere o corte de gastos sem retrair a atividade econômica é completamente falaciosa. Agora mesmo isso é desolador na Europa. Exige-se dos gregos que cortem 10% do gasto em poucos anos. E se supõe que isso não afetará o PIB.
Evidentemente que o fará! De tal maneira que não disporão de receitas fiscais necessárias para financiar sequer o nível mais baixo de gasto. Ontem obrigou-se a Espanha a fazer o mesmo. A zona do euro está num despenhadeiro.
Por outro lado, olhe para o Japão. O país teve déficits enormes ininterruptos desde o crash de 1988. Qual foi a taxa de juros da dívida pública japonesa desde então? Zero! Não tiveram o menor problema em financiar-se. O melhor ativo que se pode possuir no Japão é o dinheiro a vista, porque o nível dos preços cai. Te dá um rendimento de 4%. A idéia de que as dificuldades de financiamento se originam nos déficits é um argumento sustentado numa metáfora muito potente, mas não nos fatos, não na teoria e não na experiência cotidiana."
FONTE: entrevista de Ezra Klein, do Washington Post, com James K. Galbraith, professor de economia na Lyndon B. Johnson School of Public Affairs, da Universidade do Texas, em Austin. Publicado no site "Carta Maior" com tradução de Katarina Peixoto.
SADER: "OS FUKUYAMAS TUCANOS"
“O governo Lula, que tomou posse em 2003, acabou antes da hora”.
“O governo Lula acabou.”
As duas afirmações foram feitos no delírio que tomou conta de grande parte da imprensa tucana em 2005, o que levou a muitos espasmos de ejaculação precoce. A primeira, de um livro de uma empregada da empresa familiar dos Marinhos, a nunca suficientemente sóbria Lucia Hippolito.
Publicada no auge do que acreditavam seria a crise terminal do governo Lula, no livro “Por dentro do governo Lula”, sugerindo que a perspicaz personagem tinha captado as entranhas do governo, pela sua suposta formação de historiadora. O subtítulo reitera esse olhar privilegiado – “Anotações num Diário de Bordo”, o que pode explicar a pouca sobriedade, provocada pelo vai e vem da viagem.
A segunda afirmação foi feita por um amiguinho, dando uma força para a coleguinha, tomando euforicamente como um fato o fim do governo. O texto é de Ricardo Noblat, na quarta capa do desafortunado livro da pouco sensata funcionária da mesma empresa que ele.
Ao que se saiba, passados cinco anos, nenhum dos dois fez autocrítica, reconsiderou suas apreciações, considerou que tinham tido um acesso de onipotência e que tinham se equivocado redondamente. Nada disso. Seguem adiante com suas argutas “análises” cobrando seus salários da mesma empresa, como se não tivesse errado redondamente.
Ninguém acredita no que dizem eles e seus colegas na mídia direitista. Todos eles acreditavam que o governo Lula era um gigante de pés de barro, sem apoio popular, totalmente entregue às ameaças da oposição, inevitavelmente condenado ao impeachment ou a sangrar continuamente até eleições em que ou Lula sequer seria candidato ou seu candidato seria facilmente derrotado pela oposição – por Alckmin ou por Serra.
Acreditavam que Lula seria um outro Jânio ou um outro Collor – heróis efêmeros dessa mesma mídia.
Não decifraram o enigma Lula e foram devorados por ele. Lula deu a volta por cima e ascendeu dos 28% de apoio a que chegou a estar reduzido no auge da crise de 2005 aos mais de 80% atuais. Quando a oposição mandou mensageiros com a proposta de capitulação ao Lula – retira-se a proposta do impeachment e Lula renunciaria a candidatar-se a um segundo mandato, proposta que não foi levada pela Dilma, que esteve sempre alinhada com Lula, ao contrário do que disse a venenosa reportagem do Valor -, ouviu um palavrão daqueles do Lula, que disse que viraria o país de cabeça para baixo.
E virou. Não apenas no apelo ao apoio popular, mas sobre tudo pelas políticas sociais, que haviam começado a deslanchar com as mudanças no governo, especialmente com o papel de coordenação que passou a ter a Dilma no governo.
Supostos analistas políticos que cometem erros desse calibre, não se emendam, não renunciaram a seus cargos, continuam na mesma toada, revelam como não conhecem o país e tampouco a política, o poder, o governo e o povo brasileiro.
Acreditavam, como Fukuyamas tucanos, que o governo Lula tinha acabado, que seus amigos tucanos voltariam ao poder e o país voltaria a ser deles. Seus patrões já preparavam os apressados cadernos com a necrologia do governo Lula. Como havia dito um ex-ministro da ditadura: “Uma hora o PT teria que ganhar, fracassaria e os deixaria governar o país sem oposição popular”.
Se equivocaram e, pelo que tudo indica, continuam a equivocar-se. Lula não manteria sua popularidade com a crise internacional. Manteve e consolidou o apoio ao governo.
Lula não transferiria sua popularidade para a Dilma. Transfere. Dilma, como nunca se havia candidatado, não seria uma boa candidata. Ela se revela excelente candidata. Serra mostraria ser experiente, tranqüilo, seguro. Ele se revela destemperado, inseguro, intranqüilo.
A história não acabou, o governo Lula não “acabou antes da hora”, tem tudo para eleger sua sucessora. Os corvos ladram, a caravana passa."
FONTE: escrito pelo cientista político Emir Sader e publicado no site "Carta Maior".
“O governo Lula acabou.”
As duas afirmações foram feitos no delírio que tomou conta de grande parte da imprensa tucana em 2005, o que levou a muitos espasmos de ejaculação precoce. A primeira, de um livro de uma empregada da empresa familiar dos Marinhos, a nunca suficientemente sóbria Lucia Hippolito.
Publicada no auge do que acreditavam seria a crise terminal do governo Lula, no livro “Por dentro do governo Lula”, sugerindo que a perspicaz personagem tinha captado as entranhas do governo, pela sua suposta formação de historiadora. O subtítulo reitera esse olhar privilegiado – “Anotações num Diário de Bordo”, o que pode explicar a pouca sobriedade, provocada pelo vai e vem da viagem.
A segunda afirmação foi feita por um amiguinho, dando uma força para a coleguinha, tomando euforicamente como um fato o fim do governo. O texto é de Ricardo Noblat, na quarta capa do desafortunado livro da pouco sensata funcionária da mesma empresa que ele.
Ao que se saiba, passados cinco anos, nenhum dos dois fez autocrítica, reconsiderou suas apreciações, considerou que tinham tido um acesso de onipotência e que tinham se equivocado redondamente. Nada disso. Seguem adiante com suas argutas “análises” cobrando seus salários da mesma empresa, como se não tivesse errado redondamente.
Ninguém acredita no que dizem eles e seus colegas na mídia direitista. Todos eles acreditavam que o governo Lula era um gigante de pés de barro, sem apoio popular, totalmente entregue às ameaças da oposição, inevitavelmente condenado ao impeachment ou a sangrar continuamente até eleições em que ou Lula sequer seria candidato ou seu candidato seria facilmente derrotado pela oposição – por Alckmin ou por Serra.
Acreditavam que Lula seria um outro Jânio ou um outro Collor – heróis efêmeros dessa mesma mídia.
Não decifraram o enigma Lula e foram devorados por ele. Lula deu a volta por cima e ascendeu dos 28% de apoio a que chegou a estar reduzido no auge da crise de 2005 aos mais de 80% atuais. Quando a oposição mandou mensageiros com a proposta de capitulação ao Lula – retira-se a proposta do impeachment e Lula renunciaria a candidatar-se a um segundo mandato, proposta que não foi levada pela Dilma, que esteve sempre alinhada com Lula, ao contrário do que disse a venenosa reportagem do Valor -, ouviu um palavrão daqueles do Lula, que disse que viraria o país de cabeça para baixo.
E virou. Não apenas no apelo ao apoio popular, mas sobre tudo pelas políticas sociais, que haviam começado a deslanchar com as mudanças no governo, especialmente com o papel de coordenação que passou a ter a Dilma no governo.
Supostos analistas políticos que cometem erros desse calibre, não se emendam, não renunciaram a seus cargos, continuam na mesma toada, revelam como não conhecem o país e tampouco a política, o poder, o governo e o povo brasileiro.
Acreditavam, como Fukuyamas tucanos, que o governo Lula tinha acabado, que seus amigos tucanos voltariam ao poder e o país voltaria a ser deles. Seus patrões já preparavam os apressados cadernos com a necrologia do governo Lula. Como havia dito um ex-ministro da ditadura: “Uma hora o PT teria que ganhar, fracassaria e os deixaria governar o país sem oposição popular”.
Se equivocaram e, pelo que tudo indica, continuam a equivocar-se. Lula não manteria sua popularidade com a crise internacional. Manteve e consolidou o apoio ao governo.
Lula não transferiria sua popularidade para a Dilma. Transfere. Dilma, como nunca se havia candidatado, não seria uma boa candidata. Ela se revela excelente candidata. Serra mostraria ser experiente, tranqüilo, seguro. Ele se revela destemperado, inseguro, intranqüilo.
A história não acabou, o governo Lula não “acabou antes da hora”, tem tudo para eleger sua sucessora. Os corvos ladram, a caravana passa."
FONTE: escrito pelo cientista político Emir Sader e publicado no site "Carta Maior".
DIREITA DEFENDE MENSALEIRO-MOR DEMOTUCANO
"Rodrigo Maia se cala sobre denúncia; direita busca socorrê-lo
"O presidente nacional do DEM, deputado federal Rodrigo Maia (RJ) foi acusado de envolvimento no ‘Mensalão do DEM’, escândalo que levou à cassação do ex-governador do Distrito Federal (DF), José Roberto Arruda (ex-DEM). A acusação foi feita por Durval Barbosa, delator do esquema, que em declaração ao jornal ‘O Estado de S Paulo’ disse que o filho do ex-prefeito Cesar Maia seria um dos beneficiários do esquema. “O acerto do Rodrigo era direto com o Arruda”, disse.
No sábado, após a publicação das denúncias, partidos de oposição saíram em defesa do deputado. Através de nota, os líderes do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), e na Câmara dos Deputados, Paulo Bornhausen (SC),repudiaram a denúncia e disseram que têm “a mais absoluta e inabalável confiança na correição” do presidente do partido. A nota foi endossada pelo presidente de honra da legenda, Jorge Bornhausen (SC), e pelo ex-vice-presidente da República, Marco Maciel (PE).
O PSDB também defendeu Maia, mas de forma tímida. “Minha opinião é que não podemos antecipar nenhum julgamento. Temos que aguardar e continuar acreditando no presidente do DEM”, disse o senador Álvaro Dias (PR), vice-líder do PSDB no Senado. Vice-presidente do PSDB, a senadora Marisa Serrano (MS), disse que os tucanos confiam em Maia. “Eu acredito que só devemos confiar no que diz a Justiça, não no que diz uma pessoa como Durval Barbosa”, disse ela.
Rodrigo Maia não quis comentar as acusações. De acordo com as informações de ‘O Estado de S Paulo’, o envolvimento do deputado no esquema seria uma das novas vertentes que estariam sendo investigadas pelo Ministério Público (MP). Durval Barbosa está colaborando por meio de um acordo de delação premiada.
“O Ministério Público vai pegar”, afirmou ele ao jornal, sobre a suposta participação de Maia no desvio de recursos do Distrito Federal. Barbosa também acusou o PMDB de receber pagamentos mensais do esquema. O dinheiro, segundo ele, era entregue ao presidente do diretório do partido no DF, o deputado federal Tadeu Filippelli. “Filippelli recebia R$ 1 milhão por mês para o PMDB”, afirmou Barbosa. “Inclusive tem um áudio sobre isso”, completou Barbosa."
FONTE: publicado no jornal "O Dia" [título colocado por este blog].
"O presidente nacional do DEM, deputado federal Rodrigo Maia (RJ) foi acusado de envolvimento no ‘Mensalão do DEM’, escândalo que levou à cassação do ex-governador do Distrito Federal (DF), José Roberto Arruda (ex-DEM). A acusação foi feita por Durval Barbosa, delator do esquema, que em declaração ao jornal ‘O Estado de S Paulo’ disse que o filho do ex-prefeito Cesar Maia seria um dos beneficiários do esquema. “O acerto do Rodrigo era direto com o Arruda”, disse.
No sábado, após a publicação das denúncias, partidos de oposição saíram em defesa do deputado. Através de nota, os líderes do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), e na Câmara dos Deputados, Paulo Bornhausen (SC),repudiaram a denúncia e disseram que têm “a mais absoluta e inabalável confiança na correição” do presidente do partido. A nota foi endossada pelo presidente de honra da legenda, Jorge Bornhausen (SC), e pelo ex-vice-presidente da República, Marco Maciel (PE).
O PSDB também defendeu Maia, mas de forma tímida. “Minha opinião é que não podemos antecipar nenhum julgamento. Temos que aguardar e continuar acreditando no presidente do DEM”, disse o senador Álvaro Dias (PR), vice-líder do PSDB no Senado. Vice-presidente do PSDB, a senadora Marisa Serrano (MS), disse que os tucanos confiam em Maia. “Eu acredito que só devemos confiar no que diz a Justiça, não no que diz uma pessoa como Durval Barbosa”, disse ela.
Rodrigo Maia não quis comentar as acusações. De acordo com as informações de ‘O Estado de S Paulo’, o envolvimento do deputado no esquema seria uma das novas vertentes que estariam sendo investigadas pelo Ministério Público (MP). Durval Barbosa está colaborando por meio de um acordo de delação premiada.
“O Ministério Público vai pegar”, afirmou ele ao jornal, sobre a suposta participação de Maia no desvio de recursos do Distrito Federal. Barbosa também acusou o PMDB de receber pagamentos mensais do esquema. O dinheiro, segundo ele, era entregue ao presidente do diretório do partido no DF, o deputado federal Tadeu Filippelli. “Filippelli recebia R$ 1 milhão por mês para o PMDB”, afirmou Barbosa. “Inclusive tem um áudio sobre isso”, completou Barbosa."
FONTE: publicado no jornal "O Dia" [título colocado por este blog].
"CHINA DAILY": ONU NÃO DEVE IMPOR NOVAS SANÇÕES AO IRÃ"
"O estatal "China Daily" deu editorial saudando a nova Estratégia de Segurança Nacional dos EUA, em que "Obama enfatiza a cooperação com potências emergentes como a China".
Ao lado, artigo do diretor da entidade de "controle de armas da China" elogia o acordo do Irã com Brasil e Turquia, cujos "esforços devem ser encorajados", e avalia que, "como a situação mudou, as punições pré-planejadas devem também mudar, ou seja, não há mais racionalidade na imposição de novas sanções". Por aí vai, até ecoar, no fim, 'Conselho de Segurança não deve impor novas sanções'."
FONTE: publicado hoje (31/05) na coluna "Toda Mídia", de Nelson de Sá, na Folha de São Paulo.
Ao lado, artigo do diretor da entidade de "controle de armas da China" elogia o acordo do Irã com Brasil e Turquia, cujos "esforços devem ser encorajados", e avalia que, "como a situação mudou, as punições pré-planejadas devem também mudar, ou seja, não há mais racionalidade na imposição de novas sanções". Por aí vai, até ecoar, no fim, 'Conselho de Segurança não deve impor novas sanções'."
FONTE: publicado hoje (31/05) na coluna "Toda Mídia", de Nelson de Sá, na Folha de São Paulo.
AMAZONAS É O 3º POLO PRODUTOR DE PETRÓLEO DO BRASIL
"Urucu transforma Amazonas no terceiro maior polo produtor de petróleo do país
"Responsável por fazer do estado do Amazonas o terceiro maior polo produtor do país, a província petrolífera de Urucu registrou em abril passado a produção média de 56.264 barris/dia de petróleo e de 10 milhões de metros cúbicos/dia de gás natural, por intermédio de 80 poços produtores.
Ao longo deste ano, a produção de óleo e gás do Urucu vem representando 5,% da produção total do país, atualmente em torno de 2,3 milhões de barris equivalentes.
A região se localiza em plena selva amazônica, a 650 quilômetros de Manaus e integra a Unidade de Negócios de Exploração e Produção da Petrobras na Bacia do Solimões, onde são desenvolvidas atividades de exploração e produção de petróleo e gás natural na região.
Em barris de óleo equivalente (BOE), segundo dados da Petrobras, a produção de petróleo e gás natural do Urucu é de cerca de 119 mil barris por dia, deixando o Amazonas abaixo apenas do Espírito Santo (169 mil barris de petróleo e gás/dia) e do Rio de Janeiro – maior polo brasileiro de produção petrolífera, com seus cerca de 1,8 milhão barris de petróleo e gás por dia – o equivalente a pouco mais de 84% de toda a produção dos campos nacionais."
FONTE: reportagem de Nielmar de Oliveira publicada pela Agência Brasil.
"Responsável por fazer do estado do Amazonas o terceiro maior polo produtor do país, a província petrolífera de Urucu registrou em abril passado a produção média de 56.264 barris/dia de petróleo e de 10 milhões de metros cúbicos/dia de gás natural, por intermédio de 80 poços produtores.
Ao longo deste ano, a produção de óleo e gás do Urucu vem representando 5,% da produção total do país, atualmente em torno de 2,3 milhões de barris equivalentes.
A região se localiza em plena selva amazônica, a 650 quilômetros de Manaus e integra a Unidade de Negócios de Exploração e Produção da Petrobras na Bacia do Solimões, onde são desenvolvidas atividades de exploração e produção de petróleo e gás natural na região.
Em barris de óleo equivalente (BOE), segundo dados da Petrobras, a produção de petróleo e gás natural do Urucu é de cerca de 119 mil barris por dia, deixando o Amazonas abaixo apenas do Espírito Santo (169 mil barris de petróleo e gás/dia) e do Rio de Janeiro – maior polo brasileiro de produção petrolífera, com seus cerca de 1,8 milhão barris de petróleo e gás por dia – o equivalente a pouco mais de 84% de toda a produção dos campos nacionais."
FONTE: reportagem de Nielmar de Oliveira publicada pela Agência Brasil.
PETROBRAS NA FLORESTA AMAZÔNICA
"Urucu é referência mundial em exploração de petróleo com preservação
"Idealizado pela Petrobras no interior da maior floresta tropical do mundo, o projeto que explora petróleo e gás natural na província de Urucu é, hoje, uma referência internacional de desenvolvimento com sustentabilidade.
Inicialmente, conciliar o desenvolvimento da produção de gás e óleo leve de Urucu com a biodiversidade amazônica era o maior desafio a ser enfrentado pela Petrobras na região. Por isso, a empresa identificou como uma das ações mais importantes rearranjar as instalações, de forma a reduzir as áreas ocupadas pela unidade.
Uma dessas ações consistiu no reflorestamento das áreas desocupadas, devolvendo à floresta o máximo de seu ambiente natural. A empresa também procura reaproveitar na região tudo que é dela retirado. “O tronco da árvore cortada em áreas onde existentes poços perfurados se transformam em bancos. Os restos de comida em adubo para as espécies catalogadas. No local, já funciona, por exemplo, um viveiro com mais de 170 mil mudas de 90 espécies nativas. Essas mudas, quando possível, retornam ao seu local de origem, de modo a preservar a biodiversidade”, ressalta Leonardo Sá, da Coordenação de Comunicação Digital da Petrobras.
Ainda respeitando o conceito de desenvolver preservando, a Petrobras construiu uma termelétrica movida a gás natural, que usa 70 mil metros cúbicos/dia do produto, com capacidade de geração de 20 megawatts, atende ao consumo interno da Base em Urucu - fazendo com que toda a matriz energética da área seja movida a gás natural, por meio de um processo confiável, econômico e não poluente.
Uma unidade de processamento de diesel, com capacidade de produção de 40 mil litros/dia, supre o consumo interno de veículos e motores movidos a diesel. Todos os resíduos líquidos, sólidos, domésticos e industriais, gerados na base, são adequadamente tratados para que o seu descarte não venha a afetar o meio ambiente."
FONTE: reportagem de Nielmar de Oliveira publicada pela Agência Brasil.
"Idealizado pela Petrobras no interior da maior floresta tropical do mundo, o projeto que explora petróleo e gás natural na província de Urucu é, hoje, uma referência internacional de desenvolvimento com sustentabilidade.
Inicialmente, conciliar o desenvolvimento da produção de gás e óleo leve de Urucu com a biodiversidade amazônica era o maior desafio a ser enfrentado pela Petrobras na região. Por isso, a empresa identificou como uma das ações mais importantes rearranjar as instalações, de forma a reduzir as áreas ocupadas pela unidade.
Uma dessas ações consistiu no reflorestamento das áreas desocupadas, devolvendo à floresta o máximo de seu ambiente natural. A empresa também procura reaproveitar na região tudo que é dela retirado. “O tronco da árvore cortada em áreas onde existentes poços perfurados se transformam em bancos. Os restos de comida em adubo para as espécies catalogadas. No local, já funciona, por exemplo, um viveiro com mais de 170 mil mudas de 90 espécies nativas. Essas mudas, quando possível, retornam ao seu local de origem, de modo a preservar a biodiversidade”, ressalta Leonardo Sá, da Coordenação de Comunicação Digital da Petrobras.
Ainda respeitando o conceito de desenvolver preservando, a Petrobras construiu uma termelétrica movida a gás natural, que usa 70 mil metros cúbicos/dia do produto, com capacidade de geração de 20 megawatts, atende ao consumo interno da Base em Urucu - fazendo com que toda a matriz energética da área seja movida a gás natural, por meio de um processo confiável, econômico e não poluente.
Uma unidade de processamento de diesel, com capacidade de produção de 40 mil litros/dia, supre o consumo interno de veículos e motores movidos a diesel. Todos os resíduos líquidos, sólidos, domésticos e industriais, gerados na base, são adequadamente tratados para que o seu descarte não venha a afetar o meio ambiente."
FONTE: reportagem de Nielmar de Oliveira publicada pela Agência Brasil.
CEPAL DEFENDE O ESTADO MAIS PRESENTE NA ECONOMIA
"Cepal defende participação mais efetiva do Estado como regulador da economia
"A Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal) propôs hoje (30), durante a abertura do seu 33º período de sessões, em Brasília, uma participação mais efetiva do Estado como regulador da economia. A proposta consta do relatório A Hora da Igualdade. Brechas por fechar, caminhos por abrir. O encontro da Cepal termina na terça-feira (1º).
O documento, de 289 páginas, defende a adoção de medidas anticíclicas a serem adotadas pelo Estado em momentos de crise e o papel dos governos e dos bancos centrais de cada país no estabelecimento de parâmetros macros para atenuar os altos e baixos da atividade econômica, tais como a adoção de banda para o câmbio e política de juros e fiscal.
“Antes tínhamos o Estado gastando nos bons tempos e economizando nas crises. Foi um erro. O Estado, como regulador, é aquele que poupa em tempos de alta atividade econômica e atua como ativador da economia quando a inciativa privada não é capaz de dar respostas de forma eficiente”, explicou o coordenador da Divisão de Desenvolvimento Social da Cepal, Fernando Filgueira.
De acordo com ele, a proposta da Cepal em defesa de uma participação mais ativa do Estado na economia não surgiu depois da crise que atinge os mercados, principalmente da Europa e dos Estados Unidos há mais de um ano. Ele ressaltou que essa já era a ideia da comissão nas décadas de 1980 e 1990, quando se formou o chamado Consenso de Washington (conjunto de medidas formulado em novembro de 1989, baseado na economia de mercado e na redução da participação do Estado na economia). No entanto, Filgueira admite que a crise legitimou a posição da Cepal.
“Desde o Consenso de Washington já tínhamos consciência de que aquele não era o modelo único. Sabíamos que o mercado não podia ser a solução para todos os problemas. Tivemos que aprender com os anos de 1980 e de 1990 e é preciso reconhecer que a crise também nos ensinou. O que temos que reaprender agora é como o Estado tem que atuar para ser o regulador da atividade econômica e também para garantir igualdade e distribuição de renda”, disse Filgueira.
O documento aponta ainda o Estado como agente para diminuir a diferença entre pobres e ricos e garantir os direitos dos povos dos países latino americanos e caribenhos. “No âmbito político, o Estado tem um papel preponderante, ao qual não pode renunciar. Trata-se de velar por mais democracia e mais igualdade, duas caras da moeda política”, destacou a secretária executiva da Cepal, Alícia Bárcena.
Ela também falou sobre a necessidade de não se pôr em oposição a igualdade social e o dinamismo da atividade econômica. O desafio, segundo Alícia, é encontrar as sinergias entre as duas coisas. “O que sugerimos é que há a necessidade de crescer para igualar e igualar para crescer. No horizonte estratégico de longo prazo, igualdade, crescimento econômico e sustentabilidade ambiental têm que vir juntos.”
FONTE: reportagem de Luciana Lima publicada pela Agência Brasil.
"A Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal) propôs hoje (30), durante a abertura do seu 33º período de sessões, em Brasília, uma participação mais efetiva do Estado como regulador da economia. A proposta consta do relatório A Hora da Igualdade. Brechas por fechar, caminhos por abrir. O encontro da Cepal termina na terça-feira (1º).
O documento, de 289 páginas, defende a adoção de medidas anticíclicas a serem adotadas pelo Estado em momentos de crise e o papel dos governos e dos bancos centrais de cada país no estabelecimento de parâmetros macros para atenuar os altos e baixos da atividade econômica, tais como a adoção de banda para o câmbio e política de juros e fiscal.
“Antes tínhamos o Estado gastando nos bons tempos e economizando nas crises. Foi um erro. O Estado, como regulador, é aquele que poupa em tempos de alta atividade econômica e atua como ativador da economia quando a inciativa privada não é capaz de dar respostas de forma eficiente”, explicou o coordenador da Divisão de Desenvolvimento Social da Cepal, Fernando Filgueira.
De acordo com ele, a proposta da Cepal em defesa de uma participação mais ativa do Estado na economia não surgiu depois da crise que atinge os mercados, principalmente da Europa e dos Estados Unidos há mais de um ano. Ele ressaltou que essa já era a ideia da comissão nas décadas de 1980 e 1990, quando se formou o chamado Consenso de Washington (conjunto de medidas formulado em novembro de 1989, baseado na economia de mercado e na redução da participação do Estado na economia). No entanto, Filgueira admite que a crise legitimou a posição da Cepal.
“Desde o Consenso de Washington já tínhamos consciência de que aquele não era o modelo único. Sabíamos que o mercado não podia ser a solução para todos os problemas. Tivemos que aprender com os anos de 1980 e de 1990 e é preciso reconhecer que a crise também nos ensinou. O que temos que reaprender agora é como o Estado tem que atuar para ser o regulador da atividade econômica e também para garantir igualdade e distribuição de renda”, disse Filgueira.
O documento aponta ainda o Estado como agente para diminuir a diferença entre pobres e ricos e garantir os direitos dos povos dos países latino americanos e caribenhos. “No âmbito político, o Estado tem um papel preponderante, ao qual não pode renunciar. Trata-se de velar por mais democracia e mais igualdade, duas caras da moeda política”, destacou a secretária executiva da Cepal, Alícia Bárcena.
Ela também falou sobre a necessidade de não se pôr em oposição a igualdade social e o dinamismo da atividade econômica. O desafio, segundo Alícia, é encontrar as sinergias entre as duas coisas. “O que sugerimos é que há a necessidade de crescer para igualar e igualar para crescer. No horizonte estratégico de longo prazo, igualdade, crescimento econômico e sustentabilidade ambiental têm que vir juntos.”
FONTE: reportagem de Luciana Lima publicada pela Agência Brasil.
SANTAYANA: BELO MONTE É A SOBERANIA NACIONAL
"Na Revista do Brasil, edição de maio, página 5, Mauro Santayana define com clareza por que há tanta oposição à construção da usina de Belo Monte, no rio Xingu:
“Se o governo não houvesse considerado a construção da usina uma questão de honra nacional, provavelmente os interesses estrangeiros, inimigos do nosso desenvolvimento independente, impediriam a importante obra, necessária à ocupação nacional e ao desenvolvimento da região amazônica.”
“Durante os últimos a nos, principalmente com Collor e Fernando Henrique [PSDB], a Amazônia se abriu a ONGs internacionais e à presença sempre atrevida de estrangeiros … esses que se levantam agora contra Belo Monte.”
“Desde o século 19, europeus e norte-americanos tentam ocupar a Amazônia, em nome da ‘civilização’, de Deus (com os protestantes liderados pelos Rockefeller) e, ultimamente, da preservação do meio ambiente.”
“Ao tomar a decisão de construir a usina contra todos esses opositores, o governo Lula reafirma a soberania sobre a Amazônia, de maneira firme.”
FONTE: publicado no portal "Conversa Afiada", do jornalista Paulo Henrique Amorim.
“Se o governo não houvesse considerado a construção da usina uma questão de honra nacional, provavelmente os interesses estrangeiros, inimigos do nosso desenvolvimento independente, impediriam a importante obra, necessária à ocupação nacional e ao desenvolvimento da região amazônica.”
“Durante os últimos a nos, principalmente com Collor e Fernando Henrique [PSDB], a Amazônia se abriu a ONGs internacionais e à presença sempre atrevida de estrangeiros … esses que se levantam agora contra Belo Monte.”
“Desde o século 19, europeus e norte-americanos tentam ocupar a Amazônia, em nome da ‘civilização’, de Deus (com os protestantes liderados pelos Rockefeller) e, ultimamente, da preservação do meio ambiente.”
“Ao tomar a decisão de construir a usina contra todos esses opositores, o governo Lula reafirma a soberania sobre a Amazônia, de maneira firme.”
FONTE: publicado no portal "Conversa Afiada", do jornalista Paulo Henrique Amorim.
DILEMAS DE SERRA
Dilemas de Serra: se elogiar, perde; se criticar, some
O discurso da oposição – Marcos Coimbra
CORREIO BRAZILIENSE – DF
"Foi nas oposições que os efeitos da manutenção da popularidade do governo em patamares tão altos foram mais profundos. Como ser contra um presidente que três, em cada quatro pessoas, consideram ótimo ou bom? Como fazer oposição a alguém aprovado por 85% dos eleitores?
O tamanho da aprovação popular do governo Lula é impressionante, pelo que conhecemos em nossa curta história como democracia moderna. Pode ser que em outros países – como alguns de nossos vizinhos – números iguais aos seus não causem tanta impressão. Aqui, no entanto, deixam todos boquiabertos.
Eles não chamam atenção apenas pela magnitude, mas, também, pela permanência em níveis elevados. A rigor, não param de crescer desde quando Lula enfrentou seu inferno no segundo semestre de 2005, nas profundezas do mensalão. Subiram durante o processo eleitoral de 2006, o que foi considerado natural, pois decorria da superexposição trazida pela campanha, mas não cederam em 2007, mesmo sem a mídia excepcional.
Do começo de 2008 em diante, o que era bom melhorou, e a popularidade do governo entrou em rota ascendente. Nela, prossegue atualmente. Ao contrário de seus antecessores, que terminaram pior (ou muito pior) do que quando começaram, parece que Lula vai continuar subindo até sua despedida em dezembro.
Esses altos níveis de aprovação tornaram-se o mais importante elemento do jogo político brasileiro e produziram efeitos em todos os lados. Dentro da coalizão governista, acentuaram a característica centrípeta de nosso sistema político, aumentando a concentração do poder no seu núcleo. A candidatura de Dilma é a manifestação mais visível desse fenômeno.
Nas relações internacionais, funcionaram como um endosso da liderança pessoal do presidente, fazendo com que fosse percebido, mundo afora, como uma unanimidade nacional. Seus interlocutores externos passaram a se relacionar com ele a partir dessa premissa.
Mas foi nas oposições que os efeitos da manutenção da popularidade do governo em patamares tão altos foram mais profundos. Ela desnorteou os adversários, deixando-os sem discurso e sem capacidade de reação. Como ser contra um presidente que três, em cada quatro pessoas, consideram ótimo ou bom? Como fazer oposição a alguém aprovado por 85% dos eleitores?
Com exceção de algumas lideranças (mais corajosas ou mais inconsequentes, conforme o ponto de vista), as bases dos partidos de oposição – seus líderes locais, vereadores e, especialmente, prefeitos -, bem como muitos deputados e até alguns senadores, preferiram não se desgastar com seus eleitores, evitando polêmicas e embates com o presidente. Com isso, só reforçaram a tendência ascendente de sua aprovação.
Neste momento, quando entramos na reta final do processo sucessório, os impasses vividos pela oposição nos últimos anos estão se tornando mais agudos. Se foi difícil opor-se ao governo, como convencer os eleitores de que é preciso mudar? Se a grande maioria de seus parlamentares, prefeitos, governadores, fez questão de não radicalizar em um discurso oposicionista ao longo de todo o segundo mandato de Lula, seria agora que o assumiriam?
Veja-se o caso de Serra. Nos quatro anos em que conviveu com Lula como governador de São Paulo, sempre se apresentou como parceiro do governo federal, com desavenças apenas pontuais. Houve, até, quem dissesse que Lula ficaria tranquilo se fosse ele o vencedor este ano, tão boas eram suas relações e tão profundos seus laços de amizade. Quem quis se iludir chegou a pensar que, para Lula, perder para Serra não era perder.
E o que vai acontecer na campanha este ano? Salvo o ex-governador, obrigado a desempenhar o indesejável papel de adversário de Lula, a maioria dos candidatos dos partidos de oposição vai querer tudo, menos arriscar-se à derrota, confrontando os sentimentos dos eleitores. Aqui ou ali, quem concorre ao Legislativo talvez fale claramente que é contra Lula e o que ele representa. Mas não esperemos o mesmo dos candidatos a cargos majoritários, aos governos estaduais e ao Senado. Quem precisa de maiorias não vai se indispor com elas.
Enquanto aumentam as pressões, vindas dos núcleos de oposição ao governo na sociedade e na mídia, para que Serra diga, sem rodeios, o que pensa, ele reluta. Tem consciência de que, fazendo isso, suas chances na eleição, que já são pequenas, podem desaparecer."
FONTE: publicado no blog do jornalista Luis Nassif.
O discurso da oposição – Marcos Coimbra
CORREIO BRAZILIENSE – DF
"Foi nas oposições que os efeitos da manutenção da popularidade do governo em patamares tão altos foram mais profundos. Como ser contra um presidente que três, em cada quatro pessoas, consideram ótimo ou bom? Como fazer oposição a alguém aprovado por 85% dos eleitores?
O tamanho da aprovação popular do governo Lula é impressionante, pelo que conhecemos em nossa curta história como democracia moderna. Pode ser que em outros países – como alguns de nossos vizinhos – números iguais aos seus não causem tanta impressão. Aqui, no entanto, deixam todos boquiabertos.
Eles não chamam atenção apenas pela magnitude, mas, também, pela permanência em níveis elevados. A rigor, não param de crescer desde quando Lula enfrentou seu inferno no segundo semestre de 2005, nas profundezas do mensalão. Subiram durante o processo eleitoral de 2006, o que foi considerado natural, pois decorria da superexposição trazida pela campanha, mas não cederam em 2007, mesmo sem a mídia excepcional.
Do começo de 2008 em diante, o que era bom melhorou, e a popularidade do governo entrou em rota ascendente. Nela, prossegue atualmente. Ao contrário de seus antecessores, que terminaram pior (ou muito pior) do que quando começaram, parece que Lula vai continuar subindo até sua despedida em dezembro.
Esses altos níveis de aprovação tornaram-se o mais importante elemento do jogo político brasileiro e produziram efeitos em todos os lados. Dentro da coalizão governista, acentuaram a característica centrípeta de nosso sistema político, aumentando a concentração do poder no seu núcleo. A candidatura de Dilma é a manifestação mais visível desse fenômeno.
Nas relações internacionais, funcionaram como um endosso da liderança pessoal do presidente, fazendo com que fosse percebido, mundo afora, como uma unanimidade nacional. Seus interlocutores externos passaram a se relacionar com ele a partir dessa premissa.
Mas foi nas oposições que os efeitos da manutenção da popularidade do governo em patamares tão altos foram mais profundos. Ela desnorteou os adversários, deixando-os sem discurso e sem capacidade de reação. Como ser contra um presidente que três, em cada quatro pessoas, consideram ótimo ou bom? Como fazer oposição a alguém aprovado por 85% dos eleitores?
Com exceção de algumas lideranças (mais corajosas ou mais inconsequentes, conforme o ponto de vista), as bases dos partidos de oposição – seus líderes locais, vereadores e, especialmente, prefeitos -, bem como muitos deputados e até alguns senadores, preferiram não se desgastar com seus eleitores, evitando polêmicas e embates com o presidente. Com isso, só reforçaram a tendência ascendente de sua aprovação.
Neste momento, quando entramos na reta final do processo sucessório, os impasses vividos pela oposição nos últimos anos estão se tornando mais agudos. Se foi difícil opor-se ao governo, como convencer os eleitores de que é preciso mudar? Se a grande maioria de seus parlamentares, prefeitos, governadores, fez questão de não radicalizar em um discurso oposicionista ao longo de todo o segundo mandato de Lula, seria agora que o assumiriam?
Veja-se o caso de Serra. Nos quatro anos em que conviveu com Lula como governador de São Paulo, sempre se apresentou como parceiro do governo federal, com desavenças apenas pontuais. Houve, até, quem dissesse que Lula ficaria tranquilo se fosse ele o vencedor este ano, tão boas eram suas relações e tão profundos seus laços de amizade. Quem quis se iludir chegou a pensar que, para Lula, perder para Serra não era perder.
E o que vai acontecer na campanha este ano? Salvo o ex-governador, obrigado a desempenhar o indesejável papel de adversário de Lula, a maioria dos candidatos dos partidos de oposição vai querer tudo, menos arriscar-se à derrota, confrontando os sentimentos dos eleitores. Aqui ou ali, quem concorre ao Legislativo talvez fale claramente que é contra Lula e o que ele representa. Mas não esperemos o mesmo dos candidatos a cargos majoritários, aos governos estaduais e ao Senado. Quem precisa de maiorias não vai se indispor com elas.
Enquanto aumentam as pressões, vindas dos núcleos de oposição ao governo na sociedade e na mídia, para que Serra diga, sem rodeios, o que pensa, ele reluta. Tem consciência de que, fazendo isso, suas chances na eleição, que já são pequenas, podem desaparecer."
FONTE: publicado no blog do jornalista Luis Nassif.
domingo, 30 de maio de 2010
ISRAEL RECUSA SE DESFAZER DE SUAS BOMBAS ATÔMICAS E SER INSPECIONADO. EUA DÃO APOIO
Israel recusa pacto antinuclear. Cadê as sanções?
Brizola Neto
"Segundo a BBC, o governo israelense divulgou hoje nota dizendo que o acordo fechado ontem entre 189 países – incluindo o Irã – para a transformação do Oriente Médio em uma zona livre de armas nucleares, proposta durante um encontro das Nações Unidas em Nova York. Israel disse que nem aceita participar das negociações, previstas para o início de 2012, por considerar o acordo “hipócrita” e “profundamente falho”.
A diplomacia americana, Madame Hillary Clinton e os jornais brasileiros, tão ácidos e céticos com o acordo de controle atômico assinado pelo Irã com Brasil e Turquia, não emitiram, até agora, uma pequena crítica que fosse. Que dirá ameaçar Israel com sanções, como fazem com os iranianos.
Enquanto isso, a “Flotilha da Liberdade”, com oito embarcações com mais de 700 ativistas de todas as partes do mundo – inclusive 15 parlamentares, de diversos países, se aproxima do litoral de Gaza, tentando levar ajuda humanitária para os palestinos que sofrem ali, há anos, o bloqueio das forças israelenses.
Espera-se que neste domingo a flotilha da liberdade chegar Gaza. A Marinha israelense havia ameaçou bloquear, mesmo com o uso da força, a frota de ajuda internacional com destino a Gaza, se insistir em se aproximar da costa do território palestino, disse neste sábado um porta-voz do Governo israelita . “Vamos tentar impedi-los de se aproximar da costa da Faixa de Gaza de forma pacífica, mas se eles insistem em passar, os bloquearemos”, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita, Yigal Palmor. Ele diz , se os oito navios se recusarem, serão interceptados e encaminhados para o porto israelense de Ashdod, e seus tripulantes antes de colocados atrás das grades, informa o jornal ABC, da Espanha, porque aqui não saiu nada.
Aliás, eu tomei conhecimento disso pelo comentário da leitora Taciana e fui procurar informações sobre o assunto. Achei o site do movimento e, de lá, trouxe – legandado com a ajuda de dois companheiros, um vídeo impressionante sobre a ação da marinha israelense ao lago do litoral de Gaza, com ataques armados a barcos de pescadores indefesos, causando mortes, ferimentos e mutilações. Assistam. É impressionante."
FONTE: escrito por Brizola Neto e publicado em seu blog "Tijolaço" [título e imagem colocados por este blog].
ATUALIZAÇÃO:
Israel ataca barcos que tentavam furar bloqueio a Gaza; até 16 morrem
A Marinha de Israel atacou nesta segunda-feira uma frota de embarcações com ativistas pró-palestinos que tentavam furar o bloqueio à Faixa de Gaza e entregar suprimentos [humanitários] à região.
Segundo a TV israelense, até 16 pessoas teriam morrido. Em entrevista à rádio do Exército, o ministro da Indústria e Comércio de Israel, Binyamin Ben-Eliezer, disse lamentar as mortes...
A exata localização das embarcações é incerta. Israel teria advertido as embarcações para que não invadissem suas águas territoriais [isto é, águas territoriais da Palestina, invadida e ocupada por Israel, contrariando resoluções da ONU].
Mas, segundo os ativistas, os barcos estavam em águas internacionais, a mais de 60 quilômetros da costa.
Suprimentos
Os barcos, organizados pela ONG Free Gaza, levavam 750 ativistas e cerca de 10 mil toneladas de suprimentos [humanitários] para a Faixa de Gaza (...).
'Provocação'
A frota de seis embarcações havia deixado as águas internacionais próximo à costa do Chipre no domingo e pretendia chegar a Gaza nesta segunda-feira.
Israel havia dito que bloquearia a passagem dos barcos e classificou a campanha de "uma provocação com o intuito de deslegitimar Israel [isto é, deslegitimar a invasão e ocupação militar da Palestina por Israel]".(...)
Israel diz que permite a entrada de 15 mil toneladas de suprimentos de ajuda humanitária a Gaza a cada semana. Mas a Organização das Nações Unidas diz que isso é menos de um quarto do necessário."
FONTE (do trecho "Atualização"): divulgado pela agência britânica de notícias BBC e postado no portal UOL [entre colchetes colocados por este blog].
NEW YORK TIMES: EUA COMETEM ASSASSINATOS EM PROFUSÃO COM DRONES
Você não pode ler o que os americanos lêem sobre os EUA
"Deu no The New York Times, anteontem, quinta-feira, como está reproduzido aí ao lado. Mas os “jornalões” brasileiros, como acontecia nos tempos da ditadura, decidiram que você não ia ler esta notícia.
Philip Alston, o relator especial das Nações Unidas sobre execuções extrajudiciais, sumárias ou arbitrárias, disse quinta-feira que entregará um relatório dia 2 de junho ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, em Genebra, declarando que “o poder de vida ou morte” de aviões-robôs deve ser confiado de forças armadas regulares e não às agências de inteligência, como é o caso dos “drones” guiados por controle remoto que estão realizando bombardeios no Afganistão e no Paquistão.
Ele comparou como os militares e a CIA. respondem às alegações que os ataques mataram civis por engano. “Com o Departamento de Defesa que você tem informações , talvez não completas, quando um bombardeio no Afeganistão vai mal”, mas disse que quando a CIA é a responsável, não responde a nenhuma pergunta nem dá qualquer informação.
Sob as leis da guerra, os soldados dos exércitos tradicionais não podem ser processados e punidos pela morte de forças inimigas em uma batalha. Os Estados Unidos alegaram que, devido a Al Qaeda não obedecer aos requisitos estabelecidos nas Convenções de Genebra – como estar vestindo uniformes – eles não têm direito às regras. Mas os operadores dos aviões-robôs, vinculados à CIA “também não usam não usam uniformes”, diz o NYT.
Harold Koh, conselheiro jurídico do Departamento de Estado, advertiu que operadores de drones da CIA poderiam, segundo os manuais militares americanos, ser considerados criminosos de guerra. Jeh Johnson, defensor geral do Departamento, e sua equipe acabaram por concordar com essa preocupação. Eles reformularam os manual para que os assassinatos cometidos desta forma não possam ser julgados pelos tribunais afegãos ou paquistaneses como crime de guerra ou de espionagem."
FONTE: escrito por Brizola Neto e publicado em seu blog "Tijolaço" [título e imagem colocados por este blog].
ATÉ A NEOTUCANA MARINA CRITICA SERRA POR IRRESPONSAVELMENTE CRIAR INCIDENTE DIPLOMÁTICO
[Mesmo sendo aliada útil na campanha serrista do PSDB], Marina critica Serra por declarações sobre a Bolívia
A pré-candidata do PV à Presidência da República, Marina Silva [aliada de Serra/PSDB], criticou sábado o também pré-candidato José Serra (PSDB), por causa das críticas que o tucano fez à Bolívia.
Serra disse nesta semana que o governo boliviano é "cúmplice" do tráfico de drogas para o Brasil.
As declarações do ex-governador de São Paulo, de acordo com Marina, foram equivocadas por causa da generalização.
"Não é assim que se trata um país irmão, até porque o povo boliviano não merece esse tipo de generalização. Nós somos vizinhos dos bolivianos no Acre, sabemos que temos graves problemas ali na fronteira com o tráfico de drogas, mas longe de eu querer atribuir isso a uma ação deliberada do governo e ou à sociedade boliviana", disse ela.
Marina afirmou ainda que a realidade do narcotráfico na Bolívia não difere muito do que acontece no Brasil. "Os problemas que são enfrentados em relação ao narcotráfico na Bolívia talvez não sejam diferentes de outros países e até mesmo dentro do nosso context", avaliou a pré-candidata, que participou do lançamento da pré-candidatura de Luciano Zica a deputado federal pelo PV, em Campinas.
Mais tarde, em outro evento, Marina cutucou Serra indiretamente pelas críticas que ele vem fazendo a um suposto aparelhamento do Estado por parte do governo federal.
Segundo ela, os candidatos a cargos majoritários, quando em campanha, sempre negam que vão colocar amigos e militantes em cargos, mas a história mostra que não é assim. "Todo mundo jura de pés juntos que não vai aparelhar. Mas depois esquece isso tudo", disse ela. "Depois que ganha, reforma o compromisso".
Elogios
A pré-candidata verde voltou a elogiar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e [como é neotucana pró-Serra] o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que, segunda ela, fizeram o Brasil avançar porque eram líderes, e não gerentes. "O Lula fez o que fez em relação aos programas sociais porque não era um gerentão, era uma liderança. FHC só fez o Plano Real [isto é, FHC se autopromove, usurpando o mérito da criação no governo Itamar Franco] porque não era um gerentão, era uma liderança", disse Marina Silva.”
FONTE: publicado no portal UOL com informações da Folha de São Paulo [título, imagem e entre colchetes colocados por este blog].
O FIM DOS TEMPOS E A POLÍTICA DO GUETO
por Luiz Carlos Azenha
"O fim do século 20 e o início do século 21 serão lembrados, dentro de algumas décadas, como um período de grandes transformações. Melhor não atribuí-las a este ou aquele movimento, este ou aquele partido, esta ou aquela ideia. Até porque, diriam os marxistas, movimentos, partidos e ideias ao mesmo tempo são resultado de e influenciam processos de transformação econômica.
O grande transformador do fim do século 20 foi o processo de urbanização acelerado na Ásia, África e América Latina, com a incorporação de milhões ao trabalho assalariado. Para o bem e para o mal, provocou o rompimento de padrões centralizadores de comando e decisão — tanto dentro das famílias quanto das comunidades. A educação deixou de ser um privilégio para se converter em um direito, ainda que não garantido em vastas porções do planeta. O capitalismo precisou da mão-de-obra feminina e logo providenciamos o “feminismo” para justificar a dupla jornada de trabalho das mulheres, que continuam ganhando menos que os homens pelas mesmas tarefas. À precarização recente das condições de trabalho chamamos de “modernidade” ou “ganhos de produtividade”.
Além disso, na segunda metade do século vinte ganhou impulso a migração mundial, que existe desde sempre mas na era do jato pôde ser usada como fator regulador de salários. Em 2005, estima-se, quase 200 milhões de pessoas viviam fora de seus paises de origem, provocando impactos de curto, médio e longo prazos, como a projeção de que os brancos serão em breve minoria nos Estados Unidos.
Não deixa de ser um período com as suas ironias. O presidente Lula costuma dizer, com razão, que foi preciso um operário chegar ao Planalto para fazer o capitalismo brasileiro funcionar. O chavismo não deixa de ser isso: “socialismo do século 21″ é capitalismo para todos. Os comunistas chineses estão fazendo, no campo econômico, o que os franceses fizeram, com sua revolução, no campo político: todo chinês tem direitos — de participar da sociedade de consumo sem dar muito palpite.
Aos processos de urbanização, de “libertação” (ou “empoderamento”, diriam os politicamente corretos) das mulheres e de ascensão de milhões de pessoas ao consumo de massa tivemos outro fenômeno de fim de século: o surgimento e o rápido barateamento das tecnologias de informação. Ainda que a gente ainda viva em sociedades altamente hierarquizadas — há quem diga que no mundo das megacorporações nunca tão poucos decidiram as coisas realmente importantes em nome de tantos –, pelo menos a grande massa das pessoas tem a sensação de que participa, mesmo que seu poder se restrinja à escolha da marca da salsicha que come ou do participante do BBB que continua na casa.
Esse conjunto de mudanças relativamente rápidas em um curto espaço de tempo provoca óbvias reações. Quem é que imaginava que teríamos um dia um presidente negro, de sobrenome Hussein, ocupando a Casa Branca? Quem é que imaginava que um descendente de indígena um dia daria palpite no destino das enormes riquezas de um país como a Bolívia?
Hoje li um artigo muito interessante do Richard Ward, no Counterpunch, sobre o movimento Tea Party. Em inglês, está aqui. O autor decidiu frequentar uma função do movimento, que reúne a coleção completa dos reacionários dos Estados Unidos. Conseguiu capturar a atmosfera dos chamados teabaggers. O movimento se apropriou de um símbolo muito importante na história da revolução americana: a destruição de carregamentos de chá por moradores de Boston, revoltados com a chamada “taxação sem representação” dos britânicos. O Tea Party, ou Partido do Chá, que nasceu da rejeição às estruturas partidárias tradicionais dos Estados Unidos mas especialmente da reação à vitória de Barack Obama, prega o retorno impossível a um país de maioria branca, cristã, de homens puros e mulheres castas — uma idealização dos Estados Unidos dos anos 50, em que todos sabiam o “seu lugar” na escala social e estavam satisfeitos com isso.
As transformações sociais recentes são tão profundas e desafiadoras que é apenas natural o surgimento de movimentos como o Tea Party. É compreensível que haja um desejo de “ordem”, especialmente quando o trabalho está tão precarizado e a medida do sucesso social é a capacidade de consumo. Num mundo em que sou o que consumo, minha segurança social é diretamente proporcional à certeza de que poderei consumir amanhã e no dia seguinte. Se me sinto incerto disso, é natural que politicamente eu peça “ordem” (ainda que o sistema funcione à base da desordem: o motor dele é o consumidor insaciável, sempre insatisfeito com seu “lugar” na hierarquia dos consumidores).
Esse estado de coisas representa um prato cheio para políticos demagogos como o francês Sarkozy e o italiano Berlusconi, por exemplo. Ambos surfaram no sentimento difuso de insegurança de franceses e italianos, na suposta ameaça social representada pelos “de fora” (negros, imigrantes, muçulmanos), que convenientemente servem para desviar atenção do problema real: o esgotamento de sociedades fisicamente envelhecidas e que já não podem crescer pela incorporação de grandes massas ao consumo interno, como é o caso da China, da Índia, do Brasil, da Indonésia, do Vietnã e de dezenas de países do ex-Terceiro Mundo.
Eu costumo dizer que o Tea Party dos Estados Unidos é um movimento milenarista, por representar um gueto ameaçado de morte por transformações políticas, econômicas e sociais que já não consegue controlar. É o fim do mundo, não literal, mas do mundo no qual eles se sentiam confortáveis, no controle, no topo da hierarquia e seguros disso.
Curiosamente, é esta a sensação que tenho ao ver, ouvir e ler alguns comentaristas da mídia brasileira: parece que eles vivem em um gueto, do qual a melhor paródia é produzida pelo professor Hariovaldo de Almeida Prado. Um gueto sob ataque de massas ignaras, compradas com o dinheiro do Bolsa Família, massas incapazes de tomar decisões racionais e óbvias, como a de eleger José Serra presidente da República.
Atribuir aos outros pensamentos “corrompidos” — seja pelo dinheiro, seja pela ingenuidade — serve duplamente à política do gueto: primeiro, porque nega protagonismo aos que de alguma forma nos “ameaçam”; segundo, porque pode servir de justificativa para ações extra-legais. Dei o golpe, mas em defesa de uma boa causa: a democracia.
O curioso é ver José Serra embarcando no discurso preconceituoso do gueto: contra os pobres do Mercosul, que dificultam nossos negócios com os ricos; contra os “bárbaros” chineses, que produzem camisinhas mal cheirosas; contra os bolivianos, “corrompidos” pelo tráfico de drogas. Fico em dúvida se é mera expressão de um político provinciano, que não enxerga além de Resende, ou se o candidato faz isso de caso pensado, na tentativa de se vender como nosso protetor contra os bárbaros — sejam eles sindicalistas do PT que “surrupiaram” a máquina do governo, negros e pobres que exigem terras que seriam muito melhor “aproveitadas” pelo agronegócio, migrantes que reivindicam moradias e escolas construídas com o dinheiro do “nosso imposto”, funcionários públicos que pedem salários “aviltantes” ou estrangeiros traficantes de camisinhas vagabundas."
FONTE: escrito pelo jornalista Luiz Carlos Azenha e publicado em seu portal “Viomundo”.
"O fim do século 20 e o início do século 21 serão lembrados, dentro de algumas décadas, como um período de grandes transformações. Melhor não atribuí-las a este ou aquele movimento, este ou aquele partido, esta ou aquela ideia. Até porque, diriam os marxistas, movimentos, partidos e ideias ao mesmo tempo são resultado de e influenciam processos de transformação econômica.
O grande transformador do fim do século 20 foi o processo de urbanização acelerado na Ásia, África e América Latina, com a incorporação de milhões ao trabalho assalariado. Para o bem e para o mal, provocou o rompimento de padrões centralizadores de comando e decisão — tanto dentro das famílias quanto das comunidades. A educação deixou de ser um privilégio para se converter em um direito, ainda que não garantido em vastas porções do planeta. O capitalismo precisou da mão-de-obra feminina e logo providenciamos o “feminismo” para justificar a dupla jornada de trabalho das mulheres, que continuam ganhando menos que os homens pelas mesmas tarefas. À precarização recente das condições de trabalho chamamos de “modernidade” ou “ganhos de produtividade”.
Além disso, na segunda metade do século vinte ganhou impulso a migração mundial, que existe desde sempre mas na era do jato pôde ser usada como fator regulador de salários. Em 2005, estima-se, quase 200 milhões de pessoas viviam fora de seus paises de origem, provocando impactos de curto, médio e longo prazos, como a projeção de que os brancos serão em breve minoria nos Estados Unidos.
Não deixa de ser um período com as suas ironias. O presidente Lula costuma dizer, com razão, que foi preciso um operário chegar ao Planalto para fazer o capitalismo brasileiro funcionar. O chavismo não deixa de ser isso: “socialismo do século 21″ é capitalismo para todos. Os comunistas chineses estão fazendo, no campo econômico, o que os franceses fizeram, com sua revolução, no campo político: todo chinês tem direitos — de participar da sociedade de consumo sem dar muito palpite.
Aos processos de urbanização, de “libertação” (ou “empoderamento”, diriam os politicamente corretos) das mulheres e de ascensão de milhões de pessoas ao consumo de massa tivemos outro fenômeno de fim de século: o surgimento e o rápido barateamento das tecnologias de informação. Ainda que a gente ainda viva em sociedades altamente hierarquizadas — há quem diga que no mundo das megacorporações nunca tão poucos decidiram as coisas realmente importantes em nome de tantos –, pelo menos a grande massa das pessoas tem a sensação de que participa, mesmo que seu poder se restrinja à escolha da marca da salsicha que come ou do participante do BBB que continua na casa.
Esse conjunto de mudanças relativamente rápidas em um curto espaço de tempo provoca óbvias reações. Quem é que imaginava que teríamos um dia um presidente negro, de sobrenome Hussein, ocupando a Casa Branca? Quem é que imaginava que um descendente de indígena um dia daria palpite no destino das enormes riquezas de um país como a Bolívia?
Hoje li um artigo muito interessante do Richard Ward, no Counterpunch, sobre o movimento Tea Party. Em inglês, está aqui. O autor decidiu frequentar uma função do movimento, que reúne a coleção completa dos reacionários dos Estados Unidos. Conseguiu capturar a atmosfera dos chamados teabaggers. O movimento se apropriou de um símbolo muito importante na história da revolução americana: a destruição de carregamentos de chá por moradores de Boston, revoltados com a chamada “taxação sem representação” dos britânicos. O Tea Party, ou Partido do Chá, que nasceu da rejeição às estruturas partidárias tradicionais dos Estados Unidos mas especialmente da reação à vitória de Barack Obama, prega o retorno impossível a um país de maioria branca, cristã, de homens puros e mulheres castas — uma idealização dos Estados Unidos dos anos 50, em que todos sabiam o “seu lugar” na escala social e estavam satisfeitos com isso.
As transformações sociais recentes são tão profundas e desafiadoras que é apenas natural o surgimento de movimentos como o Tea Party. É compreensível que haja um desejo de “ordem”, especialmente quando o trabalho está tão precarizado e a medida do sucesso social é a capacidade de consumo. Num mundo em que sou o que consumo, minha segurança social é diretamente proporcional à certeza de que poderei consumir amanhã e no dia seguinte. Se me sinto incerto disso, é natural que politicamente eu peça “ordem” (ainda que o sistema funcione à base da desordem: o motor dele é o consumidor insaciável, sempre insatisfeito com seu “lugar” na hierarquia dos consumidores).
Esse estado de coisas representa um prato cheio para políticos demagogos como o francês Sarkozy e o italiano Berlusconi, por exemplo. Ambos surfaram no sentimento difuso de insegurança de franceses e italianos, na suposta ameaça social representada pelos “de fora” (negros, imigrantes, muçulmanos), que convenientemente servem para desviar atenção do problema real: o esgotamento de sociedades fisicamente envelhecidas e que já não podem crescer pela incorporação de grandes massas ao consumo interno, como é o caso da China, da Índia, do Brasil, da Indonésia, do Vietnã e de dezenas de países do ex-Terceiro Mundo.
Eu costumo dizer que o Tea Party dos Estados Unidos é um movimento milenarista, por representar um gueto ameaçado de morte por transformações políticas, econômicas e sociais que já não consegue controlar. É o fim do mundo, não literal, mas do mundo no qual eles se sentiam confortáveis, no controle, no topo da hierarquia e seguros disso.
Curiosamente, é esta a sensação que tenho ao ver, ouvir e ler alguns comentaristas da mídia brasileira: parece que eles vivem em um gueto, do qual a melhor paródia é produzida pelo professor Hariovaldo de Almeida Prado. Um gueto sob ataque de massas ignaras, compradas com o dinheiro do Bolsa Família, massas incapazes de tomar decisões racionais e óbvias, como a de eleger José Serra presidente da República.
Atribuir aos outros pensamentos “corrompidos” — seja pelo dinheiro, seja pela ingenuidade — serve duplamente à política do gueto: primeiro, porque nega protagonismo aos que de alguma forma nos “ameaçam”; segundo, porque pode servir de justificativa para ações extra-legais. Dei o golpe, mas em defesa de uma boa causa: a democracia.
O curioso é ver José Serra embarcando no discurso preconceituoso do gueto: contra os pobres do Mercosul, que dificultam nossos negócios com os ricos; contra os “bárbaros” chineses, que produzem camisinhas mal cheirosas; contra os bolivianos, “corrompidos” pelo tráfico de drogas. Fico em dúvida se é mera expressão de um político provinciano, que não enxerga além de Resende, ou se o candidato faz isso de caso pensado, na tentativa de se vender como nosso protetor contra os bárbaros — sejam eles sindicalistas do PT que “surrupiaram” a máquina do governo, negros e pobres que exigem terras que seriam muito melhor “aproveitadas” pelo agronegócio, migrantes que reivindicam moradias e escolas construídas com o dinheiro do “nosso imposto”, funcionários públicos que pedem salários “aviltantes” ou estrangeiros traficantes de camisinhas vagabundas."
FONTE: escrito pelo jornalista Luiz Carlos Azenha e publicado em seu portal “Viomundo”.
A CRISE E AS NOVAS FORÇAS POLÍTICAS (E AS NEM TÃO NOVAS ASSIM)
por Luiz Carlos Azenha
"O Viomundo acha a cobertura internacional da mídia brasileira bisonha. Por uma combinação de ignorância, preguiça, preconceito ideológico, falta de leitura e de contextualização histórica.
O Robert Fisk tratou melhor disso do que eu o faria, ainda que chegasse aos 100 anos de idade.
O Viomundo está de olho em duas tendências internacionais. O avanço do fascismo nos Estados Unidos, detectado pela Sara Robinson, entre outros. Trouxe a tradução de um artigo dela para o Viomundo novo, está aqui.
Essa tendência não se manifesta através de um novo Mussolini, mas de uma mulher que usa iphone e óculos Gucci, a Sarah Palin. E do Tea Party, o movimento neofascista que ganhou força com a eleição de Barack Obama, sobre o qual falei superficialmente aqui.
Anteriormente eu já havia opinado que o neofascismo dispõe de ferramentas para disseminar suas ideias como nunca existiram antes: twitter, mensagens de texto, etc. Retire um jovem contemporâneo do contexto histórico e ele será um candidato ideal a propagador do neofascismo, por causa da impulsividade dos jovens e da adesão de muitos deles às causas emocionais.
E o neofascismo vive disso: de causas emocionais. Do nós contra eles. Do maniqueísmo. Da transformação da política em sloganismo.
Da escolha de inimigos a serem odiados (como Evo Morales, o presidente da Bolívia, promovido a neodiabo pela campanha preconceituosa de José Serra contra os bolivianos).
É por isso que quando jovens jornalistas pedem que eu lhes dê algum conselho — pobres deles, não sabem o que fazem –, eu digo: leiam livros de História. Leiam sobre a ditadura militar no Brasil. Leiam sobre Getúlio Vargas. Leiam sobre a Segunda Guerra Mundial. Leiam sobre o colonialismo na África, na Ásia e na América Latina. Busquem autores além dos centros óbvios de poder: Nova York, Paris e Londres.
A segunda tendência que o Viomundo acompanha de perto é a repercussão da crise econômica na política internacional. Podemos dizer sem medo de errar, por exemplo, que o Tea Party estadunidense tira proveito do ressentimento popular com o fato de que o governo Obama resgatou Wall Street com fartos recursos públicos mas foi menos generoso com aqueles que perderam suas casas.
Agora, na Europa, duas coisas muito interessantes estão acontecendo: o surgimento de partidos que usam formas não tradicionais de mobilização e abandonaram a dicotomia capitalismo vs. socialismo dos tempos da guerra fria; e o ressurgimento de forças políticas que tiram proveito do fato de que a globalização beneficiou de forma desigual os europeus. Dentro da União Europeia, a crise aprofundou a distância entre alemães e gregos e deixou explícita a desigualdade de poder entre os dois países na comunidade.
Fora dela, está cada vez mais claro que o neoliberalismo adotado no Leste Europeu pós-colapso da União Soviética não trouxe os avanços pretendidos (era o caminho, se dizia na época, para que os europeus do Leste alcançassem o padrão de vida de seus vizinhos a Oeste).
Pode-se dizer que as novas formas de mobilização a que aludi acima foram primeiro utilizadas na Europa a partir das iniciativas bancadas pelo National Endownment for Democracy (NED), que podemos definir grosseiramente como o braço civil da Central de Inteligência Americana, criado durante o governo de Ronald Reagan. O NED, que conta com apoio dos partidos Republicano e Democrata, de organizações sindicais e de empresários dos Estados Unidos e com financiamento aprovado pelo Congresso, se dedica a “promover a democracia”, obviamente sempre a democracia pró-Estados Unidos.
Teve um papel importante nas chamadas “revoluções” do Leste Europeu, mobilizando jovens através de slogans de fácil propagação, de flash mobs e outras formas de organização via internet, redes sociais e twitter. Tratei disso em vários post no Viomundo antigo, que em breve republicarei aqui.
Fiquem, agora, com um exemplo do múltiplo impacto político da crise econômica, neste caso na República Checa. Antecipo que os números preliminares da eleição checa mostram que os comunistas obtiveram cerca de 12% dos votos e que a surpresa foi o TOP 09, com cerca de 15% dos votos. As forças tradicionais do país obtiveram 23% (Social Democratas) e 19% dos votos (Democratas Cívicos). Mas o que me interessa aqui são os métodos utilizados por essas novas forças políticas:
COMUNISTAS CHECOS ESPERAM UM RETORNO AO PASSADO GLORIOSO
Herald Tribune, May 29, 2010, Dan Bilefsky, de Praga
“É um sinal da contínua influência do Partido Comunista aqui: um vídeo de grande popularidade chamado “Convença a Vovó” pede a jovens checos que não visitem os avós a não ser que eles concordem em não votar em partidos de esquerda como o comunista nas eleições deste sábado.
Seguindo o modelo de um vídeo da humorista Sarah Silverman, chamado The Great Schlep, que em 2008 apelou sarcasticamente a jovens eleitores judeus para que convencessem seus avós a apoiar Barack Obama no estado decisivo da Flórida, a versão checa também é crítica.
“Se os seus avós votarem na esquerda, diga a eles que espera podê-los encontrar vivos na próxima visita”, uma jovem atriz diz, quando uma imagem de um túmulo aparece na tela. O vídeo implora para que os jovens não se esqueçam das transgressões insidiosas dos antigos regimes comunistas, do exílio dos principais intelectuais e artistas à execução de inimigos políticos.
Os criadores do vídeo — a maioria de um grupo de amigos jovens e conservadores — dizem que o “Convença a Vovó”, que já teve 600 mil acessos desde que foi postado no You Tube um mês atrás, era uma arma necessária contra a ascensão de um Partido Comunista não-reformado, que as pesquisas recentes mostram poderá obter até 15% dos votos.
Em uma eleição que provavelmente não vai dar maioria aos Social Democratas de esquerda ou ao direitista Democratas Cívicos, analistas dizem que o Partido Comunista poderia se aproximar do poder como nunca desde que a Revolução do Veludo derrubou o comunismo em 1989.
“Nós odiamos os comunistas”, disse Marek Prchal, de 35 anos, um executivo de propaganda que ajudou a criar o vídeo. “Os comunistas deveriam ter sido banidos faz tempo”. Ele argumentou que se o socialismo fosse autorizado a prevalecer, a República Checa correria o risco de se tornar “a Grécia da Europa Central”.
Analistas dizem que o Partido Comunista está se beneficiando de uma reação regional na qual os eleitores estão expressando seu descontentamento com o fracasso das revoluções de 1989 em cumprir suas promessas.
“O tema em toda a região é a política do descontentamento”, disse Anna Matuskova, uma analista política. “Na República Checa há uma nova geração com iPhones que não se lembra do comunismo e vai votar no partido como forma de protesto”.
O Partido Comunista neste país continua sendo o único que sobreviveu no antigo Bloco do Leste e para muitos de seus críticos é um anacronismo perigoso.
Analistas dizem que os Social Democratas e os Democratas Cívicos, desejosos de manter os comunistas longe do poder, podem se juntar em uma grande coalizão que jogaria o país em um período de indecisão. Outro cenário diz que os Social Democratas poderiam formar um governo minoritário dependente do apoio tácito dos comunistas.
Os comunistas não são o único partido que aproveita o grande descontentamento com a política de sempre e vários outros partidos poderiam se mostrar decisivos nesta eleição.
O recentemente criado TOP 09, um partido de conservadores fiscais liderado por Karel Schwarzenberg, um príncipe que fuma cachimbo e é ex-ministro das Relações Exteriores, buscou atrair eleitores mandando a eles falsas notas promissórias para deixar clara a crescente dívida do país, além de promover encontros informais em bares.
Outro novo partido, o Public Matters, liderado por um carismático jornalista investigativo, Radek John, instituiu patrulhas em Praga para remover viciados em drogas e sem-teto das ruas.
No caso do Partido Comunista, sua arma secreta é Katerina Konecna, a integrante mais jovem do Parlamento checo, de 28 anos de idade, que diz se sentir igualmente à vontade usando sapatos de salto agulha ou lendo O Capital.
Filha de ex-integrantes do Partido Comunista, a sra. Konecna diz que a recente crise do capitalismo se mostrou um incentivo aos jovens comunistas, que se sentem atraídos pelas promessas de educação gratuita e empregos garantidos.
“As pessoas preferem fazer filas para comprar banana do que ficar na fila do desemprego”, ela diz.
Ainda assim os limites para o apelo dos comunistas contemporâneos ficaram aparentes em um comício na quinta-feira diante de um dos maiores shoppings de Praga. A maior atração foi Jana Kocianova, de 18 anos, uma versão checa da Britney Spears, que cantou e rodopiou “I Will Survive”, de Gloria Gaynor, para uma plateia de senhores de 80 anos que marcavam o ritmo batendo as bengalas no pavimento.
Falando entre os números musicais, a sra. Kocianova, vestida em jeans apertados, elogiou o sentido igualitário dos comunistas, ainda que cantar para eles não tenha atraído fãs para ela na escola. “Não é cool ser jovem e apoiar o Partido Comunista”, ela lamentou. Mas acrescentou rapidamente: “Eu não vivi sob o comunismo e assim realmente nem lembro como era”.
FONTE: publicado no portal “Viomundo”, do jornalista Luiz Carlos Azenha.
"O Viomundo acha a cobertura internacional da mídia brasileira bisonha. Por uma combinação de ignorância, preguiça, preconceito ideológico, falta de leitura e de contextualização histórica.
O Robert Fisk tratou melhor disso do que eu o faria, ainda que chegasse aos 100 anos de idade.
O Viomundo está de olho em duas tendências internacionais. O avanço do fascismo nos Estados Unidos, detectado pela Sara Robinson, entre outros. Trouxe a tradução de um artigo dela para o Viomundo novo, está aqui.
Essa tendência não se manifesta através de um novo Mussolini, mas de uma mulher que usa iphone e óculos Gucci, a Sarah Palin. E do Tea Party, o movimento neofascista que ganhou força com a eleição de Barack Obama, sobre o qual falei superficialmente aqui.
Anteriormente eu já havia opinado que o neofascismo dispõe de ferramentas para disseminar suas ideias como nunca existiram antes: twitter, mensagens de texto, etc. Retire um jovem contemporâneo do contexto histórico e ele será um candidato ideal a propagador do neofascismo, por causa da impulsividade dos jovens e da adesão de muitos deles às causas emocionais.
E o neofascismo vive disso: de causas emocionais. Do nós contra eles. Do maniqueísmo. Da transformação da política em sloganismo.
Da escolha de inimigos a serem odiados (como Evo Morales, o presidente da Bolívia, promovido a neodiabo pela campanha preconceituosa de José Serra contra os bolivianos).
É por isso que quando jovens jornalistas pedem que eu lhes dê algum conselho — pobres deles, não sabem o que fazem –, eu digo: leiam livros de História. Leiam sobre a ditadura militar no Brasil. Leiam sobre Getúlio Vargas. Leiam sobre a Segunda Guerra Mundial. Leiam sobre o colonialismo na África, na Ásia e na América Latina. Busquem autores além dos centros óbvios de poder: Nova York, Paris e Londres.
A segunda tendência que o Viomundo acompanha de perto é a repercussão da crise econômica na política internacional. Podemos dizer sem medo de errar, por exemplo, que o Tea Party estadunidense tira proveito do ressentimento popular com o fato de que o governo Obama resgatou Wall Street com fartos recursos públicos mas foi menos generoso com aqueles que perderam suas casas.
Agora, na Europa, duas coisas muito interessantes estão acontecendo: o surgimento de partidos que usam formas não tradicionais de mobilização e abandonaram a dicotomia capitalismo vs. socialismo dos tempos da guerra fria; e o ressurgimento de forças políticas que tiram proveito do fato de que a globalização beneficiou de forma desigual os europeus. Dentro da União Europeia, a crise aprofundou a distância entre alemães e gregos e deixou explícita a desigualdade de poder entre os dois países na comunidade.
Fora dela, está cada vez mais claro que o neoliberalismo adotado no Leste Europeu pós-colapso da União Soviética não trouxe os avanços pretendidos (era o caminho, se dizia na época, para que os europeus do Leste alcançassem o padrão de vida de seus vizinhos a Oeste).
Pode-se dizer que as novas formas de mobilização a que aludi acima foram primeiro utilizadas na Europa a partir das iniciativas bancadas pelo National Endownment for Democracy (NED), que podemos definir grosseiramente como o braço civil da Central de Inteligência Americana, criado durante o governo de Ronald Reagan. O NED, que conta com apoio dos partidos Republicano e Democrata, de organizações sindicais e de empresários dos Estados Unidos e com financiamento aprovado pelo Congresso, se dedica a “promover a democracia”, obviamente sempre a democracia pró-Estados Unidos.
Teve um papel importante nas chamadas “revoluções” do Leste Europeu, mobilizando jovens através de slogans de fácil propagação, de flash mobs e outras formas de organização via internet, redes sociais e twitter. Tratei disso em vários post no Viomundo antigo, que em breve republicarei aqui.
Fiquem, agora, com um exemplo do múltiplo impacto político da crise econômica, neste caso na República Checa. Antecipo que os números preliminares da eleição checa mostram que os comunistas obtiveram cerca de 12% dos votos e que a surpresa foi o TOP 09, com cerca de 15% dos votos. As forças tradicionais do país obtiveram 23% (Social Democratas) e 19% dos votos (Democratas Cívicos). Mas o que me interessa aqui são os métodos utilizados por essas novas forças políticas:
COMUNISTAS CHECOS ESPERAM UM RETORNO AO PASSADO GLORIOSO
Herald Tribune, May 29, 2010, Dan Bilefsky, de Praga
“É um sinal da contínua influência do Partido Comunista aqui: um vídeo de grande popularidade chamado “Convença a Vovó” pede a jovens checos que não visitem os avós a não ser que eles concordem em não votar em partidos de esquerda como o comunista nas eleições deste sábado.
Seguindo o modelo de um vídeo da humorista Sarah Silverman, chamado The Great Schlep, que em 2008 apelou sarcasticamente a jovens eleitores judeus para que convencessem seus avós a apoiar Barack Obama no estado decisivo da Flórida, a versão checa também é crítica.
“Se os seus avós votarem na esquerda, diga a eles que espera podê-los encontrar vivos na próxima visita”, uma jovem atriz diz, quando uma imagem de um túmulo aparece na tela. O vídeo implora para que os jovens não se esqueçam das transgressões insidiosas dos antigos regimes comunistas, do exílio dos principais intelectuais e artistas à execução de inimigos políticos.
Os criadores do vídeo — a maioria de um grupo de amigos jovens e conservadores — dizem que o “Convença a Vovó”, que já teve 600 mil acessos desde que foi postado no You Tube um mês atrás, era uma arma necessária contra a ascensão de um Partido Comunista não-reformado, que as pesquisas recentes mostram poderá obter até 15% dos votos.
Em uma eleição que provavelmente não vai dar maioria aos Social Democratas de esquerda ou ao direitista Democratas Cívicos, analistas dizem que o Partido Comunista poderia se aproximar do poder como nunca desde que a Revolução do Veludo derrubou o comunismo em 1989.
“Nós odiamos os comunistas”, disse Marek Prchal, de 35 anos, um executivo de propaganda que ajudou a criar o vídeo. “Os comunistas deveriam ter sido banidos faz tempo”. Ele argumentou que se o socialismo fosse autorizado a prevalecer, a República Checa correria o risco de se tornar “a Grécia da Europa Central”.
Analistas dizem que o Partido Comunista está se beneficiando de uma reação regional na qual os eleitores estão expressando seu descontentamento com o fracasso das revoluções de 1989 em cumprir suas promessas.
“O tema em toda a região é a política do descontentamento”, disse Anna Matuskova, uma analista política. “Na República Checa há uma nova geração com iPhones que não se lembra do comunismo e vai votar no partido como forma de protesto”.
O Partido Comunista neste país continua sendo o único que sobreviveu no antigo Bloco do Leste e para muitos de seus críticos é um anacronismo perigoso.
Analistas dizem que os Social Democratas e os Democratas Cívicos, desejosos de manter os comunistas longe do poder, podem se juntar em uma grande coalizão que jogaria o país em um período de indecisão. Outro cenário diz que os Social Democratas poderiam formar um governo minoritário dependente do apoio tácito dos comunistas.
Os comunistas não são o único partido que aproveita o grande descontentamento com a política de sempre e vários outros partidos poderiam se mostrar decisivos nesta eleição.
O recentemente criado TOP 09, um partido de conservadores fiscais liderado por Karel Schwarzenberg, um príncipe que fuma cachimbo e é ex-ministro das Relações Exteriores, buscou atrair eleitores mandando a eles falsas notas promissórias para deixar clara a crescente dívida do país, além de promover encontros informais em bares.
Outro novo partido, o Public Matters, liderado por um carismático jornalista investigativo, Radek John, instituiu patrulhas em Praga para remover viciados em drogas e sem-teto das ruas.
No caso do Partido Comunista, sua arma secreta é Katerina Konecna, a integrante mais jovem do Parlamento checo, de 28 anos de idade, que diz se sentir igualmente à vontade usando sapatos de salto agulha ou lendo O Capital.
Filha de ex-integrantes do Partido Comunista, a sra. Konecna diz que a recente crise do capitalismo se mostrou um incentivo aos jovens comunistas, que se sentem atraídos pelas promessas de educação gratuita e empregos garantidos.
“As pessoas preferem fazer filas para comprar banana do que ficar na fila do desemprego”, ela diz.
Ainda assim os limites para o apelo dos comunistas contemporâneos ficaram aparentes em um comício na quinta-feira diante de um dos maiores shoppings de Praga. A maior atração foi Jana Kocianova, de 18 anos, uma versão checa da Britney Spears, que cantou e rodopiou “I Will Survive”, de Gloria Gaynor, para uma plateia de senhores de 80 anos que marcavam o ritmo batendo as bengalas no pavimento.
Falando entre os números musicais, a sra. Kocianova, vestida em jeans apertados, elogiou o sentido igualitário dos comunistas, ainda que cantar para eles não tenha atraído fãs para ela na escola. “Não é cool ser jovem e apoiar o Partido Comunista”, ela lamentou. Mas acrescentou rapidamente: “Eu não vivi sob o comunismo e assim realmente nem lembro como era”.
FONTE: publicado no portal “Viomundo”, do jornalista Luiz Carlos Azenha.
IRRESPONSÁVEIS “ACHISMOS” DE SERRA SOBRE A BOLÍVIA
OS ACHISMOS SOBRE A BOLIVIA
Por Rodrigo Saraceno
"Nassif, só pra enriquecer o debate, que fica num achismo insuportável, trago alguns dados.
Todos os dados a seguir constam do relatório 2009 da UNODC – United Nations Officer on Drugs and Crime, em http://www.unodc.org/documents/wdr/WDR_2009/WDR2009_Coca_Cocain_Market.pdf
Em 2008, a área total de cultivo da folha de coca era de 167,6000 ha. Dessa área, 48,5% se localizava na Colômbia, 33,6% no Peru e 18,26% na Bolívia.
Estamos falando da folha de coca, não de cocaína.
O potencial total produção de cocaína, por sua vez é de 845 toneladas. Deste potencial, 50,88% é referente à Colômbia, 35,73% ao Peru, e 13,37% da Bolívia. Como as taxas de erradicação em cada país é parecida, esse mesmo potencial é utilizado como parâmetro para estimar a produção.
Então, arredondando: a produção mundial de cocaína se dá 51% na Colômbia, 36% no Peru e 13% na Bolívia.
Vamos, agora, à cocaína apreendida na Europa. Uso esse dado porque é único onde há estimativa da origem da droga. País de origem e proporção:
Colômbia – 48%. Peru – 30%. Bolívia – 18%.
Olhando os dados expostos, especialmente o último, fica difícil acreditar que a Bolívia, que participa com 10% a 20% da produção mundial de cocaína, possa ser responsável por 90% da cocaína consumida no Brasil. Não é verossímil essa informação. Queria ver os dados dos quais dispõe o José Serra.”
FONTE: escrito por Rodrigo Saraceno e postado no blog de Luis Nassif [título colocado por este blog].
O FATOR SERRA E AS MARCAS NO PSDB
“As obviedades dessa campanha são de cansar.
Serra dá o tiro na Bolívia. Aí a Veja aparece com a matéria prontinha, mostrando o perigo boliviano. Daqui a pouco vão ressuscitar os 200 mil guerrilheiros das FARCs que invadirão o Brasil pelo mar.
Agora, o Ruy Fabiano – contratado pela campanha de Serra – levanta a bola na coluna do Noblat, dizendo que graças à falta de ação do Itamarati, esse será uma das peças da campanha.
Onde esse pessoal está com a cabeça? Criaram um mundo circular em que meia dúzia de neocons falam para eles próprios sem se dar conta do entorno. É um autismo assustador. Montam toda uma encenação, articulam aqui e ali, Serra solta o rompante, a Veja repica a matéria, o Fabiano autoelogia o brilhantismo da estratégia do próprio grupo, todos rodopiando no meio do salão escuro, como nas velhas conspirações político-midiáticas, julgando que ninguém está acompanhando o bailado.
E a Internet inteira olhando aquele bailado louco e se indagando: o que deu neles? Montam toda uma encenação, supondo-a esperta, para um tema que só encontra ressonância em eleitores de ultradireita e nos órfãos de Sierra Maestra.
Cada vez que acompanho discussões sobre Cuba, Venezuela, Bolívia, guerra fria, aliás, dá um desânimo danado. São temas não apenas distantes da vida comum, do dia a dia real das pessoas, como da própria realidade política atual do país. É restrito a um mundico de nada na Internet, apenas isso. A importância desse tema é assegurar, no longo prazo, a consolidação de uma integração comercial e física da América Latina, algo que vai muito além das discussões de campanha.
Pode-se criticar pontualmente o Itamarati por uma ou outra atitude – quando, por exemplo, houve a expropriação de empresas brasileiras na Bolívia. Ou pela demora em se avançar na integração continental. Ou pode-se elogiar, sustentando que essa política cautelosa foi importante para garantir a estabilidade política da região, ameaçada pelos arroubos de Chávez e pela inexperiência de Morales.
Mas são discussões específicas, longe de configurar uma doutrina capaz de sensibilizar eleitores.
Em relação ao Mercosul, Serra repete os mesmos discursos dos anos 90, quando questionou o acordo automotivo com a Argentina. Em relação à Bolívia, retrocede ao período da Guerra Fria. Não conseguiu avançar uma análise minimamente diferenciada. É como se tivesse hibernado por 15 anos das discussões nacionais e acordado de repente.
E tudo para garantir o factóide da próxima semana, a próxima chamada de capa de Veja.
Não há a menor preocupação em definir um conjunto articulado de ideias e conceitos. É o que em jornalismo se chama de “o mancheteiro”, o sujeito capaz de extrair um slogan de uma matéria mas incapaz de escrever o artigo de fundo.
O resultado é patético.
Junto à centro-esquerda tornou-se uma caricatura. Quando cruzo com algum antigo militante do PSDB de Montoro e Covas, recebo olhares irônicos, tipo «em que fomos nos meter». Junto aos neocons, sempre será apenas um oportunista que quer embarcar na onda sem nunca ter pertencido ao grupo.
O resultado de tudo isso é o suicídio político de Serra. Terminada a aventura das eleições, haverá uma reconstrução da oposição. E, hoje em dia, sobram dúvidas sobre a viabilidade do PSDB de continuar comandando as oposições. As loucuras desse estilo neocon desvairado, a truculência nos ataques a adversários e a aliados, o uso de jornalistas cúmplices para atacar colegas, não apenas comprometeram a eleição de Serra, mas a própria viabilidade do PSDB como líder da nova oposição.
Será um duro trabalho de reconstrução da imagem do partido.”
FONTE: escrito pelo jornalista Luis Nassif e publicado em seu blog.
A DUPLA FACE DE OBAMA
Reginaldo Mattar Nasser (*)
"A semana que passou foi extremamente reveladora do que tem sido a política externa do governo Obama. Em discurso pronunciado na academia militar de West Point ( 22/05/2010), prenúncio da nova doutrina de segurança nacional, o presidente Obama destacou o “engajamento diplomático e as alianças internacionais”, repudiou a ênfase de seu antecessor no poder unilateral americano e o direito de travar uma guerra preventiva contra o terrorismo. O documento enfatiza o fortalecimento de alianças já existentes e manifesta a intenção de trabalhar para "construção de novas parcerias” e de forma mais consistente com as normas e instituições internacionais.
Os meios de comunicação no Brasil, reproduzindo a avaliação das agências internacionais saudaram a nova doutrina como uma visão muito diferente daquela revelada pelo ex-presidente Bush quando anunciou, oito anos atrás no mesmo lugar (West Point) a estratégia de combate ao terrorismo. Mas, apesar de reiteradamente tentar diferenciar a sua estratégia de combate ao terror, daquela empregada por Bush, Obama voltou a utilizar a mesma expressão empregada anteriormente: "Este é um tipo diferente de guerra".
Mas proponho olharmos para outra dimensão do governo Obama que pode ser facilmente encontrada nas páginas da grande imprensa norte-americana. No mesmo dia em tomava posse e o mundo comemorava o fim dos anos Bush, um ataque dos temíveis Drone (veículo aéreo não tripulado que tem por objetivo vigiar territórios e bombardear alvos inimigos) matou dois supostos líderes da Al-Qaeda. Era o primeiro de uma dramática escalada de ataques na fronteira entre o Afeganistão e Paquistão (AFPak).
Durante o ano de 2009 foram realizados 44 ataques, mais do que os cinco anos anteriores em seu conjunto com uma estimativa que varia entre 600 a 700 mortos. O número de mortes de civis causadas pelos aviões é uma questão polêmica que já provocou uma ação judicial nos Estados Unidos, pois ninguém sabe exatamente quais os critérios que a inteligência norte-americana usa para distinguir um "militante" de um civil. É alguém que porta armas? Ora, um grande número de homens naquela região tem o hábito de portar armas. É alguém que oferece hospitalidade de um membro do Taliban e, portanto, um alvo legítimo, mesmo que inclua toda a sua família? Obama ainda não respondeu como e quem toma essas decisões? (Conn Hallinan, Foreign Policy In Focus, May 19, 2010)
Aliás, como bem observou o neoconservador Robert Kagan, embora a administração de Obama tenha demonstrado maior preocupação em prover defesa legal para os terroristas capturados, é preciso reconhecer, por outro lado, que ele tem feito um esforço maior para assassiná-los, eliminando assim a necessidade de julgamentos. (Forein Policy Magazine, Bipartisan Spring, March 3, 2010)
O New York Times revelou essa semana (Mark Mazzetti, NYT May 24, 2010) uma ordem secreta assinada pelo general David H. Petraeus, principal comandante militar no Oriente Médio, no dia 30 de setembro de 2009, autorizando o envio de tropas especiais clandestinas em um esforço para perseguir e capturar grupos militantes, recolher informações e construir laços com as forças locais no Irã, Arábia Saudita, Somália e outros países da região para "preparar o ambiente" para futuros ataques por forças americanas. Além disso, a ordem militar especifica as operações no Irã para recolher informações sobre o programa nuclear do país, e identificar grupos dissidentes que possam ser úteis para uma futura ofensiva militar, ao mesmo tempo em que o presidente Obama insiste em punir o Irã por suas supostas “más intenções”.
O colunista da Folha de São Paulo, Clóvis Rossi (27 de maio de 2010) obteve a íntegra da carta de Obama a Lula e concluiu que o acordo celebrado em Teerã segue todas as solicitações do presidente norte-americano. Destaco o seguinte trecho da carta que não deixa dúvidas em relação à iniciativa do Brasil:
“Caso o Irã não esteja disposto a aceitar uma oferta que demonstre que seu LEU (iniciais em inglês para urânio levemente enriquecido) é para usos pacíficos e civis, eu instaria o Brasil a insistir junto ao Irã quanto à oportunidade representada por essa oferta de manter seu urânio como "caução" na Turquia enquanto o combustível nuclear está sendo produzido.”
Enquanto isso a secretaria de Estado Hillary Clinton, dizendo praticar o “smart power”, constata que existe uma divergência muito séria em relação à diplomacia do Brasil com o Irã", e que o caminho trilhado pelo Brasil, deixa o mundo mais perigoso".
Independentemente da forma governo (democrático ou ditatorial) e de ser teocrático ou não, como será que um iraniano, tomando conhecimento desses relatos, e assistindo o cerco militar gradativo de seu pais desde 2001 (Afeganistão, Iraque e bases militares norte-americanas no Uzbequistão e o Tadjiquistão) deve reagir? É irracional pensar em sentir-se seguro? Em qual Obama o mundo deve confiar?
FONTE: escrito por Reginaldo Mattar Nasser, professor de Relações Internacionais da PUC-SP, e publicado no site “Carta Maior”.
TRANSPETRO LANÇARÁ AO MAR SEGUNDO NAVIO DO PROMEF NO ESTALEIRO MAUÁ
O segundo navio do Programa de Modernização e Expansão da Frota da Transpetro (Promef) será lançado ao mar no próximo dia 24 de junho, no Estaleiro Mauá, em Niterói (RJ), com a presença do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
Trata-se de uma embarcação para transporte de derivados claros de petróleo, com capacidade para 48,3 mil toneladas de porte bruto e 182 metros de comprimento. O navio levará o nome de Celso Furtado, em homenagem ao economista que criou a Sudene e lançou os fundamentos do moderno desenvolvimento do país.
O Promef é um dos principais projetos estruturantes do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento. A solenidade segue o cronograma de lançamentos previsto para este ano, que se iniciou no último dia 7 de maio, no Estaleiro Atlântico Sul (PE), com o Suezmax João Cândido. O Estado do Rio, maior e mais tradicional polo naval do país, já conta com 16 navios encomendados pelo Promef, com R$ 2,2 bilhões em investimentos. O programa vai criar pelo menos 50 mil empregos no Estado, sendo 10 mil diretos e 40 mil indiretos.
O Estaleiro Mauá, que construirá quatro navios de produtos do Promef, está localizado na Ponta D’Areia, em Niterói, região onde nasceu a indústria naval brasileira no século XIX pelas mãos do Barão de Mauá. “Este lançamento tem um significado histórico muito grande, já que foi ali mesmo na Ponta D’Areia onde a tradição brasileira de construir navios começou. Estamos retomando esta tradição”, destaca o presidente da Transpetro, Sergio Machado.
O navio Celso Furtado é o primeiro encomendado a um estaleiro fluminense pelo Sistema Petrobras a ser lançado ao mar, 13 anos após a última entrega. O último havia sido o Livramento, finalizado em 1997 pelo Estaleiro Eisa. A embarcação levou 10 anos para ser concluída, em meio a uma grave crise do setor. A indústria naval brasileira, que havia sido a segunda maior fabricante mundial nos anos 1970, praticamente desapareceu dos radares a partir dos anos 1980.
Com a encomenda de 49 navios do Promef, um dos principais projetos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), os estaleiros foram modernizados e surgiram novas unidades de produção, como o Estaleiro Atlântico Sul, em Pernambuco. Hoje, cinco anos após o lançamento do Promef, o Brasil já possui a quarta maior carteira mundial de encomendas de petroleiros.
Em todo o país, a construção dos 49 novos navios da Transpetro vai gerar cerca de 200 mil empregos, entre diretos e indiretos. Do total previsto, já foram licitadas 46 embarcações, com 38 contratadas. Os últimos três navios do programa estão em fase final de licitação.
FONTE: publicado no blog “Fatos e Dados” da Petrobras.
SERRA: É A ELITE QUE DEVE DECIDIR (!!!)
“Vocês são livres para serem escravos”
Brizola Neto
"O presidente João Batista Figueiredo disse uma vez que “um povo que não sabe nem escovar os dentes não está preparado para votar”. José Serra – isso, este José Serra mesmo que “nem sabia” que ia ocupar ilegalmente 80% do horário do DEM em rede nacional de rádio e televisão – defendeu o fim do voto obrigatório na Constituinte, claro que com argumentos bem menos sinceros do que os do general-presidente.
Ambos, porém, partem do mesmo princípio: é a elite que, preferencialmente, deve decidir o destino do país.
Há um século os atormenta o inconformismo expresso na pergunta que se tornou clássica: porque o voto da cozinheira deve valer o mesmo que o meu?
Este é o pano de fundo da “pesquisa” – acho que, a esta altura, as aspas são mais que merecidas, não é? – publicada hoje pela Folha de S. Paulo, sob o título “Voto obrigatório divide o país”.
A divisão da pesquisa não é novidade. A idéia que se vende da política é a idéia que a elite, via mídia, espalha:”a política não tem nada a ver com as nossas vidas e os políticos não se importam com o povo”. A política que estas elites dominam e os políticos que servem a estas elites.
O ponto importante que esta questão reflete, porém, é outro: a divisão entre os que entendem que a sociedade como uma coletividade de indivíduos essencialmente iguais, malgrado as diferenças reais que tenham suas vidas, ou os que a querem como um simples arranjo de indivíduos que devam estabelecer ou manter relações de dominação social, econômicas e culturais sobre outros indivíduos sem poder de fazer o mesmo em relação a eles.
Esta diferença fica muito bem expressa nas duas opiniões registradas na matéria que acompanha a pesquisa.
Fabiano Santos, do IUPERJ, diz que “O voto facultativo não é neutro do ponto de vista de quem deixa de votar. São as pessoas menos favorecidas que se afastam das urnas. Há uma exclusão das camadas mais pobres, mas deve haver pluralidade nas eleições.”
David Fleischer, da UNB, acha que o voto “teria mais qualidade”, sendo facultativo: “Se não fosse obrigação, o voto seria mais pensado. Hoje em dia, o cidadão que vai às urnas acaba votando em uma pessoa cujas propostas nem conhece. Só vota porque é um dever, e não porque pensou naquele voto.”
Eu, que não sou cientista político, acho que só posso fazer uma afirmação. Proporcionalmente, o número de pessoas com o sobrenome “Fleischer” que compareceria às urnas certamente seria maior do que os de sobrenome “Santos”.
Ironias à parte, o que aconteceria – e todas as pesquisas o mostram – que o fim da obrigatoriedade do voto significaria uma sobrerrepresentação das camadas mais ricas da população e uma subrrepresentação das mais pobres.
É por isso que o voto facultativo não vinha sendo um problema nas sociedades desenvolvidas – onde o nível de igualdade econômica é maior – mas sempre foi um fator de ilegitimidade do poder naquelas onde os padrões de desigualdade atingem níveis abissais, como é o caso do Brasil.
O voto obrigatório foi o início de uma democracia de massas no Brasil, onde só cerca de 10% dos brasileiros estavam inscritos como eleitores durante a República Velha, contra os quase 70% de hoje. Foi uma das principais motivações – e implantado em 1932 – da Revolução de 30. Foi uma das conquistas da “Era Vargas” que o governo FHC-Serra não conseguiu – e teve muita vontade disso – destruir.
O voto facultativo, ao contrário do que os liberais do início do século 20 e os neoliberais do século 21 diziam e dizem, é um retrocesso na qualidade da eleição. Não apenas porque, objetivamente, vai distorcer a realidade da representação política e estabelecer, na prática, “valores” diferentes para os votos como, também, vai favorecer a corrupção eleitoral e o “curralismo” praticado pelas oligarquias do interior.
O exercício do voto tem um custo. Um eleitor pobre que precise tomar um ônibus para ir votar, gasta 1% de seu salário mínimo apenas para isso. Se um político corrupto quer oferecer alguma vantagem material para um eleitor e deseja ter o controle do voto, consegue fazer isso apenas verificando se o cidadão a quem prometeu algo foi votar. Ao contrário, pode também “marcar” – no caso de derrota – com mais facilidade o eleitor que compareceu. Se, numa determinada eleição onde não seja candidato, um chefete político determinar que o eleitor “não dê voto a ninguém”, basta ir ver quem vai votar.
Esta questão nos coloca, cruamente, o elitismo que se traveste em uma falsa “modernidade” e “liberdade”. Os pobres devem ser excluídos de tudo, das cidades, dos morros, da paisagem, das urnas. Bom mesmo é que fossem habitar os subterrâneos, como imaginou Aldous Huxley em seu “Admirável Mundo Novo”.
O direito ao voto é como o direito à liberdade. É irrenunciável, e cabe à sociedade evitar que se encontrem maneiras de aboli-lo na prática, mesmo que o indivíduo, por uma série de circunstâncias, aceite e pareça mesmo querer esta abolição. É como a escravidão: mesmo de “livre e espontânea vontade” uma pessoa em situação miserável não tem o direito de se vender como escravo, porque os valores de nossa coletividade não aceitam que, por qualquer circunstância, um ser humano seja reduzido a esta condição degradante.
Ninguém discute se um indivíduo, mesmo querendo, pode tirar sua própria vida, pode amputar um braço ou permanecer analfabeto. Isto degrada absolutamente um ser humano e não permitir a degradação absoluta do ser humano, mesmo voluntária, é um princípio civilizatório do qual as sociedades não podem se afastar, sob pena de voltarem à selvageria.
As nossas elites, perversas, controlam os meios de comunicação e fazem o que podem para apresentar como desprezível o exercício cidadão da política. Nesta matéria, por exemplo, tentam levar a gente “no bico”, dizendo que Dilma se beneficiaria do voto facultativo. O que não dizem é que é justamente na enorme parcela de pessoas mais pobres – e que não iriam votar – está o maior nível de desconhecimento de sua candidatura e do fato de ser ela a candidata apoiada por Lula.
Mas, como não é raro acontecer, os desejos desta gente se traem em atos falhos, como o de terem colocado, logo abaixo da manchete, a imagem dos catadores de lixo. Aí está o que, no fundo, querem destes subcidadãos: que estejam ali, naquela mesma condição do lixo, como algo que se usa e se joga fora.
Deve ser duro para eles admitir que ali estão seres humanos iguais a eles em direitos.
E que um dia, um dia que vem vindo, os terão.”
FONTE: escrito por Brizola Neto e publicado em seu blog “Tijolaço”.