quarta-feira, 30 de novembro de 2011

BRASIL CRESCE! O Superporto do Açu (RJ) e a EIKELÂNDIA, de EIKE BATISTA


No litoral fluminense, bilionário constrói porto e quer atrair empresas de aço, cimento, carro, produtos Apple, além da cidade "X".

André Vieira, do portal IG; enviado especial a São João da Barra (RJ)

“A ponte mede quase três quilômetros de comprimento. Nasce em solo arenoso e avança sobre o mar adentro. Está montada sobre 662 estacas fincadas no fundo da água que, se enfileiradas, cobririam a distância de 38 quilômetros. Sua estrutura tem a largura de 27,5 metros, que permitirá não só a passagem de gigantesca correia de transporte de minério de ferro, como também a circulação de caminhões pesados.


Superporto do Açu: Metade da mão de obra contratada para as obras vem da região; Quando os projetos estiverem prontos, promessa é gerar 50 mil postos de trabalho (Foto: Fabrizia Granatieri)

Na ponta da ponte, em alto-mar, a temperatura supera os 30 graus. O forte vento reduz a sensação térmica, mas deixa o mar agitado. As primeiras pedras lançadas para a construção do quebra-mar já começam a aparecer na superfície e vão proteger os navios que chegarão no futuro porto que está sendo construído. Ao todo, serão lançados 1,8 milhão de metros cúbicos de blocos de pedras no mar, o equivalente ao morro do Pão de Açúcar.

Quando estiver pronto, o porto acomodará dez berços de atracação. O calado natural de 15 a 18 metros já seria suficiente para navios Panamax, nas medidas que cruzam o canal do Panamá. Mas as obras de dragagem vão aumentar a profundidade para 25 metros, o que inclui a nova geração de meganavios Chinamax, com capacidade de carga de mais de 350 mil toneladas de minério, que hoje chegam apenas a poucos portos existentes no mundo.

A obra ‘Superporto do Açu’ começou no fim de 2007. Até sua conclusão, prevista para 2012, receberá investimentos de R$ 4,5 bilhões. Mas o porto e a estrutura para o transporte do minério serão uma migalha se comparados a todos os projetos sonhados pelo empresário para a região.

Eike Batista

Se o plano idealizado por Eike Batista se materializar, os investimentos - um complexo industrial integrado às atividades portuárias além de um megaempreendimento residencial para acomodar dezenas de milhares de pessoas - vão transformar São João da Barra, município com 32 mil habitantes do litoral norte fluminense, numa verdadeira “Eikelândia”.


O Superporto do Açu é o cartão-postal mais vistoso dos empreendimentos do oitavo homem mais rico do mundo, segundo ranking da revista “Forbes” divulgado em março de 2010. Quase todas as empresas do grupo EBX, o conglomerado empresarial criado pelo multibilionário, composto por uma sopa de siglas todas com a letra “xis”, têm planos de investimentos no complexo, que fica a pouco mais do que três horas de carro da cidade do Rio de Janeiro.

A empresa de logística LLX responde pelas atividades portuárias; a de energia MPX planeja construir duas usinas térmicas, uma movida a carvão importado (2.100 MW) e outra a gás (3.330 MW), similar à oferta de energia firme de Itaipu; a empresa de construção naval OSX prevê instalar seu estaleiro. A OGX é outra potencial candidata a ter uma base local: a empresa de petróleo e gás tem direitos na exploração de blocos na bacia de Campos, a menos de 300 quilômetros da costa.

O grupo empresarial de Eike Batista já teve mais coisa na área do complexo do Superporto do Açu, mas vendeu. A MMX, empresa de mineração de Eike, tinha montado um sistema que incluía a exploração de uma mina em Minas Gerais, o mineroduto de 500 quilômetros para o carregamento da matéria-prima até Açu, onde será beneficiado e transportado pelo porto ao exterior. Mas juntamente com outro projeto no Amapá, Eike Batista vendeu o negócio por US$ 5,5 bilhões para a ‘Anglo American’, uma das maiores do setor no mundo. A mineradora ‘Anglo’ continua com as obras no complexo, e o prazo de conclusão é o mesmo ano quando houver a finalização do porto.

Além dos negócios próprios, o plano para a Eikelândia contempla a instalação de outros grandes empreendimentos. Numa área de 90 quilômetros quadrados, equivalente a cidade de Vitória (ES), o bilionário brasileiro pretende atrair duas siderúrgicas – uma já assinou contrato com os chineses da ‘Wisco’, uma das três principais produtoras de aço do país asiático.

A outra foi fechada com os ítalo-argentinos da ‘Ternium-Techint’, um dos maiores fabricantes de aço da América Latina. Cada uma das siderúrgicas terá fábricas de cimento como vizinha - a Votorantim e a Camargo Corrêa, as duas maiores empresas brasileiras do setor, já assinaram acordos de intenção de investimento com as empresas de Eike.

O empresário já indicou seu interesse em atrair uma montadora de carros. Toyota? Suzuki? Essas são as marcas especuladas pelos moradores da região. Carro chinês? Carro elétrico? O Nano? O nome não é revelado pelo empresário em suas entrevistas ou mensagens pelo ‘Twitter’. Pouco se sabe sobre boa parte dos 60 memorandos de entendimentos assinados pelas empresas de Eike, que não abre as informações alegando questões de confidencialidade.

Para completar o conjunto de projetos, indignado pelo fato de o consumidor brasileiro pagar mais do que o dobro para ter acesso a um iPad, o bilionário empresário disse que gostaria de atrair uma fabricante de produtos da Apple para sua “Eikelândia”. O investimento total é estimado em US$ 36 bilhões.

EQUIPAMENTOS PESADOS

Guindastes gigantescos, caminhões pesados novíssimos, estradas de acesso recém-asfaltadas. Aos poucos, a paisagem está sendo drasticamente redefinida pelas novas construções. Os canteiros de obras ocupam espaço em fazendas dedicadas antes à pastagem.

Moradores do município contemplam a obra como se estivessem em um grandioso parque de diversões, vendo a Disneylândia pela primeira vez. A LLX, a empresa responsável pelo porto, mantém um programa de recepção local e registra mais de 2 mil visitas anuais, o que dá quase 10% da população.

A entrada é monitadora por segurança privada. Depois de percorrer uma estrada de terra, cercada por vegetação rasteira, passa-se um heliponto até chegar à recepção, construção ao melhor estilo das mansões de praia: ampla, com pé direito alto e iluminação natural.

Um gramado que cerca a construção e é servido por sistema de irrigação torna o ambiente um oásis no meio do solo pouco fértil dessa região conhecida como Açu, que fica no 5º Distrito, no parte sul do município de São João da Barra. No ambiente com ar condicionado, que contrasta com o calor abafado do lado de fora, o painel exposto na parede impressiona pela quantidade de construções do complexo porto-indústria.

À frente dele, uma maquete, recentemente desatualizada pela decisão de erguer o estaleiro ali, que era disputado também por Santa Catarina. A construção tem, ainda, uma sala de cinema para pelo menos 50 pessoas, onde é projetado um filme os negócios do empresário, amplos banheiros, escritório e um pequeno alojamento. As pessoas que trabalham ali são simpáticas e atenciosas e exigem o cuidado com as normas de segurança numa obra dessa magnitude.

Um vídeo com a imagem aérea da ponte dá a dimensão exata da grandiosidade. A ponte de três quilômetros do porto já atraiu a atenção de jornalistas do mundo inteiro. A rede de TV CNN sobrevoou a estrutura do porto de helicóptero. O jornal “Washington Post” esteve aqui chamando a atenção de que o empreendimento está saindo do chão por conta do interesse chinês em obter recursos naturais – minério de ferro é o principal deles.



[Vídeo acima também em:  http://www.youtube.com/watch?v=xgp5FxARnWI ]

Na maioria das apresentações realizadas para investidores, a ponte é mostrada como o caminho para o desenvolvimento de uma região, que deve gerar 50 mil empregos diretos quando tudo estiver pronto, segundo números divulgados pela empresa.

No estágio atual da obra, trabalham cerca de 2,5 mil pessoas, das quais mais da metade da região, principalmente nas funções mais básicas. Engenheiros e técnicos mais especializados foram “importados” e ocupam boa parte das pousadas da região.

As projeções divulgadas pela prefeitura indicam que a população de São João da Barra irá crescer dos atuais 32 mil para cerca de 250 mil pessoas em um prazo de até 15 anos. A prefeitura lançou um plano de obras de infraestrutura, com investimentos de R$ 80 milhões para os próximos anos, que inclui redes de água e esgoto.

Seis postos de saúde, cinco creches, duas novas escolas foram construídos. Abriram-se vagas para o ensino técnico voltado, por exemplo, para operadores logísticos e metal-mecânico. Além disso, 180 alunos estão tendo aulas de mandarim para comunicar-se com os chineses que vão trabalhar numa das duas siderúrgicas esperadas no complexo industrial.

NÃO À SUB-HABITAÇÕES

Para atender a demanda, a prefeitura calcula a construção de 84 mil novas unidades habitacionais. “Estamos nos preparando para atender esse forte crescimento e desenvolver o pessoal que aqui está”, diz a prefeita de São João da Barra, Carla Machado (PMDB). Mas ela adverte que não quer que o município acomode bolsões de pobreza, com o surgimento de favelas. “Quem vier para cá e se estabelecer em barracos será retirado”, afirma.

Para acomodar o crescimento populacional, o grupo EBX decidiu criar, do zero, a “cidade X”, uma área anexa ao complexo porto-indústria. O empreendimento tem meta de atender 250 mil pessoas, embora a prefeitura avalie que não será para mais do que 150 mil habitantes. Será desenvolvido pela REX, a empresa imobiliária da Eike.

Para tanto, o empresário convidou o arquiteto e urbanista Jaime Lerner, ex-governador do Paraná, para criar uma cidade modelo. “A ideia é garantir habitação com infraestrutura, de modo que o crescimento urbano seja planejado e ecologicamente sustentado”, explica a empresa. Uma das propostas em estudo é o uso de bicicletas e de carros elétricos. “Não queremos também que a cidade X seja um condomínio fechado”, diz a prefeita. “Não é possível ter um município fragmentado.”

BEBIDA MILAGROSA

Por anos, São João da Barra viveu de atividades pesqueira, pecuária e agrícola, como a cana de açúcar - até a falência das usinas existentes na vizinha Campos de Goytacazes. Tornou-se, durante os anos 1970 e 1980, nacionalmente conhecida por causa da propaganda de um conhaque de alcatrão, fabricado pelo grupo Thoquino, conhecido como “o conhaque do milagre”, capaz de curar os males dos enfermos por artrite.

Era a maior empresa de destilados do Brasil, até a entrada das companhias estrangeiras”, diz Victor Aquino, secretário de Planejamento de São João da Barra e um dos mais de 100 herdeiros do grupo de bebidas. “Fazia muito sucesso. Chegou ao “Guiness Book”, o Livro dos Recordes, como o conhaque mais vendido no mundo em número de doses”, orgulha-se Aquino, que, em seguida, faz a ressalva: “conhaque bom mesmo é vendido em garrafa”.

Atualmente, o município vive da atividade de turismo, com a vinda de hordas de mineiros para as praias de Atafona e Grussaí - curiosamente, o maior hotel do município, com 600 quartos, é o SESC, de Minas Gerais, cuja cidade mais próxima fica a cerca de 200 quilômetros.

Mas o que mais gera receita e mantém a cidade é a receita oriunda dos royalties do petróleo retirado do campo de Roncador, um dos maiores da Petrobras, na bacia de Campos. As transferências de recursos garantem cerca de R$ 200 milhões do orçamento anual de R$ 250 milhões a ser realizado em 2010.

ARRECADAÇÃO EM CRESCIMENTO

A prefeitura já nota aumento na arrecadação com o ISS, o imposto sobre serviços, por conta das transformações geradas pelo Porto de Açu. Em 2007, a receita com ISS foi de R$ 1,6 milhão, valor que chegou a R$ 8 milhões no ano passado. “Apenas o estaleiro do Eike vai gerar mais R$ 35 milhões em recursos próprios ao município”, diz Aquino, confiante de que o empreendimento dará à cidade de São João da Barra independência financeira. A prefeitura já prepara atualização do mapa de georeferenciamento para fixar novas cobranças de IPTU e ISS.

Victor Aquino, secretário de Planejamento de São João da Barra: "novo" Eldorado Foto: Fabrizia Granatieri Ampliar

Aquino diz que São João da Barra vive uma fase de “novo Eldorado” brasileiro. Ele nasceu em Campos, nunca trabalhou na fábrica da família e mudou-se para a cidade do Rio de Janeiro há três décadas para estudar e trabalhar como arquiteto.

Conheceu Eike Batista quando o empresário fez um investimento na área de saúde e convidou o arquiteto para fazer um projeto de consultórios hospitalares. Há três anos, fascinado com o Superporto do Açu, Aquino decidiu voltar à região de São João da Barra e ajudar a implantar o empreendimento de Eike.

Sou uma espécie de Severino, ajudando a destravar tudo”, brinca. “Aqui as oportunidades existem. Quem for bom profissional se dará bem”, diz. Quando sair da prefeitura, ele mesmo espera colher essas oportunidades com seu negócio na área de arquitetura “Espero ganhar muito dinheiro no futuro, obviamente não serei um bilionário como o Eike”, diz.

O primeiro shopping da cidade começa a sair da maquete. A SuperBom, uma rede de supermercados de Campos, acena com a abertura de uma filial na cidade vizinha. A cidade tem duas agências bancárias, uma do Banco do Brasil e outra do Itaú. A Caixa Econômica Federal deve abrir uma filial, assim como se espera o mesmo do Bradesco e Santander.

Determinadas cidades nascem da junção de pessoas com empresas que buscam explorar seus recursos naturais. A mineira Ipatinga era uma cidade de 3 mil pessoas que cresceu à sombra da siderúrgica Usiminas. A cidade fluminense de Volta Redonda nasceu com a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). As duas cidades são consideradas exemplos do desenvolvimento industrial brasileiro.

Mas há casos de tremendo fiasco. Henry Ford, o empresário que revolucionou a indústria automobilística, criou uma cidade do zero no meio da floresta Amazônica para extrair das seringueiras o látex utilizado na fabricação de pneus aos carros que vendia nos Estados Unidos. A “Fordlândia” durou pouco mais de 15 anos e virou cidade abandonada perto de Santarém, no Pará. Delírio ou não da mente dos empreendedores, o tempo vai dizer se Eike Batista concretizará os projetos empresariais, transformando São João da Barra na sua ‘Eikelândia’.”

FONTE: reportagem de André Vieira, do portal IG, enviado especial a São João da Barra (RJ)  (http://economia.ig.com.br/empresas/conheca+a+eikelandia+a+obra+mais+arrojada+de+eike+batista/n1237908968098.html) [imagens adicionadas por este blog ‘democracia&política’ obtidas nos endereços  (http://www.llx.com.br/publique/cgi/c...sid=162&lng=br) e  (http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=795582) [Postagem oriunda de sugestão do leitor Iurikorolev].

‘BRASIL PODE SE TORNAR DESENVOLVIDO EM 20 ANOS’

Jim O'Neill, economista inglês, chefe de pesquisa em economia global do grupo financeiro ‘Goldman Sachs’ desde 2001. Criador do conceito BRICs

Do jornal “O Estado de S.Paulo” [confessadamente tucano/serrista, conforme editorial em 2010]

PARA ECONOMISTA CRIADOR DOS BRICs, BRASIL, RÚSSIA, ÍNDIA E CHINA NÃO PODEM MAIS SER CONSIDERADOS PAÍSES EMERGENTES

“Antes do fim desta década, um representante dos BRICS ocupará a chefia do Fundo Monetário Internacional. Até 2020, o yuan e o real passarão a compor o ‘Direito Especial de Saques’ (SDR, na sigla em inglês), “moeda” do FMI, ao lado do dólar, euro, iene e libra. O Brasil tem as maiores chances de se tornar um país desenvolvido, o que pode ocorrer em 20 anos.

Jim O’Neill continua sonhando com o futuro dos BRICS. A história da criação do conceito, a evolução dos países e suas perspectivas, está no livro ‘The Growth Map: Economic opportunity in the BRICs and Beyond’ (O Mapa do Crescimento: as oportunidades econômicas nos BRICs e além), que terá lançamento global em 5 de dezembro e deverá ter versão em português em 2012.

Em entrevista exclusiva à ‘Agência Estado’, em Londres, ele mantém o tom sempre otimista e contemporizador. Admite que a grave crise da zona do euro afetará os BRICs, mas acha que a China, longe de ser uma bolha prestes a estourar, tem capacidade de contrabalançar os problemas do velho continente.

Para ele, os BRICs não têm coerência como grupo político, por serem países muitos diferentes. Porém, precisam fazer parte da governança global. O’Neill prevê que eles se tornarão parte de um novo grupo, um G-9, menor e mais efetivo do que o G-20, a ser formado também por Estados Unidos, Japão, zona do euro, Reino Unido e Canadá.

Fanático por futebol e torcedor do ‘Manchester United’, ele diz que estará no Brasil para a Copa de 2014 – afinal, esteve em todos os quatro últimos mundiais. A seguir, os principais trechos da entrevista:

-O Sr., em algum momento, imaginou que o conceito dos BRICs se tornaria tão famoso?

Eu nunca imaginei. Isso mudou minha vida profissional. É extraordinário.

-Se pudesse voltar no tempo, teria feito alguma escolha diferente?

Nos três primeiros anos, eu pensei sobre o México. Mas, quando olho para trás, não me arrependo. Na época, a escolha do Brasil foi a mais controversa.

-A inclusão do Brasil foi sua maior aposta. Arriscado, não?

(Risos) Foi muito arriscado. Pessoas [demotucanos] no Brasil dizem isso ainda hoje. Mas, como eu já estava no mercado há muitos anos, eu sabia da importância das metas de inflação. Isso foi o que realmente me influenciou.

-No livro, o Sr. menciona a resistência do seu colega do ‘Goldman Sachs’, Paulo Leme. Ele foi contra a inclusão do Brasil?

Ele ficou surpreso, não estava muito disposto. Mas, depois, ele deu muito apoio.

-O Sr. diz que a maior conquista do Brasil foi o controle da inflação. Algumas pessoas [da direita, antidesenvolvimentista] acreditam que o BC acaba de abandonar as metas de inflação. Como avalia?

Não acho que tenha abandonado. Mas não está tão independente como já foi. Talvez tenha apenas sido muito astuto quando olhou os problemas externos três meses atrás.

-O Sr. está preocupado com o controle da inflação no Brasil?

Não muito. Existe outro fator importante aqui: o Brasil tem o desafio da doença holandesa neste momento. O real subiu tão fortemente que as autoridades brasileiras precisam fazer algo. De certa forma, eu até admiro o fato de o Banco Central tomar certos riscos. Mas, eles precisam ter cuidados, é claro.

-O Sr. fala sobre o risco que a apreciação cambial traz ao País. Estamos vendo muita pressão no câmbio nos últimos dias com a crise europeia. Seria essa a reversão desordenada que o Sr. teme?

A situação na Europa se tornou muito problemática nas últimas semanas, especialmente em relação à Europa. As autoridades europeias precisam ser mais decisivas, pois o mercado está muito nervoso. Falta confiança sobre as decisões políticas na Europa.

-Essa turbulência pode afetar fortemente o real? [torcida demotucana, dentro da estratégia de 'quanto pior, melhor']

Já está afetando. A situação é muito frágil. Para ser honesto, muito vai depender da China. Se a China mostrar mais liderança, se a inflação lá cair e eles cortarem os juros e permitirem mais valorização da moeda, será muito importante para contrabalançar a crise na Europa.

-Mas os BRICs serão afetados pela crise europeia? [insistência da torcida demotucana, dentro da estratégia de 'quanto pior, melhor']

Claro, já estamos vendo isso. A zona do euro é um grande mercado. Isso afeta todo mundo, inclusive os BRICs. Mas, deixe-me enfatizar: nos próximos 12 meses, o crescimento do PIB dos BRICs será provavelmente igual a [criação de] uma nova Itália. Precisamos manter essas coisas em perspectiva. É claro que a crise europeia pode afetar os BRICs. Mas os BRICs podem contrabalançar.

-O Sr. acredita que o Brasil entrará em recessão técnica? [continua a insistência da torcida demotucana, dentro da estratégia de 'quanto pior, melhor']

Os dados mais recentes apontam que o PIB poderá se contrair no quarto trimestre. Mas acho que será temporário. Não tenho certeza de que o País entrará em recessão técnica.

-Qual a taxa de crescimento que o Sr. projeta para o Brasil nos próximos anos?

A tendência está entre 4% e 5%.

-O Sr. diz que os BRICs não podem mais ser chamados de mercados emergentes. Qual é a perspectiva para que se tornem países desenvolvidos?

Acho que o Brasil tem, provavelmente, a maior chance. Até o fim desta década, a renda per capita terá dobrado. A economia está hoje perto de US$ 2 trilhões e o PIB per capita, próximo de US$ 15 mil. Talvez até o fim desta década seja de US$ 30 mil. Em 20 anos, o Brasil pode se tornar um país desenvolvido.

-O que ainda precisa ser feito no Brasil?

Mais investimentos do setor privado e inovação.

-Por que devemos acreditar que a China não é uma bolha, como o Sr. argumenta? Há muita preocupação sobre a qualidade dos empréstimos, as dívidas locais e os preços das moradias.

Essa é uma visão muito popular. As pessoas precisam entender que os preços das casas na China estão caindo porque as autoridades estão tentando conter a alta. Não é um ‘boom’ típico do Ocidente. É claro que não é o estouro de uma bolha, é o governo tentando conter.

-O livro passa impressão de que o Sr. não está tão entusiasmado com Rússia e Índia. É isso?

Interessante escutar isso. Eu estava tentando ser realista sobre os desafios. Sua conclusão está certa, eles ainda precisam fazer muitas coisas. O Brasil e a China estão à frente.

-O Sr. diz que os BRICs têm limitações como grupo político porque são países muito diferentes.

O único ponto em comum é que eles têm populações muito grandes. E o desejo de ter mais sucesso.

-Outro ponto em comum é a corrupção [Outra estratégia da grande mídia e da direita demotucana para voltar ao poder. Esconder suas corrupções e magnificar as mais recentes, querendo vender a ideia que somente nos governos Lula e Dilma há corrupção].

Sim. Mas há países do G-7 com esses problemas também. Muitas pessoas falam disso com mentalidade muito ocidental. Veja o que ocorreu na Itália nas últimas décadas: a Itália não está livre da corrupção.

-Os BRICs são ameaça ao G-7?

Não chamaria de ameaça. Os encontros de cúpula dos BRICs destacam os acontecimentos econômicos do G-7. Foi como um oficial sênior do G-7 me disse recentemente: “Não podemos resolver nada sem a China”.

-Como deve evoluir a governança global?

Todos os quatro BRICs se tornarão parte de um novo grupo, menor que o G-20. Até o fim da década, estarão entre as dez maiores economias. Se a zona do euro sobreviver, se tornará apenas um grupo. Então, teremos Estados Unidos, Japão, a zona do euro, os quatro BRICs e, talvez, o Reino Unido e o Canadá, no que seria o novo G-9.

-O Sr. também escreve que uma moeda comum dos BRICs é muito improvável. Mas e a inclusão do yuan e até do real no ‘Direito Especial de Saques’ (SDR, na sigla em inglês), a ‘moeda’ do Fundo Monetário Internacional?

Até 2020, sem dúvida, é possível. Com base nas recentes definições do G-20, está claro que o yuan entrará até 2015. E o real poderia entrar até 2020.

-E quando veremos um membro do BRIC como chefe do FMI?

Em algum momento antes do fim desta década. Talvez o Armínio (Fraga, ex-presidente do Banco Central) [essa alusão ao ex-Presidente do BC no governo FHC causou forte emoção na equipe do tucano 'Estadão'. Inebriados de satisfação, descontroladamente eufóricos, tiveram que encerrar a entrevista].

-O Sr. menciona isso no livro. Mas a indicação dele seria impossível no governo Dilma Rousseff. [a afirmação do 'Estadão' subentende que os demotucanos devem voltar ao poder para Armínio Fraga ser Chefe do FMI]

Eu sei. Só estava tentando destacar que há pessoas preparadas.”

FONTE: reportagem de Daniela Milanese, correspondente em Londres do jornal “O Estado de S.Paulo” [confessadamente tucano/serrista, conforme editorial em 2010]. Postado por Luis Favre em seu blog  (http://blogdofavre.ig.com.br/2011/11/brasil-pode-se-tornar-desenvolvido-em-20-anos/)[imagem do google e trechos entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’]

AERONÁUTICA DESMENTE A “ISTO É”


Nota Oficial - Esclarecimento sobre reportagem da Revista ISTOÉ (Ed.2194)

“O Comando da Aeronáutica contesta o teor da reportagem "A Farra da FAB" da revista ISTOÉ, em sua última edição de número 2194, sobre supostas irregularidades na folha de pagamento do Comando da Aeronáutica. Dessa forma, o Centro de Comunicação Social da Aeronáutica (CECOMSAER) presta os seguintes esclarecimentos:

O Comando da Aeronáutica, ao longo do ano de 2011, vem atualizando as informações administrativas constantes da ‘Relação Anual de Informações Sociais’ (RAIS) decorrentes do desligamento de militares da Aeronáutica. Essa atualização se dá através do envio de informações retificadoras ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). O principal item em atualização é a inclusão da data de desligamento de ex-soldados.

Por meio das informações da RAIS, o MTE poderá atualizar ou inserir a data de desligamento, bem como qualquer outro dado relativo aos ex-soldados no ‘Cadastro Nacional de Informações e Serviços’ (CNIS). É importante salientar que esse cadastro não proporciona qualquer efeito na elaboração da folha de pagamento da Aeronáutica.

O ‘Cadastro Geral de Empregados e Desempregados’ (CAGED), por sua vez, destina-se a fornecer informações utilizadas pelo programa de seguro-desemprego, condição não aplicável aos militares.

O ato administrativo que implica o imediato cancelamento do pagamento de remuneração (salário) de um militar da Aeronáutica é a publicação do seu desligamento do serviço ativo em boletim interno de sua organização militar, fato que a própria reportagem afirma ter ocorrido.

No momento em que a reportagem acusa a Aeronáutica de desviar até R$ 3 bilhões a partir de apurações incompletas, em particular a ausência de informações contidas na RAIS, comete equívocos, mistura conceitos, apresenta deduções descontextualizadas e confunde o leitor, promovendo uma “farra de suposições”.

Outro erro da reportagem foi confundir o conceito de “inativo” extraído do ‘Sistema de Informações Gerenciais de Pessoal’ (SIGPES) (*), com o de “aposentado”. Inativo, no SIGPES, significa que o indivíduo não está exercendo atividade funcional na instituição, podendo estar nessa condição de forma remunerada ou não.

O ex-soldado Paulo André Schinaider da Silva, citado na matéria, teve seu licenciamento (exclusão do serviço ativo) da Aeronáutica publicado em março de 2004. Desde então, não faz jus e não recebe nenhum tipo de remuneração. Tal fato também impossibilita que outro cidadão possa receber salário em seu lugar.

Cabe destacar que o Comando da Aeronáutica tem mantido informados o Ministério da Defesa e o Ministério Público Federal a respeito das acusações apresentadas por ex-soldados da Aeronáutica.

Brasília, 28 de novembro de 2011.

Brigadeiro-do-Ar Marcelo Kanitz Damasceno

Chefe do Centro de Comunicação Social da Aeronáutica”

(*)Esclarecimento: O Sistema de Informações Gerenciais de Pessoal (SIGPES) é uma ferramenta do Comando da Aeronáutica destinada a produzir informações relativas ao efetivo militar e civil, ativos, inativos ou pensionistas vinculados a este Comando”.

FONTE: divulgado pelo Centro de Comunicação Social da Aeronáutica (CECOMSAER)  (http://www.fab.mil.br/portal/capa/index.php?mostra=9323¬a+oficial+-+esclarecimento+sobre+reportagem+da+revista+istoe+(ed.2194)) [título e imagem adicionados por este blog 'democracia&política'].

CRESCIMENTO DA ECONOMIA DO BRASIL CRIA 19 MILIONÁRIOS POR DIA, diz "Forbes"


Do portal UOL [do grupo tucano "Folha"]

O crescimento da economia brasileira nos últimos anos [nos governos Lula e Dilma] cria 19 milionários por dia desde 2007, segundo reportagem publicada pela revista norte-americana "Forbes".

Os principais responsáveis por esse “boom” são os crescimentos do consumo e do Produto Interno Bruto (PIB).

O crescimento do país tem impulsionado [também] o aumento da fortuna de empresários. Segundo a publicação, entre os setores de destaques estão: varejo, saúde, imóveis, construção e indústrias de base.

Outro fator apontado pela “Forbes” são os altos salários pagos, principalmente, no setor financeiro. Prêmios de até R$ 1 milhão por ano chegam a ser "comuns".

O Brasil tem hoje 30 bilionários e 137 mil milionários. Cerca de 70% da riqueza está concentrada nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro.

A pesquisa foi feita considerando toda a riqueza individual das pessoas, que incluem investimentos, imóveis, poupança além de dinheiro.”

FONTE: do portal UOL [do grupo tucano "Folha"]  (http://economia.uol.com.br/ultimas-noticias/redacao/2011/11/29/crescimento-da-economia-do-pais-cria-19-milionarios-por-dia-diz-forbes.jhtm) [trechos entre colchetes adicionados por este blog 'democracia&política']..

“BARBAS DE MOLHO”

rolo compressor chinês

Sou de uma geração treinada em ler nas entrelinhas. Vivi as longas décadas de regimes ditatoriais latino-americanos e aprendi a pesquisar as intenções nos discursos oficiais. O Dr. Ulysses Guimarães me ensinou que se deve prestar atenção aos silêncios nos discursos.

Por Carlos Lessa, no jornal “Valor Econômico”, [pertencente ao grupo tucano Globo/Folha]

Percebo crescente preocupação da presidente Dilma com a China e suas pretensões geopolíticas e geoeconômicas. Na reunião do G-20, a presidente declarou sua preocupação com a ausência de compras chinesas de produtos industriais brasileiros (leia-se, nas entrelinhas, que o Brasil é exportador de alimentos e matérias-primas sem processamento: soja em grão, minério de ferro bruto, couro de vaca sem curtição etc).

Em passado relativamente recente, exportamos geradores para a grande usina do Rio Amarelo; agora, estamos importando geradores da China. Vendemos aviões da Embraer. Bobamente, aceitamos instalar uma filial na China; os chineses clonaram a fábrica da Embraer e, hoje, competem com o avião brasileiro no mercado mundial. Semana passada, a presidenta declarou sua preocupação com a tendência chinesa à aquisição de grandes glebas agrícolas no Brasil. A percepção presidencial não resolve o problema das relações Brasil-China, porém já é meio caminho andado para que o poder executivo nacional tenha aquelas dimensões presentes.

O enigma chinês é fácil decifrar. O Brasil cresceu, de 1930 a 1980, 7% ao ano. Depois dessas décadas, mergulhamos na mediocridade e patinamos com uma taxa média ridícula de 2,5% [melhorou significativamente no governo Lula/PT, mas ainda longe do ritmo chinês]. A China, nas últimas décadas, vem crescendo anualmente entre 9% e 10%. Entretanto, está em situação potencialmente pior que o Brasil. Hoje, mais de 80% da população brasileira está em áreas urbanas e 50% em metropolitanas e nem chegamos aos 200 milhões de habitantes.

A China tem população de 1,34 bilhão, sendo que menos de 50% estão na área urbana. Como a renda média do chinês rural é um terço da do chinês urbano, é inexorável a transferência (equivalente a duas vezes a população brasileira) para as cidades chinesas, nos próximos 20 anos. É fácil entender o sonho de urbanização do chinês rural. A periferia urbana das cidades chinesas já está "favelizada".

Sabemos que o Brasil tem péssima distribuição de renda e riqueza. Houve melhoria da participação dos salários na renda nacional, que evoluiu [no governo Lula/PT], desde 2000, de 34% para 39%. A elevação do poder de compra dos salários foi importante. Entretanto, o leque salarial se tornou mais desigual e houve pouca geração de empregos de boa qualidade. O salário médio brasileiro é muito baixo, entretanto é, por mês, igual ao limite de pobreza chinês ao ano (cerca de €150), isto é, o brasileiro pobre ganha 12 vezes mais que o chinês pobre. Nosso governo fala de "nova classe média" e esconde que o lucro real dos grandes bancos brasileiros cresceu 11% por ano no período FHC e 14% durante os dois mandatos do presidente Lula. Enquanto os colossais bancos chineses têm rentabilidade patrimonial inferior a 10%, os bancos brasileiros chegam a 20%.

É impensável o futuro demográfico chinês. No passado, cada família só podia ter um filho; agora, essa regra está sendo relaxada. A urbanização e a industrialização chinesas já comprometeram o lençol freático da China do Norte. Com restrições de água, e necessitando transferi-la cada vez mais para a sede da indústria e população urbana, a China não produzirá alimentos suficientes. Se o consumo interno da China crescer cada vez mais, haverá falta não só de água, mas também de energia fóssil e hidráulica, além de, obviamente, todo um elenco de matérias-primas.

O planejamento estratégico de longo prazo da China é para valer. O projeto geopolítico e a geoeconômico chinês está transformando a África e parte da Ásia do sudeste em fronteira fornecedora de alimentos e matérias-primas. Em busca de autossuficiência de minério de ferro, a China já está desenvolvendo as enormes reservas do Gabão. A petroleira chinesa já está nas reservas de petróleo de gás do coração da África e a ocupação econômica de Angola é prioridade diplomática e financeira da China.

O extremo sul da América Latina é objeto de desejo expansionista chinês, que se propôs a fazer e operar uma nova ferrovia ligando Buenos Aires a Valparaíso, perfurando um túnel mais baixo na Cordilheira dos Andes. O Chile - com pretensão de se converter na "Singapura" do Pacífico Sul - e os interesses agroexportadores argentinos adoram a ideia. Carne, soja, trigo, madeira, pescado e cobre estarão na periferia da China do futuro. A presidência argentina é relutante em relação a esse projeto, porém o Mercosul está sob o risco de se converter, dinamicamente, em pura retórica.

O ‘Império do Meio’, unificado pela dinastia Han (ainda antes de Cristo), atravessou séculos com Estado centralizado e burocracia profissional estruturada. No século XIX, a China balançou pela penetração da Inglaterra vitoriana; enfrentou a perfídia mercantil do ópio controlado pela Índia britânica. Sua república, no século XX, foi ameaçada pela expansão japonesa, e somente após a Segunda Guerra Mundial conseguiu, com o Partido Comunista Chinês (PCC), restaurar a centralidade.

Com pragmatismo secularmente desenvolvido, a China combinou o Estado hipercontrolador com a "economia de mercado". "Casou" com os EUA e criou um G-2, onde mais de 3 mil filiais americanas produzem na China e exportam para o mundo (70% das exportações de produtos industriais chineses são de filiais americanas). O superávit comercial chinês é, predominantemente, aplicado em títulos do Tesouro [dos EUA].

Esse é um sólido matrimônio, em que os cônjuges podem até brigar, mas não renegam a aliança mutuamente conveniente.

Enquanto isso, a China repete a proposta da Inglaterra vitoriana para a periferia mundial: fonte de matérias-primas e alimentos. A periferia mundial é, progressivamente, endividada com os bancos chineses e seu espaço econômico é ocupado por filiais da China. A ‘Revolução Meiji’, que modernizou e industrializou o Japão, está em plena marcha na China, que procura ser a campeã mundial em ciência e tecnologia. A estratégia da China combina as chaves do sucesso da Inglaterra vitoriana com a prioridade científico-tecnológica japonesa.

Que a China faça o que quiser, porém o Brasil não deve se converter na "bola da vez" da periferia chinesa. País tropical, com enormes reservas de terra agriculturável, água e fontes de energia fóssil e hidrelétrica, imagine-se a prioridade estratégica para o planejamento chinês em sua marcha pela periferia.

O discurso da “globalização”, a fantasia da "integração competitiva", a ilusão de ser "celeiro do mundo" com brasileiros ainda famintos, e a atrofia da soberania nacional podem [voltar dos tempos demotucanos FHC/PSDB/DEM e] vir a ser um discurso de absorção da proposta neocolonizadora da China.

Leio, nas palavras da presidente, uma percepção do risco do "conto do vigário" chinês. Temo [a volta dos] vendilhões da pátria, entregando energia e alimentos para o neossonho imperial.”

FONTE: escrito por Carlos Lessa, professor emérito de economia brasileira e ex-reitor da UFRJ. Foi presidente do BNDES. Artigo publicado no jornal “Valor Econômico”pertencente ao grupo tucano Globo/Folha. Transcrito no portal “Vermelho”  (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=169528&id_secao=1). [imagem do google e trechos entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].

CRISE DOS PARTIDOS NO AJUSTE NEOLIBERAL


O artigo é de Tarso Genro:

“Os partidos políticos, na sua forma atual, corresponderam a um largo período de desenvolvimento político e cultural nos países centrais. Eles foram “mimetizados”, imitados, nos países coloniais e neocoloniais, que avançavam e recuavam na conformação das suas democracias. A organização desses partidos, como “parte” da sociedade para aplicar um programa ao “todo” da nação -a partir de maiorias parlamentares ou eleições diretas para os executivos- fez avançar significativamente a democracia política.

O partido “parte”, nesse contexto, também teve o contraponto do partido “todo”. Este requisita para si a representação universal, seja em nome da nacionalidade, com o nacional-chauvinismo de direita, que propõe um estado “total” para a nação; seja a partir da representação universal “classista”, com a suposta vocação do proletariado para dissolver, pela revolução, todas as classes para uma nova humanidade, num outro tipo de estado “total”. Todos os partidos - inclusive esses - também lastreados em certas leituras da cultura da modernidade, já apresentam rápidos sinais de superação.

Os verdadeiros partidos da modernidade contemporânea - ou pós-modernidade, se quiserem - não são mais exclusivamente os organismos tradicionais geradores de mandatos eleitorais. Estes perdem cada vez mais sua autenticidade programática e o seu nexo com a sua cultura e memória acumuladas. Como a orientação do “fazer” público vem migrando de forma gradual do terreno da subjetividade partidária para o espaço da objetividade economicista, há uma captura do “programa” dos partidos. Essa captura é feita pela força normativa do capital financeiro que, através das suas instituições, orienta as regras de “bronze” da economia financeira e reduz, crescentemente, a margem de opção política dos partidos.

A crise dos partidos não se origina, portanto, de “traições” de líderes políticos, mas ocorre, principalmente, pela redução da força constitutiva de todas as decisões na órbita da política. A política perde a capacidade de incidir sobre o já decidido no mundo das finanças, se as suas propostas não estiverem - inclusive as mais elementares - pelo menos em acordo com os caminhos oferecidos pelo poder do capital financeiro, a saber: os grandes bancos, as agências de risco, os bancos centrais.

O poder dos partidos esvazia-se e o poder do dinheiro incha. É um dinheiro falso, criado sem trabalho, mas é um poder verdadeiro, porque juridicamente apropriado por grupos, pessoas, setores sociais minoritários, que, quanto mais minoritários, mais concentram força. Essas minorias dominam, hoje, o núcleo real do capitalismo, que não está mais na produção de mercadorias, mas na produção artificial do dinheiro, configurado em supremo poder político.

Através do financiamento privado das campanhas eleitorais, esse poder se exacerba. Tanto sobre o mundo empresarial não dotado de bancos próprios, como sobre os partidos, que escolhem ou são coagidos a mercantilizar suas relações, para poderem sobreviver com mínima densidade eleitoral. Assim, a transformação de políticos em consultores e de consultores em políticos militantes não é, em princípio, uma questão de moralidade política. É um novo processo de formação de quadros e de reorganização programática dos partidos que, integrados nessa nova lógica, tendem a tornarem-se organismos amorais, perdendo sua autoridade perante filiados e apoiadores.

Os partidos políticos da modernidade contemporânea, hoje, são as grandes cadeias de comunicação. A informação, seja em rede, seja através das cadeias formais de comunicação, pode legitimar, pelo menos por certo tempo, qualquer política e qualquer liderança para promover as “reformas” que escolherem. Já são tão ou mais fortes que os partidos para determinar o “fazer” público. Não se trata de uma “maldade” ou uma atitude solerte dos jornalistas ou dos donos destes grupos. É que essas grandes cadeias são as instituições que podem realizar a mediação “total” entre os “programas” de ajuste da dívida pública para com os bancos, de um lado, e os partidos políticos fragmentados, de outro, que vêm perdendo, cada vez mais, a sua capacidade de criar hegemonias estáveis. A ascensão e queda do Berlusconi são o retrato de descartabilidade a que são submetidos, hoje, as lideranças que se conformam nesse processo.

A reforma política, estabelecendo o financiamento público das campanhas, é o único antídoto à vista para essa situação crítica.

Grande parte dos cronistas políticos fez nariz torcido para o apelo de Lula na Europa em anarquia financeira, pouco antes de ele ter começado o seu tratamento médico. Lula fazia o apelo para que se recuperasse, perante as receitas do mercado, a força da política para buscar soluções políticas para a crise. Mas a saída foi a mesma de sempre: soluções “técnicas” que não levam em consideração a brutalidade dos seus efeitos, principalmente para os pobres de todas as raças e origens e os assalariados de baixa renda. Veremos o resultado.”

FONTE: escrito por Tarso Genro(*), Governador do Rio Grande do Sul. Publicado no site “Carta Maior”  (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=19060)[imagem do google adicionada por este blog ‘democracia&política’]

Joseph Stiglitz: "AUSTERIDADE É RECEITA PARA SUICÍDIO ECONÔMICO"

Joseph Stiglitz

“O prêmio Nobel da Economia em 2001 e antigo vice-presidente do Banco Mundial, Joseph Stiglitz, afirmou [na última quinta-feira (24)] que as políticas de austeridade constituem receita para "menos crescimento e mais desemprego".

Stiglitz considerou que a adoção dessas políticas "correspondem a um suicídio econômico. É preciso perceber que a austeridade por si só não vai resolver os problemas, porque não vai estimular o crescimento", afirmou Stiglitz num encontro com jornalistas em Corunha, na Espanha, onde proferiu a conferência "Pode o capitalismo salvar-se de si mesmo?", noticia a agência [espanhola de notícias] EFE.

O economista sugeriu ao novo governo espanhol que vá "além da austeridade" e que proceda a uma reestruturação das despesas e da ‘fiscalidade’ como medida básica para criar emprego. Recomendou, em particular, uma ‘fiscalidade’ progressiva e apoio ao investimento das empresas.

"Temo que se centrem na austeridade, que é receita para crescimento menor, para recessão e para mais desemprego. A austeridade é receita para o suicídio econômico", afirmou.

Para o Nobel da Economia de 2001, "a menos que a Espanha não cometa nenhum erro, acerte a 100% e aplique as medidas para suavizar a política de austeridade, vai levar anos e anos" a sair da crise.

O antigo vice-presidente do Banco Mundial disse que as reformas estruturais europeias "foram desenhadas para melhorar a economia do lado da oferta e não do lado da procura", quando o problema real é a falta de procura.

Por isso, rejeitou as propostas a favor de mais flexibilidade laboral: "Se baixamos os salários, vai piorar a procura e a recessão", alertou Stiglitz, defendendo que "é necessário" que a flexibilidade seja acompanhada por "compensações do lado da segurança" para os trabalhadores.

"Em economia, há um princípio elementar a que se chama ‘efeito multiplicador’ do orçamento equilibrado: se o governo sobe os impostos, mas, ao mesmo tempo, gasta o dinheiro que recebe dos impostos, isto tem um ‘efeito multiplicador’ sobre a economia", explicou, apresentando a sua receita para sair da crise.”

FONTE: “Jornal de Negócios”. Transcrito no portal “Vermelho”  (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=169512&id_secao=2) [imagem do google e trecho entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Paulo Nogueira Batista: "BRASIL MAIS FORTE PARA ENFRENTAR CRISE DO QUE EM 2008"


Por Luiz Carlos Azenha

"Em fevereiro de 2010, o economista Paulo Nogueira Batista Jr. escreveu um artigo publicado no Projeto Nacional que deu a ele muita dor-de-cabeça.

Refletindo sobre o texto, aqui, ele escreveu:

Suprema humilhação: especulava-se que, pela primeira vez, um país integrante da área do euro teria que recorrer ao FMI – a Grécia. As autoridades europeias, temendo a perda de prestígio, procuravam evitar esse desfecho. Mas a crise grega já contaminava outros países do Sul da Europa, também da área do euro, notadamente Portugal e Espanha. Os europeus ficaram furiosos comigo. Naquele tempo, eles ainda tinham tempo de seguir os meus artigos. Fizeram grande pressão e muitas queixas contra mim, inclusive formais, no FMI e no G-20. Foi medonho.”

Pois hoje o economista, que é diretor-executivo do Fundo Monetário Internacional representando o Brasil e mais oito países, acredita que a Itália e a Espanha — quem diria — terão de recorrer ao FMI, diante do agravamento da crise da dívida soberana na zona do euro. Suprema humilhação!

Por telefone, de Washington, ele nos concedeu a seguinte entrevista:

Paulo Nogueira Batista Jr.
Viomundo – Eu queria que você nos desse uma visão sobre a crise europeia…

Como diz, com razão, a chanceler da Alemanha [Angela Merkel], é a situação mais difícil que a Europa enfrenta desde a Segunda Guerra Mundial. Os lideres europeus demoraram muito a responder à crise da área do euro, que começou a se agravar no inicio de 2010. As medidas são sempre tardias, insuficientes. Medidas que eles tomam hoje, que poderiam ter sido suficientes há um ano, já não são mais. Hoje, medidas muito mais ambiciosas seriam em tese necessárias, mas eles não estão preparados para tomá-las. Então, a situação está indo de mal a pior. Agora, como se sabe, existe risco real de implosão da área do euro. Não é inevitável, mas esse risco já está no horizonte das possibilidades.

Viomundo – Quando você diz que os políticos não são capazes de tomar as medidas necessárias, é por um defeito de nascença da zona de euro?

Existem, sim, defeitos de nascença. É uma união monetária sem união fiscal, sem união das regras financeiras, sem união política. Então, é uma construção frágil desde o início, por esses motivos e outros. Quando os ventos eram favoráveis, esses defeitos de nascença não eram sentidos. Mas, com a crise que estourou em 2008, que atingiu muito fortemente a Europa — e ela nunca se refez dessa crise — as vulnerabilidades estruturais da área do euro se manifestaram muito claramente.

O Brasil, por exemplo, é uma união monetária. Mas os estados do Brasil fazem parte de uma união política, de uma união fiscal, têm um Banco Central comum que exerce também a função de supervisor e regulador do sistema financeiro nacional.

Na Europa, não. Existe uma união monetária, um Banco Central comum dedicado primordialmente ao controle da inflação, mas não há políticas fiscais comuns, não há uma estrutura de regulação financeira forte, comum — apenas elementos disso — e sobretudo não existe união política. A construção da união monetária obedeceu muito a uma forma de pensar os problemas econômicos que é uma versão rígida do “mainstream economics”, muito aceita na Alemanha e em outros países do Norte da Europa.

Por exemplo, a ideia de que se pode isolar o Banco Central do resto do sistema teve muita aceitação no mundo inteiro, a ideia do 'Banco Central independente'. Foi parte da ortodoxia econômica durante muitos anos, ainda é. Na Europa, isso tomou uma forma extrema, porque o Banco Central Europeu é independente de uma forma radical. Construiu-se uma tecnocracia monetária bastante isolada do sistema político. Como o sistema político europeu é fragmentado, o Banco Central Europeu independente tem uma força que nenhum outro banco central independente tem.

Outro aspecto dessa mesma questão: os alemães entendiam que precisavam fazer algo para compensar a falta de união fiscal. O que veio à mente? Também um elemento típico do pensamento econômico mais ortodoxo, mais rígido, não só na Europa, mas em outros lugares: vamos fixar metas fiscais, simples e ambiciosas. Meta para o déficit, meta para a dívida. Isso não funcionou. Estavam no tratado de Maastricht, mas essas regras fiscais simples e rígidas começaram a fazer água quando a situação se complicou. Por exemplo, a própria Alemanha excedeu a meta de déficit em determinados anos e outros países importantes também não conseguiram cumpri-las. Isso enfraqueceu a credibilidade do sistema. São muitos problemas, dei apenas alguns exemplos de problemas estruturais, ou de nascença, da união monetária europeia.

Viomundo – Nesse momento a gente vê na Grécia e na Itália governos tecnocratas. Você acha que a solução não seria mais política?

De novo, é a uma ideia típica da construção europeia, que foi feita de cima para baixo, como projeto das elites.

Diante de uma emergência, a tentativa, pelo menos em parte, é de “bypassar” [driblar] os processos eleitorais e levar ao poder tecnocratas identificados com a burocracia europeia. É o caso, tanto do primeiro-ministro da Grécia, como do primeiro-ministro da Itália. A questão é saber se eles terão legitimidade para fazer frente aos desafios que a situação comporta para a Itália e para a Grécia.

Viomundo – O risco é de que a população tire do poder um desses governos, ou da Itália ou da Grécia?

Esse risco existe. O governo grego é interino. Haverá eleições, no início do ano que vem, na Grécia. O horizonte do primeiro-ministro da Itália é um pouco mais longo, ele indicou que pretende ficar até 2013. Mas é um regime parlamentar. Se Mário Monti perder apoio ao longo desse período, ele pode ter vida mais curta do que a que pretende ter. Vamos nos colocar do ponto-de-vista de quem está tentando conduzir a crise. Alemanha, França, principalmente, o eixo franco-alemão. Para eles, a presença do Mário Monti na Itália e do [Lucas] Papademus na Grécia é uma oportunidade que eles não podem perder.

Dificilmente, eles vão ter, nesses dois países, governos mais próximos deles. Se houver mudança é para pior, do ponto-de-vista franco-alemão. Eles têm oportunidade única agora de tentar resolver o problema. Se eles sobrecarregarem o novo governo grego e o novo governo italiano com condicionalidades intrusivas e demandas e exigências de ajustamento impossíveis de efetuar politicamente…

Vou dar um exemplo. Não me parece sábio, do ponto-de-vista dos europeus, querer que a troika [Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI] tenha presença física na Grécia. Isso não é necessário, na minha opinião, e é politicamente contraproducente. É como se quisessem colocar a Grécia sob protetorado. Na minha interpretação do que aconteceu, essa foi uma das razões da reação na Grécia ao último pacote europeu, que levou o [Georgios] Papandreus a fazer aquela movimentação que foi fatal para ele, de convocar um referendo sobre o pacote.

Já que agora existe na Grécia um governo aparentemente mais identificado com os objetivos das autoridades europeias, não pode fazer esse tipo de coisa, no meu entender. Por que insistir que todos os líderes políticos [da Grécia] assumam um compromisso, assinem uma carta-padrão? Os partidos já declararam seu apoio ao programa, já declararam apoio ao governo interino. O que mais que eles querem? Querem ainda essa coisa meio humilhante, de todo mundo assinar uma carta-padrão… falta de bom senso. Isso realmente complica ainda mais a situação.

O essencial não é isso, é claro. O essencial, a chave de tudo — até parece simplista — mas a chave de tudo seria uma ação dramática, pré-anunciada, do Banco Central europeu, garantindo intervenção ilimitada para cortar o ataque especulativo, a corrida contra títulos soberanos, especialmente da Itália e Espanha, criando assim a chamada “firewall”, a barreira de fogo.

Viomundo – Mas a Alemanha não concorda com isso. Por quê?

Eu me pergunto. Deve haver algo profundamente errado com essa ideia, ela é muito simples e parece ser a única forma de estancar a crise. Você hoje tem o seguinte: o Banco Central Europeu intervém como emprestador de última instância para os bancos, isso ele considera consistente com o seu mandato. Mas intervém de forma muito limitada, a conta-gotas, eu diria – quando se considera o tamanho da crise — nos mercados de títulos soberanos. Do ponto-de-vista dos mercados de títulos soberanos, a união monetária europeia não tem emprestador de última instância.

No meu entender, a chave seria o BCE anunciar, em determinado momento, que estaria disposto a intervir de forma ilimitada nos mercados de títulos soberanos para conter a crise. Isso funcionaria como espécie de “deterrent”. Inclusive, se esse anúncio fosse percebido como crível — e não teria porque não ser percebido assim, acho eu — provavelmente nunca se teria de fazer compras massivas.

Vou dar um exemplo, de menor escala, do que eu estou querendo dizer: o caso do Banco Central da Suíça. Desde 2010, a Suíça virou um “safe haven”, um porto seguro dentro da Europa por causa da crise do euro. Havia maciças entradas de capitais na Suíça, que estavam levando o franco suíço a disparar.

O Banco Central suíço interveio várias vezes ao longo de 2010, 2011. Em determinado momento, ele decidiu pré-anunciar que faria intervenção ilimitada para conter a alta do franco [suiço], fixando um teto para a moeda em relação ao euro. Esse anúncio forte, de uma intervenção ilimitada, estancou [o problema], pelo menos por enquanto. E a força do Banco Central suíço não se compara nem de longe à força do Banco Central Europeu. Então, o anúncio crível de que existe de fato o famoso “firewall” teria efeito tremendo. Aí não se precisa mais tanto do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF), que, aliás, já está chumbado, por vários motivos…

Por que os alemães não concordam com essa solução, que vem sendo proposta por várias pessoas, publica e privadamente? Diria que é por uma combinação de motivos. Primeiro, por resistências doutrinárias, ideológicas. Ligada a isso, uma preocupação de não dar incentivos errados a italianos, espanhóis e outros, o chamado “moral hazard”. E, terceiro, restrições jurídicas, institucionais, combinadas com resistência política. Tudo isso se liga. O Banco Central europeu tem um mandato restritivo, um daqueles defeitos de nascença. Ele foi concebido dentro do marco de pensamento econômico muito conservador e muito rígido, que era moda nos Estados Unidos, na Europa.

Essa ortodoxia foi levada ao extremo no caso da união monetária europeia. Primeiro, o BCE é um banco central cuja função primordial é estabilizar a moeda, controlar a inflação. Ponto. É mandato mais rígido do que o do Federal Reserve, por exemplo, o banco central norte-americano. Número dois, ele não tem funções de regulação e supervisão bancária, que é tendência do pensamento monetário das últimas décadas. No meu entender, foi um erro tirar funções de regulação e supervisão do banco central, como ocorreu em alguns países. Aconteceu na Inglaterra, por exemplo. Tiraram essas funções do Banco da Inglaterra e criaram uma Financial Supervisory Authority. No caso do BCE foi mais grave, ele já nasceu sem isso.

Na carta orgânica do BCE e nos tratados europeus, há uma restrição muito forte a que ele funcione como financiador direto dos Tesouros. Os alemães e outros europeus do Norte não queriam que o BCE fosse financiador de políticas fiscais irresponsáveis, dado que a união monetária estava sendo feita sem união fiscal.

Viomundo – Existe uma questão política dentro da Alemanha, não? Os eleitores alemães provavelmente não aceitam a ideia de que vão bancar o custo desta crise, no fim das contas…

Exato. As elites políticas alemãs têm muito medo de confrontar esse sentimento do eleitorado, das forças políticas. Que é: não vamos pagar pela irresponsabilidade dos países do Sul. Nós, quando tivemos de fazer nosso ajustamento, na época da reunificação alemã, fizemos com sacrifício, para absorver a Alemanha oriental. Agora, italianos, gregos e espanhóis não querem fazer a sua parte. Esse discurso é complicado… “fazer a sua parte”. Eles estão querendo que a Grécia, sobretudo, mas também os outros façam ajustamento fiscal dramático, com a economia estagnada ou em recessão.

No meu entender, ao mesmo tempo em que o BCE fizesse essa movimentação dramática [de anunciar que é emprestador de última instância também para a dívida soberana], os países europeus superavitários em termos fiscais e de balanço de pagamento teriam de praticar políticas fiscais expansivas, se possível, ou pelo menos não tão contracionistas como as atuais. Introduzir algum estímulo fiscal na Suécia, na Alemanha, por exemplo, para aliviar a crise. Nos países que estão sob pressão, não há alternativa a não ser prosseguir com o ajustamento fiscal, se possível não tão intenso, num ambiente regional um pouco mais favorável.

Se você consegue interromper a corrida contra os títulos soberanos via BCE e alivia a política fiscal nos países superavitários, poderia se criar ambiente em que o ajustamento da Itália, da Espanha, da Grécia, de Portugal não fosse tão dramático, tornando-se, portanto, politicamente mais viável.

Agora, para reconhecer o ponto-de-vista alemão de que não se quer dar incentivos errados e dar cobertura monetária a políticas fiscais irresponsáveis, só vejo uma solução: esses países aceitarem programas do Fundo Monetário com condicionalidades. Irlanda, Portugal, Grécia e outros europeus que não estão na zona do euro já têm programas com o Fundo, do tipo “stand by” ou “extended fund facility “.

A Itália e a Espanha ainda não têm programas com o FMI. Talvez essa seja uma forma de gerar confiança, junto com a ação do BCE e com a redefinição da política fiscal dos países que estão numa posição [econômica] mais forte. Na verdade, a Itália já aceitou, em Cannes, um monitoramento trimestral do FMI. O fundo vai discutir as políticas com a Itália e depois vai estabelecer um monitoramento trimestral. Temos de ver o que o novo governo da Espanha vai querer fazer.

Ficam o problema legal e o problema político. Será que no Norte da Europa a existência de programas de ajustamento sob supervisão do FMI seria vista como suficiente para gerar apoio político para ação dramática do BCE? Isso eu não sei dizer.

Viomundo – A situação vulnerável dos bancos europeus coloca em risco os bancos dos Estados Unidos?

Sim. O BCE funciona como emprestador de última instância para os bancos europeus, mas como não faz o mesmo no mercado dos títulos soberanos, os bancos estão em situação cada vez mais difícil, já que eles carregam títulos soberanos. A deterioração da dívida soberana afeta a carteira dos bancos e os coloca em risco. E pelas ligações que os bancos europeus têm com os bancos norte-americanos de um lado, com o sistema financeiro da Europa central e oriental de outro, isso começa a se propagar para fora da zona do euro, para fora da União Europeia. Para o sistema financeiro nas duas margens do Atlântico Norte, é o momento mais difícil desde a quebra do Lehman [Brothers, banco de investimento dos Estados Unidos que faliu em 2008].

Viomundo – E nós, brasileiros, como é que ficamos?

A situação do Brasil é relativamente melhor. As regiões mais vulneráveis são a área do euro, a União Europeia, depois o resto da Europa, em seguida a África do norte e o Oriente Médio, com as suas próprias crises políticas e as ligações econômicas com a Europa. Outra área vulnerável é o sistema financeiro americano, ninguém sabe em que medida, já que esses dados [da interrelação entre os bancos] são complexos e pouco transparentes. O resto do mundo sofre por duas vias. Pela via comercial, porque a Europa ainda tem peso grande, embora declinante. E pelo lado financeiro, porque a Europa tem peso financeiro importante no mundo.

O Brasil tem trunfos. Por exemplo: reservas internacionais altas, cambo flexível, reservas compulsórias altas no sistema bancário. O Banco Central pode, além disso, continuar atenuando as medidas macroprudenciais adotadas em outro momento. A taxa de juro básica é elevada — caso haja um choque recessivo externo, ela pode ser reduzida. O Brasil tem tido sucesso em manter política fiscal mais austera este ano, o que facilita a redução de juros e outras medidas na área de crédito. O Brasil não está imune à crise internacional, mas a minha impressão — sempre pode haver surpresas — é que a posição brasileira hoje é mais forte do que quando houve a crise do Lehman.

Viomundo – Qual seria o impacto do rompimento da zona do euro?

Como a Europa tem peso grande na economia mundial, no comércio, nas finanças, se houvesse implosão da zona do euro, creio que o choque seria maior do que aquele que foi produzido pelo colapso do Lehman. O resto do mundo aguarda, há mais de um ano, que os europeus tomem medidas decisivas para controlar a crise. O resto do mundo não pode fazer muito. É problema interno. Por isso, a palavra implosão é a palavra certa. O resto do mundo pode ajudar? Pode, via FMI, provavelmente, não só com os mecanismos, os recursos existentes, mas possivelmente ampliando os recursos do Fundo. Mas o decisivo mesmo é o que será feito pelos governos da zona do euro, pelo Banco Central europeu.

Viomundo – Quando se diz que os BRICs seguram esta crise com seu crescimento econômico…

Poderiam atenuar o problema, em parte. Mas não teríamos força, mesmo os quatro juntos [Brasil, Rússia, Índia e China] para compensar o impacto da implosão da zona do euro."

FONTE: escrito por Paulo Nogueira Batista Jr., economista e diretor-executivo, representando o Brasil e mais oito países, no Fundo Monetário Internacional. Artigo publicado no portal "Viomundo"  (http://www.viomundo.com.br/politica/paulo-nogueira-batista-brasil-mais-forte-para-enfrentar-crise-que-em-2008-2.html) [imagens do google adicionadas por este blog 'democracia&política'].
 

MALFEITOS DO CAPITALISMO


Por Rodolpho Motta Lima

"O vazamento de óleo na plataforma fluminense permite algumas observações que merecem atenção. A Chevron é, na sua especialidade, no mundo do petróleo, uma empresa grande, segundo dizem maior que a nossa grande Petrobras. Mas essa gigante petrolífera americana (será ela um dos orgulhos da iniciativa particular?), deu um show de incompetência no episódio do vazamento. Mobilizando-se apenas depois de ter sido alertada pela Petrobras, mostrou-se incapaz de identificar com precisão o local do desastre, por falta de equipamento adequado. E foi a nossa estatal que emprestou à empresa americana equipamentos mais modernos, capazes de possibilitar essa identificação e de ensejar um atrasado plano de contenção. Retardando procedimentos, a Chevron revelou-se pouco ágil diante do acidente e, com informações incorretas e desencontradas, permitiu que se pusesse em dúvida outros aspectos de sua gestão no campo administrativo e mesmo ético.

O artigo do Mair Pena Neto aqui no "Direto da Redação" (“Fora Chevron!”) é, a esse respeito, bem esclarecedor. E aqui vou além. Que me desculpe o pessoal do neoliberalismo, mas o desastre põe a nu, uma vez mais, a realidade que um pensamento falacioso teima em escamotear: não é verdadeira a afirmação de que o empreendimento particular é, por definição, mais eficiente que o estatal.

E é bom, mais uma vez, tomarmos cuidado para não engolirmos gato por lebre. Ouvi na CBN uma incensada comentarista política declarar que “salta aos olhos”, na ocorrência, a incompetência dos órgãos reguladores (ou seja, vinculados ao Estado), aos quais faltaria uma ação fiscalizadora mais eficaz. Claro que ela não deixou de criticar a petrolífera americana, mas imediatamente me lembrei do caso da TAM, em que certa mídia fez o possível para transferir para o âmbito do Estado brasileiro [e até para a pessoa de Lula, chamado na 'Folha' de 'assassino'] a responsabilidade pela tragédia de então [apurada como causada por erro do piloto]. Se você prestar atenção, verá que todas as vezes que o empreendimento particular dá com os burros n’água, surge uma acusação ao poder público. Cômodo, não? Os desavisados que ouvem esses acusadores podem imaginar que eles defendem uma forte ação controladora do Estado, mas as pessoas atentas percebem que esse controle só é lembrado nas catástrofes...

Para o neoliberalismo – uma das piores versões assumidas pelo capitalismo -, parece que o bom é a existência de um Estado fraco (chamado Estado mínimo), subserviente, que lhe facilite a vida; um Estado que abdique da instauração do bem-estar social; que privatize, que subsidie, que financie, que privilegie, sem levar em conta os interesses do povo; um Estado, enfim, que dê facilidades, sejam elas morais ou imorais. Um exemplo? O poder público vai gastar quase 1 bilhão de reais para a “reconstrução” do Maracanã nos moldes FIFA, um crime contra um dos ícones da minha cidade. Afirma-se, porém, com a maior tranquilidade, que, depois da Copa, o estádio será entregue à administração particular. Coitado do povão! Já dá para pressentir o “legado” que lhe será reservado: um Maracanã elitizado, construído com dinheiro do povo para o lucro de poucos. Essa é a lógica neoliberal. É para isso que o Estado serve...

Não estou aqui defendendo a excelência do Estado e seus prepostos, que também cometem, e muitas vezes, sérios deslizes. Questiono, sim, essa visão maniqueísta e comprometida que confere um ar vestal ao particular e transforma em pérfido vilão o serviço público. Seja ente público ou privado, ninguém desfruta dos privilégios da excelência. Exemplifico com a recente onda de denúncias de corrupção. É óbvio que devem ser fortemente coibidas e punidas as ações de quem usa o dinheiro do povo em proveito de seus interesses escusos. Mas é bom não esquecer – e esse “esquecimento” é nítido na mídia - que, em inúmeros episódios de corrupção, os corruptores, sedentos de lucro fácil, vêm da iniciativa particular que é, no caso, cúmplice na fraude ao interesse público. Penso que todas as empreiteiras ou congêneres que oferecem propina a funcionários públicos para ganhar concorrências deveriam também submeter-se às penas da lei e, no mínimo, ser definitivamente impedidas de transacionar com o Estado. Uma “ficha-limpa” empresarial... O problema é saber se sobraria alguma...

Como os indignados que vão tomando conta das ruas do mundo, julgo que os atos e fatos aqui expostos se interligam, direta ou indiretamente, em maior ou menor intensidade. Eles deixam à mostra algumas das incontáveis feridas de um perverso sistema econômico fundado no lucro a qualquer título, a qualquer preço, que beneficia uns poucos, penaliza as grandes massas e abomina políticas públicas de um Estado forte que lhe ameace o poder. Também penso que esse sistema – na atual versão - tenderá à agonia, se insistir nas reverências cegas a um deus Mercado com seus apóstolos tecnocratas e suas palavras de ordem contrárias às históricas conquistas sociais dos trabalhadores.

Em recente editorial, o jornal “O Globo” deitou falação sobre o pessoal do “Ocupe Wall Street”, culminando com a apoteótica afirmação de que tentar apressar a “crise final do capitalismo” seria “algo tão ilusório quanto apostar no fim da história”. Sem ousar definir prazos ou mesmo apontar o que virá depois, acho que o bom senso torna possível imaginarmos que o fim do capitalismo, quando vier, estará na essência da dinâmica da própria história..."

FONTE: escrito por Rodolpho Motta Lima,  advogado formado pela UFRJ-RJ (antiga Universidade de Brasil) e professor de Língua Portuguesa do Rio de Janeiro, formado pela UERJ. Com militância política nos anos da ditadura, particularmente no movimento estudantil. Funcionário aposentado do Banco do Brasil. Artigo publicado no site "Direto da Redação" (http://www.diretodaredacao.com/noticia/malfeitos-do-capitalismo) [trechos entre colchetes adicionados por este blog 'democracia&política'].

PRIMAVERA JÁ VIROU OUTONO

As flores da primacera causam alergia em alguns
Por Mário Augusto Jakobskind

"Os egípcios voltaram às ruas para manifestar oposição aos militares que tentam se perpetuar no poder depois da derrubada de Hosny Mubarak. Foram duramente reprimidos no que resultou em mais de 30 mortos.

Os militares, na verdade “militares s.a”, porque controlam setores mais lucrativos da economia egípcia, imaginavam que com alguns paliativos conseguiriam iludir o povo que derrubou Mubarak. O povo mostrou que não é bobo.

Como se o controle da economia pelos militares não bastasse, o Estado egípcio é contemplado com mais de 1,2 bilhão de dólares anuais pelos Estados Unidos, exatamente para manter o principal país árabe em sua área de influência. Os militares pediram desculpas pela repressão, mas não se comprometeram a abandonar o poder mesmo depois das eleições, até porque temem perder as bocas conquistadas nas últimas décadas.

É este verdadeiramente o contexto egípcio, que não pode ser ignorado e para que se julgue o pronunciamento quase diário de líderes ocidentais como Nicolas Sarkozy e Barack Obama ora em apoio às “reformas” (entre aspas mesmo) ou até mesmo nas eventuais críticas à violência. O nome disso é hipocrisia.

Em suma: palavras são palavras, mas a prática é que determina a verdade. Por estas e muitas outras, a chamada Primavera árabe só pode ser considerada primavera se prevalecer a vontade do povo. Com o controle dos militares s.a. no Egito, o outono prevalece, não mais a primavera.

Enquanto isso, na Líbia, o governo que tomou o poder com a derrubada de Muammar Kadhafi está preparando um espetáculo midiático que, antes de começar, já se sabe qual será o desfecho. Não é preciso nenhuma bola de cristal para prever que Saif al Islam Kadhafi será condenado à morte pelas acusações que serão apresentadas no julgamento. O governo líbio avisou que não o entregará ao Tribunal Penal Internacional de Haia. Estão preparando um novo show midiático que será apresentado ao mundo e internamente.

O filho de Kadhafi foi preso no deserto quando tentava ir para Niger. A prisão só foi possível graças à delação de um integrante de sua guarda pessoal, devidamente recompensado com 1 milhão de euros, segundo informações.

Por ironia da história, Saif al Islam foi o responsável pela anistia de integrantes da al Qaeda que cumpriam pena na Líbia, inclusive o que posteriormente veio a se tornar o comandante militar do grupo que tomou Trípoli e produziu um espetáculo midiático ao entrar no local onde vivia Kadhafi. Saif era cotado como o sucessor político do pai.

Resta agora aguardar o desenrolar dos acontecimentos para conhecer melhor como será a Líbia, o país com o maior 'Índice de Desenvolvimento Humano' (IDH) do continente africano (0,755), superior inclusive ao do Brasil (0,699).

Aguarda-se, também, constatar se esse índice utilizado pelas Nações Unidas para verificar como se encontra um país em termos de bem-estar de sua população será mantido. O tempo dirá.

Em Portugal, o socialista Mario Soares, 86 anos, que já exerceu os mais variados cargos, de presidente a primeiro ministro, reapareceu assinando um manifesto conclamando o povo a reagir ao neoliberalismo que está sendo imposto goela a dentro aos portugueses. Os trabalhadores, como em outras partes da Europa, reagem com uma greve geral, enquanto a mídia de mercado faz a apologia dos “técnicos” impostos pelo capital financeiro.

Por aqui [Brasil], a mídia não é muito diferente, embora a crise ainda não tenha aparecido com a intensidade dos países europeus e dos Estados Unidos. Os articulistas de sempre torcem desbragadamente por soluções contrárias aos interesses nacionais e do povo. Silenciam totalmente sobre um grave problema que vem se arrastando há anos, o da dívida pública. São 1 bilhão de reais por dia gastos para o pagamento dessa dívida. E nada comentam sobre o que está na Constituição cidadã de 1988 e não foi cumprida até hoje: a realização de uma auditoria dessa dívida".
[...]

FONTE: escrito por Mário Augusto Jakobskind, correspondente no Brasil do semanário uruguaio 'Brecha'. Foi colaborador do 'Pasquim', repórter da 'Folha de São Paulo' e editor internacional da 'Tribuna da Imprensa'. Integra o Conselho Editorial do seminário 'Brasil de Fato'. É autor, entre outros livros, de 'América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE'. Artigo publicado no site "Direto da Redação" (http://www.diretodaredacao.com/noticia/primavera-ja-virou-outono) [imagem do google e trecho entre colchetes adicionados por este blog 'democracia&política']

WikiLeaks – “SERRA E O PSDB CONTRA A PETROBRAS”

Flagrante de alguns integrantes da "Turma contra a Petrobras" (e o Brasil)
WIKILEAKS: OGX, FIESP, CHEVRON, EXXON E OUTRAS MULTINACIONAIS FIZERAM LOBBY CONTRA A PETROBRÁS PARA LEVAR O PRÉ-SAL.

"O site 'Wikileaks' divulgou, na sexta-feira (18), novos telegramas que revelam como as petroleiras norte-americanas armaram um pesado lobby, junto com a missão diplomática ianque, para atuar [$] no Congresso Nacional na votação das leis que regulamentam a exploração do petróleo na camada pré-sal. Os documentos mostram que as empresas 'ficaram aborrecidas' com o fato de a Petrobrás ter ficado como única operadora.

Um telegrama enviado a Washington pelo consulado americano no Rio de Janeiro, em 2 de dezembro de 2010, com o título “A indústria de petróleo vai conseguir combater a lei do pré-sal?”, detalha a estratégia adotada pelas petroleiras norte-americanas para interferir no Congresso.

As empresas vão ter que ser cuidadosas”, observa um dos textos. “Diversos contatos no Congresso (brasileiro) avaliam que, ao falar mais abertamente sobre o assunto, as empresas de petróleo estrangeiras correm o risco de galvanizar o sentimento nacionalista sobre o tema e prejudicar a sua causa”.

Nos documentos, a diretora da americana Chevron no Brasil, Patrícia Padral, afirma que o tucano José Serra prometeu mudar as regras aprovadas se fosse eleito presidente da República. Ela também teria reclamado de uma suposta apatia da oposição: “O PSDB não apareceu neste debate”. Segundo a diretora, Serra se opunha à lei, mas não demonstrava “senso de urgência”.

Deixa esses caras (do PT) fazerem o que eles quiserem. As rodadas de licitações não vão acontecer, e aí nós vamos mostrar a todos que o modelo [o do PSDB] antigo funcionava... E nós mudaremos de volta”, disse o pré-candidato José Serra

Outro telegrama [do consulado dos EUA], de 27 de agosto de 2009, revela que as petroleiras 'ficaram enfurecidas' com a definição da Petrobrás como operadora única. Para a diretora de relações internacionais da Exxon Mobile, Carla Lacerda, a estatal brasileira terá todo o controle sobre a compra de equipamentos, tecnologia e a contratação de pessoal, o que poderia prejudicar os fornecedores norte-americanos.

Os documentos confidenciais divulgados pelo site apontam ainda que, entre as preocupações dos americanos, o principal temor era que o modelo de partilha favorecesse a competição chinesa, já que a empresa estatal da China poderia oferecer mais lucros ao governo brasileiro.

“Com a indústria resignada com a aprovação da lei na Câmara dos Deputados, "a estratégia agora é recrutar novos parceiros para trabalhar no Senado", buscando "aprovar emendas" essenciais na lei, assim como empurrar a decisão para depois das eleições de outubro”, diz. Como parceiros, o empresário Eike Batista (OGX), a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e a Confederação Nacional da Indústria (CNI).

“Lacerda, da Exxon, disse que a indústria planeja fazer uma ‘marcação cerrada’ [$] no Senado, mas, em todos os casos, a Exxon também iria trabalhar por conta própria para fazer lobby [$]”. Já a Chevron pressionou o Congresso americano pela confirmação de Thomas Shannon com embaixador no Brasil, considerando que ele poderia ter grande influência nesse debate.”

FONTE: extraído da “Hora do Povo”; postado por Castor Filho em seu blog “redecastorphoto”  (http://redecastorphoto.blogspot.com/2011/11/wikileaks-serra-e-o-psdb-contra.html) [título, imagem do google e trechos entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’]

BRASIL VAI EXPANDIR E MODERNIZAR ESTALEIROS ATÉ 2014

Estaleiro nacional (EISA)
BRASIL VAI EXPANDIR E MODERNIZAR ESTALEIROS ATÉ 2014, DIZ PRESIDENTA


"No programa de rádio 'Café com a Presidenta' de ontem (28), a presidenta Dilma Rousseff falou sobre o fortalecimento da indústria naval brasileira e comentou a entrega, na última sexta-feira (25), do primeiro navio (do PAC para a Petrobras) feito por um estaleiro brasileiro nos últimos 14 anos, o 'Celso Furtado'. E anunciou que, até 2014, o governo federal irá expandir e modernizar os estaleiros do país, ampliando o setor responsável, atualmente, por 60 mil empregos.

Nunca podemos esquecer que o Brasil já teve, na década de 70, o segundo maior parque naval do mundo. Mas, por falta de estímulos do governo, por falta de política industrial que focasse e que desse importância à geração de empregos para os trabalhadores e as trabalhadoras brasileiras, essa indústria entrou em declínio, e praticamente desapareceu no final dos anos 90, quando chegou, Luciano, a ter menos de 2 mil trabalhadores.”

Ela lembrou que, em 2011, cinco novos estaleiros brasileiros foram contratados para começar a construir navios, plataformas e sondas. A demanda por esses equipamentos, explicou, vai aumentar por causa da exploração do pré-sal e de todo petróleo que há no Brasil.

Por isso, o Brasil vai crescer, não só porque vamos ser ricos em petróleo, mas também porque vamos construir uma sólida e complexa indústria de fornecimento de equipamentos, de bens e também de prestação de serviços – isso tem a ver com software, com tecnologia da informação – enfim, é o Brasil se movimentando para se transformar num grande gerador de emprego para o povo brasileiro; e emprego de qualidade".

JOGOS PARAPAN-AMERICANOS

Brasil - 1º lugar
Dilma Rousseff falou também sobre o desempenho dos atletas brasileiros que participaram dos 'Jogos Parapan-americanos' de Guadalajara, no México, e lembrou que, dos 222 atletas que disputaram o Parapan, 162 recebem o Bolsa Atleta, “o maior programa do mundo de apoio direto ao atleta”. Segundo a presidenta, cerca de 80% das medalhas obtidas nos Jogos foram conquistadas pelos beneficiários do 'Bolsa Atleta'.

Nossos atletas deram um show lá em Guadalajara. O Brasil conseguiu mais uma grande conquista no Parapan: ganhamos o primeiro lugar. Foi com muita emoção que eu recebi a delegação brasileira no Palácio do Planalto, na semana passada. Esses atletas mostraram determinação para ultrapassar seus limites e superar, portanto, os preconceitos. Eles são um exemplo para as pessoas com deficiência, e para todos nós. São pessoas que poderiam ter outra história de vida, mas escolheram ser vencedores.”

FONTE: Blog do Planalto (http://blog.planalto.gov.br/brasil-vai-expandir-e-modernizar-estaleiros-ate-2014-diz-presidenta/) [imagens do google adicionadas por este blog 'democracia&política'].