segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

O MISTÉRIO DO GIGANTESCO E SÚBITO ENRIQUECIMENTO DE ÁLVARO DIAS (líder do PSDB)

O líder tucano Álvaro Dias

Álvaro Dias [PSDB]: NOVAS DENÚNCIAS SOBRE ENRIQUECIMENTO ILÍCITO

“O possível envolvimento do senador Álvaro Dias (PSDB-PR) com empresários ligados à origem do escândalo do ‘mensalão’, a Ação Penal (AP) 470, que o Supremo Tribunal Federal (STF) terminou de julgar em meados deste mês, piora a imagem pública do político tucano.

Dedicado a apontar falhas de caráter em integrantes da esquerda brasileira, Dias bebeu do próprio veneno ao ver noticiada, nos últimos dias, a condenação judicial a que será submetido em um processo na Vara de Família de seu Estado. O processo, movido por sua filha menor de idade, levou-o a admitir a propriedade de cinco mansões em seu nome, no valor de R$ 16 milhões!  [Pouco antes] à Justiça Eleitoral, o parlamentar havia declarado patrimônio de apenas R$ 1,9 milhão.

Em notícia divulgada na sexta-feira (28) na internet, Dias "teria obtido parte dos recursos" necessários à construção de seu patrimônio junto às empresas dos irmãos Basile e Alexandre George Pantazi, que estiveram envolvidas nos primórdios do escândalo nos Correios.

A denúncia, reproduzida no blog “Amigos do Presidente Lula”, apresenta a ligação entre o senador paranaense, no processo que não está protegido por nenhum segredo de Justiça, que cita como ré a empresa “AGP Administracão, Participação e Investimentos”, cujo sócio-gerente seria Pantazis, dono também da “Dismaf Distribuidora de Manufaturados”. Esta última é a empresa envolvida nas investigações dos Correios e citada em reportagem da revista semanal de ultradireita “Veja”, de 13 de abril de 2011. Segundo a reportagem, a empresa teria pagado propinas ao PTB sobre contratos nos Correios.

Segundo o blog, “o aparecimento dessa súbita fortuna causou perplexidade à nação brasileira, que pergunta: como o senador, da noite para o dia, aparece como um dos parlamentares mais ricos do Brasil? Detalhe: o processo não está em segredo de justiça, ao contrário do que disse o senador em seu twitter, e não é mera disputa familiar. É disputa patrimonial graúda envolvendo mais 10 réus ao lado de Álvaro Dias, e quatro deles são pessoas jurídicas. Uma das empresas ré na causa é a “AGP Administração, Participação e Investimentos Ltda.”, de Alexandre George Pantazis, indicando que Alvaro Dias teve "negócio" com essa empresa envolvendo os R$ 16 milhões em questão”.

A Dismaf foi objeto de uma reportagem da revista “Veja” (em 13/04/2011), acusando a empresa de pagar propinas ao PTB sobre contratos nos Correios, no caso que deu origem ao ‘mensalão’ a partir da gravação feita por um araponga de Carlinhos Cachoeira, que levou Roberto Jefferson a dar a entrevista em 2005. A reportagem foi baseada na denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal. Declarada inidônea pelos Correios, a empresa não podia participar de licitações, mas ganhou uma na “Valec” (que constrói a ferrovia Norte-Sul) para fornecer trilhos. O fato foi alvo de auditoria na CGU e foi um dos motivos para demissão do ex-presidente da Valec, o Juquinha”. Somente uma investigação sobre os contratos e quebra de sigilo bancário “poderá esclarecer o real envolvimento do senador tucano com o dono da Dismaf”, acrescenta o texto. Em sua página do microblog Twitter, Dias apenas postou, no final da manhã de sexta-feira, uma mensagem cifrada:

Não vou subestimar a inteligência das pessoas que confiam em mim respondendo a inimigos levianos, desonestos. A ma fé tem como resposta a ação”.

FONTE: publicado no “Correio do Brasil” e transcrito no portal “Vermelho”  (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=202334&id_secao=1).

Marcos Coimbra: “2012 NA POLÍTICA: O GOVERNO”

Um governo que é avaliado como “ótimo” ou “bom” por 62% das pessoas tem muito que comemorar. Uma presidente cujo trabalho é aprovado por 78% da população, também.

São os números da pesquisa CNI/Ibope feita entre os dias 6 e 9 de dezembro, em que foram ouvidas 2002 pessoas.

Dilma chega à metade de seu mandato com avaliação melhor que a de qualquer um de seus antecessores em momento parecido. Desde quando existem dados comparáveis, ninguém obteve números semelhantes.

Fernando Henrique, por exemplo, nunca alcançou esse índice, sequer na época em que atravessava sua fase áurea. A vitória [que o Governo Itamar implantou e propiciou e FHC se apropriou] contra a inflação, a equivalência do real com o dólar, o quilo de frango que valia uma moeda, a sensação de que a economia entrava em rota de crescimento, nada disso fez com que chegasse ao número que Dilma tem hoje.

É uma lembrança que mostra quão inadequada é a interpretação que as oposições, especialmente seu braço midiático, oferecem para a popularidade do governo Dilma.

Na enésima repetição do velho chavão de que “É a economia, estúpido!”, limitam a explicação a um único fator: para elas, as pessoas comuns, que constituem a grande maioria, pensam com a barriga. Quando estão de pança cheia, aprovam o governo.

Trata-se de um equívoco baseado em puro preconceito, segundo o qual o povo só é capaz de avaliações unidimensionais. Ao contrário dos bem pensantes, que conseguiriam fazer raciocínios complexos.

Assim como a população não gostava de Fernando Henrique por vários motivos - ainda que aprovasse sua atuação no controle da inflação -, gosta de Dilma por diversas razões, mesmo reconhecendo que há políticas que não funcionam de maneira satisfatória.

O tamanho da aprovação do governo neste final de ano foi duplamente decepcionante para a oposição partidária e seus aliados. Ao invés de subir, esperavam que caísse, na confluência do desgaste da imagem do PT causado pelo julgamento do mensalão e do agravamento da situação objetiva da economia.

Dilma ultrapassou, no entanto, os percalços. Por mais que os economistas da oposição estejam pintando quadros fúnebres para o Brasil e insistam em falar em crises, as pessoas se sentem satisfeitas com o presente e otimistas em relação ao futuro.

Por maior que seja a culpabilização do PT, ninguém associa a presidente a qualquer malfeito, real ou inventado.

Não é surpresa, portanto, que tenha a vantagem que tem nas pesquisas para a eleição de 2014. Frente a quaisquer candidatos, venceria, com larga margem, a eleição no primeiro turno. Seu desempenho só é inferior ao de Lula - e por pouco.

Para tentar mudar esse quadro de favoritismo, entrou na moda o argumento de que o País “poderia estar melhor” e só não está por “incompetência gerencial do governo”.

Na opinião de nove em dez analistas da mídia conservadora, Dilma não seria a boa gerente que é apresentada.

Trata-se de tese de escassa capacidade de convencimento. Primeiro, porque as pessoas levam mais em consideração os benefícios que estão a seu alcance que os que poderiam, hipoteticamente, obter. Se acreditam que o governo vai bem, porque trocá-lo por algo que não existe?

Em segundo lugar, porque não enxergam alguém melhor que ela. Na opinião da maioria, a oposição teve sua oportunidade nos oito anos em que Fernando Henrique foi presidente e não convenceu. Ao contrário, em retrospecto, mostrou-se inferior aos petistas.

Ainda que a situação da economia piorasse no próximo ano, é difícil que afetasse significativamente a popularidade da presidente e a eleição de 2014.

Como não é isso o mais provável, são poucas as nuvens no horizonte para Dilma. Salvo as de todo dia, com as quais já se acostumou.

Cautela a presidente tem que ter é com a Copa do Mundo. Ela não será cobrada se a seleção for mal, nem aplaudida se for bem nos gramados.

Mas pagará um preço de imagem pessoal muito alto se as pessoas ficarem com o sentimento de que o Brasil perdeu a copa que mais interessa. A da organização do evento e do bom funcionamento das coisas durante sua realização.

Essa, para a população, é mais importante que o hexacampeonato.”

FONTE: escrito por Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi. Artigo publicado no “O Globo” e blog do Noblat  (http://oglobo.globo.com/pais/noblat/post.asp?cod_post=480527&ch=n) [Imagem do google e trecho entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].

GOVERNO DIVULGA RETROSPECTIVA COM AÇÕES E CONQUISTAS DE 2012

“2012 foi um ano de muitas conquistas para o Brasil, pautado, sobretudo, pelo crescimento econômico e pela inclusão social. Mesmo em tempos de crise mundial, o brasileiro presenciou o crescente investimento em programas sociais, fundamental para garantir novas oportunidades de trabalho, emprego e formação, melhoria da infraestrutura nacional e recordes na redução da pobreza extrema no país.

No sábado, o Planalto divulgou breve retrospectiva com as principais ações e conquistas realizadas ao longo do ano. Programas para a erradicação da miséria no Brasil e a elevação do país como referência no investimento em educação e esportes marcaram o ano de 2012 da presidenta Dilma Rousseff à frente do Planalto.

O destaque é para o programa “Brasil sem Miséria”, que retirou 16,4 milhões de brasileiros da pobreza extrema, e o lançamento do “Brasil Carinhoso”. Somente em outubro, foram repassados R$186,3 milhões a 2,16 milhões de famílias, beneficiando quase três milhões de crianças de 0 a 6 anos.

No “Bolsa Família”, o balanço do governo é de que foram transferidos R$17,3 bilhões aos beneficiários do programa. Mais de 50 milhões de pessoas foram beneficiadas nesse período a um custo de 0,46% do PIB brasileiro. Em 2012, 96,7% das 15,1 milhões de crianças e jovens beneficiários do “Bolsa Família” superaram a frequência escolar exigida pelo programa (agosto/setembro).

Na economia, o maior destaque é a redução da taxa média de juros nos últimos 12 meses, para 10,2%, que possibilitou a expansão do crédito e a diminuição da tarifa de energia. Os consumidores passam a pagar contas de luz 16,2% mais baratas. Para as indústrias, a tarifa vai variar de 12% a 28%, dependendo da tensão elétrica utilizada. A média deve ficar em 20% de redução.

Até outubro, foram criados 1,7 milhões de postos de trabalho no país. Somente no governo da presidenta Dilma Rousseff (desde 2010), já foram criados quatro milhões de novas vagas. O Brasil registra, atualmente, o menor nível de desemprego da história.

Em breve relato, o governo mostra que o “Programa Minha Casa, Minha Vida” entregou mais de 970 mil moradias em 2012.

SAÚDE & EDUCAÇÃO

Na saúde, o governo registra a realização de mais de 12,3 mil transplantes no SUS (Sistema Único de Saúde), aumento de 12,7% em relação a 2011. Também, aumentou 22% a quantidade de doadores de órgãos.

O “Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego” (PRONATEC) recebeu registro, no balanço anual, com a oferta de 2,5 milhões de vagas para jovens e trabalhadores em cursos profissionalizantes. E mais de 20 mil estudantes foram beneficiados em 2012 com bolsas de estudos do programa “Ciência sem Fronteiras”.

Na educação, o governo da presidenta Dilma ressalta o crescimento de 127% no número de escolas do ensino fundamental que aderiram ao programa “Mais Educação”, oferecendo atividades educacionais no contraturno.

O governo destaca, ainda, que o desmatamento da Amazônia continua em queda: 27% menor em comparação com o ano anterior.

OBRAS DO PAC

As obras de infraestrutura são consideradas outra grande conquista do país. 38,5% das obras e ações de grande complexidade do PAC 2 (Programa de Aceleração do Crescimento) foram concluídas, com investimento de R$272,7 bilhões executados em 2011 e 2012.

Dois novos estádios foram inaugurados em 2012 e outros quatro serão entregues em 2013. Estão em andamento 31 ações em 13 aeroportos: Brasília, Belo horizonte, Campinas, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Porto Alegre, Recife, Salvador, Guarulhos/SP, São Gonçalo do Amarante/RN e Galeão/Rj. Os investimentos já somam R$ 7,35 bilhões.

Além desses preparativos para a Copa do Mundo de 2014, o governo Dilma também prepara os 200 atletas olímpicos e paraolímpicos brasileiros classificados entre os 20 melhores do mundo em suas modalidades, para os jogos olímpicos do Rio em 2016.”

FONTE: portal “Vermelho”  (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=202307&id_secao=1) [Imagem do google adicionada por este blog ‘democracia&política’].

O ENIGMA POLÍTICO ARGENTINO

Por Emir Sader

“Se a situação argentina tem suas complexidades, ela se torna completamente incompreensível à luz da cobertura que a mídia brasileira – que se pauta pela mídia de direita da Argentina – faz. Não conseguiram entender por que Nestor Kirchner e não Carlos Menem se elegeu presidente, por que Cristina se elegeu como sucessora dele e se reelegeu em seguida. É tal a visão catastrófica que se transmite da Argentina que não conseguem dar conta de por que Cristina se reelegeu no primeiro turno.

A Argentina sofreu uma das modalidades mais radicais de neoliberalismo na América Latina. Depois de duas crises de hiperinflação, Menem impôs uma solução radical e artificial ao problema: por um decreto, se estabelecia a paridade entre o peso e o dólar. A Argentina renunciava a ter política monetária, ficando a cotação da sua moeda atrelada à do dólar, definida pelo “Federal Reserve” dos EUA. Não se emitiria peso se não houvesse entrada de dólares. Subitamente, se elevou o poder aquisitivo da moeda e dos argentinos, de maneira totalmente artificial, numa bomba de tempo que não poderia demorar para explodir.

Os candidatos temiam prometer que terminariam com a paridade, porque todo argentino sabia que teria os seus pesos enormemente desvalorizados, porque os depositava considerando que teriam o correspondente em dólares. Se podia comprar carros em prazos longos, sem juros, com a fantasia da paridade, mas a dívida era assinada em dólares. Ainda mais que todos foram se endividando, apoiados na paridade e na confiança de que esse esquema não seria alterado.

Menem, como todos os presidentes neoliberais latino-americanos, saiu derrotado e deixou a bomba de tempo explodir nas mãos de Fernando de la Rua, do Partido Radical. A paridade terminou, houve uma espécie de rebelião popular cobrando dos bancos seus depósitos, que tinham passado da paridade com o dólar, para 4 a 1. De la Rua saiu rapidamente de helicóptero da Casa Rosada, depois de reprimir manifestações em Buenos Aires, com 27 mortos no centro da cidade.

Depois da instabilidade institucional, com vários pessoas sucedendo-se na presidência em poucos dias, nas eleições Menem ganhou no primeiro turno, prometendo que dolarizaria totalmente a economia argentina (o que levaria ao desastre a Argentina e inviabilizaria qualquer processo de integração da região). Diante da evidente derrota para Nestor Kirchner no segundo turno – pelos apoios que este recebeu dos outros candidatos -, Menem se retirou e Kirchner foi eleito.

Kirchner conseguiu recuperar a Argentina do maior desastre econômico e social da sua história, fazendo com que a economia crescesse a ritmos anuais de 6 a 9% ao ano, durante cerca de 8 anos. Mas arrastou problemas da herança do Menem.

Entre esses, uma dívida descomunal e a privatização de todo o patrimônio público – entre ele, o da YPF, que tinha obtido a autossuficiência em petróleo para a Argentina. O governo Kirchner impôs a renegociação dos papéis da dívida, que foi aceito por grande parte dos seus proprietários. Mas os restantes 8% bloqueiam, até hoje, o acesso da Argentina a créditos internacionais.

Outra herança foi o déficit energético, que fez com que o governo passasse a subsidiar o consumo de energia e a importá-la, o que se tornou peso brutal nos gastos públicos.

Mas a Argentina retomou ritmos altos de crescimento – mesmo se agora muito dependente da exportação de soja – e os Kirchner consolidaram os apoios populares a seus governos, mesmo diante de ofensivas da direita – como a dos proprietários de soja, quando o governo decretou aumento nos impostos sobre exportação.

A conjuntura atual é a condensação de uma serie de questões pendentes. Por exemplo: a manifestação de 8 de novembro passado reuniu, basicamente, setores da classe média da cidade de Buenos Aires, com os lemas contrários à reeleição da Cristina e contra a aplicação da Lei de Meios. No ano que vem, haverá eleições parciais para o Congresso. Se Cristina obtiver 2/3 dos votos – objetivo difícil – poderá submeter a revogação da Constituição, para se candidatar a um terceiro mandato.

Caso não o consiga, se abre cenário muito complexo, porque não há um candidato à sua sucessão indiscutível entre as forças que a apoiam e pode se abrir disputa que dividirá, ainda mais, o peronismo. Um candidato conservador dentro do peronismo – Scioli, governador da província de Buenos Aires – se lançou e tem o apoio de setores opositores a Cristina dentro do peronismo.

A Lei de Meios tinha no dia 7 de dezembro uma data chave, porque terminava o prazo do recurso que o grupo Clarín havia conseguido na Justiça para adiar a aplicação da lei de democratização, pela qual o grupo terá que se desfazer da longa lista de canais a cabo que tem – 254 – para ficar com 24, que é o que permite o caráter antimonopólico da nova lei.

Seguiu-se uma greve e outras manifestações protagonizada pelo setor da CGT que se opõe ao governo de Cristina – dirigido por Moyano pelo setor da CTA de ultraesquerda, além da Federação Agrária, que congrega os produtores de soja. Com reivindicações basicamente salariais, mas com um tom político fortemente opositor, apontando para um bloco de forças que pode vir a se coesionar para tentar bloquear os 2/3 que Cristina busca no Parlamento e, depois lançar um candidato – talvez o próprio Scioli – em 2014.

A economia argentina perde fôlego, vulnerabilizada pelas dificuldades de financiamento externo, pela diminuição do ritmo de crescimento do Brasil – seu principal mercado – pela inflação real, pelos déficits orçamentários – em boa parte advindos dos subsídios à energia. O clima de bonança que cercou a reeleição de Cristina – que além disso conseguiu promover um processo de mobilização de setores jovens do peronismo, a partir da morte de Nestor e das comemorações do bicentenário do país – passou.

Uma espécie de inferno astral abateu-se sobre o governo, somando-se às mobilizações da oposição, a apropriação de um navio argentino em Gana por um mandato de uma instância judicial norte-americana, pelo não pagamento de parte da dívida argentina, além de uma ordem de uma outra instância judicial dos EUA, que buscava obrigar o governo argentino a, primeiro, pagar esse monto pendente, antes de seguir pagando as cotas aos que aceitaram renegociar a dívida.

Essas duas últimas questões foram superadas - pelo menos temporariamente. O governo intensificou a ofensiva contra o Clarín, tudo indica que possa colocar em prática a desmonopolização do grupo, mesmo se os prazos se alongam. Ao mesmo tempo, recuperou para o Estado o espaço que ocupava a “Sociedade Rural Argentina”, depois de ter nacionalizado a YPF, privatizada pelo governo Menem.

Os embates entre o governo e a oposição se seguirão em várias frentes: a externa, aquela aglutinada por forças sindicais e a do Clarín e os setores de direita que apoiam a esse grupo. Se a soma das frentes causa problemas do governo, sua heterogeneidade faz com que tenham dificuldade de traduzir em força política unificada por uma candidatura presidencial competitiva.

Caso Cristina não possa concorrer e o governador da província de Buenos Aires unifique as forças hoje dentro e fora o governo, especialmente do campo peronista, a sucessão argentina de 2014 será uma dura prova para a continuidade do governos dos Kirchner. Uma prova para a capacidade de Cristina de construir um sucessor que possa dar continuidade aos governos que resgataram a Argentina do caos herdado já há quase 10 anos. O primeiro capítulo dessa disputa dominará o cenário político de 2013: as eleições parlamentares e a possibilidade do governo obter 2/3, reformar a Constituição e Cristina se candidatar a um terceiro mandato. Essa disputa define o cenário da sucessão presidencial de 2014.”

FONTE: escrito pelo cientista político Emir Sader no site “Carta Maior”  (http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=1163).

EUA SOB COMANDO DE RUPERT MURDOCH



Rupert Murdoch
Carl Bernstein

POR QUE A MÍDIA DOS EUA IGNOROU A TENTATIVA DE MURDOCH DE ASSALTAR A PRESIDÊNCIA?

“Periódicos como o ‘Washington Post’ subestimaram o caso por medo do dono da ‘News Corporation’ ou por falta de discernimento? A gravação da conversa entre o general e o editor é um documento formidável, um testemunho do desembaraço com que Murdoch passa por cima da ordem civil e política estadunidense sem nem se preocupar com as finezas tradicionais ou fingir independência e honestidade jornalística.

Por Carl Bernstein, no inglês “The Guardian

Finalmente, temos evidência irrefutável do último e mais audacioso atentado de Rupert Murdoch – frustrado, ainda bem, pelas circunstâncias - contra as instituições democráticas estadunidenses. O assalto tinha escala similar ao sequestro e corrupção que o magnata da mídia realizou nas principais instituições democráticas da Grã-Bretanha.

No caso americano, o objetivo de Murdoch parece não ter sido menor do que usar seu império midiático – especialmente a “Fox News” – para financiar e apoiar a candidatura do general David Petraeus à presidência nas eleições deste ano.

No primeiro semestre de 2011, menos de dois meses antes da revelação do papel central que Murdoch desempenhou no escândalo envolvendo seus periódicos britânicos, o criador e presidente da “Fox News”, Roger Ailes, enviou uma emissária ao Afeganistão para persuadir Petraeus a recusar a oferta, feita pelo presidente Obama, de tornar-se diretor da CIA e, em vez disso, concorrer à nomeação à presidência do Partido Republicano, com a promessa de ser bancado por Murdoch. O próprio Ailes renunciaria ao cargo de presidente da “Fox News” para comandar a campanha, de acordo com a conversa entre Petraeus e a emissária Kathleen T. McFarland, uma “analista” da “Fox News” e membro do “Conselho de Segurança Nacional” em três administrações republicanas.

Tudo isso é revelado numa gravação do encontro entre Petraeus e McFarland obtida por Bob Woodward, cuja descrição da conversa, acompanhada pelo áudio da gravação, foi publicada no “Washington Post”. Curiosamente, a reportagem foi impressa na seção de “Estilo”, e não na primeira página. Na internet, ela foi veiculada também abaixo do logo “Estilo”, no dia 3 de dezembro.

De fato, tão desesperador quanto o menosprezo que Ailes e Murdoch nutrem por valores jornalísticos e por um processo eleitoral transparente, e tão marcante quanto a avidez do emissário em prometer o apoio da “Fox” a Petraeus, tem sido a falta de interesse da imprensa e dos políticos norte-americanos sobre o ocorrido. Não se sabe se o desinteresse é causado por medo do poderio de Murdoch e Ailes ou da pouca surpresa que traz a postura dos magnatas da mídia.

O tom da reação da mídia foi dado desde que se falou do caso pela primeira vez: o “Post” relegou a matéria à seção referente a fofocas sobre celebridades. “Bob conseguiu um furo importante, uma matéria barulhenta, perfeita para a seção “Estilo”. Uma primeira página não se justificaria”, disse Liz Spayd, editora-chefe do “Washington Post”, quando perguntada sobre o ímpar posicionamento da matéria na edição do dia 3 de dezembro.

Matéria barulhenta? A primeira página “não se justificaria”? Ninguém poderia imaginar tamanha falha de um dos predecessores de Spayd, até em função da qualidade do registro que o “Post” tinha em mãos.

Avise a Ailes se eu me candidatar”, anuncia Petraeus em gravação digital cristalina, “mas eu não o farei. Se um dia eu o fizer, eu me lembrarei da oferta... ele disse que saria da “Fox” e bancaria minha candidatura...”

McFarland esclareceu as condições: “é o patrão que vai financiar. Roger [Ailes] só vai dirigir. E o resto de nós estará na organização“, confirmando, assim, o que os críticos da “Fox News” sempre mantiveram sobre a conduta do canal de notícias.

Uma coisa deve ser sublinhada aqui: se a emissária trabalhasse para o presidente da “NBC”, para o editor do “New York Times” ou do “Washington Post”, a gritaria seria enorme, principalmente da “Fox News” e da América republicana/Tea Party, e só se abrandaria com uma investigação por parte do Congresso e a renúncia dos editores do periódico ou canal de tevê. Ou até que houvesse evidência plausível e convincente de que tudo fosse mentira. E, obviamente, o caso permaneceria na primeira página e nos noticiários vespertinos durante semanas.

A gravação da conversa entre o general e o editor é um documento formidável, um testemunho do desembaraço com que Murdoch passa por cima da ordem civil e política estadunidense sem nem se preocupar com as finezas tradicionais ou fingir independência e honestidade jornalística. O caso Ailes/Petraeus esclarece que os objetivos de Murdoch nos EUA eram tão abomináveis e pérfidos quanto no caso das escutas telefônicas, que aniquilou qualquer dúvida sobre a capacidade de Murdoch de corromper qualquer um dos elementos essenciais da ordem civil britânica – a imprensa, os políticos e a polícia.

Murdoch e Ailes ergueram um império midiático de poder incomparável nas culturas norte-americana e britânica. Mas, ao invés de exercer tal poder de maneira judiciosa ou melhorar os padrões jornalísticos com seus recursos intermináveis, os dois, irrefletidamente, investem numa agenda sensacionalista, em controvérsias forjadas e em messianismo ideológico. A gravação é uma evidência poderosa da metodologia e do alcance do império de Murdoch.

A corrupção por Murdoch de instituições democráticas fundamentais em ambos os lados do Atlântico é um dos casos de maior importância e alcance político e cultural dos últimos 30 anos, uma narrativa em curso sem igual. Como no caso de Richard Nixon, muita atenção foi dirigida à necessidade de encontrar provas concretas do que já não era mais uma dúvida, isto é, que os instrumentos elementares da democracia (a presidência no caso Nixon, os privilégios da mídia livre no caso Murdoch) foram empregados de maneira equivocada e abusiva para os fins particulares daqueles que deveriam servir o bem comum.

No caso Nixon, o sistema funcionou. Suas ações foram investigadas pelo Congresso, o sistema judiciário sustentou que nem o presidente dos Estados Unidos da América estava acima da lei, e ele foi forçado a renunciar ou enfrentar um impeachment. As democracias britânica e estadunidense não se saíram tão bem com Murdoch, cujo poder e corrupção não foi reprimido por um terço de século.

A decisão mais importante que um jornalista toma é a de julgar se algo é ou não notícia. Talvez, nenhuma história tenha sido tão evitada por nós quanto a da marcha de Murdoch sobre a democracia. Quando a cobertura das escutas telefônicas, na qual o “Guardian” insistiu por meses, atingiu massa crítica, um ex-capanga de Murdoch disse o seguinte: “este escândalo e todas as suas implicações não poderiam ter ocorrido em outro lugar. Só poderia ter sido na órbita de Murdoch. As delinquências do “News of the World” foram cometidas em escala industrial. Foi Murdoch quem inventou e estabeleceu esta cultura de redação, na qual se deve fazer o que for preciso para conseguir uma matéria e na qual os fins sempre justificam os meios”.

A fita obtida por Bob Woodward deveria ser o desfecho da história de Murdoch, tanto no Reino Unido quanto nos EUA, para que ficasse claro que nenhuma instituição, nem mesmo o presidente norte-americano, está acima da democracia. Se Murdoch financiasse uma campanha presidencial exitosa para Petraeus com “o resto de nós na organização”, como disse Kathleen McFarland, ele teria demonstrado controle sobre todas as instituições democráticas norte-americanas, controle ainda mais seguro do que o exercido sobre a Grã-Bretanha.

Felizmente, Petraeus não desejava a presidência. O general estava contente com a ideia de tornar-se diretor da CIA.

Está tudo montado”, disse a emissária referindo-se a Ailes, Murdoch e “Fox News”. “Nunca vai acontecer”, respondeu Petraeus. ‘Você sabe que nunca vai acontecer, não vai mesmo. Minha mulher pediria divórcio’.”

FONTE: escrito por Carl Bernstein, no jornal inglês “The Guardian”. Artigo publicado no site “Carta Maior” com tradução de André Cristi  (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=21453

COMPLEMENTAÇÃO


O SISTEMA POLÍTICO DOS EUA SOB COMANDO DE RUPERT MURDOCH

Rupert Murdoch

Por Jonathan Cook, no “Commondreams”, dos EUA

“Uma conversa gravada mostra que, no primeiro semestre de 2011, Murdoch pediu a Roger Ailes, chefe da ‘Fox News’, que fosse ao Afeganistão persuadir o general David Petraeus, antigo comandante das forças militares norte-americanas, a concorrer à presidência como candidato do Partido Republicano nas eleições deste ano. Murdoch prometeu financiar a campanha de Petraeus e apoiar o general com o aparato midiático da ‘Fox News’.

Os esforços de Murdoch não adiantaram porque Petraus não quis concorrer. “Diga a Ailes que se um dia eu concorrer”, diz Petraeus na gravação, “apesar de que não vou, mas se um dia eu concorrer a proposta será aceita”.

O caso de Petraeus é perturbador para a imprensa, justamente porque desmonta a fachada democrática da política norte-americana, uma imagem construída cuidadosamente para que o eleitorado estadunidense se convença de que decide sobre o futuro político do país.

Bernstein está corretamente horrorizado não só com o ataque frontal à democracia mas com a atitude do “Washington Post” na publicação da matéria. O furo jornalístico foi enterrado na seção de “Estilo” do jornal e a editora do “Post” disse que a reportagem, apesar de “barulhenta”, não “justificaria uma primeira página”.

Alinhando-se à editora, o resto da grande mídia norte-americana ignorou ou menosprezou a reportagem.

Nós podemos assumir que Bernstein escreveu seu artigo sob pedido de Woodward, que assim demonstraria de forma encoberta o ultraje a que foi sujeito por seu jornal. A reportagem, com efeito, deveria causar um escândalo político. A dupla, presumivelmente, esperava que a história incitasse audiências no Congresso sobre o abuso de poder cometido por Murdoch, assim como aconteceu na Grã-Bretanha, onde investigações revelaram como o magnata controlava os políticos e a polícia britânicos.

Como observa Bernstein, “a corrupção por Murdoch de instituições democráticas fundamentais em ambos os lados do Atlântico é um dos casos de maior importância e alcance político e cultural dos últimos 30 anos, uma narrativa em curso sem igual.”

Bernstein só é incapaz de compreender porque os manda-chuvas da mídia não vêem as coisas como ele vê. Ele demonstra grande desalento perante “a falta de interesse da imprensa e dos políticos norte-americanos sobre o ocorrido. Não se sabe se o desinteresse é causado por medo do poderio de Murdoch e Ailes ou da pouca surpresa que traz a postura dos magnatas da mídia.”

Na verdade, nenhuma das explicações de Bernstein para tamanha falha é convincente.

Uma razão bastante mais provável para a aversão ao caso Ailes/Petraeus por parte da mídia norte-americana é que o caso oferece perigo à barreira construída pela mesma mídia que, com sucesso, oculta a cômoda relação entre as corporações (possuidoras da mídia) e os políticos do país.

O caso revela a charada da disputa eleitoral. Poderosas elites manipulam o sistema com dinheiro e a mídia que eles comandam reduzem a escolha dos eleitores a dois candidatos quase idênticos. Esses candidatos sustentam as mesmas opiniões em 80% das questões. Mesmo as diferenças são resolvidas por trás dos panos pelas elites, seja por meio de lobistas, da mídia ou de Wall Street.

A reportagem de Woodward não prova que Murdoch ameaça a democracia. Ela revela a absoluta dominação do sistema político norte-americano pelas grandes corporações. Essas corporações controlam o que vemos e ouvimos e incluem, obviamente, os donos do “Washington Post”.

Triste é notar que os jornalistas da mídia corporativa são incapazes de enxergar além dos parâmetros que os donos da mídia impõem. E isso inclui mesmo os mais talentosos da categoria: Woodward e Bernstein.”

FONTE (da complementação): escrito por Jonathan Cook, no “Commondreams”. O autor venceu o prêmio de jornalismo “Martha Gellhorn” em 2011. Seus dois últimos livros são sobre a Palestina. Artigo transcrito no site “Carta Maior” com tradução de André Cristi  (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=21452).

CELEBRANDO NOSSO PIÃO CELESTE

Por Marcelo Gleiser

COMO O EIXO DE ROTAÇÃO ESTÁ MUDANDO LENTAMENTE, GIRAM TAMBÉM OS CÉUS, E AS ESTRELAS MUDAM DE POSIÇÃO

"Enquanto o Brasil passa pelos dias mais longos do ano, próximos ao solstício de verão, aqui no norte dos EUA passamos pelo exato oposto, os dias mais curtos, com noites que duram 15 horas, muita neve e frio. A Terra é um planeta de extremos, e nós, que nos espalhamos por ela, experimentamos isso tudo.

Hoje, em torno da minha casa, está tudo nevado, com as árvores nuas, lenha queimando na lareira, o famoso Natal branco que, inexplicavelmente, tentamos copiar no Brasil. Em vez de renas, o trenó do Papai Noel brasileiro teria de ser puxado por tucanos e araras.

Essa diversidade climática vem, essencialmente, da inclinação do eixo de rotação da Terra em 23,5º. A Terra é um pião celeste, girando em torno de si mesmo, meio que caindo, descrevendo uma leve elipse em torno do Sol.

Se enxergássemos o Sistema Solar de longe, ele pareceria um disco plano, com o Sol no centro (ou quase) e os planetas a circundá-lo. A inclinação da Terra é em relação a esse plano, chamado de “plano da eclíptica”. A maioria absoluta das pessoas acha que o calor do verão e o frio do inverno vêm da distância entre a Terra e o Sol: inverno, mais frio, Terra mais distante; verão, o oposto. Poucos sabem que as estações são consequência da inclinação da Terra.

Dizemos que a Terra tem um movimento de precessão, o mesmo de um pião caindo. No caso da Terra, isso se deve a ela não ser uma esfera perfeita, sendo um pouco achatada nos polos e estufada no Equador. A força gravitacional combinada da Lua e do Sol age sobre o Equador, criando um torque que tenta alinhar o eixo de rotação da Terra com o plano da eclíptica, tentando fazer a Terra "cair".

Mas não se preocupem, a Terra não vai cair. (Se bem que Urano gira quase deitado, provavelmente devido a uma enorme colisão durante o período de formação do Sistema Solar, 4,6 bilhões de anos atrás.)

Esse movimento, a precessão dos equinócios, tem um período de aproximadamente 26 mil anos, ou um grau a cada 72 anos (para completar o círculo de 360º).

Como o eixo de rotação da Terra está mudando lentamente de posição, giram também os céus. Mais precisamente, as estrelas vão aos poucos mudando de posição. Por exemplo, agora o eixo de rotação terrestre está a um grau da estrela Polaris, no norte. Isso significa que uma foto de exposição longa mostrará o céu girando em torno de um ponto ao norte, pertinho dessa estrela. Em 13 mil anos, Polaris vai estar do lado oposto do eixo.

Foi neste ano que a sonda espacial Voyager 1, cuja missão começou em setembro de 1977, passou dos limites do Sistema Solar, a primeira nave humana a conseguir tal feito.

Viajando a 61 mil km/h, ela se destina ao espaço interestelar, o deserto escuro entre as estrelas. A uma distância atual do Sol 121 vezes maior do que a Terra, nosso planeta já é quase invisível para as suas câmeras, um pálido ponto azul, como disse Carl Sagan, onde tudo o que criamos, toda a nossa história, encontra-se em meio ao nada.

Entre os festejos de mais uma mudança de calendário, por que não parar durante dez segundos e festejar nossa casa celeste, este pálido pião azul, exuberante e vivo em meio a tanta escuridão e frio?”

FONTE: escrito por Marcelo Gleiser, professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor de "Criação Imperfeita". Artigo publicado na “Folha de São Paulo”  (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cienciasaude/86221-celebrando-nosso-piao-celeste.shtml) [Imagens do google adicionadas por este blog ‘democracia&política’].

domingo, 30 de dezembro de 2012

O ENGODO DO IMPOSTÔMETRO

Tucanos, cinicamente, há muito tempo e todos os anos, fingem nenhuma culpa  
O ENGODO NAS NOTÍCIAS DE QUE “OS BRASILEIROS JÁ PAGARAM R$1,5 TRILHÃO EM IMPOSTOS NESTE ANO

[OBS deste blog ‘democracia&política’: A mídia direitista brasileira e a oposição (PSDB, DEM, PPS), que tradicionalmente são simples instrumentos dos grandes grupos financeiros e econômicos dos EUA/Israel e Europa, sempre tergiversam nesse tema da “alta carga tributária”.

Querem induzir na população a ideia de o governo federal petista ser o grande culpado da elevação dessa carga. Há vários anos que a mídia (demotucana), periodicamente, faz grande alarde sobre os valores teoricamente arrecadados, indicados no “impostômetro”.

Cinicamente, escondem que grande parcela daquele imposto é sonegado pelos ricos e é devida a arrecadações estaduais e municipais, bem como omitem que o exponencial crescimento da relação carga tributária x gasto público (de 27% a 33%) ocorreu, justamente, no governo demotucano FHC (1995-2002), como vemos no gráfico abaixo:

Em 2012 a relação foi de 35%
Vejamos a seguinte reportagem de 29/12 do jornal direitista “O Globo”:]

Cifra foi registrada pelo impostômetro às 19 horas de sexta-feira. Valor recolhido até o dia 31 deverá ser 2,91% maior do que no ano passado.

"O Globo"

O Impostômetro, painel da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) que calcula em tempo real a arrecadação de tributos no país, atingiu às 19h de sexta-feira, a marca de R$ 1,5 trilhão em impostos pagos pelos brasileiros deste o início do ano. Em 2011, essa cifra foi registrada um dia mais tarde, em 29 de dezembro.

Segundo as projeções da Associação Comercial, à meia noite do dia 31 de dezembro, quando 2012 chegar ao fim, o painel deverá marcar de R$ 1,55 trilhão em impostos e tributos pagos no país. O valor é 2,91% superior aos R$ 1,512 trilhão, registrados no encerramento de 2011.”

FONTE: jornal “O Globo” e Blog do Noblat (da Globo)  (http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2012/12/29/brasileiros-ja-pagaram-1-5-trilhao-em-impostos-neste-ano-480460.asp) [Título, subtítulo, imagem e observação entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].

SANTAYANA SOBRE ADVOGADOS, A LIBERDADE E O DIREITO

Não se pode … exigir do acusado que desfaça uma prova que ele mesmo desconhece. Os juízes não devem decidir sobre provas secretas".


O portal “Conversa Afiada” reproduz artigo de Mauro Santayana do “JB online”:

O DIREITO, A LIBERDADE E A MISSÃO DO ADVOGADO

“Foi a descoberta grega da idéia da liberdade que abriu o tempo para a construção do Ocidente. Com essa fulgurante epifania mental, os pensadores partiram para a especulação sobre a realidade física, a natureza peculiar do homem e a vida social. É assim, como decorrência natural de que a vida deve ser livre, para ser digna, que nasceram, sob o rótulo comum de filosofia prática, as idéias da lógica, da ética, da economia e (como instrumento de busca e realização da liberdade) a política.

O artigo que publicou o advogado Márcio Thomaz Bastos – nestes dias que, sendo de festas, devem ser de meditação – sobre os deveres dos advogados, é documento grave e sério. Ele deve ser entendido em sua seriedade e gravidade. Estamos perdendo, como se os neurônios se dissolvessem sob o calor dos ódios e preconceitos, a capacidade de pensar. A lucidez passou a ser uma espécie de excepcionalidade, como se tratasse de um fenômeno de parapsicologia. Mais do que isso: como aponta o ex-presidente da OAB, que se destacou na luta contra o regime militar, a sociedade está imbuída da sanha persecutória, conduzida pelo lema de vigiar e punir.

Mais terrível do que a tirania do Estado, quando ele se encontra ocupado pelos insanos, é a tirania das sociedades, conduzidas por demagogos enfurecidos e suas contrafeitas idéias. Idéia, como sabemos, é a forma que construímos em nossa mente, para identificar as coisas e os fenômenos. Se perdemos essa capacidade de relacionar, com lógica, os acontecimentos naturais e o sentimento humano – laço que nos une aos de nossa mesma espécie – não há mais civilização, deserta-nos a razão, evapora-se a inteligência. E se a sociedade perde o equilíbrio, o Estado pode perecer, com o fim de todas as liberdades.

O dever absoluto da justiça é a proteção da liberdade, como condição inerente e irrecusável do ato de viver.

Quando a justiça pune – qualquer tenha sido o crime – pune quem violou a liberdade de outro, seja no exemplo radical do homicídio, seja em delitos menores. Em razão disso, qualquer pessoa que seja levada diante de um juiz necessita de advogado, que seja capaz de orientá-lo e defendê-lo, a partir das leis e do direito consuetudinário. Desde que os homens criaram os tribunais, sempre houve advogados e, não precisa ser dito, por mais tenebroso possa parecer um crime, o direito de defesa é sagrado.

Como expôs com clareza, em sua aula de filosofia do Direito, o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, por mais evidente possa parecer a culpa de um suspeito, até que se conclua plenamente o seu julgamento, a presunção é de inocência. Por uma proposição lógica, cabe a quem o acusa fornecer as provas insofismáveis da culpa.

Não se pode inverter o enunciado dessa razão, e exigir do acusado que desfaça uma prova que ele mesmo desconhece. Os juízes não devem decidir sobre provas secretas. Tivemos, na ditadura, o absurdo ridículo de sermos obrigados a obedecer a decretos sigilosos, mas o juiz está livre desses ucasses.

É corajosa a advertência do conhecido advogado. Ele é apontado como um profissional que aceita causas já tidas como perdidas, em razão do clamor popular contra os acusados, da mesma forma que é elogiado por ter defendido os perseguidos pelo regime autoritário, quando as idéias da liberdade se encontravam sufocadas pelos juristas e juízes da Ditadura. Mas, qualquer a opinião que dele se tenha, cumpre o seu dever de defender os que o procuram – contra os clamores da ira, espontânea ou conduzida, de parcelas da sociedade – até que todos os ritos processuais se cumpram, na absolvição ou condenação do réu.

Por tudo isso, o seu texto deve ser analisado cuidadosamente por todos os cidadãos, especialmente pelos que, no exercício do mandato político, têm a responsabilidade de governar o Estado em nome da sociedade.”

FONTE: portal “Conversa Afiada”  (http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2012/12/28/santayana-sobre-advogados-a-liberdade-e-o-direito/).

O FISCAL TAMBÉM TEM QUE SER FISCALIZADO

Ao comprar a ‘Folha’, Frias comprou prestígio social — e adulação do mundo político

Do portal “Viomundo”

Por Paulo Nogueira, em “Diário do Centro do Mundo

QUAIS OS LIMITES DO JORNALISMO E DOS JORNALISTAS?

“Vejamos a ‘Folha de S. Paulo’, por exemplo. Ela procura se colocar, em editoriais e em publicidade, como uma espécie de fiscal sagrado dos governos. Tudo bem. Mas é preciso não perder de vista que ela não recebeu essa incumbência da sociedade.

Não foi votada. Não foi eleita.

Fora isso, existe fiscal que não é fiscalizado?

Jornalismo é, como todos os outros, um negócio. Em geral, quem investe em jornalismo não está atrás de dinheiro. Os lucros não costumam ser grandes. O que o jornalismo dá é prestígio, influência. Empresários interessados em recompensas mais palpáveis fazem suas apostas em outras áreas.

No começo da década de 2000, quando a internet já desaconselhava investimentos em papel no Reino Unido, um empresário russo comprou o jornal inglês “The Evening Standard”, em grave crise financeira, para ganhar respeitabilidade.

É um jogo antigo.

Na biografia semioficial de Octavio Frias de Oliveira, está publicado um episódio revelador. Nabantino, o antigo dono da “Folha”, estava desencantado porque se julgara traído pelos jornalistas que fizeram a greve de 1961. (Meu pai era um deles.) Decidiu vender o jornal. Um amigo comum de Nabantino e Frias sugeriu que ele comprasse. “Dinheiro você já tem da granja”, ele disse. “O jornal vai dar prestígio a você.”

Na biografia, a coleção de fotos de Frias ao lado de personalidades mostra que o objetivo foi completamente alcançado. Um granjeiro não estaria em nenhuma daquelas fotos (no alto, antes do post).

Sendo um negócio, o jornalismo não está acima do bem e do mal. É natural que prevaleçam, nele, as razões de empresa. Essas razões podem coincidir com as razões nacionais – ou não. Observe o mais carismático – não necessariamente o melhor ou mais escrupuloso – empresário de jornalismo da história do Brasil, Roberto Marinho, da “Globo”.

Quem garante que o que era melhor para ele era o melhor para o país? Roberto Marinho era tão magnânimo a ponto de pôr os interesses nacionais à frente dos pessoais?

Como a sociedade não elegeu empresas jornalísticas, seus donos não têm que dar satisfação a ninguém sobre coisas como o uso que dão ao dinheiro que retiram. Se decidem vender o negócio, nada os impede.

Essa é a parte boa de você não ter um vínculo ou uma delegação direta da sociedade. Não existem amarras burocráticas para seus movimentos. Mas você não pode ficar com a parte boa e dispensar a outra – a que não lhe garante tratamento privilegiado apenas por ser da imprensa.

No Reino Unido, este é um debate atualíssimo, depois que o tabloide “News of the World”, o NoW, de Rupert Murdoch, quebrou todas as barreiras da decência e da legalidade na busca de furos. O NoW invadia criminosamente caixas de mensagem de centenas de pessoas, a maior parte delas celebridades e políticos, para vender mais — e portanto ganhar dinheiro com isso.

Quando se soube das dimensões do escândalo, o governo britânico, sob pressão da opinião pública, montou um comitê independente para rediscutir a mídia — o que é aceitável e o que não é.

Os trabalhos foram comandados por Lorde Brian Leveson, um juiz de alto nível que sabatinou grandes personagens do universo da imprensa, sob câmaras de tevê, em busca de luzes. O premiê David Cameron, por exemplo, teve que explicar a Leveson a natureza de sua relação com o grupo Murdoch.

Murdoch, ele próprio, na idade provecta de 81 anos, foi interrogado duas vezes pelo comitê. Neste momento, a questão é se a autorregulamentação do jornalismo deve ser mantida ou não. As empresas não gostam, naturalmente, da ideia de que a regulamentação seja tirada de seu controle.

O que muita gente se pergunta, no Reino Unido, é por que as pessoas deveriam confiar agora na autorregulamentação depois de seu espetacular fracasso.

Em seu relatório de recomendações, Leveson defendeu a criação de um órgão regulador independente das empresas jornalísticas. É provável que seja esse o desfecho no Reino Unido.

O Brasil terá que passar por uma discussão nos mesmos moldes, em nome do interesse público. Ninguém sabe com certeza dizer quais os limites do jornalismo no Brasil — nem, ao que parece, a própria Justiça, e muito menos as empresas jornalísticas.

A autorregulamentação fracassou no Brasil. Um órgão regulador independente das companhias — e também, naturalmente, do governo e dos políticos — é tão necessário no Brasil quanto é na Inglaterra.

Na Dinamarca é assim. O “Diário do Centro do Mundo” defende que se faça o mesmo no Brasil. O interesse público, este sim sagrado, deve prevalecer sobre o interesse das empresas jornalísticas. São interesses distintos. Coloquemos assim, para simplificar: nem tudo que é bom para a família Marinho é bom para o Brasil.

Numa democracia, para que a mídia exerça o vital papel de fiscal, ela tem que ser também fiscalizada.

Este é o ponto de partida para um debate urgente no país.”

FONTE: escrito por Paulo Nogueira, em “Diário do Centro do Mundo”. Transcrito no portal “Viomundo” (http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/paulo-nogueira-o-fiscal-tambem-tem-que-ser-fiscalizado.html).

SEGREDOS DA GUERRA DAS MALVINAS

INGLATERRA LIBERA DOCUMENTOS SECRETOS SOBRE GUERRA DAS MALVINAS

[OBS deste blog ‘democracia&política’: O arquipélago argentino das Malvinas (ou "Falklands", para os ingleses), no Atlântico Sul, foi invadido e ocupado pelo Reino Unido desde 1833. A Argentina tentou, em 1982, expulsar os invasores, sem êxito.

A imprensa internacional e brasileira, comandada pelos grandes grupos econômicos e financeiros dos Estados Unidos e Europa, ridiculariza os argentinos, trata-os como "agressores" irracionais, e enaltece a então primeira ministra Margaret Thatcher (também por ela ser da direita, neoliberal). Trata do alegado apoio brasileiro aos argentinos no conflito como “contribuição para o tráfico de armas para Argentina”, enquanto que o fornecimento pelos EUA (e seus aliados) à Inglaterra, de armas, imagens de satélites, apoio logístico, é denominado, eufemicamente, como “o suporte norte-americano” e não como “tráfico clandestino de armas para a Inglaterra”.

Em geral, as reportagens dessa imprensa informam que “os militares argentinos haviam irracionalmente “desafiado” o Reino Unido invadindo o arquipélago Malvinas”, sem explicar que os verdadeiros invasores daquele arquipélago são os ingleses.

Vejamos, a seguir, sobre o assunto, a postagem do site “Carta Maior”, também notadamente pró-ingleses, o que é raro nos textos do site]:

“Documentos desclassificados pelo ‘Arquivo Nacional britânico’ mostram que a ex-primeira ministra Margaret Thatcher estava disposta a chegar a um acordo com a Argentina sobre o status e a soberania das Malvinas que evitasse o enfrentamento militar entre as duas nações. Em contraposição à imagem intransigente de Thatcher, as minutas sobre as reuniões do gabinete de guerra indicam que a primeira ministra considerou como um “prêmio considerável” uma solução diplomática.

Por Marcelo Justo, de Londres

A dama de ferro não era tão férrea. Os documentos desclassificados pelo Arquivo Nacional britânico mostram que a ex-primeira ministra Margaret Thatcher estava disposta a chegar a um acordo com a Argentina sobre o status e a soberania das Malvinas que evitasse o enfrentamento militar entre as duas nações.

Em contraposição à imagem intransigente de Thatcher, as minutas sobre as reuniões do gabinete de guerra indicam que a primeira ministra considerou como um “prêmio considerável” uma solução diplomática discutida a apenas duas semanas da tomada das ilhas em 2 de abril de 1982.

Nessa solução, se propunha que a Argentina estivesse representada no Conselho governante das ilhas e em uma comissão interina que deveria ser criada para tratar do futuro das Malvinas ao final do ano, em troca da retirada das forças militares. “A retirada das tropas argentinas seria conseguida sem a necessidade de recorrer a uma ação militar. A Argentina ganharia representação no comitê interino e no conselho local e um compromisso para negociar o futuro das ilhas, mas sem garantia prévia de que o resultado da negociação seria uma transferência de soberania. É repugnante que um agressor obtenha algo de sua agressão, mas parece um preço aceitável a pagar”, assinalava Thatcher em um documento desclassificado com a rubrica de “Top Secret”.

O plano em questão era estadunidense e estava inserido no marco da guerra fria. O governo de Ronald Reagan, que considerava a ditadura militar argentina como seu principal aliado na América Latina, buscava, por todos os meios, uma solução que evitasse brigar com um regime que considerava chave na luta contrainssurgente regional pelo assessoramento que ofereciam às forças repressivas em El Salvador ou aos contras que buscavam derrotar o sandinismo na Nicarágua. Segundo as minutas do gabinete de Thatcher, o principal obstáculo ao plano era a intransigência da junta militar argentina. “O presidente Galtieri é um alcoólatra, aparentemente incapaz de pensamento racional”, assinalam as minutas do gabinete de guerra de 22 de abril.

O afundamento do [cruzador argentino] “General Belgrano” e do plano de paz promovido pelo presidente peruano Fernando Belaúnde no início de maio, praticamente, fecharam o caminho diplomático, mas ainda no dia 19 de maio, dois dias antes de as forças britânicas desembarcarem nas Malvinas, Thatcher disse ao gabinete que, em “uma sincera tentativa de evitar o derramamento de sangue, o Reino Unido não insistiu que fossem implementadas todas as nossas demandas”.

O presidente Ronald Reagan, que havia dado, finalmente, seu apoio ao governo britânico, tentou, no último momento, uma saída mais honrosa para as forças armadas argentinas. Uma nota das reuniões do gabinete de guerra revela detalhes da conversa telefônica que teve com Thatcher em 1º de junho, 13 dias antes de o general Mario Menéndez se render às forças britânicas comandadas pelo general Jeremy Moore. “O presidente Reagan disse que os Estados Unidos consideravam imperativo que o Reino Unido mostrasse sua disposição ao diálogo. Dado que o Reino Unido tem, agora, clara vantagem militar, deveria aproveitá-la para chegar a um acordo”, assinala a nota. Ao que Thatcher respondeu que o presidente “agiria da mesma maneira que ela se o Alaska estivesse sofrendo uma ameaça semelhante”.

Os documentos secretos do Arquivo Nacional têm duas curiosidades. Em um plano digno de James Bond, o procurador geral britânico Sir Michael Havers exortou o primeiro ministro a roubar os famosos mísseis Exocet franceses com os quais a aviação argentina havia atacado com êxito a armada britânica. Em uma nota enviada em 1º de junho, Havers reconhecia que seu plano era “digno de James Bond”. A ideia era adquirir os direitos de transporte dos Exocet que a França estava exportando ao Peru – e que, desse país, se dirigiam a Argentina – para terminar desviando a carga para as ilhas Bermudas. Dois dias antes, em 30 de maio, Thatcher havia escrito um telegrama ao presidente francês François Miterrand pedindo que ele adiasse a entrega dos Exocet. “Seria um desastre para a aliança (...europeia...). Nem você nem eu queremos isso”, disse Thatcher a Miterrand.

A Copa do Mundo de Futebol de 1982, na Espanha, também sofreu impacto do conflito. O Reino Unido considerou a possibilidade de retirar a Inglaterra, a Escócia e a Irlanda do Norte e exerceu pressão sobre a FIFA para que a Argentina – campeã mundial de 78 – não participasse do evento. O temor era de que as equipes tivessem que se enfrentar nas oitavas de final ou – muitíssimo mais improvável falando do ponto de vista futebolístico – na final. Nenhuma dessas coisas ocorreu e foi preciso esperar a Copa do Mundo do México, em 1986, para que a Argentina enfrentasse a Inglaterra e vencesse a partida por dois a um, com aqueles dois gols famosos de Diego Maradona, o primeiro rebatizado pelo jogador (e nunca esquecido pela imprensa britânica) como “a mão de Deus”.

FONTE: escrito por Marcelo Justo, de Londres, e publicado no site “Carta Maior” com tradução de Katarina Peixoto  (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=21450). [Trechos entre colchetes adicionados por este blog 'democracia&política'].

OS "MILAGRES ECONÔMICOS" DA GUERRA FRIA

“A lógica da Guerra Fria pesou decisivamente na origem dos "milagres econômicos" na Alemanha, Japão, Itália e Coreia, e na transformação posterior desses países em peças centrais da engrenagem econômica do poder global dos Estados Unidos, pelo menos até a década de 70.

Por José Luís Fiori

Salvo engano, foi o jornal “The Times” que falou pela primeira vez - em 1950 - de "milagres econômicos", referindo-se à países com prolongados períodos de altas taxas de crescimento econômico sustentado. Depois, essa expressão foi utilizada para caracterizar o crescimento da Alemanha, Itália, Japão, Coréia e Brasil, entre as décadas de 50 e 80, período áureo da Guerra Fria. Entre 1950 e 1973, o produto nacional da Republica Federal Alemã, cresceu à uma taxa média anual de 5,05%; no mesmo período, a Itália cresceu 5,68%; o Japão, 9,29%; e a Coréia do Sul, 9.85%. No Brasil, as taxas foram mais altas e descontínuas, com uma média de 8%, entre 1955 e 1960, 11%, entre 67 e 73, e 6,4% entre 74 e 80, mas com queda significativa no período 61/67. Assim mesmo, depois de 1980, a taxa de crescimento de todos esses países caiu de forma desigual, mas permanente.

Agora, a despeito de suas grandes diferenças históricas e políticas, Alemanha, Japão, Itália e Coréia foram derrotados e destruídos - na II Guerra Mundial ou na Guerra da Coréia - e depois foram ocupados e transformados em "protetorados militares" dos EUA. Logo depois da guerra, a ideia americana era desmontar as antigas estruturas econômicas desses países. Mas depois do começo da Guerra Fria e do fim da Guerra da Coréia, esse projeto inicial foi substituído por uma política diametralmente oposta de estímulo ao crescimento econômico, com fortalecimento dos governos locais, e dos próprios agentes econômicos e instituições privadas do pré-guerra. Por isso, se pode dizer com toda certeza que a lógica da Guerra Fria pesou decisivamente na origem dos "milagres econômicos", e na transformação posterior daqueles países em peças centrais da engrenagem econômica do poder global dos Estados Unidos, pelo menos até a década de 70.

No caso do Brasil - que foi aliado dos EUA na II Guerra - o caminho foi diferente, mas também se pode falar de um "convite" que foi aceito - depois do Acordo Militar Brasil-EUA, de 1952 - e que transformou o Brasil no pivô central da estratégia desenvolvimentista norte- americana para a América Sul. A nova política foi experimentada primeiro com o governo JK - inteiramente alinhado com os EUA e com o colonialismo europeu - e só depois, a partir de 1964, sob comando direto do regime militar.

Depois de quase três décadas de "milagre econômico", entretanto, esse processo foi interrompido pela "crise americana" da década de 70, e pela nova mudança da política internacional dos EUA. Tudo começou com a reaproximação da China, no início da década de 70, que levou à derrota/saída americana do Vietnã, e ao redesenho do equilíbrio do poder, no sudeste asiático. Foi nesse mesmo contexto que os EUA decidiram abandonar Bretton Woods, liberando sua moeda e iniciando a desregulação do seu mercado financeiro, com a lenta construção de um novo sistema monetário internacional, baseado no dólar, mas sem base metálica.

A nova estratégia permitiu o cerco e desconstrução final da URSS e o fim da Guerra Fria, mas, ao mesmo tempo, ela desativou ou esvaziou o papel econômico que fora ocupado pela Alemanha e pelo Japão, e secundariamente, pelo Brasil, durante as primeiras décadas da Guerra Fria. O crescimento econômico médio anual da Alemanha caiu para 2,10%, entre 1973 e 1990; o do Japão, caiu para 2,97%; o da Itália, para 1,76%; o da Coréia, para 6,77%; enquanto o Brasil entrava num longo período de estagnação. No mesmo tempo em que a China se transformou no novo milagre econômico do sistema capitalista mundial, enquanto a Alemanha e o Japão seguiam na sua condição de gigantes industriais e tecnológicos, mas com "pés de barro", ainda na condição de protetorados militares dos EUA e sem dispor de recursos naturais essenciais, além de serem igualmente dependentes do ponto de vista alimentar e energético.

Assim mesmo, no início da segunda década do século XXI, pode ser que o Japão e a Alemanha venham a ser resgatados, uma vez mais, como caminho de saída da crise, para os EUA, e como instrumentos da nova doutrina Obama, que se propõe fazer - desta vez - o cerco econômico e militar da China. O Japão e a Coréia estão sendo pressionados para participar da “Trans-Pacific Partenership” - TPP, que é hoje a pedra angular da política comercial de Obama, e que se propõe reunir dos dois lados do Pacífico, numa grande zona de livre comércio. Ao mesmo tempo em que a Alemanha vem sendo estimulada a liderar um grande pacto comercial transatlântico, entre a UE e os EUA, e há quem proponha que o Brasil se junte à "aliança do pacífico".

Nesse novo xadrez, entretanto, o Brasil é muito menos desenvolvido que a Alemanha e o Japão, mas dispõe de recursos naturais e é autossuficiente do ponto de vista alimentar e energético. Por isso, talvez, só o Brasil tenha hoje condições reais de escolher um caminho que lhe dê maior grau de autonomia estratégica, e maior capacidade de projetar seus interesses e sua influência, numa escala global.”

FONTE: escrito por José Luis Fiori, professor titular de Economia Política Internacional da UFRJ e coordenador do Grupo de Pesquisa do CNPQ/UFRJ "O Poder Global e a Geopolítica do Capitalismo" (www.poderglobal.net). Artigo publicado no jornal “Valor” e no site “Carta Maior”  (http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=5916). [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].

sábado, 29 de dezembro de 2012

O ENORME ÓDIO NA MÍDIA

NUNCA HOUVE TANTO ÓDIO NA MÍDIA CONSERVADORA DO BRASIL

“Os textos de Demétrio Magnoli, Ricardo Noblat, Merval Pereira, Reinaldo Azevedo, Augusto Nunes, Eliane Catanhede, entre outros, são fontes preciosas para as futuras gerações de jornalistas e estudiosos da comunicação entenderem o que Perseu Abramo chamou apropriadamente de “padrões de manipulação” na mídia brasileira.

Por Jaime Amparo Alves, jornalista, doutor em Antropologia Social, Texas-EUA

Os brasileiros no exterior que acompanham o noticiário brasileiro pela internet têm a impressão de que o país nunca esteve tão mal. Explodem os casos de corrupção, a crise ronda a economia, a inflação está de volta, e o país vive imerso no caos moral. Isso é o que querem nos fazer crer as redações jornalísticas do eixo Rio – São Paulo.

Com seus “gatekeepers” escolhidos a dedo, “Folha de S. Paulo”, “Estadão”, “Veja” e “O Globo” investem pesadamente no caos com duas intenções: inviabilizar o governo da presidenta Dilma Rousseff e destruir a imagem pública do ex-presidente Lula da Silva. Até aí nada novo.

Tanto Lula quanto Dilma sabem que a mídia não lhes dará trégua, embora não tenham – nem terão – a coragem de uma Cristina Kirchner de levar a cabo uma nova legislação que democratize os meios de comunicação e redistribua as verbas para o setor. Pelo contrário, a Polícia Federal segue perseguindo as rádios comunitárias e os conglomerados de mídia “Globo/Veja” celebram os recordes de cotas de publicidade governamentais. O PT sofre da síndrome de Estocolmo (aquela na qual o sequestrado se apaixona pelo sequestrador) e o exemplo mais emblemático disso é a posição de Marta Suplicy como colunista de um jornal cuja marca tem sido o linchamento e a inviabilização política das duas administrações petistas em São Paulo.

O que chama a atenção na nova onda conservadora é o time de intelectuais e artistas com uma retórica que amedronta. Que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso use a gramática sociológica para confundir os menos atentos já era de se esperar, como é o caso das análises de Demétrio Magnoli, especialista sênior da imprensa em todas as áreas do conhecimento. Nunca alguém assumiu com tanta maestria e com tanta desenvoltura papel tão medíocre quanto Magnoli: especialista em políticas públicas, cotas raciais, sindicalismo, movimentos sociais, comunicação, direitos humanos, política internacional… Demétrio Magnoli é o porta-voz maior do que a direita brasileira tem de pior, ainda que seus artigos não resistam a uma análise crítica.

Agora, a nova cruzada moral recebe, além dos já conhecidos defensores dos “valores civilizatórios”, nomes como Ferreira Gullar e João Ubaldo Ribeiro. A raiva com que escrevem poderia ser canalizada para causas bem mais nobres se ambos não se deixassem cativar pelo canto da sereia. Eles assumiram a construção midiática do escândalo, e do que chamam de degenerescência moral, com o fato. E, porque estão convencidos de que o país está em perigo, de que o ex-presidente Lula é a encarnação do mal, e de que o PT deve ser extinguido para que o país sobreviva, reproduzem a retórica dos conglomerados de mídia com uma ingenuidade inconcebível para quem tanto nos inspirou com sua imaginação literária.

Ferreira Gullar e João Ubaldo Ribeiro fazem parte, agora, daquela intelligentsia nacional que dá legitimidade científica a uma insidiosa prática jornalística que tem na “Veja” sua maior expressão. Para além das divergências ideológicas com o projeto político do PT – as quais eu também tenho -, o discurso político que emana dos colunistas dos jornalões paulistanos/cariocas impressiona pela brutalidade. Os mais sofisticados sugerem que a exemplo de Getúlio Vargas, o ex-presidente Lula cometa suicídio; os menos cínicos celebraram o “câncer” como a única forma de imobilizá-lo. Os leitores de tais jornais, claro, celebram seus argumentos com comentários irreproduzíveis aqui.

Quais os limites da retórica de ódio contra o ex-presidente metalúrgico? Seria o ódio contra o seu papel político, a sua condição nordestina, o lugar que ocupa no imaginário das elites? Como figuras públicas tão preparadas para a leitura social do mundo se juntam ao coro de um discurso tão cruel e tão covarde já fartamente reproduzido pelos colunistas de sempre? Se a morte biológica do inimigo político já é celebrada abertamente – e a morte simbólica ritualizada cotidianamente nos discursos desumanizadores – estaríamos inaugurando uma nova etapa no jornalismo lombrosiano?

Para além da nossa condenação aos crimes cometidos por dirigentes dos partidos políticos na era Lula, os textos de Demétrio Magnoli , Marco Antonio Villa, Ricardo Noblat , Merval Pereira, Dora Kramer, Reinaldo Azevedo, Augusto Nunes, Eliane Catanhede, além dos que agora se somam a eles, são fontes preciosas para as futuras gerações de jornalistas e estudiosos da comunicação entenderem o que Perseu Abramo chamou apropriadamente de “padrões de manipulação” na mídia brasileira. Seus textos serão utilizados nas disciplinas de ontologia jornalística não apenas como exemplos concretos da falência ética do jornalismo tal qual entendíamos até aqui, mas também como sintoma dos novos desafios para uma profissão cada vez mais dominada por uma economia da moralidade que confere legitimidade a práticas corporativas inquisitoriais vendidas como de interesse público.

O chamado “mensalão” tem recebido a projeção de uma bomba de Hiroshima não porque os barões da mídia e os seus “gatekeepers” estejam ultrajados em sua sensibilidade humana. Bobagem! Tamanha diligência não se viu em relação à série de assaltos à nação empreendidos no governo do presidente sociólogo! A verdade é que o “mensalão” surge como a oportunidade histórica para que se faça o que a oposição – que nas palavras de um dos colunistas da “Veja” “se recusa a fazer o seu papel” – não conseguiu até aqui: destruir a biografia do presidente metalúrgico, inviabilizar o governo da presidenta Dilma Rousseff e reconduzir o projeto da elite "sudestina" ao Palácio do Planalto.

Minha esperança ingênua e utópica é que o Partido dos Trabalhadores aprenda a lição e leve adiante as propostas de refundação do país abandonadas com o acordo tácito para uma trégua da mídia. Não haverá trégua, ainda que a nova ministra da Cultura se sinta tentada a corroborar com o lobby da “Folha de S. Paulo” pela lei dos direitos autorais, ou que o governo Dilma continue derramando milhões de reais nos cofres das organizações “Globo” e “Abril” via publicidade oficial. Não é o PT, o Congresso Nacional ou o governo federal que estão nas mãos da mídia.

Somos todos reféns da meia dúzia de jornais que definem o que é notícia, as práticas de corrupção que merecem ser condenadas, e, incrivelmente, quais e como devem ser julgadas pela mais alta corte de Justiça do país. Na última sessão do julgamento da ação penal 470, por exemplo, um furioso ministro-relator exigia a distribuição antecipada do voto do ministro-revisor para agilizar o trabalho da imprensa (!). O STF se transformou na nova arena midiática onde o enredo jornalístico do espetáculo da punição exemplar vai sendo sancionado.

Depois de cinco anos morando fora do país, estou menos convencido por que diabos tenho um diploma de jornalismo em minhas mãos. Por outro lado, estou mais convencido de que estou melhor informado sobre o Brasil assistindo à imprensa internacional. Foi pelas agências de notícias internacionais que informei aos meus amigos no Brasil de que a política externa do ex-presidente metalúrgico se transformou em tema padrão na cobertura jornalística por aqui. Informei-lhes que o protagonismo político do Brasil na mediação de um acordo nuclear entre Irã e Turquia recebeu atenção muito mais generosa da mídia estadunidense, ainda que boicotado na mídia nacional. Informei-lhes que acompanhei daqui o presidente analfabeto receber o título de doutor honoris causa em instituições européias, e avisei-lhes que, por causa da política soberana do governo do presidente metalúrgico, ser brasileiro no exterior passou a ter outra conotação. O Brasil, finalmente, recebeu um status de respeitabilidade e o presidente nordestino projetou para o mundo nossa estratégia de uma America Latina soberana.

Meus amigos no Brasil são privados do direito à informação e continuarão a ser porque nem o governo federal nem o Congresso Nacional estão dispostos a pagar o preço por uma “reforma” em área tão estratégica e tão fundamental para o exercício da cidadania. Com 70% de aprovação popular, e com os movimentos sociais nas ruas, Lula da Silva não teve coragem de enfrentar o monstro e agora paga caro por sua covardia. Terá a Dilma coragem com aprovação semelhante, ou nossa meia dúzia de Murdochs seguirão intocáveis sob o manto da liberdade de e(i)mprensa?”

FONTE: escrito por Jaime Amparo Alves, jornalista, doutor em Antropologia Social, Universidade do Texas em Austin. Artigo publicado no “Sul21 / Pragmatismo Político” e transcrito no portal “Vermelho”  (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=202189&id_secao=6).

“THE ECONOMIST” E “FINANCIAL TIMES” APOIARAM SERRA EM 2010

Por Eduardo Guimarães

“Não é de hoje que os governos progressistas que se instalaram no Brasil em 2003 e não saíram mais vêm sendo alvo de dois veículos específicos da imprensa européia, entre a qual são exceções em termos de visão crítica sobre o nosso modelo econômico.

O semanário inglês “The Economist”, recentemente quase que exigiu a demissão do ministro da Fazenda, Guido Mantega, por ter previsto que o crescimento brasileiro de 2012 seria superior ao que provavelmente será, e o diário “Financial Times”, também inglês, ridiculariza o ministro e a presidente Dilma também devido ao crescimento modesto da nossa economia neste ano.

O mais impressionante é que esses dois veículos estão entre os grandes defensores do modelo econômico que jogou o país em que estão sediados em uma situação econômica que faz a situação brasileira parecer um êxito muito maior do que de fato é.

Vale registrar, ainda, que a economia britânica mergulha em recessão. No primeiro semestre de 2012, o PIB do Reino Unido registrou a maior contração dos últimos três anos, caindo 0,7 por cento, devendo fechar o ano com recuo de 0,5%.

Como se não bastasse, em novembro foi registrado 8,3% de desempregados na Grã-Bretanha, maior índice registrado desde 1996. Tal nível de desemprego representa quase três milhões de pessoas.

Sim, o PIB brasileiro deve crescer entre um e um e meio por cento neste ano – o resultado dos últimos meses pode surpreender –, mas as condições sociais no país melhoram a cada ano, com nível recorde de população empregada e valorização da massa salarial.

Outro dado que, se não é o que interessa aos investidores, ao menos é o que interessa a 99,99% dos brasileiros: enquanto a pobreza e a desigualdade aumentam no Reino Unido, caem no Brasil.

Por fim, há sinais de reaquecimento na economia brasileira. Poucos negam que devemos crescer entre três e quatro por cento no ano que entra, enquanto que a economia inglesa deve continuar patinando por vários anos, ainda.

Você que quer se posicionar corretamente sobre o caso precisa entender a razão desses veículos para criticarem uma economia que, em termos práticos, está tendo resultados muito melhores que a britânica, guardadas, obviamente, as devidas proporções entre um país e outro.

The Economist” e “FT” dão muito palpite sobre o Brasil porque os britânicos têm muitos interesses e negócios conosco, sobretudo no mercado financeiro, como bem lembrou o ministro Guido Mantega ao comentar que especuladores daquele país costumavam pegar empréstimos a juros baixos em países quebrados, nos quais os juros hoje são quase negativos, e investir o dinheiro aqui, onde as taxas de remuneração do capital eram estratosféricas.

Fica claro, portanto, que tem muito inglês perdendo dinheiro com a política brasileira de acabar com a agiotagem no país.

Aliás, como insinua o enunciado deste texto, a má vontade do jornal e da revista britânicos com Dilma começou antes de ela assumir a Presidência. Na última eleição presidencial, tanto “The Economist” quanto “Financial Times”, em editoriais, declararam apoio oficial a José Serra.

Com efeito, não foram só os jornais britânicos que ansiaram pela vitória de Serra. Empresas estrangeiras de petróleo, multinacionais, todo o capital internacional que perdeu espaços indevidos no Brasil durante a era Lula apoiou o tucano contra Dilma em 2010. [...]

Confira a matéria do Estadão [de 2010] que mostra que não há nada de novo na disposição dos veículos britânicos em relação ao grupo político que governa o Brasil, ainda que a mídia brasileira tente passar a ideia de que há razões sérias para as críticas deles:  (http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,apos-the-economist-britanico-ft-diz-preferir-serra,630643,0.htm).”

FONTE: escrito por Eduardo Guimarães em seu blog “Cidadania”  (http://www.blogdacidadania.com.br/2012/12/the-economist-e-financial-times-apoiaram-serra-em-2010/) e  (http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,apos-the-economist-britanico-ft-diz-preferir-serra,630643,0.htm).

2013, O ANO DO GOLPE

Por Eduardo Guimarães

“Antes que 2012 termine, há que refletir sobre o que boa parte da opinião pública – a parte que não embarca na politicagem da oposição demo-tucano-midiática – já intui e comenta, que 2013 baterá o recorde de todos os anos anteriores do pós-redemocratização em termos da infatigável guerra da oposição midiática contra o governo federal e o partido de sua titular.

E a primeiríssima reflexão é a de que, hoje, é muito menor o contingente que tenta desqualificar sem discussão a premissa golpista em um país de tão larga tradição nessa prática compulsiva de uma elite que luta ferozmente para manter privilégios que fizeram do Brasil o país virtualmente mais injusto do mundo – pois os mais injustos são países paupérrimos da África.

Há menos de um ano, quando se falava em golpe, diziam que não havia “clima” para tanto, que seria paranóia etc. Hoje, o discurso persiste, inclusive entre setores que se dizem “de esquerda”. Todavia, aumentaram exponencialmente os que enxergam o esforço golpista, que se traduziria em mais uma tentativa de golpe “institucional” na América Latina.

As recentes experiências golpistas hondurenha e paraguaia, como se sabe, sucederam a tentativa venezuelana lá em 2002, desfechada sem sucesso, ao contrário das duas que sobrevieram e que vingaram, fazendo salivar aqueles que, ao longo do século XX, espalharam quarteladas golpistas pela região.

Recentemente, li no Twitter um desses militantes da mídia disfarçados de “esquerdista” que, ironizando um texto meu, perguntava como seria possível um golpe sem censura a jornais. Espantoso, não é mesmo? A gente fica sem saber se é ignorância histórica ou má fé, pois é difícil achar alguém minimamente escolarizado que não saiba o papel da imprensa no golpismo nacional do século XX.

Mas vamos em frente. A segunda questão é a da razão para os flertes com o novo modelo de golpe, o modelo “institucional” com o qual se pretende tirar do cenário político candidatos de esquerda com alta aprovação e expressivo eleitorado como Manoel Zelaya, Fernando Lugo e Hugo Chávez.

Não me parece polêmico afirmar que a oposição tem cada vez menos perspectivas de retomar o poder em 2014. Recentes pesquisas de opinião dos institutos Datafolha e Ibope revelaram que o PT não tem um, mas dois candidatos em condições de se eleger em primeiro turno. E que a oposição conta com nomes cujo desempenho é fraquíssimo.

As razões para esse favoritismo do PT para as eleições de 2014 deveriam ser claras para todos, mas o fato é que a mídia, a oposição e a militância oposicionista-midiática parecem que acabam acreditando naquilo que inventam e difundem como fatos, mas que não passam de distorções, invenções e desejos.

Há, pois, que entrar no terceiro tópico, o das armas que cada lado tem para enfrentar a contenda que se avizinha, a de 2013, que só perderá em virulência para a de 2014.

Do lado da oposição midiática, o armamento é farto, diversificado, sofisticado e multibilionário. Apesar da oposição formal (partidária) exangue, sem votos, sem propostas e que vai encolhendo a cada eleição, há os grandes impérios empresariais, com destaque para os de comunicação – pelo protagonismo e pelo poder –, e os não menos importantes tentáculos do Judiciário e do Ministério Público.

Mas não é só. A CPI do Cachoeira revelou que a base aliada do governo Dilma é infinitamente menor do que parece, pois o PMDB, o PSB e os pequenos partidos de direita que a compõem já se revelaram inconfiáveis, chegando a atuar em consonância com a oposição partidária, a mídia e os braços destes no Judiciário e no MP.

Como para manter a base aliada é preciso fazer concessões para não incomodá-la, a possibilidade de reação do governo e do partido de sua titular se reduz drasticamente, como ficou claro, mais uma vez, na CPI do Cachoeira, quando o fato de muitos peemedebistas serem donos de veículos de mídia blindou a “Veja” naquela Comissão.

Os acordos escancarados entre a oposição formal e o PMDB foram ainda mais longe, chegando a blindar, também, aquele que, com base em fartura impressionante de provas materiais e testemunhais, pode ser considerado o segundo homem do esquema criminoso goiano, que atingiu a marca do bilhão de reais, fazendo os valores do mensalão “petista” parecerem gorjeta. A impunidade de Marconi Perillo [PSDB], assim, mostra quão poderosa é a coalizão golpista.

O que, então, resta de armas ao governo Dilma e ao PT? Apesar de menos rápidas e ruidosas, as armas desse lado não são desprezíveis. E a “caneta” é a principal. Desta, decorrem o que uma perspicaz leitora com a qual conversei por telefone dia desses chamou de “pacotes de bondades”, dos quais decorre a popularidade estratosférica de Lula, Dilma e PT.

Mas tudo vem do fato de que esses atores governam o país, tendo como produzir políticas públicas que fazem com que o eleitor reflita que não dá para trocar o certo pelo duvidoso com base em discursos moralistas entoados por aqueles que não têm a menor condição para fazê-los e em discursos sobre a economia que se chocam com a realidade econômica da sociedade.

A “caneta” do governo petista reduziu os juros de forma inédita no país, aumentou os salários, praticamente extinguiu o desemprego, fez disparar o crédito ao consumidor e, ainda que em ritmo infinitamente menor, fez cair, de forma inédita, a concentração de renda.

Já foi amplamente explicado, nesta página [“Cidadania”], que a estratégia da direita midiática faz todo sentido do mundo, pois simplesmente não tem o que oferecer. As políticas sociais petistas como, por exemplo, o Bolsa Família e as cotas nas universidades públicas vão se impondo contra os discursos que tentavam desqualificá-las perante a sociedade.

O Bolsa Família, há tempos que só vem sendo criticado pelos militantes da oposição midiática, pois os políticos oposicionistas não têm coragem para atacar um programa tão popular. E agora são as cotas, às quais até o governo tucano de São Paulo vai se rendendo, mesmo que com reticências contra as cotas raciais. Mas está sendo quebrado o paradigma.

Contudo, se o PSDB, o DEM e o PPS fossem vistos como partidos com credibilidade para investirem no social, não estariam fora do poder. Esses partidos, com os discursos virulentos de outrora contra políticas sociais petistas e contra o modelo de desenvolvimento e gestão econômica vigentes, carimbaram-se, ao lado da mídia, como agentes dos ricos.

Eis que chegamos à inviabilidade da disputa político-eleitoral como forma de a oposição midiática retomar o poder. Teria que haver uma hecatombe econômica no Brasil, com forte queda de renda e com expressivo aumento do desemprego e da desigualdade para que vicejasse um desejo da maioria por mudança.

Mudança só é desejada quando se está mal-acomodado, e não haverá discurso sobre “pibinho” ou “corrupção” que faça a sociedade achar que a sua vida vai mal justamente quando mais e mais pessoas vão sendo incluídas no mercado de consumo de massas e no mercado formal de trabalho.

Não que não haja desejo de mudança. Há e até ficou muito claro em 2012, com o impressionante desempenho do PT nas eleições ao vencer no maior colégio eleitoral do país, São Paulo, capital que, até há alguns meses, era considerada a mais sólida fortaleza oposicionista. Só que é um desejo de mudança em favor do PT em vez de ser contra.

Com a resiliência do potencial eleitoral do PT e com a ausência de perspectivas e de discurso da oposição, basta a menor reflexão para concluir que esses poderes que anseiam pela retomada do poder para pôr fim, sobretudo, à distribuição de renda em curso, não se conformarão em ficar mais quatro anos fora do poder a partir de 2014.

O golpe “institucional” à brasileira, pois, já está desenhado. Lula, o “odiado” (pela direita microscópica e midiática) dificilmente deixará de ser denunciado por iniciativa da mesma Procuradoria-Geral da República que dispõe, também, da prerrogativa de denunciar presidentes da República.

Roberto Gurgel, o atual procurador-geral, pertence ao mesmo grupo político – sim, o Ministério Público tem correntes políticas muito bem definidas – do antecessor, Antonio Fernando de Souza, autor da denúncia do mensalão “petista”. E ficará mais sete meses no cargo. Uma eternidade, em termos de tempo para tentar inviabilizar Lula e Dilma como candidatos potenciais à sucessão desta.

Quanto ao STF, ainda restam a Dilma duas indicações – uma para a vaga do recém-aposentado Carlos Ayres Brito e outra que decorrerá da aposentadoria precoce do ministro Celso de Mello.

Na hipótese de que o recém-nomeado Teori Zavascki se revele um legalista como Ricardo Lewandovski, com José Antonio Dias Tófoli e com duas novas indicações racionais por Dilma, seriam cinco ministros que, ao menos em tese, barrariam o golpismo naquela Corte em meio a um total de onze.

As ministras Carmem Lúcia e Rosa Weber dão esperança de comedimento, ainda que tenham se acovardado durante o julgamento do mensalão, mas só no que tange ao núcleo político daquela ação penal, núcleo esse que a mídia deixou muito claro que não aceitaria que não fosse condenado. Assim, o jogo ficaria equilibrado.

Todavia, também no STF ainda restam vários meses de sobrevida ao núcleo golpista, pois as novas nomeações para aquela Corte sempre demoram a se concretizar.

Não chega, portanto, nem ao final de 2013 o prazo para a direita midiática desfechar seu golpe “institucional”, limitando ao ano que entra o prazo máximo para impedir que os candidatos do PT à sucessão de Dilma dêem nova surra eleitoral na oposição demo-tucana, o que obrigará o modelo nacional de golpe a se aproximar do modelo-relâmpago do Paraguai.”

FONTE: escrito por Eduardo Guimarães em seu blog “Cidadania”  (http://www.blogdacidadania.com.br/2012/12/2013-o-ano-do-golpe/).