domingo, 31 de janeiro de 2016

VAMOS FALAR DO TRIPLEX, DOS IATES, DOS JATINHOS, DO ROLLS-ROYCE QUE LULA NÃO TEM



Eles são sócios-fundadores do Instituto Millenium, o IPES/IBAD do século 21

Mino Carta e os barões da mídia: Além do triplex que não é do Lula, vamos falar dos iates, dos jatinhos e do Rolls-Royce que ele não tem

Editorial (por Mino Carta, em 29/01/2016, na revista "CartaCapital")

Isto não é jornalismo

"O comportamento da mídia nativa é o sintoma mais preciso da decadência do Brasil.

Não é difícil entender que a casa-grande está apavorada com a possibilidade do retorno de Lula à Presidência.

Incomodavam-me, em outros tempos, os sorrisos do sambista e do futebolista. Edulcorados pela condescendência de quem se crê habilitado à arrogância. Superior, com um toque de irônica tolerância. Ou, por outra: um sorriso vaidoso e gabola.

Agora me pergunto se ainda existem sambistas e futebolistas capazes daquele sorriso. Foi, aos meus olhos, por muito tempo, o sinal de desforra em relação ao resto do mundo, a afirmação de uma vantagem tida como indiscutível. 

Incomodou-me, explico, considerar que a vantagem do Brasil, enorme, está nos favores recebidos da natureza e atirados ao lixo pela chamada elite, que desmandou impunemente.

Quanto ao sambista e ao futebolista, não estavam ali por acaso. Achavam-se os tais, e os senhores batiam palmas. Enxergavam neles os melhores intérpretes do País e no Carnaval uma festa para deslumbrar o mundo.

O Brasil tinha outros méritos. Escritores, artistas, pensadores, respeitabilíssimos.  Até políticos. Ocorre-me recordar a programação do quarto centenário de São Paulo, em 1954, representativa de uma metrópole de pouco mais de 2 milhões de habitantes e equipada para realizar um evento que durou o ano inteiro sem perder o brilho.

Lembro momentos extraordinários, a partir da presença de telas de Caravaggio em uma exposição do barroco italiano apresentada no Ibirapuera recém-inaugurado, até um festival de cinema com a participação de delegações dos principais países produtores.

A passar pela visita de William Faulkner disposto a trocar ideias com a inteligência nativa. Não prejudicaram a importância da presença do grande escritor noitadas em companhia de Errol Flynn encerradas ao menos uma vez pelo desabamento do primeiro Robin Hood de Hollywood na calçada do Hotel Esplanada.

A imprensa servia à casa-grande, mas nela militavam profissionais de muita qualidade, nem sempre para relatar a verdade factual, habilitados, contudo, a lidar desenvoltos com o vernáculo. Outra São Paulo, outro Brasil.

Este, dos dias de hoje está nos antípodas, é o oposto daquele. A despeito da irritação que então me causava o sorriso do futebolista e do sambista, agora lamento a sua falta, tratava-se de titulares de talentos que se perderam.

Vivemos tempos de incompetência desbordante, de irresponsabilidade, de irracionalidade. De decadência moral, de descalabro crescente.

Falei em 1954: foi também o ano do suicídio de Getúlio Vargas, alvejado pelo ataque reacionário urdido contra quem dava os primeiros passos de uma industrialização capaz de gerar proletariado, ou seja, cidadãos conscientes de sua força, finalmente egressos da senzala.

Não cabe, porém, comparar Carlos Lacerda com os golpistas atuais, alojados na mídia, grilos falantes dos barões, a serviço do ódio de classe. Lacerda foi mestre na categoria vilão, excelente de fala e de escrita.

Os atuais tribunos de uma pretensa, grotesca aristocracia, são pobres-diabos a naufragar na mediocridade. Muitos deles, como Lacerda, começaram na vida adulta a se dizerem de esquerda, tal a única semelhança. Do meu lado, sempre temi quem parte da esquerda para acabar à direita.

Os sintomas do desvario reinante multiplicam-se, dia a dia. Alguns me chamam atenção. Leio, debaixo de títulos retumbantes de primeira página, que o ex-ministro Gilberto Carvalho admitiu ter recebido certo lobista.

Veicula-se a notícia como revelação estarrecedora, e só nas pregas do texto informa-se que Carvalho convidou o visitante a procurar outra freguesia. De todo modo, vale perguntar: quantos lobistas passam por gabinetes ministeriais ao praticar simplesmente seu mister? Mesmo porque, como diria aquela personagem de Chico Anysio, advogado advoga, médico medica, lobista faz lobby.

Outro indício, ainda mais grave, está na desesperada, obsessiva busca de envolver Lula em alguma mazela, qualquer uma serve. Tanto esforço é fenômeno único na história contemporânea de países civilizados e democráticos. Não é difícil entender que a casa-grande está apavorada com a possibilidade do retorno de Lula à Presidência em 2018, mesmo o mundo mineral percebe.

Mas até onde vai a prepotência insana, ao desenrolar o enredo de um apartamento triplex à beira-mar que Lula não comprou? A quem interessa a história de um imóvel anônimo? Que tal falarmos dos iates, dos jatinhos, das fazendas, dos Rolls-Royce que o ex-presidente não possui?

Esse não é jornalismo. Falta o respeito à verdade factual e tudo é servido sob forma de acusação em falas e textos elaborados com transparente má-fé. Na forma e no conteúdo, a mídia nativa age como partido político."

FONTE: Editorial escrito por Mino Carta, em 29/01/2016, na revista "CartaCapital". Transcrito no site "Viomundo"  (http://www.viomundo.com.br/denuncias/mino-carta-e-os-baroes-da-midia-alem-do-triplex-que-nao-e-do-lula-vamos-falar-dos-iates-dos-jatinhos-e-do-rolls-royce-que-ele-nao-tem.html).

O "IATE" DE LULA


A canoa de lata batizada pela mídia de "iate do Lula"

O “iate” do Lula e o jornalismo “sem noção”

Por FERNANDO BRITO


"A Folha hoje (sábado) se supera.

Apresenta como “prova” da ligação de Lula com o sítio que ele nunca negou frequentar, em Atibaia, um barco comprado por D. Mariza, sua mulher e mandado entregar lá.

A “embarcação”, como se vê no próprio jornal, é um bote de lata comprado por R$ 4.100.

Presta para navegar num laguinho, com a mulher, dois amigos e o isopor, se ninguém fizer muita gracinha de se pigar em pé, fazendo graça.

É o “iate do Lula”, quase igual [sic] ao "Lady Laura" do Roberto Carlos e só um pouco mais modesto do que as dúzias de lanchas que você vê em qualquer desses iate clubes que existem em qualquer cidade praiana.

A pergunta, obvia, é: e daí que o Lula frequente o sítio? E daí que sua mulher tenha comprado um bote, sequer a motor, para pescar umas tilápias, agora que já não pedem, como nos velhos tempos, fazer isso na represa Billings?

Qual é a prova de que a reforma do sítio foi paga pela Odebrechet (segundo a Folha) ou pela OAS (segundo a Veja)?

E se o Lula frequentasse a mansão de um banqueiro? E se vivesse nos iates – os de verdade – da elite rica do país?

O que o barquinho mixuruca prova, a não ser a absoluta modéstia do sujeito que, quatro anos atrás, escandalizava essa gente carregando um isopor para a praia?

Os jornais, a meganhagem e a turma do judiciário – que já não se separam nisso – estão dedicados a destruir o “perigo lulista”.

Esqueçam o barquinho: o que eles querem é ter de novo o leme do transatlântico.

Perderam até a noção do ridículo, convencidos de que já não há resistência a ele nas mentes lavadas do país.

E acabam revelando que, em suas mentes, o grande pecado de Lula, que ganha em palestras pagas o suficiente para comprar uma “porquera” daquelas por minuto que passe falando, ou para alugar uma cobertura na Côte D’Azur do Guarujá,  é continuar pensando como pobre: querendo comprar apartamento em pombal e barquinho de lata para ficar de caniço, dando banho em minhoca.

É que ter nascido pobre é um crime que até se perdoa, imperdoável mesmo é continuar se identificando com eles."


FONTE: escrito por FERNANDO BRITO em seu blog "Tijolaço" (http://tijolaco.com.br/blog/o-iate-do-lula-e-o-jornalismo-sem-nocao/).

O TERRORISMO NORTE-AMERICANO NO PANAMÁ POR “JUSTA CAUSA”




[OBS deste blog 'democracia&política':

O TERRORISMO NORTE-AMERICANO NO PANAMÁ POR “JUSTA CAUSA”

Antes de lermos o artigo abaixo, obtido no "Pátria Latina", recordemos  a “Operação Justa Causa”, executada pelos EUA em 1989 
"em prol da democracia e dos direitos humanos".

Os EUA atacaram o Panamá à noite, repentinamente, em 20 de dezembro de 1989, um mês após a queda do muro de Berlim e cinco dias antes do Natal.

O pretexto oficial norte-americano para aquela violação de todos os princípios de convivência entre as nações foi, surpreendente e simplesmente, "prender o Presidente Noriega", então por eles acusado de ser corrupto e de ter ligações com narcotraficantes (foi levado para os EUA e lá “julgado” e condenado a quarenta anos de prisão; para muitos, foi "queima de arquivo", pois Noriega fora estreito colaborador da CIA).

Para aquele fim, bastaria meia dúzia de agentes da CIA.

Numa noite de terror, os EUA empregaram de surpresa, sem declarar guerra, no bombardeio da capital panamenha enfeitada para o Natal, contra um país indefeso e praticamente sem Forças Armadas, 26.000 soldados superequipados e centenas de aviões de combate ultramodernos, inclusive os estreantes caríssimos F-117 “stealth” invisíveis aos radares (que nem existiam no Panamá). Aquele ataque ao Panamá custou na época mais de um bilhão de dólares.

Morreram no ato de terror norte-americano, segundo a ONU, mais de quinhentos civis panamenhos (algumas fontes internacionais informaram 4.000, equivalente em mortos a mais de 30 vezes o ataque também de surpresa à casa de shows Bataclan, em Paris, em 13 de novembro último).

Um novo presidente panamenho, Guilhermo Endara, foi logo posto no poder pelos EUA em solenidade dentro de uma barraca militar dos invasores, no dia seguinte à invasão. Desde então, lá impuseram "políticas neoliberais".

Ficou evidente que o principal objetivo foi testar em ambiente noturno (e mostrar ao mundo, para também aterrorizar) suas novas armas e seu mais moderno sistema de comando, coordenação e controle eletronicamente integrados; e para deixar claro para o mundo que a América Latina continuava quintal dos EUA.

Também visavam com aquela operação apagar, na prática, os Tratados Carter-Torrijos assinados em 1977 (por Jimmy Carter e Omar Torrijos Herreras) sobre a devolução do Canal do Panamá aos panamenhos, que deveriam vigorar a partir de 2000. Seus termos concordavam a devolução de todos os territórios ocupados pelos EUA, o controle panamenho da operação do canal, o fechamento das bases militares norte-americanas e a saída de todos os seus militares do Panamá.

Arrependidos das cláusulas daqueles tratados, os EUA, presididos por Bush (pai), apagaram com o bombardeio natalino os compromissos firmados por Carter, e estabeleceram outros, garantindo, sem maiores concessões aos interesses daquele país da América Central, as ligações via canal entre as costas leste e oeste norte-americanas e a permanência das tropas e bases norte-americanas no Panamá até 1999.

Após, lá continuaram representados por governos marionetes antinacionais e totalmente subordinados ao "mercado" financeiro.
O mundo e o Brasil, como sempre, convenientemente informados pela mídia internacional e nacional bem manipulada ($$$$), aceitaram docilmente e sem alardes aquela benemérita “Operação Justa Causa” (como a batizaram os norte-americanos com deboche e humor negro). Não houve significativa repercussão negativa. Ninguém se comoveu com as centenas ou milhares de civis mortos no ataque aos panamenhos].

Panamá, 27 anos depois, ainda sofre efeitos da invasão dos EUA em 1989

"O Panamá vive dias de extrema agitação política e institucional. Manifestantes estão indo às ruas pedir a convocação de uma Assembleia Constituinte, com o objetivo de mudar a Constituição para reformular a estrutura de funcionamento da mais alta Corte de Justiça do país.

Sobre este e outros assuntos, a "Sputnik Brasil" ouviu o sociólogo e jornalista Marco A. Gandásegui Hijo, professor da Universidade do Panamá, pesquisador do CELA – "Centro de Estudos Latino-americanos Justo Arosemena" e diretor-editor da revista "Tareas". Ele afirma que a crise da Corte Suprema de Justiça reflete “profunda decomposição do atual sistema político panamenho, que se estruturou depois da invasão militar dos Estados Unidos ao Panamá em 1989”.

Sputnik: É somente o desejo de reformular a estrutura de funcionamento da Corte Suprema de Justiça que está levando o povo às ruas para pedir uma nova Constituição para o Panamá?

Marco A. Gandásegui, Hijo: O governo militar panamenho (1968-1989), que sustentava uma precária aliança entre uma burguesia industrial e setores da classe operária organizada, manteve-se no poder em razão da ocupação militar do Panamá pelos Estados Unidos. O regime militar panamenho foi depois substituído por um regime oligárquico com os partidos políticos tradicionais ocupando o Gabinete presidencial, as cadeiras da Assembleia dos Deputados e as magistraturas da Corte Suprema de Justiça. Durante os últimos 25 anos, aplicaram-se políticas neoliberais e cresceu a influência do capital financeiro. A chamada “burguesia nacional” desmoronou e a classe operária perdeu a influência alcançada em meados do século XX.

A iniciativa pela convocação de uma Assembleia Constituinte no Panamá remonta à década de 1980. Naquela época, era um grito das forças políticas antimilitares e antipopulistas. Nos últimos 25 anos, aumentaram e se estenderam a outros setores da sociedade os protestos contra a Constituição de 1972. Na atualidade, a Carta Magna do Panamá mais parece uma colcha de retalhos devido às inúmeras reformas pelas quais já passou.

Em 2014, o atual presidente da República, Juan Carlos Varela, prometeu a convocação de uma Assembleia Constituinte. Em 2015, deu um passo atrás e anunciou que aquele não era o melhor momento para tornar realidade a promessa do ano anterior. Obviamente, a convocação de uma Assembleia Constituinte o deixaria e a seu partido, "Panamenhista", em extrema minoria, convertendo-se em títere dos partidos de oposição e dos seus interesses econômicos.

Em 2015, o Governo do Presidente Varela promoveu investigações contra os colaboradores do seu antecessor, Ricardo Martinelli, pelos abusos de corrupção e pelo assalto ao Tesouro Nacional. O mesmo Ricardo Martinelli está sendo investigado, atualmente, pela Corte Suprema de Justiça. Esse detalhe complica o cenário criado pelos escândalos surgidos dentro da Corte por parte dos magistrados que se envolveram numa luta pelo poder.

A conjuntura fez com que setores distintos da sociedade panamenha exijam a convocação de uma Assembleia Constituinte. Inclusive, há quem defenda que, se o Presidente Varela está dificultando essa convocação, que ele seja derrubado do poder. Esses são os mais radicais.

Em síntese, o problema, no fundo, não é a Corte Suprema de Justiça, nem a convocação de uma Assembleia Constituinte. Trata-se, na verdade, da decomposição extrema do atual sistema político panamenho.

S: As informações que nos chegam são de que o Conselho Nacional de Advogados do Panamá, órgão equivalente ao Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, está liderando este movimento de reformulação da Corte Suprema de Justiça mediante a convocação imediata de uma Assembleia Constituinte, encarregada de redigir uma nova Constituição para o Panamá. O presidente do Conselho Nacional dos Advogados, José Alberto Álvarez, propõe a criação do Conselho Nacional da Magistratura, órgão a ser encarregado de nomear os integrantes da Corte Suprema de Justiça, atribuição que atualmente está nas mãos do presidente da República. O que lhe parece esta proposta?

MAGH: Todos os setores fazem propostas em torno do conteúdo da nova Constituição do Panamá. A proposta do Colégio Nacional dos Advogados se presta, melhor, a uma reforma muito pontual sobre a forma de eleger os magistrados da Corte Suprema de Justiça. Outros mencionam a necessidade de reformar outros aspectos da Constituição. No entanto, o que faz falta é definir que país querem os panamenhos para só então se discutir que ordenamento constitucional é o mais adequado para atingir este objetivo.

Há que considerar também que o Panamá é um país muito dividido e que existem vários projetos de país. Atualmente, o projeto predominante é o que considera o Panamá como um país “pro mundo beneficio”, ou seja, "em benefício do mundo". O povo, no entanto, rechaça essa noção que quase sempre prevaleceu nos últimos 200 anos. Há uma maioria que ainda não está suficientemente organizada para impor um projeto de nação, inclusivo e democrático, que ponha fim ao regime oligarca, às suas políticas neoliberais e à devastadora corrupção.

S: De acordo com os movimentos populares, muitas coisas precisam ser mudadas no Panamá, um país que, segundo essas correntes, há muitos anos é dominado por uma oligarquia que se disfarça em "democracia". O que precisa mudar no Panamá? 

MAGH: As políticas neoliberais impostas ao Panamá debilitaram a classe operária, os trabalhadores e o povo em geral. Em 1999, depois de uma luta de décadas, o país se encarregou da administração do Canal do Panamá. Passar hoje pelo Canal representa US$ 2,5 bilhões anuais para a classe dominante, a oligarquia, dando-lhe muito poder para corromper o tecido social do país. Ao invés de aplicar esses recursos no setor produtivo para gerar riqueza e uma classe trabalhadora, os administradores investem esses recursos em atividades especulativas que só beneficiam uma pequena elite de empresários que, junto com os administradores do Canal, monopolizam o poder político no país. O povo panamenho tem de seguir lutando pela soberania que "expulsou os Estados Unidos do Panamá" [como iludidos muitos acreditam até hoje]. Nesta etapa, a luta do povo consiste em expulsar os administradores de suas posições hegemônicas e recuperar a posição geográfica do país e o próprio Canal para colocá-lo a serviço de um plano de desenvolvimento nacional.

S: O Panamá é ou não uma democracia?

MAGH: É uma democracia restrita e oligarca. Em meu livro “A Democracia no Panamá”, escrito e publicado em 1998, quando o país ainda era ocupado militarmente pelos Estados Unidos, falamos de uma democracia restrita. Na atualidade, os Estados Unidos continuam presentes política e militarmente, mas com uma oligarquia governante. O Panamá tem uma democracia restrita e oligárquica."

FONTE: do site "Patria Latina"  (http://www.patrialatina.com.br/panama-ainda-sofre-efeitos-da-invasao-dos-eua-em-1989/). [Observação incial em azul e trecho entre colchetes acrescentados por este blog 'democracia&política']

COMBINAÇÃO FATAL MÍDIA-PROCURADORES-DELEGADOS




O PAÍS DA INQUISIÇÃO

Por Luis Nassif

"A 'Folha' publica reportagem atribuindo a Lula a propriedade de um sítio em Atibaia que teria sido reformado pela Odebrecht. Esforço próprio de reportagem? No mesmo dia, segundo a 'Folha' de sábado, procuradores e delegados da Lava Jato do Paraná já se deslocaram para o local mencionado. E um barco de alumínio, de R$ 4 mil, passa a ser a prova do crime da família Lula.

Tal rapidez destoa da programação da Lava Jato. É evidente que o jornal foi alimentado previamente pelos procuradores e delegados da Lava Jato, antes mesmo de terem provas consistentes se houve a tal reforma bancada pela empreiteira.

No "Estadão", um lobista justifica-se ao seu empregador afirmando que perdeu uma licitação da Secretaria de Educação do governo de São Paulo porque o vencedor pagou R$ 100 mil ao ex-Secretário Herman Voorwald.

Pouco importa se o lobista chutou a explicação apenas para limpar a barra perante seus contratantes. Pouco importa se a vítima, em questão, tem vida limpa, conduta ilibada e sempre se ateve à carreira acadêmica. Caiu na rede é peixe, é o bordão de uma imprensa leviana, inconsequente que há muito perdeu a noção de reportagem.

No Rio, uma acusação inconsistente de ação terrorista contra um físico franco-argelino altamente qualificado é endossada de pronto pelo Ministro da Educação, sem sequer ouvir o acusado. O Brasil, que poderia se tornar uma ilha para abrigar a imigração qualificada, entra na lista dos países intolerantes.

Todos esses capítulos mostram uma opinião pública doente, um país doente, inquisitorial, na qual os princípios fundadores do estado democrático foram jogados no lixo por essa combinação fatal de mídia-procuradores-delegados.

O cerco que se montou sobre Lula em nada difere da campanha contra Vargas em 1954.

A chamada publicidade opressiva da mídia exige alimentação constante de fatos, factoides, meros rumores. Por mais que haja criatividade, não se consegue alimentar o noticiário sem o apoio de algum evento que cuspa permanentemente as informações.

No caso de Vargas, uma CPI que se julgava inócua – a da "Última Hora" – passou a ser o motor gerador de factoides, permitindo o uso da publicidade opressiva por parte da mídia, especialmente da "rádio Globo".

Dia após dia, a CPI soltava seus factoides, que alimentavam o noticiário. Samuel Wainer recebeu xis de financiamento do Banco do Brasil, bradava a mídia. E escondia o fato de que o "Globo" e a própria "Tribuna da Imprensa" (de Carlos Lacerda) receberam mais. O financiamento da UH era reverberado dia e noite condenando os adversários perante a opinião pública e, através dela, pressionando os tribunais superiores.

Criado o clima, despertado o monstro do efeito manada, toca a uma devassa implacável sobre todos os atos de governo.

Aí se descobre que o guarda-costas Gregório Fortunato era dono de uma fortuna apreciável. Mais: que aceitou adquirir uma fazenda de um filho de Getúlio, para que ele pudesse quitar dívidas pessoais.

É evidente que o exercício do poder abre facilidades que acabam sendo aproveitadas pelos elos moralmente mais fracos da corrente. Assim como é evidente que existem sempre áulicos que arrotam a suposta intimidade com o poderoso para enriquecer. E é evidente também que o exercício corriqueiro do poder seleciona ganhadores. É parte da própria lógica econômica medidas oficiais de estímulo à economia. Para estimular a economia, na outra ponta há os setores que se privilegiam.

Basta juntar tudo no mesmo caldeirão e alimentar o monstro. Tudo passa a ser criminalizável. É o que comprova a ofensiva da Operação Zelotes contra uma Medida Provisória que foi aprovada por unanimidade no Congresso, de mera prorrogação de uma decisão tomada pelo governo anterior, do PSDB, de estimular a indústria automobilística em regiões menos desenvolvidas.

Por que a fixação nessa MP? Porque supõe-se que no final do arco-íris esteja Lula.

É um trabalho extraordinariamente facilitado quando encontra pela frente um Ministro da Justiça vacilante ou cúmplice, e governos que não sabem se defender.

Em São Paulo, há um controle rígido sobre as ações do Ministério Público Estadual. As apurações caminham lentamente e jamais chegam no andar de cima. No máximo, vaza alguma coisa para a imprensa, que dura o tempo máximo de uma edição de jornal.

Tome-se a última denúncia contra a "Delta", uma prorrogação de contrato no valor de R$ 71 milhões aprovado pela DERSA. Na CPMI da Cachoeira, foi desvendada a estratégia da construtora. Ganhava licitações com preços baixos, tendo a garantia de aditivos posteriores.

No máximo, a investigação baterá em algum subalterno da DERSA, mesmo com o episódio Paulo 
Preto não se deixa um aliado caído no campo de batalha” ainda fresco na memória de todos.

Na Lava Jato, a militância do juiz Sérgio Moro, dos procuradores e delegados é claramente partidária e alimenta o noticiário há mais de ano E ai de quem ousar rebater e atribuir à operação propósitos autoritários. Imediatamente aparecerá na mídia um procurador enviado de Deus acenando para o ímpio com duzentos anos de prisão."

FONTE: escrito pelo jornalista Luis Nassif no "Jornal GGN"  (http://jornalggn.com.br/noticia/o-pais-da-inquisicao).

GERAÇÃO EÓLICA NO BRASIL CRESCERÁ 376% EM 8 ANOS




Geração de energia eólica deve chegar a 24 mil MW em oito anos

Da Agência Brasil

"A capacidade de geração de energia eólica no Brasil deverá passar dos atuais 8,7 mil megawatts (MW) para 24 mil MW nos próximos oito anos. A estimativa do governo, que consta no Plano Decenal de Expansão de Energia, é que em 2024 o parque eólico brasileiro deverá responder por 11,5% de toda a energia gerada pelo país. Até o fim de 2016, a capacidade instalada deve chegar a 11 mil MW, segundo projeções da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeolica).

A energia produzida com a força dos ventos é a que apresenta o maior crescimento no país. Entre novembro de 2014 e novembro de 2015, a capacidade instalada do setor cresceu 56,9% em relação aos 12 meses anteriores, de acordo com o Ministério de Minas e Energia. No ano passado, foram inauguradas mais de 100 usinas eólicas no país, com investimentos de R$ 19,2 bilhões. Atualmente, existem 349 usinas eólicas instaladas no Brasil, a maioria na região Nordeste.

A energia eólica no Brasil é algo razoavelmente novo e essa indústria foi sendo construída com bases muito sólidas porque temos recurso eólico muito bom no Brasil, um dos melhores do mundo e, ao entender e saber explorar esse recurso, nós colocamos a eólica em situação de vantagem comparativa e competitiva muito grande”, diz a presidente da Abeeolica, Elbia Gannoum.

Para a coordenadora da campanha de Energias Renováveis do Greenpeace, Larissa Rodrigues, o panorama para a expansão da capacidade de geração dessa energia no país é otimista, especialmente levando em conta que o desenvolvimento do setor aconteceu com maior força na última década. No entanto, ela avalia que a meta de alcançar 24 mil MW de capacidade instalada em 2024 ainda é tímida. “Quando você pega o que já está instalado hoje e o que está sendo construído, o que sobra não é muita coisa. Pelo que estamos vendo hoje, para 2024 poderíamos ter muito mais”, diz.

Transmissão

O escoamento da energia produzida pelas usinas eólicas foi um problema para os primeiros parques construídos, que ficaram prontos sem ter um sistema de transmissão concluído para levar a energia a outras regiões. Segundo a Abeeolica, isso aconteceu porque houve desencontro entre os cronogramas de obras das usinas de geração de energia e das de linhas de transmissão.

Hoje, não tem mais aquele atraso e os próximos [projetos] tendem a não atrasar mais, porque o modelo é outro”, diz a presidente da Abeeolica. Desde 2013, os editais para a contratação de energia eólica condicionam a compra de energia desse tipo de fonte à garantia de conexão junto à rede de transmissão.

A entidade estima que cerca de 300 MW de capacidade instalada em 14 parques eólicos do Rio Grande do Norte e da Bahia estejam com problemas de conexão à linhas de transmissão. “Esse percentual não é relevante, é menos de 5% do total”, avalia Elbia.

Para o "Greenpeace", o escoamento da energia é o principal gargalo para a expansão das eólicas no país. Larissa Rodrigues diz que o atrelamento da contratação à garantia de linhas de transmissão prejudica o setor. “No fundo, isso é muito ruim para a indústria eólica, porque quem faz a usina não é o mesmo agente que faz a linha de transmissão, são coisas completamente separadas no setor elétrico”, avalia.

Custo

O custo de geração da usina eólica, que era um entrave para o crescimento do setor há alguns anos, já não é mais obstáculo. Atualmente, ela é a segunda fonte de energia mais barata, atrás da energia hidrelétrica. “A eólica já chegou no seu grau máximo de competitividade, quando se tornou a segunda energia mais barata do Brasil em 2011”, diz Elbia.

Segundo ela, atualmente cerca de 70% dos equipamentos utilizados na geração de energia eólica no Brasil são produzidos no país. “Ao construir essa cadeia produtiva somando ao recurso dos ventos, nós temos um potencial eólico disponível para atender as necessidades do Brasil”.

Para a representante do "Greenpeace", o debate sobre o custo da energia eólica atualmente é um mito, pois com o avanço da indústria o setor se tornou competitivo. “Há 10 anos quando se falava em energia eólica no país era uma coisa de maluco, ninguém acreditava. Hoje em dia só se fala nisso”, avalia Larissa Rodrigues.

Papel social

O presidente da Empresa de Pesquisa Energética, Maurício Tolmasquim, destaca que, além dos benefícios para a redução dos gases do efeito estufa, a expansão da energia eólica cumpre também um papel social. Isso porque pequenos proprietários arrendam parte de suas terras para colocar os aerogeradores e ganham uma renda extra por isso.

A forte expansão da geração eólica no país é um elemento importante para o Brasil atingir a meta acordada na COP 21 para redução dos gases do efeito estufa. Além do benefício ao planeta, por menos emissões, tem ainda o benefício local, não apenas pela redução da poluição regional, mas também pelo benefício social ligado à renda que é gerada por essa atividade, que vem sendo desenvolvida geralmente em áreas mais pobres do Brasil”, avalia Tolmasquim.

Segundo estimativas da Abeeolica, cada família que arrenda suas terras para a instalação de aerogeradores ganha cerca de R$ 2,3 mil por mês e o no ano passado foram pagos cerca de R$ 5,5 milhões por mês em arrendamentos.

Os parques instalados atualmente possuem cerca de 87,5 mil hectares arrendados e 3% dessas áreas são ocupadas com os equipamentos eólicos. O restante pode ser utilizado para agricultura, pecuária, piscicultura entre outras atividades."

FONTE: da Agência Brasil. Transcrito no "Jornal GGN"  (http://jornalggn.com.br/noticia/geracao-de-energia-eolica-deve-chegar-a-24-mil-mw-em-oito-anos).

GANÂNCIA DESMESURADA DOS CAPITALISTAS CAUSOU A CRISE DESDE 2008 ATÉ HOJE





A crise de 2008 e a ganância como um transtorno mental (1)

Por Marcos de Aguiar Villas-Bôas, doutor em Direito Tributário pela PUC-SP, mestre em Direito pela UFBA, advogado, atualmente faz pesquisas independentes na Harvard University (EUA) e no MIT - Massachusetts Institute of Technology (EUA)

"A principal causa de a economia mundial ter entrado em colapso entre 2007 e 2008, de não ter se recuperado até hoje e de haver grandes chances de novo colapso em 2016 é a ganância (2), também chamada de avareza sobretudo no catolicismo.

Há algumas questões comportamentais importantes que estão por detrás do capitalismo atual e que precisam ser enfrentadas. A ganância é o desejo exagerado por capital, que acarreta problemas graves como a necessidade de corromper e enganar para se ter o que quer, levando, também, a uma menor capacidade de olhar outros tipos de benefícios que podem ser auferidos durante a vida para além dos bens materiais.

Foca-se demais no dinheiro, em fazer mais patrimônio, em ter mais do que outros. A ganância vem junto, quase sempre, com a ostentação. É preciso comprar mais, ter mais e mostrar mais. Segundo a Psicologia, a ganância é um transtorno mental (3) cujas causas parecem ser biológicas e sociais.

No desespero por mais capital, esquece-se de olhar o longo prazo e o contexto completo. Quando as coisas começam a dar errado, tenta-se escondê-las, o que faz os problemas se agravarem ainda mais, apenas vindo à tona quando o colapso é inevitável ou já aconteceu.

Foi assim com a crise de 2007/2008, decorrente das inúmeras vendas de investimentos podres, que criaram uma gigantesca estrutura de apostas sobre uma base de hipotecas que não poderiam ser pagas, pois decorrentes da concessão irresponsável de crédito, em sua grande maioria, a pessoas simples.

Juntamente com a crise econômica americana instalada em 2007, veio a inadimplência e “boom!”, explodiu a estrutura de investimentos podres feitos sobre o mercado de hipotecas imobiliárias, até então tido por muito seguro.

Algumas poucas pessoas foram capazes de enxergar isso, como Michael Burry, que ficou ainda mais bilionário apostando contra os bancos e, portanto, contra o mercado imobiliário americano, como ilustram o livro e o filme recentemente indicado ao Oscar “The Big Short”, cujo título brasileiro é “A Grande Aposta”. Como os poderosos bancos, repletos de especialistas experientes, não conseguiram antever o colapso de 2007/2008? A primeira razão é: ganância.

Eles estavam tão confiantes no mercado imobiliário e lucrando tanto em cima das vendas de investimentos Subprime, CDO – Collateralized Debt Obligation - e outras invencionices do mercado financeiro, que não deram importância quando Michael Burry e outros investidores menores compraram swaps para apostar no default (inadimplência) das hipotecas e no consequente naufrágio dos investimentos podres feitos em cima do mercado imobiliário.

O filme ilustra bem como, durante o período anterior à crise, apesar de verem o que acontecia, as agências de risco e outros agentes relacionados ao mercado financeiro lhe ajudaram, como normalmente fazem, a esconder o que se passava. São as mesmas agências de risco que avaliam hoje o Brasil de maneira pior do que avaliam economias bem menos estáveis, como a russa.

Com o perdão do spoiler, mas esses são dados públicos, o filme se encerra informando que, após a poeira da crise baixar, 5 trilhões de dólares (!!!) em aposentadorias, 401k (um tipo de poupança americana de longo prazo), savings (poupança em geral), valores de imóveis e bonds (títulos de rendimento fixo) simplesmente desapareceram.

Somente nos Estados Unidos, 8 milhões de pessoas perderam os seus empregos e 6 milhões perderam as suas casas. Quem vai hoje aos Estados Unidos pode ver com grande frequência os homeless (sem teto), que não existiam antes da crise na mesma quantidade.

O que o mercado financeiro aprendeu com a crise de 2007/2008? É difícil de se dizer. O fato é que os bancos começaram a vender, em 2015, bilhões de dólares em investimentos chamados Bespoke Tranche Opportunities, que, segundo os especialistas dizem, é outro nome para CDO, ou seja, são investimentos muito similares àqueles causadores da recente grande crise.

A ganância termina manipulando a expectativa, um dos principais elementos econômicos, ainda pouco compreendido e estudado. O desejo de ganhar dinheiro e a solidez do mercado hipotecário eram tão grandes que nunca se imaginou a sua falência.

Os investidores menores, contudo, que não estavam lucrando tanto com os investimentos podres vendidos sobre as hipotecas, encontraram uma forma de lucrar muito apostando exatamente contra eles. De um certo modo, foi a ganância que levou esses investidores a preverem o futuro e a apostarem contra os investimentos vendidos pelo mercado financeiro. Do contrário, desde o começo eles teriam tentado avisar às autoridades competentes e à própria sociedade em geral sobre o que estaria acontecendo e o que estaria por vir.

Não se trata de demonizar a ambição, que estimula o crescimento e a inovação. Fala-se aqui da ambição (desejo) exagerada, que se torna um transtorno, que individualiza demais o homem, fazendo-o pensar apenas em ter liberdade para ganhar dinheiro, preferencialmente em curto prazo, sem perceber o quanto o sucesso econômico, e a sua própria qualidade de vida, depende do coletivo.

A grande maioria das pessoas, e sobretudo os mais ricos, não consegue enxergar a economia sem ganância, para além das expectativas elementares, no longo prazo, considerando múltiplos aspectos e seus efeitos.

Se eles conseguissem fazer isso, perceberiam que o sistema capitalista atual está à beira de novos colapsos. Sem demanda agregada, não há como prosperar, repete o duas vezes vencedor do Prêmio Nobel de Economia, Joseph Stiglitz, incessantemente. Além disso, sem meio ambiente e sem alguns recursos, não haverá no futuro sequer como existir uma economia.

Os gananciosos não são capazes de perceber que apenas uma adequada distribuição de riqueza e renda poderá manter suas empresas vendendo e, portanto, lucrando. Não se trata de tornar todos pobres, mas de permitir que a riqueza continue se multiplicando, o que apenas acontece dentro de um ecossistema de negócios equilibrado, onde uma grande quantidade de pessoas consegue produzir e consumir em patamares não abissalmente distantes.

Os gananciosos, em sua maioria, não percebem que o aumento desenfreado de produção destrói o meio ambiente, acaba com os recursos naturais muito rapidamente e pode levar a desastres ambientais, quiçá a um colapso do próprio planeta.

Eles não percebem que a sua qualidade de vida depende da redução nas disparidades de desigualdade de qualidade de vida existentes na sociedade. Apenas com mais pessoas bem educadas e com capacidade de consumo e produção será possível reduzir a violência, aumentar a produtividade, a produção a partir de novos negócios, a demanda e a produção dos negócios já existentes, atraindo mais investimentos, gerando novos empregos, aumentando novamente a demanda e assim por diante.

Desse modo, resolver os problemas socioeconômicos atuais não depende apenas de o Estado oferecer uma boa educação na escola a todos. Esse é apenas um dos passos. A educação de qualidade vem também de fora da escola, de modo que todos precisam ter boas relações, qualidade de vida, capacidade de consumir e outros elementos que possibilitam o desenvolvimento humano.

Levar a produção para um nível sustentável, reduzir desigualdades, essas bandeiras progressistas muitas vezes mal defendidas e mal explicadas pelos próprios progressistas levam os conservadores a acusá-las de moralistas, populistas e vazias. É preciso trazer técnica ao debate e demonstrar aos gananciosos que se preocupar seriamente com igualdade e meio ambiente é uma questão emergencial de eficiência econômica e de garantir que eles continuem vivos, sadios e ganhando dinheiro.

Isso muda a perspectiva sobre o dever do progressista, que está cansado de constranger os gananciosos com dados sobre desigualdade, concentração de renda, falta de demanda agregada etc. Somada a essa tarefa do constrangimento por meio da exposição de dados que comprovam os erros nos caminhos que vêm sendo tomados, o dever do progressista agora é ajudar os gananciosos a se curarem, ou seja, é ajudá-los a compreender que sua atitude é autodestrutiva.

A ganância é, como dito, um comportamento vinculado ao individualismo. Não adianta mostrar a um ganancioso que ele prejudica milhões de pessoas. Em regra, isso não alterará o seu comportamento. Ele o modificará, talvez, se perceber que está agindo de forma autodestrutiva, em seu próprio malefício. Deve-se ajudar o viciado a compreender que o seu vício piora a sua própria vida.

A ganância é entendida na Psicologia como um vício por capital (4), um transtorno que precisa ser tratado. O ganancioso, como todo doente, dificilmente admitirá que ele é doente e encontrará justificativas para suas atitudes (5).

A ganância é, na verdade, um transtorno muito mais difundido na sociedade do que se imagina e é interessante como ainda se fala pouco sobre ela. Isso talvez aconteça porque a grande maioria das pessoas sofra dela e não queira enfrentar o assunto. O que muda de um indivíduo para o outro é o grau da doença e a forma de manifestação. Às vezes, a ganância não é apenas por capital, mas por atenção, por conquistar sexualmente mais pessoas etc. É um desejo desenfreado de ter mais do que os outros.

O ganancioso não é, portanto, uma pessoa má por natureza. É possível que existam fatores biológicos e até espirituais na propensão à ganância, mas ela se manifesta especialmente na relação social. Alguém inserido dentro do mercado financeiro, vivendo aquele sistema corrompido todos os dias, tende muito mais à ganância do que indivíduos inseridos em ambientes menos ligados ao capital.

O ganancioso não deve ser tratado pelo progressista como inimigo, mas como um irmão social que necessita de tratamento contra o seu vício. É fundamental uma atitude agregadora para que se possa convencê-los. Um ganancioso que é um conservador radical e odeia os progressistas dificilmente será convencido por algum deles de que está doente.

A tarefa do progressista é, portanto, primeiramente, mudar a ele mesmo, pois inúmeros não agem da forma que pregam. Cumprido esse primeiro passo, cabe, então, abrir os olhos dos seus irmãos conservadores para os males que eles estão fazendo a si próprios (6)."

NOTAS:

(1) Agradeço aos amigos Rodrigo Medeiros, Daniel Almeida, Luiza Amy F. Barbosa, Jerusa Wilbert e David Carneiro pela leitura do texto e comentários realizados.

(2) Para um bom trabalho de Behavioral Economics sobre a ganância, ver: “Prior to the recent subprime mortgage crisis, for example, many broker-dealers invested in high-risk collateralized debt obligations (CDOs) to offer higher returns than their competitors (e.g., to money-market customers); this helped fuel the demand for subprime mortgages and provided an incentive for mortgage brokers to make loans to customers who did not have the ability to pay them back (Wilson, 2007). This example is consistent with Plato‘s moral argument against greed (Frost, 1962): individual greed benefits one person at the expense of others; systemic greed can damage an entire system” (Disponível em:www.kellogg.northwestern.edu/.../Number399.ashx).

(3) Vide esse exemplo de texto que analisa as causas da ganância enquanto doença mental amplamente presente na sociedade atual: http://www.huffingtonpost.com/john-selby/is-there-a-cure-for-greed_b_480181.html.

(4) Na Psicologia, a ganância é amplamente compreendida como um vício a ser tratado. Ver, por exemplo: https://www.psychologytoday.com/blog/evolution-the-self/201210/greed-the-ultimate-addiction

(5) Vide esse exemplo inocente, e até certo ponto assustador, de defesa da ganância:http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1589

(6) O brilhante livro do psicanalista belga Paul Verhaeghe trata de muitos dos temas analisados neste texto. Vide, por exemplo, o que ele diz sobre a necessidade de mostrar ao ganancioso o quanto ele prejudica a si próprio: “Lasting change comes from the grassroots, and ties in with gut feelings. If more and more people feel that things are going fundamentally wrong, then change is in the air. An increasing number do feel this way at present, but as things stand they are not managing to form an organised group. That failure itself illustrates the central problem – namely, excessive individualisation. Attempts to invoque solidarity through rational argument won’t work. Given the current cult of the ego, the impetus for change is best sought in individual’s concern for their own welfare” (VERHAEGHE, Paul. What about me?: the struggle for identity in a market-based society. Trad. Jane Hedley-Prôle. Melbourne: Scribe, 2014, p. 243)."

FONTE: escrito por Marcos de Aguiar Villas-Bôas, doutor em Direito Tributário pela PUC-SP, mestre em Direito pela UFBA, advogado, atualmente faz pesquisas independentes na Harvard University (EUA) e no MIT - Massachusetts Institute of Technology (EUA). Publicado no "Jornal GGN"  (http://jornalggn.com.br/noticia/a-crise-de-2008-e-a-ganancia-como-um-transtorno-mental-por-marcos-villas-boas).

BRASIL CAI NO RANKING DA COMPLEXIDADE DOS PRODUTOS EXPORTADOS




Brasil "de mal a pior" no ranking da indústria

[O grande sucesso brasileiro que ocorreu no período avaliado na exportação de minérios, de produtos agrícolas e pecuários, principalmente para a China, também contribuiu para diminuir o peso relativo na exportação dos produtos industrializados mais complexos

Por Rogério Lessa

"O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) divulgou documento revelando, segundo o próprio texto, que no quesito complexidade (valor agregado) os produtos exportados pelo Brasil vão "de mal a pior". 

Em 2004, as exportações brasileiras ocupavam o 41º lugar no ranking mundial da complexidade. Já em 2014 caíram para a 51ª posição, atrás de diversos países em desenvolvimento, como México, Uruguai, El Salvador e Costa Rica. Se forem considerados apenas os vinte produtos mais complexos cujas vendas superam US$ 1 bilhão, a situação fica ainda pior, pois o Brasil cai para o 148º lugar. Somados, esses produtos responderam por apenas 0,2% das exportações brasileiras em 2014.

"A queda do Brasil no ranking da complexidade das exportações entre 2004 e 2014 se deve à deterioração da pauta, cada vez mais concentrada em produtos minerais (27% em 2014), produtos vegetais (17%) e alimentos (12%)", diz o IEDI. Dentre os gêneros industriais destacam-se equipamentos de transporte (7%), máquinas/elétricos (6%), produtos de metal (6%) e químicos e relacionados (5%), lembrando a importância estratégica para o Brasil de ter uma empresa como a Petrobrás funcionando a pleno vapor e mantendo sua tradição na área de Pesquisa e Desenvolvimento, bem como em outros ramos da indústria do petróleo.

Pelo lado das importações, ocorre o inverso: são compostas de itens industriais mais complexos como máquinas/elétricos (25%), produtos minerais (21%), químicos e relacionados (16%) e equipamentos de transporte (11%)."


FONTE: escrito por Rogério Lessa no site da AEPET  (http://www.aepet.org.br/noticias/pagina/13220/Brasil-de-mal-a-pior-no-ranking-da-indstria). [Subtítulo entre colchetes acrescentado por este blog 'democracia&política'].

sábado, 30 de janeiro de 2016

"ELITE" E MÍDIA DO MERCADO QUEREM LULA NOVAMENTE PRESO POR QUALQUER MOTIVO


         
           Lula preso pela ditadura

O VEXAME TERMINAL DA IMPRENSA DECADENTE E GOLPISTA

Por Miguel do Rosário, no blog "O Cafezinho"

Análise Diária de Conjuntura - Manhã de 29/01/2016

"Inacreditável.

I-NA-CRE-DI-TÁ-VEL!

A gente fica pensando até onde chegará o provincianismo golpista e sabotador da mídia e de seus aliados em setores autoritários do Estado.

No dia seguinte à realização do primeiro encontro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, após mais de dois anos sem se reunir, e que contou com a presença dos principais empresários, dirigentes políticos e intelectuais do país, a manchete da "Folha" é sobre um sítio que Lula "frequentou", e que teria sido reformado pela "Odebrecht".

A informação é dada por uma ex-dona de uma loja de material de construção, que não se lembra de nada exatamente, nem dos valores exatos (não deu nota), nem das empresas fornecedoras (diz que achava que eram todas da Odebrecht), nem do que foi comprado.

Qual a tese em questão?

Ora, é muito claro.

O objetivo é sabotar o país.

Não vai ter impeachment, tudo bem. Os golpistas já aceitaram isso. Também parecem ter aceitado que não haverá tapetão no TSE.

Mas o clima de instabilidade não pode ser debelado.

Nesta manhã, a manchete dos portais é que Lula e dona Marisa terão que dar depoimento como "investigados" ao Ministério Público de São Paulo.

A Lava Jato agiu rápido. Alguns dias depois do promotor passar por um aperto ao anunciar para mídia, antes que o ex-presidente pudesse se defender, antes mesmo de abrir o inquérito (o que é ilegal), quais eram as suas intenções, a República do Paraná lhe prestou um socorro à jato.

Desviando o foco de todas as suas investigações anteriores, dirige suas atenções para o mesmo prédio onde Lula havia tentado comprar um apartamento.

As manchetes sobre o apartamento são originais, quase engraçadas.

"Apartamento que seria de Lula"...

E agora, com a história do sítio de Atibaia, temos uma nova figura no código penal: o sítio "usado".

Sítio usado por Lula...

Ou seja, Lula esteve lá, bebeu cerveja, comeu churrasco e foi embora.

É um sítio, é bom repetir, "usado" por Lula!

A gente fica especulando o que historiadores e analistas de mídia, quando as paixões políticas amainarem, pensarão disso tudo.

A mídia está apostando alto dessa vez.

A queda brutal na circulação de jornais, seja no meio impresso, seja no meio digital, o despenhadeiro que a "Globo" enfrenta em matéria de audiência, não deixam dúvidas que é preciso agir rápido.

No site da "Folha" ao celular, simplesmente não há menção à reunião do Conselho, um assunto de interesse de todo o país, e que reuniu a nata do PIB, a cúpula sindical, governo, movimentos sociais e artistas.

Não interessa.

O que interessa é "pegar" Lula e gerar crise, independentemente do sofrimento social que isso possa provocar.

Esse é o jornal no qual Dilma decidiu publicar o seu primeiro artigo do ano...

A agenda política na grande mídia, que sempre foi estreita, estreitou-se ainda mais. Não se pode falar de outra coisa. Todas as baterias estão voltadas contra Lula.

Por que o ódio contra Lula?

O Brasil não cresceu em seu governo? Os bancos não ganharam dinheiro? A dívida pública não caiu? O Brasil não conseguiu se tornar, mais que em nenhum momento de sua história, um respeitado "player" global? Não foram iniciadas obras de infraestrutura necessárias ao desenvolvimento econômico? Não há consenso de que, em seu governo, houve inédito processo de libertação social, convertido em modelo para o mundo inteiro?

Depois de décadas de vida pública, depois de ter sua vida devassada, seus sigilos quebrados, o máximo que encontram contra Lula é que a Odebrecht reformou um sítio que ele frequentou?

O que isso significa? Que Lula se vendeu, maliciosamente, pensando em "usar" o sítio reformado pela Odebrecht?

A história do apartamento é igualmente ridícula.

Ambas as histórias são prenhes de intrigas e fofocas, histórias de vizinhos.

A mesma imprensa que esquece Eduardo Cunha, que tem contas comprovadas e não declaradas no exterior, de milhões de dólares, persegue Lula porque ele "usou" um sítio?

Francamente!

O campo progressista não pode se deixar intimidar por esse tipo de perseguição. O desespero da mídia e de seus tentáculos no Estado é sinal de derrota!

Ainda temos o caso de José Dirceu, em que um delator delata, deslata, e delata de novo. E o Ministério Público, oportunamente, diz que não há gravação do depoimento que poderia ajudar em sua defesa. Que esculhambação!

A conspiração midiático-judicial se embaralha, ganha ares mafiosos. Impulsionada pela ansiedade em cumprir logo seus objetivos, envereda cada vez mais abertamente para a perseguição política.

Todos parecem ter mordido a isca lançada por Lula. Querem me perseguir, parece ter dito o ex-presidente. Então o façam logo! Vamos para o pau agora!

As pessoas se perguntam: Lula será preso? Por que razão? Por ter "usado" um sítio? Por NÃO ter comprado um apartamento num prédio chinfrim de Guarujá?

Em outros países, ex-presidentes corruptos adquirem imóveis em Nova York, Miami, Paris. Compram fazendas. Juntam milhões no exterior.

No caso de Lula, ele adquire, à prestação, uma cota num condomínio, e a revende mais tarde, sem comprar o apartamento.

E "usa" um sítio...

A conspiração entrou numa espiral sem saída, e arrasta a mídia para um abismo sem fim. Afinal, o que esperam?

Das duas, uma.

Ou prenderão Lula sem provas, desmoralizando-se, criando um enorme desconforto político que se refletirá obviamente no exterior, provocando uma onda de denúncias contra a emergência de um Estado policial delinquente, uma ditadura instalada, uma doença, um abscesso cheio de pus, dentro do Estado democrático.

Ou então não prenderão Lula e lhe darão o maior atestado de idoneidade que um político jamais teve.

Sim, porque quebrar o sigilo de Lula não podem mais, porque já o fizeram.

Fazer uma devassa em sua vida e na de seus familiares também não podem mais, porque já o fizeram.

Claro que são criativos.

Venceram, até certo ponto, a batalha da opinião pública. Um parte expressiva do povo, inclusive pessoas simples, querem ver a caveira do Lula.

Essa é uma opinião volátil, manipulada, que pode virar pelo avesso em alguns anos, transformando o vilão em herói - é o que vai acontecer.

Mas e a opinião dos intelectuais, dos sindicalistas, dos movimentos sociais, de toda a vanguarda progressista da sociedade?

Assim como ocorreu quando tentaram aplicar o impeachment em Dilma, a perseguição a Lula amplia a sua popularidade em setores essenciais da luta política.

Lula já foi o herói do povo. Voltará a sê-lo, em seu devido tempo.

No momento, Lula volta a ser o herói dos intelectuais e dos sindicalistas, e de todos que entenderam o jogo sujo da mídia, e desconfiam que investigações policiais foram transformadas em conspirações políticas.

É angustiante e emocionante.

A mídia aposta na virada conservadora, só que vai com sede demais ao pote, com risco de entornar o caldo.

Conservadores e progressistas assistem, tensos, a bolinha rodar e rodar no cassino da história, sem saber onde ela vai cair: no vermelho ou no preto?

Lula será visto como bandido ou herói?

Os conservadores têm, é claro, um problema sério: eles precisam de crise para ganhar. Por isso, a aposta no caos econômico e político. Nenhuma iniciativa de recuperação econômica lhes interessa.

Os progressistas também têm um problema: é muito difícil se posicionar contra o judiciário. É extremamente difícil mostrar à opinião pública que, por trás da toga, se desvelam interesses nocivos, partidários, obscuros.

Entretanto, podemos afirmar, desde já: o povo brasileiro vencerá, cedo ou tarde, porque não se pode enganá-lo por muito tempo.

O que Lula proporcionou ao povo brasileiro não pode mais ser apagado da história. Ao tentar pintá-lo como bandido, a mídia completa a sua lenda, conferindo-lhe um ar de mito político, visto que todas as grandes lideranças populares da história passaram por essa etapa, sempre foram perseguidas pelos poderes dominantes de sua época.

Os grupos de mídia, por sua vez, não podem apagar o rastro sujo que deixaram na história política do país: a sua hostilidade constante à democracia, apoiando golpes, ontem, hoje e sempre.

A história, moça irônica, trabalha secretamente, rindo no escuro.

Os perseguidores de Lula serão apagados da história, ou tratados como tristes vilões num país ainda vítima do racismo, do preconceito político, do mais profundo egoísmo social.

Num país sem heróis, envergonhado de si mesmo, com um problema grave de baixa autoestima coletiva, o histerismo, o ódio, o preconceito, que permeiam toda essa perseguição a Lula, são o esterco com que a história cultiva o florescimento de uma coisa nova, grande, algo que poderá exercer poderosa influência em nosso futuro, que poderá derrubar, por fim, séculos de intolerância, viralatismo e manipulação.

A história, como sempre, transformará lixo em ouro, e fará nascer algo que nunca tivemos: um símbolo.

Dessa vez, porém, não será um símbolo enforcado, esquartejado, humilhado, como Tiradentes, um símbolo que nunca obteve, em sua vida, uma mísera vitória.

Não, agora teremos o símbolo de um homem que venceu, que governou o país, que lutou pelo povo.

Em sua campanha de ódio, a mídia e seus cúmplices estão esculpindo, sem o saber, o símbolo que os irá destruir."

FONTE: escrito por Miguel do Rosário, no seu blog "O Cafezinho"
   (http://www.ocafezinho.com/2016/01/29/perseguicao-a-lula-o-vexame-final-de-uma-imprensa-decadente-e-golpista/).

UM PAÍS QUE PROTEGE CUNHA E PERSEGUE LULA É UM PAÍS DOENTE



          Livre como uma borboleta: Cunha


Por Paulo Nogueira

"A 'Lava Jato' perdeu o pudor.

O nome "Triplo X", referência sibilina ao mítico ‘Triplex do Lula’ é um acinte. Está claro que se trata de erradicar não a corrupção – mas de caçar Lula.

Fosse outro o propósito você não teria um ataque tão sistemático a Lula enquanto um homem como Eduardo Cunha borboleteia, livre para armar as delinquências em que é mestre.

Era mais honesto batizar a operação como Caça Lula.

Os suíços entregaram de bandeja documentos que comprovam corrupção em níveis pavorosos de Cunha. Ele mentiu, sonegou, inventou desculpas aberradoras e usou até a palavra ‘usufrutuário’ para tentar encobrir sua condição de dono de milhões na Suíça.

Não foi apenas isso.

Depoimentos de fontes variadas coincidiram em relatar ameaças de paus mandados de Cunha contra pessoas que pudessem dizer coisas comprometedoras contra ele.

Vídeos mostraram expressões aterrorizadas de delatores ameaçados por homens de Cunha. Parecia coisa de Máfia. Falaram até na família. Em filhos. Disseram que tinham o endereço para a retaliação.

Não foi um depoimento nesse gênero. Foram pelo menos três, dois de delatores e um de um deputado que era um problema para Cunha na Comissão de Ética que o julga.

Que mais queriam? Que um cadáver amanhecesse boiando num rio?

E as trocas de emails com empresas beneficiárias de medidas provisórias?

Com esse conjunto avassalador de evidências, Eduardo Cunha aí está, na presidência da Câmara, ainda no comando de um processo viciadíssimo que pode cassar 54 milhões de votos.

Cadê a Polícia Federal? Cadê Moro? Cadê uma operação realmente para valer para investigar as delinquências conhecidíssimas de Cunha.

Nada. Nada. Nada.

É uma bofetada moral inominável nos brasileiros. É a completa desmoralização da política.

Enquanto a vida é mansa para Cunha, para Lula é uma sucessão infindável de agressões.

Virou piada que até ser amigo de Lula se caracterize como algo capaz de incriminá-lo. Mas coloquemos o adjetivo certo: é uma piada repulsiva.

Um apartamento banal numa praia banal – a cidade plebeia do Guarujá – adquire ares de uma propriedade suntuosa que Lula jamais poderia comprar. É um tríplex, uma palavra feita para impressionar e ludibriar a distinta audiência.

Não interessa se quatro ou cinco palestras de Lula seriam suficientes para comprar o apartamento. Não interessa se ele tem documentos que comprovam que ele não comprou, afinal, o imóvel.

O que importa é enodoar a imagem de Lula. Caracterizá-lo como um corrupto, um ladrão, um monstro de nove dedos. O maior vilão da história do Brasil.

Alguém – PF, Moro, imprensa – deu um passo para saber se a residência de Eduardo Cunha é compatível com seus rendimentos de deputado? Alguém apurou se ele tem condições de bancar uma vida de fausto para a mulher, à base joias e extravagâncias como aulas de tênis no exterior?

Ninguém.

É um país doente aquele que protege Eduardo Cunha e investe selvagemente contra um homem que cometeu o pecado de colocar os excluídos na agenda nacional como nenhum outro desde Getúlio Vargas.

Estamos enfermos – e Moro e sua Lava Jato são sintomas eloquentes dessa nossa deformação moral."

FONTE: escrito pelo jornalista Paulo Nogueira, fundador e diretor editorial do site de notícias e análises "Diário do Centro do Mundo"  (http://www.diariodocentrodomundo.com.br/um-pais-que-protege-cunha-e-persegue-lula-e-um-pais-doente-por-paulo-nogueira/).

SERÁ O FIM DO LULISMO?



    Crédito da foto da página inicial: Antônio Cruz/ABr


Será o fim do lulismo?

Por Juliano Giassi Goularti, doutorando em Desenvolvimentismo Econômico, IE-Unicamp

"Quando se deu conta de que a burguesia se articulava para isolar o governo, Dilma começou a ceder elevando a taxa de juros e cortando o gasto público. O governo recuou até substituir o desenvolvimentista Mantega pelo liberal-conservador Joaquim Levy, o que fez retroceder o lulismo

Ao publicar o livro "Os sentidos do lulismo: reforma gradual e pacto conservador" (2012), André Singer expõe as contradições e avanços do governo Lula. Sem radicalização política e sem um conteúdo programático socialista como em 1989, isto é, dentro de um pacto conservador, esse governo se destaca, segundo Singer, pelas políticas de combate à miséria sem o confronto direto com os interesses do capital.


O conjunto de políticas sociais, como o "Programa Bolsa Família" (PBF), valorização do Salário Mínimo (SM), formalização do emprego, expansão do crédito (em particular o crédito consignado) e diminuição de preços relativos de artigos populares por meio das desonerações tributárias direcionaram parte da atividade econômica para os pobres, o que permitiu um maior poder aquisitivo das famílias de baixa renda.

Assim, diante de uma conjuntura internacional favorável e políticas de ativação do mercado interno, “a massa miserável que o capitalismo brasileiro mantinha estagnada começava a ser absorvida no circuito econômico formal” (Singer, 2012, 151).

Apesar do receituário neoliberal da política de juros e superávit primário, dentro do pacto conservador foi possível estabelecer uma política social que permitisse a inclusão da população pobre no mercado de consumo.

Como consequência das medidas para reduzir a pobreza, nas eleições de 2006 houve um realinhamento eleitoral. As classes médias e funcionários públicos que historicamente eram eleitores do PT migraram para o PSDB e o subproletariado (1), ou a “ralé” como descreve Jessé Souza (2), que sustentava o PSDB/PFL, adere em bloco a Lula. Nesse caso, o realinhamento eleitoral é uma retribuição da população pobre a Lula.

Paralelamente, o “mensalão” e o ataque midiático afastam as classes médias e a política de valorização do SM somado ao PBF [Bolsa Família] ascende socialmente a população pobre e mantêm estagnadas as conquistas do passado da classe média, provocando uma migração em massa para o tucanato.

A ascensão social da população de baixa renda, o subproletariado, tem em Lula e no PT sua representação e a classe média nos candidatos tucanos. Para Singer, isso significa que a polarização não se dá mais na separação entre esquerda e direita, mas, sim, entre pobres e ricos.

As camadas populares do subproletariado que desde a redemocratização sustentavam nos “grotões do Brasis” o PFL e a aliança conservadora PSDB/PFL são rompidas em 2006. Mexendo com a “questão setentrional”, oportunizando a desprivação de capacidades básicas somado ao carisma, à capacidade retórica e à inclusão dos excluídos na “sociedade perifericamente moderna como a brasileira”, Lula consegue transmitir a “economia política do lulismo” para Dilma Rousseff.

Sem o radicalismo dos anos oitenta, o lulismo atende às reivindicações históricas da população pobre sem afrontar as contradições capitalistas. Em suma, o lulismo recolocou o crescimento econômico, a distribuição de renda e a política social no centro da agenda governamental a partir de uma coalizão política que manteve um relativo equilíbrio e cujos benefícios foram usufruídos tanto pelo subproletariado como pelo capital.

Singer (2012, p. 155) exalta que “O êxito da candidatura Dilma Rousseff em 31 de outubro de 2010 (….) representou a sobrevivência do lulismo. Para além dos mandatos de Lula”. Mas, ao contrário de Lula, a presidenta Dilma, ao estabelecer uma “nova matriz econômica”, acabou “cutucando onças com varas curtas(3).

Pelo alto, Dilma e Guido Mantega atacaram os bancos, a batalha do spread ganhou foros públicos, impuseram controle do fluxo de capitais, taxaram o todo poderoso capital especulativo e reduziram a Selic. A descrença de ambos nas forças espontâneas do mercado e a decisão de expandir a ação estatal na economia fez a burguesia, assim como no final dos anos setenta (4), se rebelar e se unificar contra o intervencionismo estatal.

Embora “cutucando onças com varas curtas”, o realinhamento eleitoral de 2006 se manteve em 2014. Agora com forte confronto com o capital, sob ataque da grande mídia, fogo cruzado da oposição e ódio da classe média que se manteve estagnada, o subproletariado foi o fiel da balança.

Deve-se recordar que, mesmo com a desaceleração da economia brasileira, crescimento anual médio de 2,1% em comparação à média de crescimento de 4,4% (2004-2010), queda da taxa média da formação bruta de capital fixo de 8% (2004-2010) para 1,8% (2011-2014), redução do crescimento médio anual das exportações brasileiras de bens e serviços de 1,6% (2011-2014) contra 5,2% (2004-2010) e decréscimo do consumo anual das famílias, média de 5,3% (2004-2010) contra 3,1% (2011-2014), o subproletariado novamente retribuiu na forma de apoio maciço (5).

Sob o carisma, a retórica e a política social-desenvolvimentista lulista, o subproletariado não estava disposto a ser protagonista de um realinhamento eleitoral à direita, ou melhor, um realinhamento aos ricos.

Quando o governo se deu conta de que a burguesia estava se articulando para isolar o governo, a presidenta Dilma começou a ceder por meio da elevação da taxa de juros e depois no corte do gasto público. A partir daí, o governo, passo a passo, foi recuando até chegar à substituição do desenvolvimentista Mantega pelo liberal-conservador Joaquim Levy, o que provocou um processo de retrocedimento do lulismo.

Num ambiente político tenso e econômico contraído, embora o ajuste fiscal tenha fracassado em 2015, o governo Dilma ficou os 12 meses de 2015 engessado pelas manobras de impeachment da Câmara dos Deputados, acuado pela operação Lava Jato, preso pela crise econômica, amarrado pela sangria de recursos públicos com juros da dívida (6) e perdido pelos sucessivos erros de políticas econômicas.

Embora Nelson Barbosa tenha substituído Levy no final de 2015 para dar sobrevida ao lulismo, o "Chicago Boy" Levy cumpriu sua missão de acender a ortodoxia dentro do governo, atacar os direitos constitucionais e suscitar cortes de recursos públicos direcionados ao investimento e aos programas sociais.

Não se chegou a essa situação pelo simples acaso. Os erros do gabinete da Presidência e do Ministério da Fazenda foram intencionais, provocando uma queda na popularidade da presidenta, que foi ao chão. O ano de 2015 terminou sob uma recessão que poderá ser ainda pior nos anos seguintes, podendo ainda ser mais aguda do que a da grande depressão de 1930-1931, como alerta Fabrício Augusto de Oliveira.

A questão é: se o governo não estabelecer uma política que privilegie o gasto público para suscitar a demanda agregada e não construir um amplo pacto social e político de centro-esquerda para interromper a queda livre da economia sinalizada para os próximos três anos, sob o fogo cruzado da mídia e das investidas da oposição, está correndo sérios riscos de um [trágico] realinhamento eleitoral do subproletariado aos ricos em 2018."

Notas

(1) André Singer toma a denominação “subproletariado” de Paul Singer, Dominação e desigualdade. Estrutura de classe e repartição da renda no Brasil.
(2) Ver Jessé Souza, A ralé brasileira, UFMG, 2009
(3) Ver André Singer (2015), Cutucando onças com varas curtas: o ensaio desenvolvimentista no primeiro mandato de Dilma Rousseff (2011-2014).
(4) Ver Carlos Lessa (1998), A estratégia de desenvolvimento 1974-1976: sonho e fracasso.
(5) Ver Franklin Serrano e Ricardo Summa (2015), Demanda agregada e a desaceleração do crescimento econômico brasileiro de 2011 a 2014.
(6) No acumulado de 2015 os juros nominais atingiram R$496,9 bilhões (8,42% do PIB).


FONTE: escrito por Juliano Giassi Goulartidoutorando em Desenvolvimentismo Econômico, IE-Unicamp. Publicado no site "Brasil Debate"  (http://brasildebate.com.br/sera-o-fim-do-lulismo/). [Pequenos entre colchetes acrescentados por este blog 'democracia&política'].