sábado, 14 de janeiro de 2012
A POSSÍVEL BATALHA PELO ESTREITO DE ORMUZ
“Depois de ouvir ameaças dos EUA durante anos, o Irã está tomando medidas que sugerem que considera fechar o Estreito de Ormuz e que tem capacidade para fazê-lo. No dia 24 de dezembro, o Irã iniciou exercícios navais (Operação Velayat-90) no e à volta do Estreito de Ormuz, do Golfo Persa e Golfo de Omã (Mar de Omã), ao Golfo de Aden e Mar da Arábia.
Por Mahdi Darius Nazemroaya
Desde o início daqueles exercícios, cresce a guerra de palavras entre Washington e Teerã. Mas nada do que o governo Obama ou o Pentágono disseram ou fizeram, até agora, dissuadiu Teerã de dar prosseguimento aos seus exercícios navais.
A NATUREZA GEOPOLÍTICA DO ESTREITO DE ORMUZ
À parte ser ponto vital de trânsito para recursos energéticos globais e gargalo estratégico, dois outros aspectos devem ser considerados se se analisa o Estreito de Ormuz e a importância que tem para o Irã:
(1) a própria geografia do Estreito; e
(2) o papel do Irã na coadministração do estreito, nos termos da legislação internacional e das leis nacionais iranianas.
As embarcações de todos os tipos que passam pelo Estreito de Ormuz sempre mantiveram contato com as forças navais iranianas – a Marinha Regular Iraniana e a Marinha da Guarda Revolucionária do Irã. As forças navais iranianas monitoram e policiam o Estreito de Ormuz, administração compartilhada com o Sultanato de Omã, através de um enclave omanita que há ali, Musandam. Mais importante que isso: para navegar através do Estreito de Ormuz, todo o tráfego marítimo, inclusive a Marinha dos EUA, é obrigado a navegar por águas territoriais iranianas; para sair, em muitos casos, cruzam-se águas territoriais de Omã.
O Irã sempre permitiu que embarcações estrangeiras amigas cruzem suas águas territoriais, nos termos, também, da Parte III da Convenção da ONU sobre “Lei do Mar e de trânsito por mar”, que estipula que as embarcações são livres para navegar pelo Estreito de Ormuz e outros corpos d’água semelhantes, em velocidade constante e sem se deterem, de um porto aberto até águas internacionais. Embora as autoridades de Teerã sigam as rotinas da “Lei do Mar”, Teerã não é legalmente obrigada a segui-las. Como Washington, Teerã também assinou seu específico tratado internacional e jamais o ratificou.
TENSÕES ENTRE EUA E IRÃ NO GOLFO PERSA
Atualmente, o Parlamento (Majlis) iraniano está reexaminando o uso de águas iranianas no Estreito de Ormuz por embarcações estrangeiras. Há projetos de lei em exame, para bloquear o trânsito de embarcações de guerra estrangeiras por águas territoriais iranianas através do Estreito de Ormuz sem prévia permissão das autoridades iranianas; a Comissão de Segurança Nacional e Política Exterior do Parlamento do Irã está examinando projetos de lei que manifestarão a posição oficial do Irã, orientada pelos interesses estratégicos e da segurança nacional do Irã. [1]
Dia 30/12/2011, o porta-aviões USS John C. Stennis passou pela área na qual o Irã desenvolvia exercícios navais. O Comandante das Forças Iranianas Regulares, major-general Ataollah Salehi, alertou o USS John C. Stennis e outros navios dos EUA para que não voltassem ao Golfo Persa enquanto durassem as manobras navais do Irã; acrescentou que o Irã não tem o hábito de dar o mesmo aviso duas vezes. [2] Pouco depois do duro aviso iraniano, o secretário de imprensa do Pentágono respondeu, em declaração em que se lia: “Ninguém, neste governo procura confrontação [com o Irã] no Estreito de Ormuz. É importante baixar a temperatura.” [3]
Num cenário real de conflito militar com o Irã, é bastante provável que porta-aviões dos EUA tenham de, realmente, operar de fora do Golfo Persa, do sul, do Golfo de Omã e do Mar da Arábia. A menos que já seja operacional o sistema de mísseis que Washington está desenvolvendo nas petromonarquias ao sul do Golfo Persa, deve-se contar com a proibição de que grandes naves de guerra dos EUA cheguem ao Golfo Persa. Isso por causas associadas à geografia local e às capacidades de defesa do Irã.
A GEOGRAFIA CONTRA O PENTÁGONO: NO GOLFO PERSA, A FORÇA NAVAL DOS EUA É LIMITADA
As forças navais dos EUA – a Marinha e a Guarda Costeira dos EUA – são as maiores do mundo. Nada se compara às capacidades dos EUA em águas profundas e oceânicas. Mas ser a maior e a mais potente não implica que seja invencível. No Golfo Persa e no Estreito de Ormuz, as forças navais dos EUA são vulneráveis.
Apesar do poder e das muitas capacidades, a geografia trabalha literalmente contra o poder naval dos EUA no Estreito de Ormuz e no Golfo Persa. O Golfo Persa, pelo menos em contexto estratégico e militar, é como um canal. Em termos figurativos, os porta-aviões e grandes navios de guerra dos EUA ficam ali confinados, pode-se dizer, “presos”, nas águas costeiras do Golfo Persa
É isso, precisamente, que amplia muito as já altas capacidades dos mísseis iranianos. O arsenal de mísseis e torpedos do Irã tem potencial para neutralizar as armas navais dos EUA em águas do Golfo Persa. Por isso, os EUA tanto se empenham hoje para construir um “escudo” de mísseis no Golfo Persa, associando nessa empreitada os países do Conselho de Cooperação do Golfo, já há alguns anos.
Até os pequenos barcos-patrulha iranianos no Golfo Persa, que parecem insignificantes e muito pequenos comparados a um porta-aviões ou a um destróier gigantes, são ameaça considerável às naves de guerra dos EUA naquele cenário. Os barcos-patrulha podem disparar uma barreira de mísseis que, sim, podem danificar muito e, mesmo, destruir grandes navios de guerra. Além disso, os barcos-patrulha iranianos são quase indetectáveis e são alvos difíceis, porque são pequenos e rápidos.
As forças iranianas também podem minar as capacidades navais dos EUA no Golfo com mísseis lançados de terra, do interior do país, nas áreas próximas do norte do Golfo Persa. Já em 2008, o ‘Washington Institute for Near East Policy’ reconheceu a ameaça, para forças navais dos EUA no Golfo, das baterias de mísseis costeiros, dos mísseis terra-mar e dos pequenos barcos armados com mísseis. [4] A Marinha do Irã também conta com drones, veículos anfíbios, minas, equipes de mergulhadores e minissubmarinos, que serão mobilizados em qualquer guerra naval assimétrica contra a 5ª Frota dos EUA.
O próprio Pentágono já comprovou, em simulações, que uma guerra no Golfo Persa seria desastrosa para os EUA. Exemplo disso é a operação “Millennium Challenge 2002” (MC02), simulação de guerra no Golfo Persa, feita entre 24/7/2002 e 15/8/2002, cuja preparação consumiu quase dois anos. Essa manobra naval gigante foi das maiores e mais caras jamais organizadas pelo Pentágono. “Millennium Challenge 2002” foi criada pouco depois de o Pentágono decidir que poderia fazer avançar a guerra no Afeganistão se atacasse Iraque, Somália, Sudão, Líbia, Líbano e Síria, recolhendo, ao final, como grande prêmio, o Irã – numa ampla campanha militar que daria aos EUA a primazia no milênio que se iniciava.
Depois de terminada a operação “Millennium Challenge 2002”, a operação foi oficialmente apresentada como simulação de guerra contra o Iraque de Saddam Hussein. De fato, sempre se tratou do Irã. [5] Os EUA já tinham as avaliações necessárias para a invasão do Iraque, por EUA e Grã-Bretanha, que aconteceria pouco depois. E, detalhe importante, o Iraque jamais teve força naval que exigisse empenho total da Marinha dos EUA.
A Operação “Millennium Challenge 2002” foi, sim, simulação de guerra contra o Irã (na simulação chamado de “Red” [Vermelho] e apresentado como estado “bandido” [orig. “rogue”] do Oriente Médio no Golfo Persa). Só o Irã tem todas as características de território e forças militares apresentadas como de “Red” – dos botes-patrulha armados com mísseis até as unidades de motociclistas. Aquela simulação monstro foi feita porque Washington planejava atacar o Irã imediatamente depois de invadir o Iraque em 2003. (…)
Não há qualquer dúvida entre os especialistas de que o formidável poder naval dos EUA resulta muito reduzido, pela geografia e pelas capacidades militares dos iranianos, no caso de combate no Golfo Persa e, de fato, em grandes partes também do Golfo de Omã. Longe de águas abertas, como no Oceano Índico ou no Oceano Pacífico, os EUA teriam de combater sob condições extremas, sem a garantia de suficiente tempo de resposta e, mais importante, ficarão impedidos de combater de distância (considerada militarmente) segura. Setores inteiros das defesas navais dos EUA, concebidos para combates navais em águas abertas e grandes distâncias entre os combatentes, são absolutamente imprestáveis nas condições de combate no Golfo Persa.
REDUZIR A IMPORTÂNCIA DO ESTREITO DE ORMUZ, PARA ENFRAQUECER O IRÃ?
O mundo inteiro sabe da importância do Estreito de Ormuz. E Washington e seus aliados sabem perfeitamente que os iranianos podem fechar militarmente o estreito por período significativo de tempo. Essa é a razão pela qual os EUA estão trabalhando com países do Conselho de Cooperação do Golfo – Arábia Saudita, Qatar, Bahrain, Kuwait, Omã e Emirados Árabes Unidos – para alterar o trajeto de oleodutos que evitem o Estreito de Ormuz e levem o petróleo do CCG diretamente ao Oceano Índico, Mar Vermelho e Mar Mediterrâneo. Washington também tem pressionado o Iraque para que busque vias alternativas em conversações com a Turquia, a Jordânia e a Arábia Saudita.
Esse projeto estratégico interessa muito também a Israel e à Turquia. Ancara tem mantido discussões com o Qatar sobre a instalação de um oleoduto que chegaria à Turquia através do Iraque. O governo turco tentou que o Iraque se interessasse por ligar os campos de petróleo do sul e do norte a rotas de trânsito que atravessariam a Turquia. É o projeto dos turcos, que se vêem, no futuro, como corredor e importante elo de trânsito e ligação de energia.
Se o petróleo puder ser “desviado”, de modo a não ter de passar pelo Golfo Persa, ter-se-á removido importante elemento de vantagem estratégica a favor do Irã e contra Washington e seus aliados (removendo-se, ao mesmo tempo, parte considerável da importância do Estreito de Ormuz. Esse “desvio” do petróleo pode bem ser considerado exigência importante, em qualquer preparação dos EUA para guerra contra o Irã. Sem isso, pode-se dizer que os EUA não farão guerra ao Irã.
Nesse contexto, inscrevem-se os oleodutos "Abu Dhabi Crude Oil Pipeline” ou “Hashan-Fujairah Oil Pipeline”, projeto patrocinado pelos Emirados Árabes Unidos e que dispensaria rota marítima pelo Golfo Persa e o Estreito de Ormuz. O projeto foi concluído em 2006, o contrato assinado em 2007 e a construção começou em 2008. [8] Esse oleoduto liga diretamente Abdu Dhabi ao porto de Fujairah no litoral do Golfo de Omã, no Mar da Arábia. Em outras palavras, levará o petróleo exportado pelos Emirados Árabes Unidos diretamente ao Oceano Índico. Foi apresentado oficialmente como meio para garantir segurança energética, evitando Ormuz (e tentando evitar também o exército iraniano). Além do oleoduto, o projeto prevê, também, a construção de um reservatório para armazenamento de petróleo em Fujairah – que está previsto para manter o fluxo de petróleo para o mercado internacional, no caso de o Golfo Persa ser fechado. [9]
Além do oleoduto “Petroline” (oleoduto saudita, leste-oeste), a Arábia Saudita também procura rotas alternativas, examinando portos vizinhos na costa sul, na Península Arábica, em Omã e no Iêmen. O porto de Mukalla, no Iêmen, no litoral do Golfo de Aden tem atraído especial atenção de Riad. Em 2007, fontes israelenses informaram, com algum alarde, que começava a ser projetado um oleoduto que ligaria os campos de petróleo sauditas aos portos de Fujairah nos Emirados Árabes, Muscat em Omã e Mukalla no Iêmen. A reabertura do “Oleoduto Iraque-Arábia Saudita” [orig. Iraq-Saudi Arabia Pipeline (IPSA)] – o qual, por ironia, foi construído por Saddam Hussein, que tentava escapar também do Estreito de Ormuz e do Irã – também foi discutida entre sauditas e governo do Iraque em Bagdá.
Se Síria e Líbano fossem convertidos em estados-clientes de Washington, seria possível ressuscitar o falecido oleoduto “Trans-Arabian” (Tapline), além de outras rotas que vão da Península Arábica à costa do Mediterrâneo pelo Levante. Cronologicamente, esse projeto explica os esforços de Washington para derrubar os governos de Síria e Líbano, tentando isolar o Irã, antes de os EUA atacarem diretamente Teerã.
Os exercícios navais da Marinha do Irã, “Operação Velayat-90”, que se realizaram em área bem próxima da entrada do Mar Vermelho no Golfo de Aden, fora de águas territoriais do Iêmen, também se estenderam pela parte do Golfo de Omã frente ao litoral de Omã e litoral leste dos Emirados Árabes Unidos. Dentre outras coisas, a operação “Velayat-90“ deve ser interpretada como sinal de que Teerã está preparada para operar também fora do Golfo Persa; e que pode bombardear ou bloquear também os oleodutos que tentam ‘desviar’ do Estreito de Ormuz.
Também nesse caso, a geografia joga a favor do Irã. As rotas ditas “alternativas”, porque evitam o Estreito de Ormuz, nem por isso alteram o fato de que a maioria dos campos de petróleo dos países que integram o “Conselho de Cooperação do Golfo” localiza-se no Golfo Persa ou em áreas próximas do litoral – o que implica que são alcançáveis pelos mísseis de longa distância dos iranianos. Como no caso do “oleoduto Hashan-Fujairah”, os iranianos podem facilmente interromper o fluxo de petróleo, pode-se dizer, na origem. Teerã, sem dúvida, deslocaria forças de terra, mar e ar, além dos mísseis, e forças anfíbias para todas essas áreas. De fato, o Irã nem precisa fechar o Estreito de Ormuz; os iranianos, de fato, têm ameaçado bloquear o fluxo de petróleo (o que não precisa ser feito, necessariamente, com bloqueio do Estreito de Ormuz).
AOS EUA SÓ RESTOU GUERRA FRIA, NA DISPUTA CONTRA O IRÃ
Washington está em ofensiva contra o Irã, usando todos os meios ao seu alcance. As tensões em torno do Estreito de Ormuz e do Golfo Persa são apenas um dos fronts de uma muito perigosa guerra fria regional, de muitos fronts no Oriente Médio expandido, entre Teerã e Washington. Desde 2001, o Pentágono está em processo de reestruturação para “guerras não convencionais”, pensando em inimigos como o Irã [10]. Mas a geografia sempre operou contra o Pentágono e os EUA – e é o que explica que ainda não tenham encontrado solução para o dilema naval no Golfo Persa. Sem poder recorrer à guerra convencional, os EUA tiveram de recorrer, no caso do Irã, à guerra de espionagem, guerra econômica e guerra diplomática.”
NOTAS DO AUTOR
[1] 4/1/2012, Xinhuanet, “Foreign Warships Will Need Iran’s Permission to Pass through Strait of Hormuz”.
[2] 4/1/2012, Fars News Agency, “Iran Warns US against Sending Back Aircraft Carrier to Persian Gulf” January 4, 2011.
[3] 4/1/2012, Reuters, Parisa Hafezi, “Iran threatens U.S Navy as sanctions hit economy”.
[4] Fariborz Haghshenass, “Iran’s Asymmetric Naval Warfare” Policy Focus, no.87 (Washington, D.C.: Washington Institute for Near Eastern Policy, September 2010). Livro para download.
[5] 6/9/2002, Julian Borger, “Wake-up call” - The Guardian.
[8] 12/6/2011, Himendra Mohan Kumar, “Fujairah poised to be become oil export hub” Gulf News.
[9] Ibid.
[10] John Arquilla, “The New Rules of War” Foreign Policy, 178 (March-April, 2010): pp. 60-67.”
FONTE: escrito por Mahdi Darius Nazemroaya. Transcrito no blog “Outras Palavras” e no portal “Vermelho” (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=173074&id_secao=9)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
4 comentários:
A nação Islâmica do Irã é a antiga Pérsia, um dos povos mais antigos do planeta, um povo que nasceu guerreando e, que vai morrer guerreando. A Líbia é o grande exemplo atual. O engraçado nisso tudo é que o Irã é que é o "Estado Terrorista" definido pelos que se dizem "porta-vozes" do mundo...
"Somente aqueles que nunca deram um tiro, nem ouviram os gritos e os gemidos dos feridos, é que clamam por sangue, vingança e mais desolação. A guerra é o inferno."
(General William Tecumseh Sherman)
- - - - -
Lendo o texto de Mahdi Darius Nazemroaya logo lembramos de Sun Tzu e um dos 9 elementos estratégicos : o "terreno", o palco da guerra, o "teatro". Se em Hanói, Cabul e Bagdá os terroristas foram derrotados vergonhosamente, em Teerã vai ser cômico!!
- - - - -
Sun Tzu e a Arte dos Negócios
Há 2500 um guerreiro e filósofo chinês chamado Sun-Tzu capturou a essência de sua experiência em um livro denominado A Arte da Guerra.
As idéias de Sun Tzu influenciaram muitos líderes do oriente como Mao Tse Tung cuja obra, a Guerra de Guerrilha, é baseada em Sun Tzu. Outro exemplo foi Ho Chi Minh que traduziu a obra para seus comandantes vietnamitas. Um estudo de caso clássico do uso dos ensinamentos foi no conflito no Vietnam (1965-1975) onde os vietcongs venceram os Estados Unidos adotando as idéias do Mestre. Depois da derrota americana, o livro tornou-se leitura obrigatória em todas as academias militares americanas.
A primeira vista, A Arte da Guerra é um livro sobre luta. Entretanto, a grande visão proposta pelo próprio Sun Tzu é que "A suprema habilidade é vencer sem guerrear".
Na essência de seus ensinamentos estão estratégias para uma efetiva resolução de conflitos, e que podem ser bem ilustradas pelo jogo do GO e do Xadrez. No xadrez o objetivo é destruir os recursos do oponente e dar cheque-mate, uma palavra de origem persa, Kish Mat, que literalmente quer dizer ultimato, imobilização, ou seja, o rei está vencido. Já no jogo do GO, inventado na China há mais de 4.000 anos, o objetivo é capturar e manter a maior extensão de território com o mínimo de recursos.
Como ensinado por Sun Tzu, e da mesma forma que no jogo do GO, nos negócios, deve-se tentar conquistar o máximo de mercado com o mínimo de investimento e não destruir o competidor ou sua própria empresa em uma competição predatória. O segredo do sucesso em toda arena competitiva é encontrar um caminho vencedor onde o conflito é eliminado.
Três princípios básicos se destacam e unificam a filosofia de Sun Tzu:
Se você conheçe o seu oponente e a si mesmo em cem batalhas você nunca correrá perigo;
Vencer cem batalhas não é o auge da excelência mas sim subjugar o inimigo sem lutar;
Evite as forças e ataque as fraquezas;
O livro pode ser interpretado como uma abordagem estruturada aos negócios onde o campo de batalha é o mercado. Na guerra como no mundo dos negócios existe uma competição em que a verdadeira e mais importante batalha é travada na dimensão das idéias, estruturadas através de um plano estratégico. Não se vence guerras vencendo batalhas. As batalhas são meios para um fim. Meios para a realização de estratégias. Conforme dito por Sun Tzu:
É mais importante ser mais inteligente que o inimigo e não mais poderoso;
Na guerra, apenas a superioridade numérica não oferece nenhuma vantagem. Não avance contando apenas com o poderio militar;
O comandante inteligente avalia tanto as vantagens como desvantagens;
Uma avaliação do problema, conflito ou questão é uma parte crítica de toda a sua filosofia para garantir que o exército só entre em uma guerra que possa ganhar. Entrar em uma guerra que não se pode ganhar é um desperdício de tempo e de recursos. A abordagem de Sun Tzu é de se alcançar a vitória com o mínimo de esforço, o mínimo de conflito e o máximo de eficiência operacional. Para isso é necessário “coragem, iniciativa, confiança e momentum“, estados da mente que desaparecem quando não existe clareza nos objetivos a serem alcançados:
Aquele que sabe unir todos os seus comandados com o mesmo propósito será o vitorioso;
Um exército confuso leva à vitória do oponente;
Quanto melhor nosso conhecimento de uma questão melhor serão nossas decisões. Para isso, precisamos estabelecer fontes de informações que nos permita avaliar toda e qualquer situação. Este tópico é tão importante que Sun Tzu dedica o primeiro capítulo à analise de informações e o último ao uso de espiões para coleta das mesmas.
Ainda, a formulação do plano deve estar cercada de segredo. Uma vez o plano posto em ação, táticas de engodo devem ser aplicadas para que o oponente não perceba suas reais intenções.
O que permite a todo comandante conquistar o oponente em todas as iniciativas e alcançar sucesso extraordinário é conhecimento prévio;
Todo comandante capaz de obter agentes inteligentes, como espiões, realizará grandes conquistas; isto é fundamental para a movimentação das tropas;
Que os seus planos sejam impenetráveis como a noite. Depois, ataque como um raio;
Em uma batalha use um ataque direto para combater e um indireto para vencer;
Uma questão importante abordada pelo livro e completamente aplicável aos negócios é a necessidade de se conhecer a si e ao outro:
Se você conhece a si mesmo e o oponente não precisará temer o resultado de cem batalhas;
Se conhece o oponente e não a si mesmo vencerá uma e perderá outra batalha;
Se não conhece nem o oponente nem a si mesmo, está fadado ao fracasso em todas as batalhas;
Os ensinamentos do Mestre enfatizam também a importância da integração da equipe além do conhecimento do oponente para que possamos avaliar nossas forças, fraquezas, oportunidades e ameaças.
Assim como a água determina o seu curso de acordo com o terreno, um exército alcança a vitória de acordo com o posicionamento do oponente;
A Arte da Guerra continua a ter relevância no mundo moderno apesar da sua antiguidade. A genialidade desta obra é sua transcendência do tempo, do espaço e da própria guerra. Sua visão de que “A suprema habilidade é vencer sem guerrear“ é corroborada por várias afirmações tais como:
A guerra é uma questão de vital importância para o Estado. Uma questão de vida ou morte, de sobrevivência ou ruina;
Os zangados podem ficar novamente felizes mas os mortos não podem ser trazidos de volta;
A estratégia da Arte da Guerra de Sun Tzu apresenta 9 elementos estratégicos (cinco relativos ao posicionamento e quatro relacionados com as ações e capacitações para avançar o posicionamento) e pode ser sumarizada em duas questões:
Qual é a sua posição estratégica ?
Como avançar esta posição ?
Os cinco primeiros elementos relacionados com o posicionamento foram assim descritos por Sun Tzu:
Para uma guerra ser bem sucedida existem 5 fatores fundamentais: o caminho, a liderança, o clima, o terreno, o método e disciplina;
(1) o caminho representa o direcionamento para um determinado objetivo estratégico, com unidade de propósito em todos os níveis.
(2) a liderança é aquela que aglutina todos os níveis.
(3) o clima representa o dia, o tempo, as estações, o “quando” de todo posicionamento. Ou seja, as mudanças ao nosso redor que fornecem oportunidades para avançar nossa posição;
(4) o terreno, dá a localização do problema, questão ou oportunidade. Clima e terreno fornecem o quando e o onde do nosso posicionamento;
(5) o método e disciplina é o sistema através do qual todos os esforços são gerenciados. Liderança e método são conceitos opostos mas complementares. A liderança é a dimensão das idéias criativas enquanto o método é a dimensão da execução. Líderes tomam decisões, método e disciplina executam as decisões.
Até que ultrapassemos o oponente nestes cinco elementos, não será possível avançarmos em nosso posicionamento que é composto de quatro elementos:
(1) o conhecimento para identificar novas oportunidades;
(2) a visão de onde se quer chegar;
(3) a movimentação para que se aproveite as oportunidades;
(4) o posicionamento, novo, de onde poderá ser feito um outro avanço.
Estratégia é o meio pelo qual os objetivos são consciente e sistematicamente perseguidos e alcançados ao longo do tempo. A palavra estratégia, de origem grega, é oriunda de “stratos”, exército, e “ago”, liderando/guiando. Ou seja, estratégia significava liderar o exército.
Hoje, à semelhança do passado, estratégia é um processo de preparação futura de forma consciente e racional. Conforme dito por Sun Tzu,
Qualquer um pode observar as táticas que utilizo para conquistar mas o que nenhum deles pode ver é a estratégia de onde a vitória evoluiu.
http://realizandoprojetos.blogspot.com/2011/01/sun-tzu-e-arte-dos-negocios.html
- - - - -
Para quem gosta do assunto, dos inúmeros livros eu sugiro a leitura de:
Miyamoto Musashi, o "Livro dos Cinco Anéis"
Nicolau Maquiavel, a "Arte da Guerra" e "o príncipe"
Gore Vidal, “Criação”
Probus,
Bem lembrados esses conceitos de Sun Tzu. "Arte da Guerra" permanece atual. Não me parece que os guerreiros norte-americanos tenham aprendido seus ensinamentos mais do que os oriundos dos persas.
Maria Tereza
Postar um comentário