Esse assunto me foi despertado pelos anúncios de grande queda, ontem, na Bolsa de Valores de São Paulo. O portal “JB Online” de hoje, seção “Invest News”, publica:
“ÍNDICE DESPENCA 5,01% COM PETROBRÁS E VALE”
“São Paulo, 19 de março de 2008 - Os papéis da Vale, Petrobras e de empresas siderúrgicas puxaram a forte perda da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) nesta quarta-feira. A queda se dá em função da desvalorização das ‘commodities’ no mercado internacional. A bolsa paulista encerrou o dia com declínio de 5,01%, aos 58.827 pontos. Analistas acreditam que seja importante não perder o suporte de 58.500 pontos para não ampliar o movimento de perdas. O giro financeiro somou R$ 6,86 bilhões.”
O “Blog do Nassif”, do jornalista e economista Luis Nassif, publicou hoje um esclarecedor artigo, escrito de maneira didática e coloquial para leigos, que facilita a melhor compreensão das incertezas e dos reflexos da crise econômico-financeira norte-americana nos outros países, especialmente no Brasil. Achei oportuno reproduzi-lo:
“PONTO DE EBULIÇÃO”
“Entenda o que está ocorrendo.
1. Há uma imensa massa de capital especulativo circulando no mundo. Através de recursos de alavancagem (endividamento) de derivativos (que permite apostar apenas no diferencial de cotação) e de operações estruturadas, sua capacidade ampliou-se desmedidamente. A conseqüência foi uma redução das taxas de juros internacionais e um aumento exponencial dos preços dos ativos.
2. Quando o dólar começou a despencar, esse capital financeiro procurou portos seguros onde se abrigar. O real foi uma mamata, com a liberdade total de fluxo, taxas de juros altíssimas e ganhos em cima da apreciação da moeda. Outros portos seguros foram as ‘commodities’.
3. À medida que se ampliou a crise americana, com o “subprime”, o Federal Reserve aumentou fortemente a liquidez da economia para impedir a recessão. Mais dinheiro colocado à disposição dos investidores e menos oportunidades de investimento nos Estados Unidos, por conta da recessão.
4. Esse dinheiro saiu correndo para commodities, provocando o fenômeno do “overshooting” (radicalização do movimento pendular). Mas sempre através da interligação de mercados e das chamadas operações estruturadas (misturando vários ativos, visando minimizar o risco).
5. Quando a crise bateu em bancos, em bancos de investimentos e em fundos, essas posições estruturadas começaram a se desmanchar. Toda a gordura especulativa das commodities começou a ser devolvida. A tendência é haver um “overshooting” para baixo.
6. Agora, tem-se esse capital em uma lagoa profunda tentando pular de tronco em tronco para se sustentar – e sem saber o que é tronco de árvore, o que são costas de jacaré. Aí mora o perigo. Abriu-se a porteira e a manada está prestes a estourar.
7. Sem a defesa das commodities, esses recursos tendem a se abrigar em moedas – Real, Euro e Yuan. Dependendo da intensidade, ocorrerá uma apreciação adicional nas três moedas. O Banco Central Europeu (BCE) já está sob pressão por ter permitido a valorização do irou até agora – o que tem trazido impactos negativos na economia européia. O governo chinês não quer perder o controle da sua moeda. O governo brasileiro, finalmente – através do Ministério da Fazenda – acenou com a possibilidade de começar a combater essa invasão apache.
8. Em circunstâncias normais, a economia mundial recuperaria o equilíbrio através de movimentos já disparados. A redução dos preços das commodities reduziria as pressões inflacionárias, permitindo ao BCE e ao Banco da China amainar as restrições monetárias. A economia americana se recuperaria, puxando novamente a demanda mundial. Acontece que o fator tempo é essencial.
9. O desafio é como se vai da situação atual para a nova situação de equilíbrio. Cada corcovear dos mercados deixa mortos e feridos pelo caminho. O desmonte de suas posições, por sua vez, traz pressões adicionais sobre os mercados atingidos e sobre mercados ainda não afetados. A famosa coordenação entre bancos centrais – a mais sofisticada peça do capitalismo financeiro – entrou em processo entrópico. Os bancos estão paralisados entre o medo da inflação e o da recessão. Ao mesmo tempo, decisões do FED afetam a posição do BCE e do Banco da China e vice-versa.
10. E, por aqui, o Banco Central continua com um olho na inflação e o outro olho tapado.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário