sábado, 22 de março de 2008

FATOS MUITO ESTRANHOS NA GUERRA DOS EUA CONTRA O AFEGANISTÃO

CONTINUAÇÃO DA SÉRIE “O BRASIL E AS GUERRAS MAIS RECENTES DOS EUA”

RETROSPECTIVA

Até este momento, foram postados os seguintes artigos:

1) “Risco de guerras na América do Sul”, em 3 de março;

2) “Os EUA e a mídia” e “O terror atômico suavizado na mídia”, de 11 de março;

3) “O terror no Panamá por ‘justa causa’”, de 12 de março;

4) “Ataques dos EUA contra Granada, Somália, Sudão e outros”. Também foram lembrados os ataques ao Haiti, em 1994 e em 2003, bem como os ataques ao Afeganistão e ao Paquistão na noite de 20/08/2008; postado em 15 de março;

5) “A primeira guerra dos EUA contra o Iraque, em 1991”; artigo postado em 17 de março;

6) “A segunda guerra contra o Iraque”, postado em 19 de março, no 5º aniversário daquela guerra;

Hoje, continuaremos com:

A GUERRA DOS EUA CONTRA O AFEGANISTÃO

Já era conjecturado pela imprensa, nos EUA e no exterior, muito antes do ataque terrorista de 11/09/2001 às torres gêmeas de Nova Iorque, que o Afeganistão seria invadido por tropas norte-americanas em futuro próximo.

O PETRÓLEO

Um dos motivos desse ataque prenunciado foi o fato de a região da Ásia Central abrangida pelos países Azerbaijão, Cazaquistão, Usbequistão e Turcomenistão ter sido identificada como possuindo reservas de petróleo e gás maiores que as do Golfo Pérsico.

Os EUA já haviam ajudado, com interesse na área, o regime Taleban e Osama Bin-Laden a combaterem a União Soviética no Afeganistão, país vizinho àquela rica região petrolífera e caminho natural para o melhor escoamento da futura produção petrolífera.

O Afeganistão é importantíssimo como solução geográfica mais barata para o transporte daquelas riquezas. Será muito menos custoso passar oleodutos e gasodutos por seu território, até o porto na área marítima do Paquistão junto ao Oriente Médio, do que a solução manifestada pelos russos, de estendê-los até o Mar Negro.

Segundo a imprensa, vários grupos dos EUA (Chevron, Conoco, Texaco, Mobil Oil e Unocal) já estavam na década de noventa com negociações e investimentos adiantados no Afeganistão para aquela exploração.

O regime afegão Taleban, todavia, veio a se negar a autorizar a passagem pelo Afeganistão do oleoduto e do gasoduto, os quais já estavam iniciados pela empresa norte-americana Unocal. Essa negação causou a interrupção da obra em 1998. Naquele ano, em 20/08/1998, de surpresa, à noite, os EUA atacaram com mísseis de cruzeiro e aviões uma região daquele país “suspeita de abrigar possíveis terroristas”. Esse ataque já foi mencionado no artigo desta série “Ataques dos EUA contra Granada, Somália, Sudão e outros” de 15 de março.

Desde então, volta e meia surgiam artigos em jornais e revistas, em várias partes do mundo, abordando novo e iminente ataque militar dos EUA ao Afeganistão. Talvez, o ataque terrorista de 11/09/2001 em Nova Iorque tenha sido o valioso e oportuno pretexto para aquela esperada e planejada ação militar norte-americana.

COISAS MUITO ESTRANHAS - O NARCOTRÁFICO

Nem tudo, no entanto, era assim facilmente previsível ou imaginável. Sempre achei que havia no ar coisas muito estranhas, incoerentes. Muitas delas até hoje perduram ou se repetem. E ainda não as compreendo.

Por exemplo: o regime Taleban baniu do Afeganistão o cultivo do ópio, do qual é extraída a heroína. A produção caiu a zero em julho de 2001, dois meses antes do atentado às torres gêmeas de Nova Iorque. O comércio mundial daquele produto, que somente nos EUA move mais de dois bilhões de dólares por ano, ficou arrasado, com preços disparando, inviabilizando a sua comercialização e causando o desespero dos seus comerciantes e dos consumidores, principalmente norte-americanos. Em 2008, o comércio de narcotráfico (heroína e outros) movimenta 1,75 trilhões de euros no mundo.

Alguns meses depois da invasão norte-americana, na caça ao terrorista Bin Laden, os EUA devastaram com poder impressionante o Afeganistão, com milhões de toneladas de bombas e mísseis moderníssimos. Até o seu subsolo, suas cavernas, suas montanhas foram explodidos por novas e poderosas bombas que tudo esfarinhavam como um grande terremoto.

Aquele país atacado, cujos progresso e infra-estrutura o assemelhavam ao interior do Piauí, e o seu centro comercial era semelhante a uma feira livre da periferia de Caruaru, foi completamente destroçado, com dezenas de milhares de civis afegãos mortos. Até hoje, está totalmente ocupado pelas numerosas, modernas e poderosíssimas Forças Armadas dos EUA e de seus aliados.

Contudo, o surpreendente e incompreensível para mim é o Afeganistão, mesmo policiado palmo a palmo por forças que se entitulam com o nobre direito de combater o terror e o narcotráfico no mundo, ter rapidamente recuperado, e gigantescamente aumentado, a lavoura, a produção e a exportação do ópio, hoje já respondendo por quase 100% da produção mundial. Os preços e o suprimento da heroína já baixaram e estão normalizados nos EUA e nos demais grandes mercados consumidores.

Fico perplexo, nada entendendo.

Apenas para exemplificar esse incongruente quadro, relembro trechos de um artigo da BBC Brasil, de 03/09/2006, que trata desse surpreendente e exponencial crescimento da produção de papoula, ópio e heroína após a invasão norte-americana:

“CULTIVO DE ÓPIO NO AFEGANISTÃO AUMENTA 59% NO ANO” (2006)

“O cultivo de papoulas no Afeganistão - matéria-prima para a produção de ópio - deverá aumentar em 59% neste ano, representando 92% da produção mundial da droga, de acordo com as Nações Unidas.”

(...) “O narcotráfico no Afeganistão, estimado em US$ 2,7 bilhões, responde por cerca de um terço da economia do país.” (atualização deste blog: em 2008, 57% do PIB afegão provém da heroína (UOL Mídia Gobal, 02/04/2008).

GOVERNO DÉBIL

Das 34 províncias do país, em apenas seis não há produção de ópio, afirma a agência.
O aumento do cultivo de papoulas ocorreu ainda no nordeste do país, o que é atribuído à presença de comandantes de milícias e a um governo débil, disse o relatório.

"A opinião pública está cada vez mais frustrada com o fato de que o cultivo de ópio no Afeganistão está fora de controle".

Isso foi em 2006. Em 2007 foi pior:

Vejamos outro artigo, da Folha Online, há um ano, em 05/03/2007:

“ONU RELATA AUMENTO DO TRÁFICO DE ÓPIO NO AFEGANISTÃO” (2007)

“O cultivo de papoula --matéria prima do ópio-- no Afeganistão poderá se expandir em 2007 após uma safra recorde em 2006, afirmou nesta sexta-feira a agência da ONU que investiga drogas. O relatório da ONU destaca o fracasso de uma iniciativa internacional que luta contra o tráfico de narcóticos crescente no país.

A Agência para Drogas e Crimes da ONU (Undoc) prevê um aumento da papoula em um círculo de Províncias afegãs, inclusive Helmand, no sul, onde há a mais extensa área de cultivo no país.”

(...) "A pesquisa deste inverno sugere que o cultivo de ópio no Afeganistão em 2007 poderá superar a colheita recorde de 165 mil hectares em 2006", afirmou o diretor executivo da UNODC”.

CULTIVO

(...) Segundo a ONU, o cultivo de papoula ocorre em 100% dos vilarejos visitados na Província de Helmand e em 93% das vilas da Província vizinha de Candahar (ex-bastião do Taleban).”

POLÍTICA

(...) “Para os críticos, elementos corruptos no governo do Afeganistão e nas forças de segurança locais estão envolvidos no tráfico de ópio e não vão permitir a organização de uma operação séria para acabar com o cultivo da droga.

O relatório da ONU também apontou para uma "nova e perturbadora tendência" no cultivo de drogas afegão --o crescimento dos campos de cannabis (usada na fabricação da maconha).”

Muito estranho...

Nenhum comentário:

Postar um comentário