Essa conclusão, irônica certamente, veio-me à cabeça ao observar hoje o “Bom Dia Brasil” da TV Globo.
O comentarista Alexandre Garcia fez um impressionante exercício de contorcionismo, de virada ao avesso, para lançar sub-repticiamente um surpreendente conceito.
Expressou que o governo brasileiro está retaliando espanhóis (que querem entrar no Brasil fora das condições legais) porque quer vingar o ataque que o seu aliado Hugo Chávez sofreu do Rei de Espanha Juan Carlos I, com o orgásmico (para a mídia) “Por qué no te callas?”.
Disse Alexandre Garcia:
“Nitidamente, o que se vê no caso dos turistas espanhóis deportados é uma represália, a aplicação do princípio da reciprocidade. Mas há outras saídas para o mal-estar.
O interessante é que isso não acontece com a Inglaterra, que no ano passado deportou cinco mil brasileiros, dois mil paquistaneses e dois mil nigerianos. Nós somos campeões, embora sejamos uma das comunidades minoritárias na Inglaterra.
A Espanha deportou três mil. No entanto, a reação não é a mesma. Certamente, não é porque não foi a rainha da Inglaterra que mandou Chávez se calar.”
Essa palavras de Alexandre Garcia me recordam a paixão arrebatadora por Juan Carlos I, que acometeu muitos jornalistas. Será ela decorrente de ser ele um chefe de estado não eleito, que “herdou” do Rei Afonso XIII o poder vitalício e foi proclamado rei em 1975 após a morte do anterior Chefe de Estado, Francisco Franco?
Esse longuíssimo mandato “herdado” teria um charme especial para a grande mídia brasileira?
Essa minha suspeita ficou ainda mais forte ao ler hoje o seguinte, no blog "Grupo Beatrice":
"Nossa elite branca, que tanto se incomoda com o continuísmo de Chávez, não vê problema no fato de Uribe querer mudar a regra do jogo para disputar o terceiro mandato".
Palavras essas do ex-governador paulista Cláudio Lembo (DEM), apontando diferença de parâmetros na avaliação dos presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e da Colômbia, Álvaro Uribe.
Flávio Aguiar (no blog do Azenha, no artigo “Remando contra o consenso de Washington”), já relatou essa distorção de tratamento da mídia, notória no recente acontecimento da invasão militar colombiana no Equador:
"Houve a cobertura parcial na 'grande imprensa', com vistas à demonização ou desqualificação dos presidentes Correa e Chávez, e a absolvição velada de Uribe, ainda que se condenasse em quase todos os veículos a invasão de um território soberano, que foi o do Equador. Embora condenada, a agressão de Uribe era invariavelmente apresentada como 'defesa', diante de uma Farc já demonizada desde sempre".
È evidente o carinho especial da grande mídia em relação ao presidente colombiano Uribe, que persegue e está prestes a conseguir o terceiro mandato consecutivo, bem como ao mandatário vitalício (por direito divino?) Juan Carlos I.
Por isso, veio-me a dúvida: será que a grande mídia brasileira prefere mandatos muito longos ou vitalícios?
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