quinta-feira, 13 de março de 2008

O CRESCIMENTO DO PIB E O DESESPERO DA MÍDIA

O blog Cidadania, de Eduardo Guimarães, publicou há pouco um muito bom artigo sobre o desespero da mídia brasileira em face dos sucessos recentemente alcançados pelo Brasil, especialmente na economia. Transcrevo:

"O GLOBO SURTOU"

"Matéria de primeira página do jornal O Globo de hoje tenta manter viva a decrépita cantilena sobre baixa taxa de crescimento brasileiro mesmo diante do anúncio da maior taxa de crescimento do Produto Interno Bruto do país em cerca de duas décadas.

Essa é uma daquelas notícias produzidas exclusivamente para quem não entende nada, nem ao menos o mínimo, de economia. Mistura alhos com bugalhos, ao opor um aumento extremamente alto - para os padrões brasileiros - da economia a uma alta da arrecadação tributária que fica no patamar do irrisório.

Segundo O Globo, o "PIB avança 5,4% mas carga tributária cresce mais ainda". A matéria relata que "estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário mostra que cada brasileiro pagou, em média, R$ 4.943 em impostos, tributos e contribuições para as três esferas de governo", quando, no ano anterior, "o valor era de R$ 4.379, o que produziu um aumento real (descontada a inflação) de 7,2%.

A matéria ainda trata do crescimento do PIB em 2007 de forma negativa. Segundo o jornal, "ainda" somos a 10ª economia do mundo, e somos o "lanterninha" entre os Brics, grupo dos maiores países "emergentes" - quais sejam, Brasil, Rússia, Índia e China - que tiveram, todos, taxas de crescimento maiores do que a nossa. Para arrematar, o jornal lembra que crescemos menos do que Venezuela ou Argentina.

Fica complicada a situação do leitor totalmente leigo em economia. Apesar de estar percebendo que há mais empregos e negócios no país, que há mais atividade econômica, a pessoa "descobre" que poderia haver muito mais negócios. A mídia vende uma hipótese, de que o mundo vive uma era de ouro e o Brasil não está "aproveitando".

Além disso, a reportagem tenta vender a teoria - apesar de que reportagens não deveriam vender nada; deveriam apenas informar - de que a "carga tributária aumentou". Não aumentou nada. O jornal confunde carga tributária com arrecadação. E não se refere só à arrecadação federal, mas a das três esferas de governo (federal, estadual e municipal). Carga tributária é alíquota, percentual, não arrecadação percapita.

Subiu a arrecadação? Por que foi? Simples: maior fiscalização contra sonegação e maior atividade econômica. Por isso o 1,8 ponto percentual que cresceu a arrecadação a mais do que o aumento do PIB.

Sobre o crescimento dos Brics, e de países com realidade mais próxima da nossa, tais como Argentina e Venezuela, e sobre o nosso crescimento não ser o que poderia, tudo isso é uma enorme balela.

Primeiro, que o Brasil está crescendo com inflação controlada, à diferença da maioria dos países mencionados. Aliás, nos países latino-americanos mencionados pelo Globo, a inflação já ameaça explodir e é justamente por conta do crescimento vistoso. Mas países como uma Venezuela, montada em petróleo, com o barril deste a mais de cem dólares, até podem crescer a essas taxas, porque importam tudo.

O Brasil não tem uma indústria capacitada a prover uma demanda que aumente mais do que está aumentando. Não dá para o País crescer mais porque geraria risco de desabastecimento e teria-se que recorrer a importações, que poderiam diminuir drasticamente o superávit das contas externas.

Vou lhes contar uma coisa: quando vejo esses jornais pedindo maior crescimento do que o atual e redução "corajosa" dos juros, chego a pensar que essa gente quer ver o circo pegar fogo...

Comentava esse assunto agora há pouco, por telefone, com uma das jornalistas mais premiadas do Brasil na área de Saúde - e que não gosta de "aparecer". Ela me dizia, literalmente, que o jornalismo brasileiro "acabou". Eu prefiro pensar que está renascendo, com a morte lenta do jornalismo apodrecido e mercenário e a ascensão de profissionais menos incensados e, portanto, menos arrogantes, mais humanos, que se disponham a fazer jornalismo em vez de política.

De qualquer maneira, às vezes tenho a impressão de que a mídia está indo ao desespero com o sucesso do governo federal e de que isso acaba lhe provocando surtos como esse que acometeu O Globo hoje."

4 comentários:

  1. Seu blog é muito bom,Sergio Telles.Nosso pessoal precisa de alguém que destrinche oe temas econômicos.
    Ficarei,daqui em diante,escarafunchando e divulgando seu blog.
    Um abraço!
    Marco Aurelio(MSM)

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  2. Prezado Marco Aurélio,
    Agradeço a visita e os elogios. São um grande incentivo.
    Um detalhe: o blog do Sergio Telles é outro. Muito bom e útil. Sempre o visito.(ver "recomendados", na coluna da direita)
    Obrigado
    Maria Tereza

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  3. Um lugar inesperado para ver um elogio, hehehe ele deve ter vindo até aqui via o link lá do meu blog. Aqui é realmente muito bom.

    Eu vou comentar sobre esse texto lá no Cidadania.com, eu passei por uma banca hoje e me irritei profundamente com essa manchete. Tem sempre que ter um "mas". Então era melhor nem falar no assunto, duma vez. Ficava mais elegante.

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  4. Prezado Sergio Telles,
    Quanto ao "mas" sempre presente na mídia, sugiro ler um artigo que postei em 23/01/2008 com o título: "Gramática na mídia: excesso de gerundismos e de conjunções adversativas".
    Maria Tereza

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