Texto extraído da revista Carta Capital que chegou às bancas neste fim de semana. Elaborado por Mino Carta.
“A mídia nativa empenhou-se a fundo para transformar o dossiê dos gastos presidenciais de Fernando Henrique Cardoso e família na principal preocupação da opinião pública. As razões do esforço concentrado, conduzido como de hábito em perfeita sintonia entre os diversos órgãos midiáticos, saltam à percepção até do mundo mineral. Colocar sob suspeição o governo e lançar torpedos preventivos contra uma eventual candidatura da ministra Dilma Rousseff à Presidência da República.
O dossiê tornou-se assunto candente e freqüentadíssimo. E eis que o senador Álvaro Dias, tucano emérito, surge em cena de abrupto e arca com o papel de estraga-prazeres. Não é que lhe falte talento para desempenhá-lo a contento, mas colheu a mídia no contrapé. Se foi uma das aves emplumadas da política verde-amarela responsável pelo vazamento em lugar de assessores da ministra, quando não ela própria, tanto empenho foi em vão.
Difícil para os patrões da mídia e seu exército de sabujos admitir o passo em falso.
Difícil? Impossível, por razões orgânicas. Como Mussolini, os jornalistas nativos jamais se enganam. Na quinta 3, os jornalões ofereciam o enésimo exemplo de como a imprensa sabe portar-se em ocasiões como esta para levar na conversa seus leitores.
O Estadão e O Globo noticiam a entrada de Álvaro Dias na ribalta com títulos mínimos na primeira página, a Folha nem chega a tanto. Em páginas internas, todos informam que o senador nega ter sido o autor do vazamento. Ocorre que, no fim da tarde do dia 2, o próprio admitia sua responsabilidade.
Em compensação, é comovedor o denodo com que se aplicam para não perder a parada. O jornal global avisa que “a mãe do PAC está na berlinda”, em lugar do tucanato.
A Folha oferece espaço a quem acusa a ministra da Casa Civil de ser “a galinha cacarejadora do governo” e a compara nada mais, nada menos, a Joseph Goebbels, ministro da propaganda de Hitler.
O Estadão descobre, com visível espanto crítico, que os governistas pretendem aproveitar-se da situação e partir para o contra-ataque. Será que deveriam ficar na defensiva?”
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