RETROSPECTIVA DA SÉRIE
Até hoje, foram postados os seguintes artigos:
1) “Risco de guerras na América do Sul”, em 3 de março;
2) “Os EUA e a mídia” e “O terror atômico suavizado na mídia”, em 11 de março;
3) “O terror no Panamá por ‘justa causa’”, em 12 de março;
4) “Ataques dos EUA contra Granada, Somália, Sudão e outros”. (também foram lembrados os ataques ao Haiti, em 1994 e em 2003, bem como os ataques ao Afeganistão e ao Paquistão na noite de 20/08/2008). Postado em 15 de março;
5) “A primeira guerra dos EUA contra o Iraque, em 1991”; artigo de 17 de março;
6) “A segunda guerra contra o Iraque”, postado em 19 de março, no 5º aniversário daquela guerra;
7) “Fatos muito estranhos na guerra dos EUA contra o Afeganistão”, publicado em 22 de março.
8) "As guerras ‘preventivas’ dos EUA na América do Sul”, em 30 de março;
9) "O cinismo global de Bush", em 01/04/2008;
10) “A mídia esconde: os brasileiros estão pagando muito caro pela guerra do Iraque", postado em 17 de abril; e
11) "O novo Iraque pode ser aqui”, publicado em 18 de abril;
12) “Julgamento do Tribunal Mundial sobre o Iraque”, postado em 21 de abril.
Hoje (24/05), continuaremos com o artigo “GUERRA NO IRAQUE JÁ CUSTOU 3 MIL BILHÕES DE DÓLARES (5 trilhões de reais)”
O jornal francês Le Monde, em texto de Caroline Fourest traduzido por Jean-Yves de Neufville, publicado ontem no portal UOL Mídia Global, faz uma ótima análise das conseqüências negativas da invasão norte-americana no Iraque.
Este blog transcreve o texto do Le Monde, acrescentando subtítulos entre colchetes, visando a facilitar a leitura:
NO IRAQUE, A GUERRA “SUBPRIME”
[CUSTO DA GUERRA: 3 TRILHÕES DE DÓLARES]
“Três trilhões de dólares (cerca de R$ 5 trilhões): este é o montante total do custo provável da guerra no Iraque, segundo Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de economia, e Linda Bilmes, professora de finanças públicas em Harvard.
Lançado recentemente nos Estados Unidos, o seu livro, intitulado "Uma guerra a 3 trilhões de dólares", acaba de ser publicado na França (editora Fayard). Os dois economistas levaram em conta não apenas as despesas oficiais, como também as despesas colaterais e ainda aquelas que foram ocultadas por meio de um orçamento previdencial, os seja, que calcula de antemão os efeitos macroeconômicos da guerra.
Entre outros, eles incluíram nos seus cálculos o que custarão os tratamentos dos antigos combatentes, as pensões por invalidez, os tratamentos dos indivíduos acometidos de distúrbios mentais e de stress pós-traumático, ou seja, problemas que atingem várias centenas de milhares de soldados americanos.
[IRAQUIANOS MORTOS NO IRAQUE]
Este cálculo pode parecer frio e cínico se comparado com o número de mortos, diretos e indiretos, que já são tão difíceis de quantificar. Mas esta incursão pela economia concreta era necessária para despertar a nossa epiderme adormecida pelos anúncios cotidianos de mortos no Iraque, uma prestação de contas que se tornou tão banal quanto a previsão do tempo.
"Como está o tempo, hoje no Iraque?"
- "Dez mortos num atentado".
- "Vejam só, a mesma quantidade de ontem... Contudo, eles haviam anunciado uma calmaria".
- "Pois é, nem sei o que lhe responder; mexeram com o clima e as estações deixaram de existir!"
Entre as razões que explicam este desregramento da epiderme, vale lembrar que os iraquianos que têm sido vítimas de atentados foram mortos por jihadistas (combatentes da "guerra santa" islâmica), e não pelos americanos. Entretanto, nem por isso a sua loucura redime a administração Bush do pecado original, o de ter invadido o Iraque sem refletir nas conseqüências disso. Esses danos colaterais são quantificáveis.
[A PRIVATIZAÇÃO DA GUERRA]
Vários dos fatores que contribuíram para a explosão dos custos da guerra terão, além de tudo, repercussões sobre o restante do mundo. O primeiro diz respeito à privatização do setor militar. Haveria neste exato momento no terreno iraquiano cerca de 100.000 contratados privados encarregados de garantir a segurança das atividades dos exércitos iraquiano e americano.
Não só estas agências de segurança custam muito caro para os contribuintes, como esta privatização do esforço militar também isenta de maiores responsabilidades os governos em guerra, além de abrir a porta para crimes em relação aos quais todos podem agora lavar as mãos; e de enriquecer mercenários super armados, o que, além de tudo, aumenta os riscos de instabilidade em nível mundial.
[EMPRÉSTIMOS PARA SUSTENTAR A GUERRA]
O outro fator agravante diz respeito ao modo de financiamento. No passado, as guerras eram financiadas por meio dos impostos, o que apresentava o mérito de fazer com que o seu peso fosse suportado pelas gerações que decidiam travá-las. E, portanto, de incentivar os cidadãos a quererem concluí-las o quanto antes. A administração Bush, por sua vez, optou por financiar a guerra por meio de empréstimos. Isto terá um alto custo em termos de juros bancários, mas contribui, mais uma vez, para retirar responsabilidades das costas dos que empreenderam esta guerra.
[MENTIRAS DO GOVERNO DOS EUA PARA OS PRÓPRIOS NORTE-AMERICANOS]
Decididamente, os americanos foram tratados como se fossem crianças. Mentiram para eles em relação à presença de armas de destruição maciça, e, daqui para frente, estão mentindo novamente a respeito dos custos da guerra - que a administração Bush continua avaliando em torno mais ou menos de US$ 800 bilhões (cerca de R$ 1,32 trilhão).
[SUBPRIMES]
Esta é a mesma técnica empregada com os "subprimes" (créditos hipotecários podres). Eles pensavam se vingar da Al Qaeda por meio de uma guerra-relâmpago. Eles se encontram agora com uma dívida que deverá ser reembolsada por várias gerações, um crédito sobre o qual pesam taxas de juros cujo montante irá variar de um mês para outro... E uma vez que a economia americana continua sendo a referência, todos nós pagaremos a conta, mesmo se nós éramos contra esta guerra.
[A ESCALADA DOS PREÇOS DO PETRÓLEO]
Isso porque o mais recente capítulo inflacionário desta revanche diz respeito, obviamente, à explosão das cotações do petróleo. Alguns paranóicos pensavam que a administração Bush era maquiavélica o suficiente para invadir o Iraque com o objetivo de garantir o seu abastecimento de "ouro negro" a baixo custo.
[LUCROS DA HALLIBURTON]
Mas ela não planejou nada tão sofisticado. Ainda assim, nada disso impediu que as companhias petroleiras privadas, tais como a Halliburton - e seus acionistas, entre os quais se inclui o vice-presidente Dick Cheney - obtivessem lucros polpudos com o conflito. O que levanta a questão das relações tão estreitas quanto duvidosas entre os meios econômicos capazes de faturarem lucros em função de uma guerra e o mundo político que tem todas as cartas nas mãos para desencadeá-la.
[A DERROCADA DO CRÉDITO MORAL DOS EUA]
Todas essas considerações não produziriam o mesmo efeito de consternação se esta guerra ao menos tivesse servido para alguma coisa. Ora, ela nada fez a não ser comprometer o crédito moral da América. Será que ainda podemos considerá-la como a maior potência democrática do mundo? Todos os poderes que tinham por efeitos de contrabalançar os principais poderes de decisão foram suprimidos um após o outro. A liberdade da imprensa não se mostrou capaz de questionar a mentira que esteve na origem da guerra. A Corte Suprema conta novos juízes que foram escolhidos pela administração Bush para fazerem vistas grossas em relação a Guantánamo.
Ora, como pode uma nação permitir-se dar lições de direitos humanos aos outros países quando ela mesma pratica a tortura? Ao passar por cima do parecer do Conselho de Segurança da ONU para conduzir uma guerra preventiva baseada numa intuição equivocada, os Estados Unidos não perderam apenas muito dinheiro, como eles também sujaram o seu uniforme de "policiais militares do mundo". Atolados e endividados, eles não estão mais em condições de intimidar Ahmadinejad no Irã ou Bachar Al-Assad na Síria.
[OS ISLÂMICOS SÃO OS VENCEDORES]
Isso para mencionar ainda os jihadistas e os extremistas islâmicos que passaram a dispor de um novo campo de treinamento a céu aberto. Nem a guerra no Afeganistão que nós estamos fadados a perder por causa da disseminação das nossas forças. Nem os militantes islâmicos políticos cujo proselitismo vai se ampliando. Os atentados de 11 de setembro de 2001 poderiam ter se tornado o túmulo do islamismo. Mas, ao responderem ao terrorismo por meio de uma guerra ilegítima e que mirou nos alvos errados, os Estados Unidos, acima de tudo ajudaram os islâmicos a fazer deste mundo uma grande vala comum."
Nenhum comentário:
Postar um comentário