Li a indicação de muito bom texto com esse título no blog do Nassif em 21/05. Foi escrito por Cristiano Romero (cristiano.romero@valor.com.br) no site www.valoronline.com.br/valoreconomico. Eu acrescentaria ao título o alerta: CUIDADO!
A grande preocupação deste blog surge quando, por trás desse bonito e elogioso texto que enche de orgulho e ufanismo muitos brasileiros sem malícia, vê-se que a raposa acha que certas galinhas são importantes para ela: Brasil, México, Cuba e Venezuela.
Atenção brasileiros!
Como se percebe no texto, estão explícitos nesse elogiado “aumento de importância do Brasil” os megacampos de petróleo descobertos pela Petrobras. Essa energia, segundo os norte-americanos, aproximará os EUA do Brasil. Acrescento: perigosamente para os brasileiros.
Transcrevo:
“Há pouco menos de oito anos, um grupo de brasilianistas, empresários e executivos americanos mandou uma carta ao recém-empossado presidente George W. Bush, recomendando que ele tratasse o Brasil como uma prioridade de seu governo. Por trás da sugestão, estava a preocupação de que, sem o "gigante do Atlântico Sul", não haveria Alca (Área de Livre Comércio das Américas), como, de fato, não houve. Agora, quando os Estados Unidos se preparam para eleger um novo presidente, a recomendação reaparece.
No primeiro caso, o "Council on Foreign Relations (CFR)", o centro independente de relações exteriores mais influente dos EUA, montou uma força-tarefa para estudar o Brasil e mostrar sua importância aos americanos. Agora, um novo grupo analisou não só o país, mas toda a América Latina (AL). Isto não significa que o Brasil tenha perdido importância relativa. Revela, na verdade, que houve algum avanço nas relações com os EUA nos últimos anos e, mais do que isso, mostra que o Brasil é percebido hoje de forma diferente.
Bush não colocou o país no topo de suas prioridades. Sua opção foi o México, mas as coisas não andaram bem depois dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. No tempo em que Bush conviveu com o presidente Fernando Henrique Cardoso, as relações foram frias e pouco produtivas, a não ser pela providencial ajuda americana num momento crítico - em 2002, o país recebeu do FMI, graças à intervenção do governo Bush, o terceiro pacote de socorro financeiro em quatro anos.
Com a ascensão de Lula, as relações mudaram para melhor. Pragmático, o presidente brasileiro criou uma relação direta com Bush, a contragosto de sua diplomacia, que optou por outras prioridades (América do Sul, diálogo Sul-Sul, África). Os principais avanços surgiram desse relacionamento: o lançamento de uma iniciativa conjunta na área de biocombustíveis e a criação do Fórum de CEOs, que reúne os presidentes dos dois países com representantes das 20 maiores empresas para tratar de questões objetivas, de interesse mútuo, como um acordo de bitributação.
No documento que resultou do trabalho da força-tarefa - "Relações EUA-América Latina: uma Nova Direção para uma Nova Realidade" -, os especialistas americanos, dentre eles, Donna Hrinak, ex-embaixadora no Brasil e arquiteta das boas relações entre Bush e Lula, afirmam que uma política externa para a AL não pode mais ser baseada na idéia de que os EUA são o ator mais influente na região. "Se houve uma era de hegemonia dos EUA na AL, ela acabou", sustenta o texto.
A força-tarefa diz que, em grande parte, essa mudança de perspectiva se deve às transformações, politicamente "históricas", promovidas pela própria AL. Regimes autoritários e ditaduras militares deram lugar a "vibrantes, embora imperfeitas, democracias" em quase todas as nações. Isto não quer dizer, ressalva o grupo, que a região tenha superado sua história política tumultuada ou feito o suficiente para resolver problemas como pobreza e desigualdade. Longe disso.
MUDA PARA MELHOR A PERCEPÇÃO DO PAÍS
[Melhor para quem?]
O texto do CFR menciona avanços tanto econômicos quanto sociais ocorridos em vários países e chama atenção para o fato de a imagem dos EUA ter sofrido forte deterioração na região. Para mudar isso, a força-tarefa sugere que Washington se engaje na AL, segundo os termos dos países da região, e dê atenção especial a quatro nações (nesta ordem): Brasil, México, Cuba e Venezuela.
É interessante ver como o Brasil está sendo percebido por formadores de opinião importantes dos EUA. Mesmo falando dos problemas - especialmente dos relacionados à segurança pública -, o país é tratado num patamar diferente daquele de oito anos atrás. O pano de fundo são as capacidades desenvolvidas na área energética - ironicamente, em 2001, quando o primeiro relatório do CFR foi feito, o Brasil sofria o tormento do apagão energético. "O Brasil é a quarta maior democracia e a nona maior economia do mundo. E se transformou num ator crescentemente importante não só na AL, mas também globalmente", diz o documento.
A força-tarefa deixa claro que, tendo se tornado auto-suficiente em petróleo e uma potência em biocombustíveis, o Brasil tem pela frente bela oportunidade de se tornar um grande fornecedor de energia para os EUA. Justifica-se: a AL é o fornecedor de petróleo historicamente mais confiável dos EUA - 30% das importações -, mas há problemas no horizonte.
Terceiro maior exportador de petróleo para o mercado americano, com 14% do total, a tendência do México é reduzir o suprimento. A demanda interna está aumentando, enquanto a produtividade da estatal Pemex está caindo e as reservas estão sendo reduzidas. Quarta maior fornecedora para os EUA, a Venezuela detém 6,6% das reservas comprovadas de petróleo, mas a eficiência e a produção da PDVSA estão em queda.
Já o Brasil tem aumentado a exploração graças à expertise da Petrobras e, diz a força-tarefa do CFR, às condições "amigáveis" oferecidas a investidores estrangeiros. O campo de Tupi - estimado entre cinco e oito bilhões de barris - pode colocar o país à frente do Canadá e do México em termos de reservas, atrás apenas da Venezuela no hemisfério. Há ainda descobertas não-medidas. "Já em grande parte auto-suficiente em energia, um aumento nas exportações brasileiras de petróleo pode beneficiar, de forma significativa, não só o Brasil, mas também os EUA" destaca o documento.
A força-tarefa do CFR recomenda a construção de um "Pacto de Biocombustíveis" entre os dois países para encorajar o desenvolvimento de energia alternativa na AL. Para tanto, ela sugere a derrubada, nos EUA, de desestímulos à produção e ao comércio desses produtos e a criação de incentivos para que os distribuidores de gasolina, também no mercado americano, aumentem a disponibilidade de biocombustíveis.
A mudança de percepção dos americanos reflete não só os avanços do Brasil nos últimos anos, mas também uma necessidade americana: a segurança energética. Isso beneficia o país. Resta ao governo brasileiro se posicionar de forma madura, buscando ter com os EUA uma relação estreita e pragmática.”
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