A revista Carta Capital desta semana, distribuída sexta-feira (02/05), traz um interessante texto de Mino Carta. Analisa se a “grande mídia” brasileira atua como um partido da imprensa golpista - PIG, como apelidou Paulo Henrique Amorim, ou como uma facção, uma parte da minoria privilegiada - PMP.
Reproduzo a seguir o texto de Mino Carta:
“NOSSA MÍDIA É DE PARTE”
“Jornalistas na contramão e politólogos desabridos acreditam que a mídia brasileira atue como partido político. Permito-me discordar, a despeito do meu apreço por quem não hesita em expor o facciosismo, a hipocrisia e a má qualidade do jornalismo nativo.
Onde estaria o modelo? Qual seria o partido que no Brasil não passou e não passa de clube recreativo? Em anos ainda verdes, imaginei que um partido de esquerda, autêntico e genuíno como agremiação política voltada para o interesse da maioria, representaria um avanço para o País, fator de progresso.
Creio que este partido poderia ter surgido caso o golpe de 1964 não interrompesse brutalmente um processo então apenas esboçado. Da industrialização em andamento, com resultados notáveis em São Paulo e outros pontos do mapa, surgiria um proletariado (perdoem os vocábulos vetustos) habilitado a votar à esquerda com a consciência da urgência da escolha e a força determinante de pretender as benesses burguesas.
Os donos do poder perceberam a ameaça, por mais distante, e convocaram seus arautos midiáticos a invocar o golpe-já. Com a inestimável colaboração de Tio Sam, os gendarmes de farda verde-oliva executaram o serviço sujo. Em nome de certa marcha da subversão que alguns iludidos esperam até hoje e, quem sabe, nunca verão passar.
Nascido à sombra da ditadura e do propósito de Golbery do Couto e Silva de estilhaçar com sua “reforma partidária” a oposição concentrada no MDB, o Partido dos Trabalhadores por mais de duas décadas teve a aparência de partido na acepção correta. Apesar dos esforços de alguns dos seus líderes, no governo portou-se como os demais.
Graúdos representantes da chamada “grande imprensa”, grande não se sabe por que, debateram a respeito de temas que lhes são caros na Câmara dos Deputados, na moldura da III Conferência Legislativa sobre Liberdade de Imprensa. Terça-feira, 29. Nada escapou às obviedades de sempre.
A maioria dos debatedores de sobrenomes imponentes – Mesquita, Frias, Marinho, Civita e Sirotsky – repudiou qualquer lei destinada a regulamentar a profissão jornalística e concordou quanto ao fato de que crimes de imprensa têm é de ser enquadrados nas leis Penal e Civil.
A tese é correta, na opinião de CartaCapital. Falta, porém, de nossa parte, confiança em uma Justiça que abriga magistrados dispostos a absolver caluniadores, porque a calúnia seria do seu estilo. Em compensação, o Congresso que hospedou os senhores da mídia sempre cuidou tempo adentro de agir em proveito deles.
Caberia ao Parlamento, isto sim, aprovar uma lei capaz de limitar o alcance desses barões, que abarca todas as manifestações da comunicação, como não se dá em países democráticos e civilizados. Mas que fazer no Brasil elevado pela Standard & Poor’s à glória dos altares do deus Mercado, singular país onde os parlamentares são donos de jornais, rádios e tevês?
Vimos, de todo modo, que os patrões da mídia, um dos rostos mais nítidos do poder, esquecem antipatias e até rancores recíprocos na hora de sustentar o privilégio.
Donde, a conclusão: a nossa é mídia de parte em lugar de partido, transcende a ideologia, cuida apenas de defender seus valores medievais. Primitivos, primários, aqueles da lei do mais forte. Ou, por outra, o puro, exclusivo interesse da minoria.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário