domingo, 22 de junho de 2008

O VENDEDOR DO BRASIL

A edição da revista Carta Capital desta semana que inicia traz um artigo de Maria Helena Tachinardi que retrata bem o grande apoio do governo Lula para as exportações brasileiras, especialmente por parte da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e pelo Ministério das Relações Exteriores. O título da reportagem é o acima postado (O vendedor do Brasil).

Essa expressão usada por Carta Capital para o título da matéria lembra outra conotação pejorativa completamente diferente, adequada ao governo anterior, do PSDB/PFL-DEM. Naquela década, o Brasil teve grande parte do seu patrimônio público e privado vendido para estrangeiros. Em muitos casos, vendido por valores irrisórios e até com financiamento público brasileiro e sem exigir as garantias devidas. Naquele governo que se jactava de ser “neoliberal”, essa expressão: “FHC: O VENDEDOR DO BRASIL” cairia como uma luva e no sentido literal.

Voltemos para o texto a seguir, que tem título semelhante, mas seu significado é diverso, é positivo para o Brasil.

Reproduzo o artigo, colocando alguns dados em negrito visando a facilitar a leitura :

O vendedor do Brasil

“A estratégia de promoção comercial do governo Lula deu o primeiro empurrão em empresas rumo ao processo de internacionalização. Elas estão participando de feiras e rodadas de negócio durante e depois das viagens do presidente a países da América Latina, da África e da Ásia, organizadas pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e pelo Ministério das Relações Exteriores.

“É uma política orquestrada e liderada pelo presidente, que quer mais pragmatismo nas relações externas”, diz Alessandro Teixeira, presidente da agência. “O Itamaraty cuida da arquitetura do processo. A Apex faz projetos setoriais e gera informações estratégicas para missões comerciais, feiras e eventos promocionais”, explica.

Beneficiam-se dessas ações, por exemplo, algumas das 340 empresas da Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal) e a Phisalia Produtos de Beleza, de Osasco, que produz xampus e condicionadores infantis.

A Artecola, do Rio Grande do Sul, membro da Assintecal, está firme na rota da internacionalização. Tem parceria com a Forbo, grupo químico multinacional de origem suíça, com a Rhenoflex, empresa alemã líder na produção de couraças e contrafortes, e com a Protechnic, fabricante de origem francesa de adesivos em forma de filme. Segundo a Artecola, as parcerias dão bons resultados em aplicações como preparação, montagem, solados e saltos de sapatos.

Índia, Angola e Turquia estão com desempenho acima da média, diz Ilse Biason, superintendente da Assintecal. Para a Turquia, as empresas associadas exportaram nos quatro primeiros meses do ano 4,9 milhões de dólares, um crescimento de 118% sobre o mesmo período de 2007, o que mostra a boa fase mundial da indústria de calçados.

Para a Phisalia, empresa com 120 funcionários, a ação da Apex é eficaz porque ajuda a reduzir o custo de abrir mercados externos, diz o diretor-executivo Eduardo Amiralian. Em maio de 2007, a Phisalia participou do Encontro de Negócios Brasil-Portugal, mercado em que está presente com a linha feminina Joanita. “Nosso distribuidor optou por começar a venda em salões de cabeleireiros, e o produto foi bem-aceito. Essa é uma novidade”, comenta Amiralian. No Brasil, a empresa vende seus 40 produtos Trá Lá Lá, Joanita e Banho de Bebê em supermercados, perfumarias e farmácias.

A Apex e os diplomatas cumprem o que Lula determinou: “Onde tem alguém querendo comprar, o Brasil tem de estar lá para vender”. Na avaliação do governo, isso é o que tem contribuído para o Brasil aumentar as exportações a mercados não tradicionais. Uma estratégia de execução mais fácil do que as complexas negociações de acordos comerciais, que no governo Lula foram tímidas e produziram poucos resultados. Essa é a outra face da moeda, que desagrada às empresas do setor têxtil, para as quais mais importante do que a promoção comercial são os acordos para facilitar acesso a mercados, que implicam negociações para reduzir tarifas e outras barreiras.

É por isso que a Hering, a Petenatti, a Vicunha e a Santista Têxtil aproveitam as vantagens do Acordo de Livre Comércio Centro-Americano (Cafta-DR) para obter facilidade de acesso ao mercado americano.

Levantamento do Itamaraty relaciona as viagens de Lula com empresários ao aumento das exportações. De 2005 a 2007, os embarques aumentaram 112% para a Venezuela e 66% para a Colômbia. De 2004 até 2007, as vendas do Brasil cresceram 67% para o Chile e 34% para o Equador. Desde o início do seu governo, Lula levou 49 missões empresariais em suas visitas bilaterais aos países.

Entre 2003 e 2006, Lula foi à África nove vezes, acompanhado de homens de negócio. Pelas contas do Itamaraty, essas viagens alavancaram as exportações para o Egito, que tiveram uma expansão de 354%. Para a Síria e a Líbia, o aumento foi de 194% e 168%, respectivamente. Para Angola, as vendas da Assintecal somaram, em média, 918 mil dólares por mês, neste ano, em comparação a 375 mil dólares, em 2007, uma expansão de 144,8%.

“Somos competitivos no setor, pelas condições tecnológicas e adequação dos produtos”, explica Ilse Biason. O Brasil tem uma imagem consolidada no setor de calçados. Começou a exportar na década de 1970 e ocupou o terceiro lugar no ranking mundial, mas hoje é o quinto maior em exportações e o terceiro em produção. A China e o Vietnã ocuparam espaços do Brasil.

Com o apoio da Apex, a entidade promove a imagem do setor no exterior por meio da marca by Brasil. Segundo Ilse, “o Brasil tem instrumentos de promoção comercial adequados para aproveitar o atual momento, favorável às vendas de componentes para calçados no mundo”.

Portugal, Argentina e Venezuela são hoje mercados importantes para a Phisalia, que participou de feiras em Cuba e na Venezuela no âmbito do projeto com a Apex. “Nosso foco é a América Latina, mercados mais próximos e com menos barreiras”, comenta o diretor da empresa. “Na União Européia, cada país tem suas normas e isso representa uma dificuldade.”

O custo de ingressar no mercado externo não é o preço. No segmento de higiene pessoal, fixar a marca é o maior desafio. Na França, por exemplo, terra dos cosméticos, os investimentos são altos. Desenvolver uma marca na América Latina é mais rentável, diz Amiralian.

A estratégia de internacionalização da empresa busca encontrar distribuidores em cada um dos países onde as vendas são feitas no varejo. O objetivo é obter 10% de faturamento com as exportações em 2010, um crescimento exponencial, pois hoje as vendas externas representam apenas 1% da receita da Phisalia.

Para apoiar as empresas em seus primeiros passos rumo à internacionalização, a Apex está instalando centros de negócio. Alessandro Teixeira destaca o da Polônia, o dos Emirados Árabes e o de Portugal, locais onde as companhias têm uma base física para colocar seus produtos e se preparar para ingressar nos mercados. Até meados do ano, ele diz que a agência abrirá novos centros de distribuição na China e em Cuba.

Os tempos são outros. O que mudou em relação aos anos 1980 e 1990, quando os presidentes também visitavam os países em desenvolvimento acompanhados de empresários e as vendas brasileiras não experimentavam o boom dos últimos anos?

O crescimento econômico desses países ajuda a explicar o bom desempenho das exportações brasileiras. Da Índia à Venezuela, passando por Egito, Angola e África do Sul, as taxas de expansão situam-se acima de 6%.

Os preços elevados do petróleo inundam de divisas a Venezuela, Angola e os parceiros do Oriente Médio, o que favorece as exportações competitivas dos produtos brasileiros, principalmente alimentos, item que o País destina, hoje, para os países em desenvolvimento, volumes maiores do que para os mercados ricos.

Somam-se a isso a decisão firme das empresas brasileiras de não descontinuar as exportações, mesmo com um mercado interno mais aquecido, e a política do governo Lula para mercados não tradicionais, eleitos parceiros preferenciais.

Essa escolha define a quantidade de visitas do presidente e de seu ministro das Relações Exteriores. O chanceler Celso Amorim, em suas 13 viagens, de 2003 a 2007, também levou empresários. “Há um esforço conjunto na promoção de exportação. O Departamento de Promoção Comercial do Itamaraty também colabora com as missões dos ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento”, comenta um diplomata. Na China, em 2004, Lula levou 450 empresas. Em Xangai havia mil empresas, metade brasileiras.

O Itamaraty convida os empresários por meio da Brazil Trade Net (www.btn.gov.br).

Das missões oficiais têm participado empresas médias e grandes, entre elas Sadia, Grupo Bertin, Vale, Braskem, Petrobras, Copersucar, Infinity Bio-Energy, Maubisa Agricultura, Engevix, Grupo Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Odebrecht, Coimex Trading, Comexport e Marcopolo. “

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