domingo, 27 de julho de 2008

A CRISE DO PETRÓLEO E OS BIOCOMBUSTÍVEIS

A Folha de São Paulo publicou hoje um instrutivo artigo de Edison Lobão, senador da República pelo PMDB-MA (licenciado ) e ministro de Minas e Energia.

“É inaceitável que o Brasil tenha que defender sua política de biocombustíveis contra críticas acirradas e, por vezes, insanas

É preciso conter a escalada dos preços do petróleo. Essa foi a principal conclusão do fórum que, mês passado, reuniu em Jeddah, na Arábia Saudita, ministros de Energia, líderes e dirigentes das maiores companhias petrolíferas do mundo.
Por designação do presidente Lula, chefiei a delegação brasileira nesse encontro de emergência, no qual o Brasil foi reconhecido como player importante no mercado mundial.

Nos dois choques do petróleo, em 1973 e 1979, o Brasil sofreu o impacto da elevação dos preços, principalmente porque havia uma forte dependência, materializada na importação de 80% do óleo bruto então consumido no país.

A partir do novo patamar de preços e das necessidades de crescimento econômico e desenvolvimento industrial, o país adotou duas grandes estratégias para contornar a crise: investimentos para aumento da produção doméstica de petróleo e implementação do Proálcool, o maior e mais bem-sucedido programa de substituição de combustíveis derivados de petróleo do mundo.

Hoje, a matriz energética brasileira é a que conta com a maior participação de energias renováveis -um exemplo de sustentabilidade.

Segundo a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), os preços do petróleo podem alcançar, em breve, US$ 200 o barril, e muitos analistas acreditam que ele nunca mais será inferior a US$ 100.

Quais as conseqüências desse novo patamar? Para o Brasil, o grau de dependência é infinitamente inferior àquele verificado nas décadas de 1970 e 1980, o que nos permite afirmar que, com uma política energética adequada, poderemos enfrentar os desafios do futuro.

Mas, se os preços atuais se mantiverem, haverá recessão em muitos países por causa do impacto dos preços dos energéticos na economia, inclusive nos preços dos alimentos. Aumentará a necessidade de políticas de conservação de energia, de ampliação da fronteira de prospecção e aproveitamento das reservas existentes e, principalmente, da busca por fontes renováveis de energia. Esta é a mais poderosa arma no combate à escalada de preços das commodities agrícolas.

É impressionante e inaceitável que, nesse contexto, o Brasil tenha que defender sua política de produção e uso de biocombustíveis contra críticas acirradas e, por vezes, insanas, que se valem do conceito de sustentabilidade para esconder razões menos nobres. Sustentabilidade abrange aspectos sociais, econômicos e ambientais.

Quanto ao aspecto econômico, o Brasil é reconhecido como o produtor mais competitivo de biocombustíveis. O etanol da cana-de-açúcar compete com a gasolina em uma cadeia de preços livres de subsídios.

Na área social, o cultivo da cana-de-açúcar e de oleaginosas na produção de etanol e biodiesel contribui para a geração de empregos sustentados no campo. No caso do etanol, mais de 1 milhão de empregos diretos são gerados. No caso do biodiesel, mais de 100 mil famílias de pequenos agricultores participam do processo produtivo.

A questão ambiental é muito importante. Os biocombustíveis são instrumentos valiosos na redução da emissão de CO2 na atmosfera.

Se considerarmos o consumo dos combustíveis por veículos leves entre 1970 e 2007, constatamos que, com a utilização do álcool, tivemos uma economia efetiva acumulada de 854 milhões de barris equivalentes de petróleo, o que representa 15 meses da produção nacional de petróleo (1,9 milhão de barris/dia) ou, ainda, a cinco anos do consumo de combustíveis em veículos leves no Brasil.

Se incluirmos nesse cálculo o volume de etanol que substituiu a gasolina exportada pelo Brasil no período, considerando que a demanda energética foi suprida pelo etanol, teremos economizado quase 1,25 bilhão de barris equivalentes de petróleo.

Nesse período, a utilização do álcool como combustível, puro ou misturado à gasolina, evitou a emissão de 800 milhões de toneladas de CO2.

Na reunião de Jeddah, os líderes e os ministros de 36 nações concordaram que a transparência e a regulação dos mercados financeiros devem ser aprimoradas para frear a especulação financeira.

Resta agora reconhecer a importância dos biocombustíveis no processo de desenvolvimento de uma nova matriz energética sustentável para o mundo. Trata-se de fator estratégico que deve ser reconhecido não como antagônico à indústria do petróleo, mas como um elemento que agrega valor ambiental aos combustíveis fósseis, tornando-os menos danosos ao planeta. O Brasil está decidido a compartilhar sua expertise nesse campo e não fugirá ao desafio que as mudanças climáticas impõem.”

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