Li ontem no jornal “O Povo”, de Fortaleza-CE, com o título acima, um interessante artigo de Roberto Amaral - Diretor-Geral no Brasil da “Alcântara Cyclone Space”. O autor é ex-ministro da Ciência e Tecnologia.
“O primeiro satélite artificial, o Sputnik, inaugurou em 1957 a Era das Telecomunicações. Em 1961, Iuri Gagarin nos disse que a Terra é azul. E quando, em 1969, Neil Armstrong pisou na Lua, uns não acreditaram e outros comemoraram o fato como vitória do capitalismo no Fla-Flu da Guerra Fria. Questionavam alguns por que ir ao espaço, com tantos problemas aqui mesmo, na Terra. Nesses idos, completar uma ligação interurbana levava horas. A telecomunicação engatinhava. O mundo atual, então, era impensável.
Hoje, em todo lugar temos celulares, internet e meios que informam, em segundos, que um ciclone ameaça o litoral e que tropas avançam do outro lado do mundo. A vida é frenética e quem não detém informação perde a corrida do progresso. A disseminação da informação foi possível graças aos avanços que um dia pareceram extravagâncias.
A raiz dessa revolução é a invenção do satélite artificial, que mudou a co-relação de forças entre os povos. Quem domina a tecnologia de fabricar e lançar satélites é senhor e soberano. Controla desde sua meteorologia, até a segurança de suas fronteiras e matas. Fala e ouve o mundo. Implanta programas de educação e saúde à distância. Usufrui, enfim, de tudo o que o homem criou em milênios de evolução. Apenas oito países detêm a tecnologia de lançamentos. Nosso país quer e precisa entrar nesse clube.
No Brasil, temos o Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE), que inclui o desenvolvimento de satélites e o penoso desenvolvimento de um foguete (VLS), no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), que sofreu, desde o início, a falta de recursos e vontade política. Nos anos 80, ombreávamos com Índia e China em termos de tecnologia espacial. Hoje, esses países têm foguetes enquanto nós tentamos viabilizar a última oportunidade de ocupar um lugar ao sol na disputa do espaço. Sem foguete, dependemos de carona. O satélite CBERS, construído junto com a China, é lançado de sua base de lançamentos em Taiyuan, por foguete chinês.
A Alcântara Cyclone Space (ACS), parceria dos governos de Brasil e Ucrânia para lançar foguetes de Alcântara (MA), é vitória de todos nós. Nossos sócios vieram atrás das vantagens da região, que a dois graus do Equador barateia o lançamento ou aumenta a capacidade de carga em até 30%.
A tecnologia dos foguetes Cyclone é comprovada por 200 lançamentos bem-sucedidos. Para nós, representa acesso à disputa de boa fatia de um mercado internacional de US$3,7 bilhões/ano. Até 2016, estima-se que seja necessário lançar 401 satélites para renovar os que vão envelhecendo. Além de nos permitir transformar um município paupérrimo, habitado por uma população limitada à caça, pesca e agricultura familiar, no maior complexo espacial da América Latina, com a atração de fornecedores de equipamentos para os projetos dos sítios e investimentos de cerca de R$1 bilhão em infra-estrutura na região.
A parceria traz ainda oportunidade de incorporação de tecnologias sensíveis às quais não temos acesso. Queremos tecnologia, pois quem não é senhor de suas informações é vulnerável a interesses que nem sempre serão os seus. A ACS é projeto de Estado, ação de inclusão tecnológica de quem quer levar o país a novo patamar de desenvolvimento. O que buscamos, aqui, é dirigir nossa História.”
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