O jornal Folha de São Paulo de 28/08, em sua coluna “Tendências/Debates”, publicou um artigo de Carlos Ganem, economista, advogado e administrador de empresas, atual presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB).
Transcrevo:
“Chegar ao espaço é uma meta que será cumprida em um futuro próximo. Mas o Programa Espacial Brasileiro vai muito além disso.”
“Um programa espacial é muito mais do que fazer e lançar foguetes, satélites e veículos espaciais. É mais do que uma área física, onde se instalam radares, equipamentos de telemetria, meteorologia e torres de lançamento. É um objetivo que congrega os sonhos de conhecimento e domínio do espaço que está presente desde os primórdios da humanidade na sua atitude diante do universo.
Essa meta não é fácil de alcançar. A atividade espacial é complexa, exige planejamento, longo prazo de maturação e, ainda assim, é de alto risco. Grandes conquistas foram alcançadas por meio da atividade espacial. Atualmente, diminuímos as distâncias por meio das telecomunicações, que levam informação, saúde e educação a lugares de difícil acesso. Mapeamos com precisão o planeta, fazemos previsões meteorológicas cada vez mais acuradas...
Mas esse desenvolvimento cobra um preço. Não é por acaso que, com pouquíssimas exceções, praticamente todos os programas espaciais do mundo exibem um longo histórico de tristes ocorrências. E, no Brasil, esse desenvolvimento não foi diferente.
A última sexta-feira foi um dia triste para o Programa Espacial Brasileiro, em que lembramos dos 21 técnicos que há cinco anos perderam suas vidas no acidente ocorrido em Alcântara (MA), acreditando no sonho de garantir ao Brasil o acesso ao espaço. Em respeito à memória dos que se foram e sem desistir de proporcionar ao país a soberania e os benefícios advindos da tecnologia espacial é que precisamos continuar esse projeto.
Chegar ao espaço é uma meta que será cumprida em um futuro próximo. Em 2010, deverá ser lançado o primeiro protótipo de uma nova série de foguetes que está sendo desenvolvida no Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial (CTA), a do Veículo Lançador de Satélites (VLS). Nesse mesmo ano, deverá ser lançado pela Alcântara Cyclone Space (ACS), empresa binacional Brasil-Ucrânia, o primeiro foguete, Cyclone-4, a partir de Alcântara, abrindo-nos as portas para a exploração comercial das atividades espaciais.
Mas o Programa Espacial Brasileiro vai muito além disso. As atividades espaciais que serão desenvolvidas em Alcântara serão a base da criação de um pólo de desenvolvimento socioambiental, cultural, turístico, econômico e tecnológico que constituirá o Complexo Espacial de Alcântara (CEA). Isso permitirá a inclusão cidadã da vila de Alcântara e de toda a comunidade quilombola que vive em torno do projeto.
A plataforma multimissão, que está sendo desenvolvida pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e pela indústria nacional, será a base de diversos satélites que muito contribuirão para o conhecimento e o monitoramento do nosso território.
O satélite CBERS, desenvolvido em parceria com a China, já produziu 500 mil imagens de sensoriamento remoto que foram distribuídas gratuitamente via internet.
Atualmente, fabricamos foguetes de sondagem que estão entre os melhores existentes e permitem a realização de pesquisas e experimentos em ambientes de microgravidade por instituições de pesquisa brasileiras.
O AEB Escola, programa desenvolvido pela Agência Espacial Brasileira há dez anos, leva a milhares de estudantes o conhecimento e o estímulo para as atividades espaciais por meio de oficinas e formação continuada de professores. Do mesmo modo, realiza, anualmente, a Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica, que tem como objetivo despertar o interesse dos alunos do ensino médio e fundamental para a temática espacial, em parceria com a Sociedade Astronômica Brasileira.
É a maior garantia de que, no futuro, teremos essa ação de responsabilidade social, gerando mão-de-obra técnica e científica aplicada ao segmento espacial.
Ter um satélite geoestacionário brasileiro usado para fins meteorológicos, de comunicação e de defesa é um projeto que nos libertará de parte da dependência externa. Hoje, todos esses serviços são fornecidos por satélites estrangeiros.
O Programa Espacial Brasileiro está vivo, operante e com ações que o suportam e o estruturam. Sua afirmação estratégica para o Estado brasileiro é reconhecida como prioritária pelo presidente Lula.”
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