Li no site “Direto da Redação” o seguinte texto de Mair Pena Neto.
“A crise financeira americana é o fecho de “ouro” do governo de George W. Bush. Os americanos que levariam deste presidente a lembrança dos ataques de 11 de setembro, o envolvimento em duas guerras distantes de seu território e a impossibilidade de manter o financiamento de suas casas, ainda ganharam, na saída, a maior crise do capitalismo desde o crack de 1929.
Bush não foi o único responsável pela leviandade financeira de alavancar ganhos com papéis fictícios, mas foi ele que arrastou o neoliberalismo aos estertores, permitindo que a desregulamentação do mercado prosseguisse aos dias atuais até culminar no desastre anunciado que ameaça com ele o futuro da economia global.
Depois da crise dos anos 90, que atingiu Ásia, Rússia e América Latina, destruindo economias inteiras, como a da nossa vizinha Argentina, não faltaram avisos de que o modelo baseado no consenso de Washington havia fracassado. Embora muitos países o tenham abandonado, elegendo governantes comprometidos com outro modelo, os Estados Unidos, para não contrariar a ideologia que sempre pregaram, mantiveram os bancos de investimento livres, operando à vontade com papéis sobre papéis, sem nenhum lastro na economia real.
A crise do subprime, que deixou as hipotecas penduradas, foi o primeiro sinal no quintal dos EUA de que o barco estava à deriva, mas a falta de resolução possibilitou o agravamento da crise até a implosão de Lehman Brothers, Merril Lynch e cia, todos com excelentes ratings das agências de risco, outra invenção do capitalismo para justificar suas próprias aventuras.
Atordoado, como sempre, Bush mal falou da crise em seu discurso de saideira na Assembléia-Geral da ONU. Talvez envergonhado, gastou seu tempo falando mais uma vez de terrorismo, cuja ameaça chega a ser piada perto da recessão que pode se derivar da atual crise financeira.
Enquanto isso, o Tesouro americano e o FED tentam aprovar um pacote que salve financeiramente os bancos e volte a fazer circular o crédito. Henry Paulson, secretário do Tesouro, começou propondo apenas dar dinheiro aos responsáveis pela crise, mas diante da reação geral precisou avançar mais, transformando os bancos de investimento em bancos reais, com supervisão (até então inexistente) do FED.
Mesmo assim, os senadores norte-americanos reagiram ao socialismo dos prejuízos com o dinheiro do contribuinte e contrapropuseram que o governo passasse a deter ações das empresas que estão se livrando de ativos podres, além de estabelecerem mais regulamentações ao mercado.
Os democratas foram além e propuseram controle sobre os poderes do Tesouro e possibilidade de rever o resgate de 700 bilhões de dólares sob certas circunstâncias. O que parecia pecado nos anos 90 é evocado agora como salvação da lavoura. Que inspire novos tempos que podem ser simbolizados também com o adeus de Bush.”
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