terça-feira, 30 de setembro de 2008

O IMPORTANTE: A TERRA OU O SOL?

REPENSANDO A GRANDE REVOLUÇÃO

Li esse interessante artigo de MARCELO GLEISER na Folha de São Paulo de domingo. O autor é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro "A Harmonia do Mundo".

Copérnico não foi o único a propor o Sol como centro do cosmo

“Antes de mais nada, defino que grande revolução é essa. Não falo de Garibaldi, de Che Guevara, ou de Lênin. Para esta coluna, a grande revolução é a revolução copernicana, que, conforme conta o mito, ocorreu quando o polonês Nicolau Copérnico (1473-1543) "pôs" o Sol no centro do cosmo, mudando para sempre a história do conhecimento.
Ainda segundo o mito, antes de o sábio renascentista publicar o livro "Sobre as Revoluções das Esferas Celestes", ou seja, dos babilônios até 1543, todo mundo achava que a Terra era o centro de tudo e que o Sol, a Lua e os planetas giravam à sua volta.

Também se acredita que Copérnico tenha enfrentado uma grande resistência por parte da Igreja Católica. Tem gente que acha até que ele tenha sofrido nas mãos da Inquisição.

Não há dúvida de que a obra de Copérnico é extremamente importante na história da astronomia. Mas vale a pena revisitar certas asserções comumente feitas sobre a dita revolução, não só como esclarecimento, mas, também, pelo seu enorme interesse histórico e pedagógico.

A revolução copernicana não é obra apenas de Copérnico. Ela se deve principalmente aos trabalhos do grande astrônomo dinamarquês Tycho Brahe (1546-1601), do alemão Johannes Kepler (1571-1670) e do italiano Galileu Galilei (1564-1642). Podemos dizer que Copérnico plantou as sementes que foram gerar frutos devido à coragem e à dedicação desses três.

Copérnico também não foi o único a propor o Sol como centro do cosmo.

Mais de 15 séculos antes dele, e como ele mesmo afirma na dedicação de seu livro ao papa Paulo 3º, alguns filósofos gregos haviam proposto que a Terra girasse em torno de si mesma e que não fosse o centro das órbitas. Em particular, Aristarco de Samos (cerca de 300 a.C.) propôs um modelo essencialmente idêntico ao que seria proposto depois por Copérnico.

O fato de Copérnico ter dedicado seu livro ao papa mostra que não tinha nada a temer com relação à Igreja Católica. As maiores críticas ao heliocentrismo de Copérnico vieram de Martinho Lutero, que o acusou de paganismo. A igreja só irá adotar uma posição oficial contrária ao heliocentrismo em 1616, devido à insistência de Galileu (inspirado diretamente em Copérnico) de que a Bíblia não deve ser usada para estudar astronomia e que os teólogos que teimam em pôr a Terra no centro não entendem nem de astronomia nem de teologia. Numa época em que a Igreja Católica via a sua autoridade erodida pelas correntes protestantes, criticar o poder dos cardeais e dos bispos não era um boa política.

Mas era necessário.

Apesar de Copérnico ter publicado o seu livro em 1543, o primeiro a defender abertamente o heliocentrismo foi Kepler. Muita gente afirma que o monge italiano Giordano Bruno foi queimado na fogueira em 1600 pelo seu copernicanismo. Mesmo que ele defendesse as idéias de Copérnico, o seu maior problema com a Inquisição era de natureza teológica; ele duvidada da plausibilidade da Santíssima Trindade, da transmigração das almas e da virgindade de Maria.

Em 1597, Kepler publica o seu primeiro livro, onde toma o heliocentrismo como ponto de partida. Em 1609, usando os dados de Tycho Brahe, publica "Astronomia Nova", onde obtém as três leis do movimento planetário.

Na primeira delas, afirma que as órbitas planetárias são elipses e não círculos. Nesse mesmo ano, Galileu aponta o seu telescópio para os céus, mostrando que as idéias de Copérnico merecem ser levadas a sério. A partir daí, a grande revolução toma rumo, 66 anos após ter sido iniciada por Nicolau Copérnico. E o cosmo nunca mais foi o mesmo”.

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