“Cinco semanas depois da guerra no Cáucaso, os ânimos estão se voltando contra o presidente da Geórgia, Saakashvili. Alguns relatórios de inteligência ocidentais questionaram a versão dos fatos apresentada por Tbilisi, e agora há demandas dos dois lados do Atlântico para que seja feita investigação”
O jornal alemão “Der Spiegel” publicou domingo (li no UOL, em tradução de Eloise De Vylder)
(Transcrevo trechos)
(...) “Será que, para os americanos, a guerra no distante Cáucaso - lá longe no velho mundo - não é nada além de uma luta entre um país gigante e expansionista e uma nação pequena e democrática subjugada pelo primeiro? E a Geórgia não foi atacada meramente "porque quer ser livre", conforme diz o presidente Mikhail Saakashvili em frente às câmeras da CNN quase de hora em hora?
(...) Mas agora, cinco semanas depois do fim da guerra no Cáucaso, os ventos mudaram nos EUA. Até mesmo Washington está começando a suspeitar que Saakashvili, um amigo e aliado, pode na verdade ser um jogador - que iniciou uma guerra sangrenta de cinco dias e mentiu deslavadamente para o Ocidente. "As preocupações em relação à Rússia continuam", diz Paul Sandres, especialista em Rússia e diretor do conservador Nixon Center em Washington. Suas palavras refletem a idéia corrente no Ocidente de que o ato de vingança militar russa contra a minúscula nação do Cáucaso foi desproporcional, que Moscou violou a lei internacional ao reconhecer as repúblicas separatistas da Ossétia do Sul e Abkhazia e, finalmente, que usou a Geórgia como um veículo para demonstrar seu renascimento imperial.
Mas então Saunders explicou sua declaração: "Cada vez mais pessoas estão percebendo que há dois lados nesse conflito, e que a Geórgia não é exatamente uma vítima, mas sim um participante intencional." Membros do governo do presidente George W. Bush, também estão reconsiderando suas posições. A Geórgia "marchou para dentro da capital da Ossétia do Sul" depois de uma série de provocações, diz o secretário-assistente de Estado para Assuntos Europeus e Asiáticos, Daniel Fried.
Será que isso sugere que os pronunciamentos de solidariedade a Saakashvili por parte dos EUA foram tão prematuros quanto os dos europeus? O primeiro-ministro britânico Gordon Brown pediu uma revisão "radical" das relações com Moscou, o ministro das relações exteriores sueco Carl Bildt condenou o que chamou de uma violação da lei internacional, e a chanceler alemã Angela Merkel prometeu à Geórgia que, em tempo, o país se "tornaria um membro da Otan, se assim desejasse."
Mas agora o volume da retórica anti-Moscou está abaixando. Na semana passada, o ministro de relações exteriores Frank-Walter Steinmeier pediu um esclarecimento público sobre a questão da responsabilidade sobre a guerra no Cáucaso. "Precisamos saber quem foi responsável por o quê na investida militar e em que extensão", disse Steinmeier numa reunião de mais de 200 embaixadores alemães em Berlim. A União Européia, disse ele, precisa agora "definir suas relações com os envolvidos no conflito, a médio e longo prazo", e chegou a hora de obter informações concretas.
(...) A OFENSIVA CALCULADA DA GEÓRGIA
Uma coisa já estava clara para os oficiais do escritório central da Otan em Bruxelas: eles acreditavam que os georgianos haviam começado o conflito e que suas ações eram muito mais calculadas do que simplesmente uma defesa em resposta a uma provocação russa. De fato, os oficiais da Otan acreditavam que o ataque da Geórgia era uma ofensiva calculada contra as posições da Ossétia do Sul numa tentativa de criar os fatos, e trataram as trocas de fogo nos dias precedentes friamente, como eventos menores. De forma ainda mais clara, os oficiais da Otan acreditavam, naquele momento, que essas disputas não poderiam ser vistas de nenhuma forma como uma justificativa para os preparativos de guerra da Geórgia.
(...) Os detalhes que as agências de inteligência ocidentais extraíram de seus serviços de inteligência concordam com as interpretações da Otan.
De acordo com as informações de inteligência, os georgianos juntaram mais ou menos 12 mil soldados na fronteira com a Ossétia do Sul na manhã de 7 de agosto. Setenta e cinco tanques e aviões carregados com homens armados - um terço do arsenal militar da Geórgia - foi reunido próximo de Gori. O plano de Saakashvili, aparentemente, era avançar pelo túnel Roki numa guerra relâmpago de 15 horas e fechar o buraco de agulha entre as regiões norte e sul do Cáucaso, efetivamente cortando a ligação entre a Ossétia do Sul e a Rússia.
(...) As agências de inteligência concluíram que o exército russo não começou a atirar até as 7h30 da manhã de 8 de agosto, quando lançou um míssil SS-21 de curto alcance na cidade de Borzhomi, no sudoeste de Gori. O míssil aparentemente atingiu posições militares e esconderijos do governo. Aviões russos começaram seus primeiros ataques ao exército georgiano pouco tempo depois. Logo as transmissões de rádio foram ativadas, assim como o exército russo.
EUROPEUS PEDEM INVESTIGAÇÃO INTERNACIONAL
(...) Com a força de todos esses relatórios, ficou claro para os observadores ocidentais quem iniciou a situação explosiva na Ossétia do Sul. No calor da batalha, os analistas compreensivelmente levaram em conta o passado do conflito, que inclui anos de provocação russa em Tbilisi.
Mas agora é o momento para a União Européia investigar as razões por detrás da guerra. Moscou ficou perplexa com a recusa européia em condenar o ataque de Saakashvili em Tskhinvali e com a insistência em apontar o dedo para a Rússia. Os europeus aparentemente não têm "a coragem de enfrentar Washington e seus aliados em Tbilisi", reclamou um diplomata do ministério das relações exteriores russo.
(...) SAAKASHVILI JÁ ESTÁ MORTO POLITICAMENTE?
O presidente da Geórgia também está sob pressão em seu próprio país, à medida que se desfaz a frente unida que se formou durante a invasão russa. Aqueles que há tempos acusam Saakashvili e sua equipe de fazerem um "regime autoritário" estão se manifestando novamente. Em dezembro de 2007, Georgy Khaindrava, ex-ministro de resolução de conflitos que foi dispensado em 2006, disse à Spiegel que Saakashvili e seu círculo são pessoas "para quem o poder é tudo". Algumas semanas antes, Saakashvili havia enviado forças policiais especiais para Tbilisi, onde a oposição havia feito grandes manifestações e declarado estado de emergência. Na época, Khaindrava expressou a preocupação de que Saakashvili poderia logo tentar recuperar sua imagem enfraquecida com uma "guerra pequena e vitoriosa" - contra a Ossétia do Sul.
(...) Será que Saakashvili, que há apenas cinco semanas havia conquistado a simpatia do Ocidente como vítima de uma invasão russa, já está morto politicamente?”
é bem interessante.
ResponderExcluirVisite o meu blog.
Pois eu tenho um comentario feito hà semanas sobre essa peste.., o saakashvili.