sábado, 8 de novembro de 2008

CHINA E AMÉRICA LATINA SÃO PARCEIROS OU CONCORRENTES?

A agência alemã de notícias “Deutsch Welle” publicou ontem a seguinte notícia que li no portal UOL. Segundo a Wikipédia, a Deutsche Welle (DW) (português: Onda alemã) é uma empresa de radiodifusão da Alemanha, com sedes em Bonn e Berlim, que transmite para o exterior programas de rádio em 30 línguas, além de oferecer uma programação televisiva em quatro idiomas e um amplo portal de conteúdo on-line em 30 línguas. A Deutsche Welle é o equivalente alemão a redes de notícias como a inglesa BBC World.

Quem são os ganhadores e os perdedores nas relações comerciais entre a China e a América Latina?”

Em entrevista, economista alemão diz que a América Latina não tem nada a temer se investir maciçamente em capital humano.

QUEM TEM MEDO DOS PRODUTOS CHINESES?

Quem são os ganhadores e os perdedores nas relações comerciais entre a China e a América Latina? Em entrevista, economista alemão diz que a América Latina não tem nada a temer se investir maciçamente em capital humano”.

“Nos últimos anos, observou-se o rápido crescimento das relações econômicas entre a China e a América Latina. Se, por um lado, o boom inicial das exportações de matérias-primas ao Império do Meio muito alegrou os governos latino-americanos, por outro, a região passou a temer a invasão de produtos chineses e a desaceleração de suas exportações à China devido aos efeitos da crise financeira.

Sobre o tema, a Deutsche Welle entrevistou o especialista em América Latina e professor de Economia de Desenvolvimento da Universidade de Heidelberg, Hartmut Sangmeister, que a convite do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (Giga) de Hamburgo palestrou nesta semana sobre o tema "China e América Latina: parceiros comerciais ou rivais?".

DEUTSCHE WELLE: SUA PESQUISA A CONEXÃO CHINA: OS INTERESSES ECONÔMICOS CHINESES NA AMÉRICA LATINA FOI PUBLICADA EM SETEMBRO DE 2008, POUCO ANTES DA ECLOSÃO DA CRISE FINANCEIRA INTERNACIONAL. À LUZ DOS NOVOS ACONTECIMENTOS, QUE CONCLUSÕES OU PROGNÓSTICOS CORRIGIRIA?

SANGMEISTER: Brasil e Chile serão os mais afetados com arrefecimento da economia chinesa . Recentemente, passei três semanas na China e conversei com empresários e cientistas locais sobre como estavam sendo afetadas as perspectivas econômicas do país pela atual crise financeira. Chegamos à conclusão de que a China não poderá sustentar o atual grau de crescimento econômico e isso traz conseqüências de peso para seus parceiros comerciais na América Latina. Os setores ligados ao desenvolvimento de alta tecnologia para foguetes, satélites e a indústria da aviação não serão muito afetados, mas é um campo de pouca colaboração entre China e América Latina.

Os países que se verão, de imediato, mais afetados pela desaceleração da economia chinesa serão o Brasil e o Chile, exportadores de matéria-prima por excelência para os chineses.

ACEITANDO QUE A ATUAL CRISE FINANCEIRA QUE ASSOLA OS ESTADOS UNIDOS E A EUROPA LEVE A CHINA A VENDER SEUS PRODUTOS AINDA MAIS BARATOS PARA A AMÉRICA LATINA, QUE PAÍSES E SETORES PRODUTIVOS SERÃO MAIS AFETADOS PELA CONCORRÊNCIA CHINESA E COMO ELES PODERIAM PROTEGER SUAS RESPECTIVAS ECONOMIAS?

México, Guatemala e outros países centro-americanos teriam muito a perder com tal concorrência, pois produzem as mesmas mercadorias que a China: têxteis, sapatos, brinquedos, eletrodomésticos e outros objetos de baixa complexidade tecnológica. A indústria brasileira de sapatos também sofreria o baque da oferta maciça de produtos chineses se o governo não tivesse implementado uma política protecionista forte nesse setor.

Mas essa também não é uma medida sustentável para garantir a saúde da economia nacional. A história da economia mundial nos ensina que, a longo prazo, o protecionismo não faz sentido.

COMO OS PAÍSES LATINO-AMERICANOS PODEM COMPETIR EM IGUALDADE DE CONDIÇÕES COM A CHINA E OUTRAS POTÊNCIAS SEM IMPLEMENTAR CONDIÇÕES DE TRABALHO INUMANAS, PROCESSOS PRODUTIVOS DANOSOS AO MEIO-AMBIENTE OU PACOTES ECONÔMICOS QUE ELEVEM O ÍNDICE DE POBREZA?

Além do protecionismo ou da liberalização da economia, existe uma terceira opção: o investimento maciço na pesquisa científica, na capacidade inovadora e na educação.

Não somente no ensino universitário, mas sobretudo no fundamental e médio. Grande parte da população jovem da América Latina carece da educação mais fundamental e isso faz com que um potencial valioso para o desenvolvimento da região passe despercebido e seja desperdiçado.

Busca-se mão-de-obra barata e sem educação formal na China e na África porque o nível salarial na América Latina já está demasiado alto. A América Latina só poderá competir no mercado internacional quando investir maciçamente no capital humano que já tem, ou seja, quando preparar sua população para exercer atividades que agreguem alto valor à produção.

As sociedades latino-americanas têm uma vontade competitiva perante a China: seus cidadãos têm potencial para reflexão criativa e para o desenvolvimento de inovações.

Mas essa vantagem só pode ser aproveitada se o sistema educacional for otimizado.

EM SUA PALESTRA, O SENHOR FALOU QUE AS RELAÇÕES ECONÔMICAS ENTRE NAÇÕES NÃO GERAM, NECESSARIAMENTE, RECEITAS EQÜITATIVAS PARA AS PARTES ENVOLVIDAS. NO CASO DAS RELAÇÕES SINO-LATINO-AMERICANAS, QUAIS SÃO OS INTERCÂMBIOS COMERCIAIS MAIS PROVEITOSOS PARA AMBAS AS PARTES?

Aqueles em que as necessidades de ambas as partes melhor se complementam. As relações da China com o Brasil são muito boas. Quando se pergunta a um exportador chinês sobre a América Latina, é bem provável que ele só conheça o Brasil. Todos os demais pouco interessam porque o Brasil compra seus produtos acabados e lhes vende matérias-primas de vital importância.

O México e a maioria dos países centro-americanos produzem a mesma mercadoria que a China e entram em competição com esta, mas em posição desvantajosa. Eles são rivais no mercado internacional.

OS EUA TEMEM QUE SEU ABASTECIMENTO ENERGÉTICO SEJA AFETADO NEGATIVAMENTE DEVIDO À EXPORTAÇÃO DE RECURSOS ENERGÉTICOS DA AMÉRICA LATINA PARA A CHINA. QUE RAZÕES A EUROPA TERIA – EM ESPECIAL A ALEMANHA – PARA TEMER A CONEXÃO CHINA-AMÉRICA LATINA?

A Europa recebe matéria-prima da América Latina, mas muito poucos recursos energéticos e, por conseqüência, tem pouco a temer. O que os EUA temem é o namoro do governo venezuelano com o chinês, a intenção de enviar petróleo para o outro lado do Pacífico, a dureza do discurso antiamericano de Chávez e a disposição da China – mais retórica que de fato – de apoiar os países latino-americanos que desejam tornar-se economicamente independentes do big brother do norte.

Mas o envio de petróleo da Venezuela para a China é complicado e muito dispendioso do ponto de vista logístico e técnico. Além disso, a China investiu maciçamente numa cadeia de produção na África – desde a produção até o transporte, passando pelo processamento e pela infra-estrutura – para poder tirar dali grande parte de seus recursos energéticos.

PODE-SE DIZER QUE A AMÉRICA LATINA RECEBEU A CHINA DE BRAÇOS ABERTOS, MAS HÁ SETORES INFLUENTES QUE SEMPRE SUSTENTARAM UMA POSIÇÃO CRÍTICA PERANTE ESSE PAÍS, PRINCIPALMENTE EM MATÉRIA DE DIREITOS HUMANOS E ECOLOGIA...

Certamente nem todos os projetos de investimentos anunciados por empresas chinesas são levados a cabo. Os investidores chineses tiveram que aprender que as sociedades civis latino-americanas têm a vontade e a capacidade de recusar projetos que julguem desfavoráveis para seus interesses.

Por exemplo, protestos de ecologistas retardaram consideravelmente a construção de uma siderúrgica no estado brasileiro do Maranhão, avaliada em quase 4 bilhões de dólares. Sua inauguração estava prevista para 2005, mas seu planejamento foi retomado apenas em abril de 2007 após serem introduzidas as modificações inspiradas por esses protestos.”

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