O jornal norte-americano New Yok Times publicou ontem, com texto de Alexei Barrionuevo traduzido para o UOL por George El Khouri Andolfato, a seguinte notícia:
“O Grupo dos 20 ministros das finanças e banqueiros centrais se reuniu no fim de semana aqui para estabelecer a base para um encontro-chave de líderes mundiais em Washington, no sábado, para lidar com a crise financeira global.
Mas o encontro de três dias do G-20 também revelou um profundo anseio entre os países em desenvolvimento, incluindo o anfitrião, o Brasil, de ter uma maior voz nas decisões para tirar o mundo da crise.
Os países do G-20 disseram que trabalhariam juntos para apoiar o crescimento econômico e promover a estabilidade financeira, e elogiaram os países que agiram de forma "ousada e decisiva", como a China, que disse no domingo que investirá quatro trilhões de yuans, cerca de US$ 586 bilhões, em um plano de estímulo econômico. A declaração do G-20 disse que permanece uma volatilidade "considerável" nos mercados financeiros globais, mas seus membros continuariam a tomar "todas as medidas necessárias" para restaurar a estabilidade.
Apesar do espírito de cooperação no evento, também havia um ar de amargura. Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente do Brasil, e seu ministro da Fazenda, Guido Mantega, culparam os Estados Unidos e outros países desenvolvidos por espalharem os problemas financeiros para todos os cantos do planeta.
"Nenhum país está a salvo da crise financeira", disse Lula no discurso de abertura do evento, no sábado. "Todos estão sendo contagiados pelos problemas originados em países avançados."
Lula não tentava mais dizer que o Brasil, a maior economia da América Latina, estava imune à crise imobiliária e bancária que aflige os Estados Unidos, como fez nos primeiros dias da crise bancária, quando alegava que o contágio financeiro não cruzaria o oceano.
Em vez disso, Lula e Mantega buscaram reafirmar o papel do G-20 em discussões geralmente dominadas pelo Grupo das Sete economias avançadas -Alemanha, Canadá, França, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos. O G-20, formado após a crise financeira da Ásia no final dos anos 90, é compostos dos países do G-7 e 13 países em desenvolvimento.
Os 13 incluem os países "BRIC', um grupo dos países com desenvolvimento mais rápido do mundo -Brasil, Rússia, Índia e China- que buscam assegurar um papel maior na economia global.
A crise asiática forçou desvalorizações cambiais dolorosas no Brasil e na Argentina, que lançaram milhões de pessoas abaixo da linha de pobreza. Mas as autoridades do Brasil e de outros países em desenvolvimento destacaram que esta crise seria diferente, que desta vez os principais países em desenvolvimento teriam -e deveriam ter- um maior papel na, como colocou Lula, "mudança substantiva na arquitetura financeira mundial".
Os ministros financeiros dos países BRIC se reuniram aqui na sexta-feira, a primeira vez que se encontraram. A declaração deles destacou a "resistência significativa" exibida pelos países BRIC, a necessidade de "restaurar o acesso ao crédito pela economia real" e a importância de impedir o protecionismo diante da atual turbulência financeira.
"Este é um grupo de países que claramente exerce alguma influência na economia internacional", disse Robert B. Zoellick, o presidente do Banco Mundial, que aplaudiu a declaração dos BRIC. A perspectiva deles se tornarem parte da solução -e não do problema, como após a crise asiática- é "uma verdadeira oportunidade", ele disse. "Eu acho que acontecerá. Grande parte da discussão em torno da questão envolve como acontecerá."
Zoellick também disse que a declaração dos BRIC mostrou a necessidade do que chamou de "grupo de gestão" flexível de países, incluindo os países do BRIC e gigantes do petróleo como México e Arábia Saudita, que refletem melhor a atual economia global.
Dominique Strauss-Kahn, diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional, colocou de forma mais direta: a previsão econômica global para o próximo ano, ele disse, espera que todo o crescimento mundial venha dos países emergentes e de alguns países de baixa renda. "Logo, é justo olhar para este crescimento vindo dos países emergentes e tentar apoiá-lo, porque será o único crescimento que teremos", ele disse.
Como conseqüência, "a palavra dos países emergentes será maior do que em outras situações".
Para Lula, o encontro também serviu de chance para tocar em uma ferida ainda aberta. O presidente expressou abertamente seu amargor com a forma como a crise financeira afetou negativamente a maior prosperidade econômica vista na região em três décadas.
Os choques globais foram particularmente frustrantes para o Brasil, dado quanto o país reformou seu sistema financeiro, diversificou seu comércio e poupou sabiamente durante o boom mundial das commodities. Lula atacou Wall Street por seus "lucros excessivos" e notou com amargura como o Brasil seguiu as condições rígidas de empréstimo para reforma econômica exigidas por emprestadores multilaterais como o FMI, apenas para ver sua economia ameaçada pelos problemas financeiros dos países avançados que dominam o grupo.
"Nós todos reconhecemos que apesar de toda a conversa nos últimos seis a 12 meses sobre descolamento, que nossos países são muito interdependentes, tanto em termos de mercados de capital quanto na economia real", disse David H. McCormick, o subsecretário do Tesouro dos Estados Unidos para assuntos internacionais. "Logo, quando os Estados Unidos, a Europa ou grandes economias emergentes como a China desaceleram, isso traz implicações para todos os outros países."
Além da disputa por posição dentro das instituições financeiras multilaterais, os ministros das finanças e banqueiros centrais notaram em uma declaração que a desaceleração do crescimento econômico mundial e a queda nos preços das commodities reduziram as pressões inflacionárias, especialmente para os países desenvolvidos.
Os participantes das reuniões ressaltaram o desafio da tarefa que enfrentarão novamente em Washington. Trevor Manuel, o ministro das finanças da África do Sul, disse que o mundo enfrenta o desafio de atenuar o boom e colapso do ciclo de negócios. "Nós temos esta exuberância não regulamentada, liderada pelo setor financeiro, que levou a um aumento imenso nos preços das commodities", ele disse.
Zoellick notou "uma queda atordoante" no comércio mundial, que poderia resultar em 2009 no primeiro declínio global desde 1982. O arrocho de crédito está exercendo um papel tanto quanto a queda na demanda de produtos, ele disse.
O G-20, em seu comunicado, pediu por maior regulamentação, padrões de contabilidade e auditoria comuns a todos e a necessidade de explorar formas de restaurar o acesso ao crédito por países emergentes e em desenvolvimento. O grupo também pediu para o FMI aumentar suas capacidades de alerta antecipado, vigilância e aconselhamento.
Lula disse que o momento para um esforço concentrado nunca foi maior. "Esta não é a hora de nacionalismos estreitos, de soluções individuais."
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