O blog “Vi o Mundo”, do jornalista Luiz Carlos Azenha, anteontem publicou o seguinte texto:
“Não vou entrar no mérito da disputa comercial entre Brasil e Equador, que se tornou uma disputa diplomática.
Não tenho informações suficientes para opinar.
Li a referência a "yankees do Sul" na internet, no que me pareceu uma tentativa de brincar com o presidente do Equador, Rafael Correa, que estaria enxergando fantasmas.
Vou repetir o que já escrevi antes e que se perdeu em algum canto deste site: o Brasil e os brasileiros precisam se dar conta de que, justa ou injustamente, somos vistos na vizinhança como "yankees do Sul", mesmo.
Não é um problema apenas no Equador e não tem relação com tucanos ou petistas, direitistas ou esquerdistas.
Em Bogotá, numa mesa de restaurante, acompanhei de orelhada uma discussão sobre o "imperialismo brasileiro".
No Paraguai entrevistei gente visivelmente revoltada com a "invasão" de brasileiros, que controlam as melhores terras para o cultivo da soja. Da dona de um restaurante ouvi o lamento de que só é possível ouvir emissoras de rádio ou ver emissoras de TV em português em regiões fronteiriças.
Quando fui fazer um documentário sobre a reserva Raposa/Serra do Sol, em Roraima, e esperava ver a "invasão" do Brasil promovida por "índios imperialistas", o que descobri foi que o Brasil é que "invade" a Venezuela e a Guiana, através de comerciantes e garimpeiros.
É simples: a expansão econômica do capitalismo brasileiro está agregando mercados na vizinhança. É só fazer uma lista das grandes aqusições de grupos econômicos brasileiros e das obras tocadas por empreiteiras do Brasil na Argentina, Paraguai, Bolívia, Uruguai, Colômbia, Venezuela e assim por diante.
E a lógica destes grupos -- como, aliás, de qualquer empresa capitalista -- é o lucro. O lucro acima de tudo. Já sugeri, quando toquei neste assunto anteriormente, que as empresas brasileiras que pretendem investir a longo prazo pratiquem "diplomacia privada", ou seja, que contratem funcionários locais, que invistam em projetos locais, que demonstrem concretamente que se preocupam com os lugares em que atuam.
Mas, no modelo selvagem do capitalismo brasileiro, é esperar demais. A conseqüência é que disputas comerciais como a que envolve o Equador só vão aumentar.
A mídia corporativa brasileira grita "sangue" em defesa do interesse de seus patrocinadores. É cega, surda e se faz de idiota. Prefere questionar a legitimidade de Hugo Chávez, Evo Morales, Rafael Correa, Fernando Lugo ou qualquer outro líder da vizinhança que navegue no enfrentamento dos "yankees do Sul".
Essa tese ganha força quando os líderes regionais vêem o presidente Lula ao lado de George W. Bush na reunião do G20 ou quando o Brasil faz o serviço no Haiti com o objetivo de livrar fuzileiros navais americanos para lutar no Iraque e no Afeganistão.
Enquanto o Brasil persegue uma vaga no Conselho de Segurança da ONU, se distancia dos vizinhos.
A mídia brasileira prefere esquecer, mentir, omitir ou distorcer: Chávez acaba de "perder" eleições regionais em que candidatos apoiados por ele venceram mais de 70% das prefeituras e "apenas" 17 de 22 governos regionais. Isso com o petróleo em baixa e a inflação em alta, depois de 10 anos de desgaste no poder.
A mídia brasileira prefere esquecer que Correa reformou a Constituição com apoio de mais de 60% dos votos, que Morales foi mantido no poder com 66% de "sim" e que Lugo chegou ao poder prometendo renegociar o acordo de Itaipu e fazer a reforma agrária.
Independentemente da permanência destes líderes no poder, o que os levou até lá veio para ficar: a defesa de interesses nacionais (deles) que em alguns casos se contrapõe a interesses de empresas brasileiras.
Sem ter clareza quanto a isso o risco é de que o Brasil assuma o papel de "polícia" que os Estados Unidos sempre desempenharam na região. Com resultados desastrosos para a política externa brasileira. Não se esqueçam: a diplomacia do porrete de Washington começou com a derrubada de governos para defender os interesses da bananeira United Fruit Company.
Seremos os sub-imperialistas da banana?”
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