quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

A ETERNA SEDUÇÃO

A Folha de São Paulo, em artigo de Ruy Castro, hohe publicou:

“Quer dizer que 2009 será o ano da França no Brasil? Foi bom terem avisado. A presença da cultura francesa diminuiu tanto entre nós que arrisca já não haver um brasileiro menor de 60 anos que saiba quem foram Marcel Pagnol, Martine Carol ou Jean Sablon -nomes que, no passado, eram da intimidade até das crianças de peito.

E não só. Para cada bistrozinho francês que fecha no Rio, abrem-se dez restaurantes italianos, todos iguais. Livres de poche nas livrarias não tem mais, só pocket books. O fecho éclair deu lugar ao zíper; o rouge, ao blush. O Paissandu, templo da velha Nouvelle Vague, continua fechado. E ninguém mais toca "Tout va très bien, Madame la marquise" nas aulas de piano.

Já foi diferente. Em seus mais de 500 anos como território ocupado pelos brancos, o Rio falou francês antes que português. Os primeiros franceses a chegar por aqui, em 1504, deram-se bem com as tupinambás. Muitos nunca voltaram para a Europa. Jogaram a roupa fora, instalaram-se no que depois seriam as praias da Lapa e do Flamengo, e até aderiram à antropofagia.

A "França Antártica", filial da França nos trópicos que o almirante Villegagnon tentou implantar na ilha hoje ocupada pela Escola Naval, só gorou por causa das brigas religiosas entre seus colonos. Mas, enquanto durou, de 1555 a 1565, avançou terra adentro, produziu bilíngües e rendeu um dicionário franco-tupi. Donde, antes dos aterros, as pistas do atual aeroporto Santos-Dumont eram águas francesas.

Em 1711, o Rio foi tomado pelo corsário Duguay-Trouin; no século 19, por uma legião de cocotes e modistas; em 1964, por Brigitte Bardot. Diante deles, sempre nos deixamos conquistar docilmente. Agora é a vez do casal Sarkozy-Carla Bruni. Ele veio a negócios; mas o negócio da França é a sedução.”

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