A Folha de São Paulo de 6ª feira publicou o seguinte texto de Ricardo Bonalume Neto:
“O diagnóstico feito pela nova Estratégia Nacional de Defesa é em grande parte preciso; resta saber se o doente vai receber o tratamento correto e, principalmente, se vai existir dinheiro para os remédios. Setores da indústria bélica estão reagindo com uma espécie de "otimismo cauteloso" com as propostas para a área.
A questão básica permanece a mesma: haverá recursos? Uma indústria de material de defesa não surge da vontade dos empresários, e sim em função de encomendas feitas pelas Forças Armadas. Sem dinheiro, não há quem se disponha a fabricar carros de combate ou caças-bombardeiros.
Para a indústria, um bom primeiro passo foi o anúncio de que o governo está comprando 51 helicópteros europeus Cougar EC 725, a ser fabricados pela Helibrás, em Minas Gerais, um negócio estimado em US$ 1 bilhão.
A retomada do programa F-X de compra de um caça também interessa à indústria nacional, pois qualquer projeto teria que envolver as principais empresas do setor aeroespacial e de eletrônica -áreas consideradas prioritárias pela nova estratégia.
É o caso da Embraer, que apesar de popularmente reconhecida como um importante fabricante de aviões civis, também pode ser considerada a mais importante indústria bélica no país hoje.
Por exemplo, a Embraer conseguiu vender seus aviões-radar para países como México e Grécia, além de uma versão do avião (sem o radar) para a Índia. Ironicamente, outra empresa brasileira, a Mectron, está vendendo mísseis anti-radar ao rival Paquistão.
Além disso, a Embraer conseguiu vender seu avião de ataque leve Super Tucano para Colômbia, Equador, Chile e República Dominicana. A compra pelo Equador foi também irônica, considerando que o avião em mãos dos colombianos participou dos ataques que mataram o porta-voz da guerrilha Farc em solo equatoriano.
Mas o maior teste das intenções da nova estratégia poderá ser o apoio que as Forças Armadas darão a um projeto importante da fabricante de aviões, o transporte militar C-390. É uma aposta pesada, pois o avião foi concebido para substituir o mais famoso avião de transporte tático do mundo ocidental, o americano Hercules C-130. Há um mercado potencial de 77 forças aéreas e 1.700 aviões. Mas um passo fundamental para o futuro avião sair da prancheta é ter encomendas firmes da Força aérea Brasileira.
O realismo do documento é novidade na área. São relatados apenas três aspectos positivos do atual quadro da defesa nacional, em geral platitudes, como o fato de o país ter "Forças Armadas identificadas com a sociedade brasileira".
Em compensação, o documento lista nada menos que 16 "vulnerabilidades" da estrutura de defesa do país, das quais aparecem logo de cara "insuficiência e descontinuidade na alocação de recursos orçamentários para a defesa" e "obsolescência da maioria dos equipamentos das Forças Armadas".
O plano de defesa propõe "integração e definição centralizada na aquisição de produtos de defesa de uso comum, compatíveis com as prioridades estabelecidas".
Se der certo, tenderão a diminuir as "compras de oportunidade", de material usado a preço de banana, mas com escasso uso prático, como foi o caso do porta-aviões subutilizado São Paulo. Um ponto sensato na estratégia foi a decisão de optar por navios de funções múltiplas, que também transportam tropas.”
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