Li na Folha de São Paulo de ontem o seguinte artigo de Abram Szajman. O autor é presidente da Fecomercio-SP (Federação do Comércio do Estado de São Paulo), dos Conselhos Regionais do Sesc (Serviço Social do Comércio) e do Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial):
“Os fatos econômicos são multifacetados, parecendo mais feios ou bonitos de acordo com o ângulo do observador”
“O ANO que termina entra para a história como mais um no ciclo de prosperidade iniciado em fins de 2004, cujas características são crescimento sólido, recuperação das contas externas, aumento de renda, geração de empregos e acumulação de reservas internacionais superiores a US$ 200 bilhões. Porém, diante da virulência da crise internacional, a pergunta que não quer calar é: essas conquistas se manterão ou não em 2009?
Muitos dos analistas que há um ano afirmavam ser a crise um episódio isolado de insolvência no mercado de hipotecas dos Estados Unidos que, a exemplo dos furacões caribenhos, passaria a léguas da costa brasileira, hoje se ocupam de anunciar e garantir que o mundo vai se acabar, como diz a letra do samba de Assis Valente imortalizado por Carmen Miranda.
As previsões catastróficas de aborto do crescimento com explosão do desemprego vão insidiosamente tomando conta dos meios de comunicação a partir de uma perigosa mistura de fatos com boatos. E, mesmo quanto aos fatos econômicos, convém não esquecer que eles são multifacetados, parecendo mais feios ou bonitos de acordo com o ângulo do observador.
Vejamos: do ângulo do pessimista, o nível de emprego na indústria caiu 0,2% em outubro com relação a setembro. Porém, para um otimista, o emprego na indústria cresceu 1,8% em relação a outubro de 2007.
Outro exemplo: escuto dizerem com grande convicção que o nível constante do crescimento da renda é o que dificulta o alastramento da crise. A ordem dos fatores, porém, pode ser invertida e fazer toda a diferença, se o observador preferir destacar que, apesar da crise, a renda continua apresentando crescimento contínuo.
Dizem, também, que a economia vai desacelerar no último trimestre deste ano e que estará ainda mais devagar, quase parando, no início de 2009, o que fará despencar a massa de salários. O fato, entretanto, é outro: o PIB do terceiro trimestre foi 6,8% maior que o de igual período de 2007 e acumula no ano mais de 6% de crescimento em relação ao ano passado, impactando uma massa de salários que até o mês de outubro cresceu 7%.
Torna-se evidente, assim, que, por enquanto, a crise está mais na cabeça das pessoas do que na economia real. Mas, como o consumo depende de uma decisão individual de cada um, o pessimismo já causou uma abrupta queda na venda dos automóveis.
Por isso, é fundamental destacar alguns fatores positivos da economia brasileira para exorcizar o pânico: os acordos salariais estão corrigindo os vencimentos em patamares no mínimo iguais aos da inflação, o que deve gerar um incremento de renda imediato; a queda dos preços das commodities tende a reduzir a inflação e, com isso, melhorar a renda dos consumidores; a população de baixa renda está ignorando olimpicamente a crise, mantendo sua elevada propensão -e necessidade- ao consumo.
Para restabelecer a confiança plena do consumidor, o que se espera é uma sinalização segura e inequívoca do governo. Ações pontuais, como a redução de alíquotas, são efêmeras e de eficácia reduzida se não forem atacadas as causas de nossa vulnerabilidade, que residem nos juros mais altos do mundo e num Estado com enormes dificuldades para cortar seus gastos de custeio e direcionar seus recursos para o investimento público.
Embora a crise internacional que enfrentamos seja grave, não há nenhuma força invencível a nos empurrar para o abismo. Ao contrário, o único consenso até agora é o de que os países emergentes com grande mercado interno serão menos afetados do que os países desenvolvidos.
O Brasil faz parte do mundo globalizado, mas hoje podemos dizer que o que vai acontecer no ano que vem e nos seguintes não depende dos outros, depende só de nós.
Se o Banco Central baixar fortemente a Selic e criar mecanismos para a redução dos "spreads", os juros pagos pelo consumidor na ponta serão menores, estimulando o investimento produtivo do setor privado.
E se acontecer o corte nos gastos de custeio que vem sendo prometido pelo presidente Lula, o governo poderá contribuir com seus investimentos para tirar do papel o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e atingir a sonhada meta de um PIB 4% maior em 2009.
Tenho a certeza de que, dessa forma, ao final do ano que vem, poderemos constatar, ao lado da pequena notável, que "o tal do mundo não se acabou".
Excelente artigo, vindo de quem vem e por estar no veículo que está!
ResponderExcluirParabéns pela lucidez e acuro, Sr. Abram Szajman!
Que este espírito possa inundar nossas festas de fim de ano e que tenhamos um 2009 digno como merecemos.
Por esse tipo de gente é que me orgulho de ser brasileiro.
Aproveito a oportunidade para enviar a todos que acompanham este Blog, meus mais sinceros desejos de Feliz Natal e um 2009 repleto de Realizações.
Á idealizadora do Blog, Maria Tereza, meus agradecimentos pelo carinho e respeito com o qual sempre me tratou como leitor.
Em tempo, quero dizer que inspirado em você criei o 'Essa é Minha Opinião - http://essaminhaopiniao.blogspot.com/
Quando puder me visite e comente.
Abraços,
Prezado Paulo Nei,
ResponderExcluirObrigado pelas palavras de reconhecimento e estímulo.
Pelos seus comentários, tenho certeza que o essaminhaopiniao.blogspot.com terá sucesso. Hohe mesmo irei visitá-lo.
O meu blog estará de férias até 06 janeiro. Por isso, hoje postei mais de duas dezenas de artigos, inclusive a íntegra do importante documento "Estratégia Nacional de Defesa".
Felicidades
Ótimo 2009
Maria Tereza