Li ontem no blog do jornalista Luis Nassif o seguinte artigo:
“Um dos pontos centrais da visita do presidente francês Nicolas Sarkozy ao Brasil é a perspectiva de venda e transferência de tecnologia de submarinos franceses ao Brasil.
Vamos a um apanhado do que significa o programa de submarino nuclear para o Brasil.
PROJETO ANTIGO
É antiga a intenção brasileira de desenvolver submarinos convencionais até chegar aos de propulsão nuclear. Estima-se que, desde fins dos anos 70 até agora, o Brasil tenha gasto US$ 1,5 bilhão em recursos orçamentários, o equivalente a US$ 5,6 bi em valores de hoje.
A saga do submarino brasileiro foi desenvolvida em dois níveis.
As pesquisas foram desenvolvidas no projeto ARAMAR o Projeto do Ciclo do Combustível e o Projeto do Laboratório de Geração Núcleo-Elétrica [LAB-GENE].
O Projeto do Ciclo de Combustível deu como fruto o domínio da tecnologia das supercentrífugas. Já o LAB-GENE tem como objetivo a montagem de uma planta nuclear de geração de energia elétrica, que servirá para outros projetos de reatores nucleares. O projeto está bastante adiantado. No momento, trabalha-se na redução das dimensões do reator, para caber em uma submarino operacional.
PRIMEIROS PASSOS
Em termos industriais, a primeira investida brasilelira foi em 1982, através de um acordo com o estaleiro HDW de Kiel, em Schlessig-Hostain, ao norte da Alemanha.
Previa a construção de submarinos, do tipo 209 (IKL1400), que os alemães vêm desenvolvendo desde a década de 60. São submarinos com menos de 1.000 toneladas a 1.400 toneladas de deslocamento.
O primeiro foi construído na Alemanha; os outros três no Arsenal da Marinha do Rio de Janeiro. É a série Tupi, utilizando equipamentos alemães na propulsão, eletrônica, sonar e torpedos.
Na época, o intermediário foi a Ferrostaal - grupo que chegou a ter muita influência nos governos Geisel e Figueiredo - controlada pelo extinto grupo siderúrgico alemão GHH, e hoje no Grupo MAN.
A SÉRIE TIKUNA
Na sequência, a MB introduziu mudanças substanciais no projeto básico, aumentando o peso e o alcance na série denominada de Tikuna.
O planejamento da Marinha consistia em aprimorar o Tikuna como meio de, na seqüência, dominar a construção de um submarino maior (os SMB-10), que seria o ensaio final para o submarino de propulsão nuclear, previsto para 2016. Para tanto, o desafio seria o desenvolvimento de um casco mais resistente.
Esse projeto está sendo tocado pela Diretoria de Engenharia Naval, com assessoria da HDW alemã. É o submarino que Lula inaugurou em 2006.
Na seqüência, a Marinha deveria construir um ou dois SMB-10, submarino convencional, mas com deslocamento carregado de 2.500 toneladas, casco de pressão duplo, 8 metros de diâmetro e 67 de comprimento. Conseguiu-se e se passou a planejar o passo seguinte.
O SUBMARINO NUCLEAR
No início de 2005, a Marinha enviou cartas-convite ao estaleiro alemão HDW e à empresa francesa Armaris (joint venture do estaleiro HDW e da empresa de eletrônica militar Thales, ambas controladas pelo governo francês). Nele, se solicitava o fornecimento de um submarino, de um sistema de aquisição de peças de reposição para os submarinos já existentes, sonares, torpedos para o novo submarino e para os da frota brasileira.
Ficaram de fora os russos, apesar de seu interesse em vender ao Brasil submarinos da classe AMUR e outros de gerações mais avançadas.
A Marinha aprendeu com a frustrada licitação dos FX pela FAB, em 2001, que ficou amarrada pela Lei 8.666, das Licitações. Deixou para os candidatos o oferecimento das contrapartidas.
O governo francês aceitou autorizar a transferência de tecnologia em todos os níveis, não apenas para a fabricação de submarinos convencionais derivados de tecnologias dos nucleares, como para o desenvolvimento do próprio submarino nuclear brasileiro, de forma autônoma.
A Marinha acabou aceitando a proposta francesa. A transferência de tecnologia virá com a compra de quatro submarinos do tipo Scorpene a serem construídos no Brasil. Na parte nuclear, a França ajudará no desenvolvimento do casco e dos sistemas; a propulsão ficará sob responsabilidade do Brasil.
A RAZÃO DA ESTRATÉGIA
Os países que dominam a tecnologia do submarino nuclear - Estados Unidos, França, China e Rússia - investiram, cada qual, o equivalente a mais de 10 bilhões de euros, em valores atualizados. Sem contar o custo direto da fabricação de cada submarino. A economicidade é dada pelo rateio dos investimentos em pesquisa e no desenvolvimento do protótipo pelo número de submarinos fabricados.
A frota mundial é composta, hoje em dia, por 65 submarinos nucleares americanos, 11 franceses, 15 britânicos e 57 russos.
Em geral, a preferência pelos submarinos, como instrumentos de dissuasão, se deve ao fato de, submersos, serem os únicos armamentos militares não identificados pelos sistemas de radares e satélites.
Embora a propulsão nuclear, em si, nada tenha a ver com a parte bélica, há uma pressão norte-americana contra a transferência de tecnologia para países emergentes - provavelmente para não criar desequilíbrio nas relações regionais de poder.”
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