Li ontem no site “Direto da Redação” (dos jornalistas Leila Cordeiro e Eliakim Araujo) o seguinte texto de Mair Pena Neto, ex-editor de política do Jornal do Brasil e, atualmente, jornalista da agência norte-americana de notícias Reuters:
"Uma foto de divulgação publicada discretamente em algum jornal esta semana não traduziu a importância do fato. Sob um céu de brigadeiro e sobre a água azul em frente à Baía de Guanabara, começava a singrar os mares a plataforma P-51, rumo ao campo de Marlim Sul, na bacia de Campos, para produzir mais 180 mil barris diários de petróleo para o Brasil.
Mas a importância maior da P-51 não está em sua tecnologia ou capacidade de produção. Primeira plataforma de petróleo inteiramente construída no Brasil, ela simboliza a redenção da indústria naval brasileira, com os seus milhares de postos de trabalho.
Não faz muito tempo, com uma visão exclusivamente empresarial de retorno ao acionista e sem qualquer compromisso com o desenvolvimento nacional, a Petrobras construía fora do país todas as suas plataformas. Valia-se para isso de dois argumentos: a falta de capacidade da indústria naval brasileira, sucateada desde os anos 80, e, principalmente, do menor preço conseguido em estaleiros da Coréia e Singapura. Ou seja, a maior empresa do país ao construir os navios e plataformas para a exploração do petróleo brasileiro não gerava um emprego aqui.
Mudar tal situação exigia vontade política, visão estratégica e compromisso com o país. De um governo privatista, que se desfez de várias empresas nacionais importantes e cogitou vender a própria Petrobras não se poderia esperar nenhum gesto nesse sentido.
A mudança política no país, se deixou a desejar nos aspectos macroeconômicos, foi eficiente neste aspecto. A luta que já se desenvolvia por um maior conteúdo nacional nas embarcações da Petrobras triunfou e a indústria naval brasileira renasceu das cinzas. Estaleiros e fornecedores recuperaram-se, voltaram a contratar, fomentaram a economia do Rio de Janeiro e do país e já pleiteiam um conteúdo totalmente nacional de 80% contra os 65% obrigatórios. A P-51 foi totalmente construída no Brasil, mas ainda importou algumas peças não produzidas aqui.
A decisão política do governo brasileiro de privilegiar a indústria nacional impulsionou o setor, que recuperou os níveis de 1970, quando a indústria naval do país era das mais importantes do mundo e vendia navios para o exterior. Os estaleiros empregam hoje 40 mil trabalhadores e a exploração do pré-sal exigiria pelo menos mais 20 mil.
A crise financeira global e a queda no preço internacional do petróleo podem levar a reavaliações, mas a esperança é de que a exploração do pré-sal movimente fornecedores, fabricantes de peças, estaleiros e toda a cadeia do setor em torno de um alto nível de conteúdo nacional.
A foto da P-51 simbolizava toda essa retomada e merecia primeira página. Mas ficou esquecida em algum canto de jornal, certamente mais preocupado com conflitos políticos menores ou deslizes lingüísticos do mandatário da nação."
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