quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

CRITÉRIOS DE EDIÇÃO: RECEITA PARA EVITAR BOAS NOTÍCIAS

O site “vermelho” publica o seguinte texto de Luciano Martins Costa, postado originalmente no “Observatório da Imprensa”:

“Durante boa parte da segunda-feira (26/1), um dos principais destaques nos serviços informativos pela internet era a notícia de que, apesar da crise financeira global, o investimento estrangeiro direto no Brasil havia alcançado a cifra de 45 bilhões de dólares em 2008.

Era o maior volume de ingresso de capital estrangeiro para investimento produtivo ou aquisição de empresas no país desde 1947. Era não apenas um número surpreendente pelo volume de recursos, mas também por contrariar as expectativas dos analistas consultados pelos jornais.

No ano passado, desde as primeiras manifestações da crise, as multinacionais instaladas no Brasil aproveitaram os altos lucros obtidos por aqui e transferiram quase 34 bilhões de dólares para tentar melhorar as contas de suas matrizes e subsidiárias em outros países.

Nessa ocasião, os jornais brasileiros fizeram barulho, anunciando que o estoque brasileiro de divisas estava sangrando, quando na verdade tratava-se do movimento cíclico de repatriação de lucros, ainda mais natural por causa das dificuldades geradas pela crise.

Essa é uma das razões para a surpresa: os analistas prediletos dos jornais achavam que, com o agravamento da crise financeira, a remessa de lucros e dividendos para o exterior iria aumentar. Mas quando se esperava a má notícia, ocorreu o contrário, com um detalhe curioso: quase metade dos investimentos estrangeiros no Brasil aconteceu depois de setembro, quando estourou a chamada bolha imobiliária nos Estados Unidos e o mundo se deu conta do desastre financeiro em que estava metido.

SEGUNDO PLANO

Essa era a notícia econômica que predominava na tarde de segunda-feira (26) na internet. Mas essa não foi a notícia escolhida para a manchete da maioria dos jornais de terça (27).

Dos chamados grandes jornais brasileiros, apenas a Folha de S.Paulo colocou a boa notícia entre os principais destaques, ainda assim misturada a uma notícia sobre restrições a importações.

A maioria dos editores escolheu para manchete a pior notícia econômica disponível – a informação de que, na segunda-feira, empresas multinacionais anunciavam milhares de demissões pelo mundo afora. Os números variam conforme o jornal: para a Folha, foram 75 mil. Segundo o Estado de S.Paulo, foram 86 mil demissões. Para O Globo, foram 76 mil.

A boa notícia que era destaque na internet ficou em segundo plano no jornal de papel.”

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