Li hoje no site “Vi o Mundo”, de Luiz Carlos Azenha:
“Nos próximos dias vamos testemunhar todo tipo de contorcionismo verbal e intelectual para tentar negar um fato, especialmente no Brasil, onde nossa mídia só vai reconhecer que o consenso de Washington acabou em alguns anos: Barack Obama vai nacionalizar os bancos americanos.
Não se trata de uma opção ideológica. É o reconhecimento puro e simples da falência do sistema financeiro. Ou isso ou, dentro de alguns meses, o óbvio assaltaria o governo Obama com um estilete, de madrugada, e ele seria obrigado a declarar toque de recolher para evitar quebra-quebra diante das instituições financeiras, feito aconteceu na Argentina.
A nacionalização, pois, é o mal menor. Nouriel Roubini, que era tratado feito maluco pela mídia dos Estados Unidos há alguns meses (quando, aliás, é preciso registrar, já era ouvido pela Carta Capital) chegou às páginas do Wall Street Journal. Quando o Murdoch vai ouvir o Roubini isso significa que, definitivamente, as coisas não andam bem nos Estados Unidos.
Alguns trechos da entrevista de Roubini ao Journal:
"Daqui a seis meses mesmo firmas que hoje parecem solventes se tornarão insolventes. A maioria dos grandes bancos -- quase todos eles -- parecerão insolventes. Nesse caso, se você assumir o controle deles de uma vez, causa menos danos do que se fizesse isso com apenas alguns, agora, criando muito mais confusão e pânico e nervosismo".
"Entre garantias, apoio de liquidez e capitalização o governo já deu de 7 a 9 trilhões de dólares para ajudar o sistema financeiro. De fato, o governo já controla um bom pedaço do sistema bancário. A questão é se você quer ou não tornar isso oficial".
"Começamos com bancos que já eram muito grandes para falir mas o que aconteceu, no processo, é que esses bancos se tornaram ainda maiores-para-falir. O JP Morgan assumiu a Bear Stearns e o Washington Mutual. O Bank of America assumiu o Countrywide e a Merrill. O Wells Fargo ficou com o Wachovia. Não funciona! Você não pode pegar dois bancos-zumbis, juntá-los e fazer um banco forte. É o mesmo que colocar dois bêbados um ajudando o outro a ficar em pé".
"Eu acredito na economia de mercado. Para parafrasear o Churchill -- que disse isso sobre a democracia e regimes políticos -- a economia de mercado pode ser o pior regime econômico existente, com exceção de todos os outros".
"As duas coisas em que o (Alan) Greenspan errou completamente são em suas crenças: um, de que o mercado se auto-regula; dois, de que o mercado nunca erra".
"Nos mercados financeiros, sem as devidas regras institucionais, é a lei da selva -- já que existe a cobiça. Não há nada de errado com a cobiça em si, e as pessoas não cobiçam mais hoje do que há 20 anos. Mas a cobiça precisa ser temperada, primeiro, pelo medo das perdas. Se você resgatar as pessoas, haverá menos medo. E segundo, a regulamentação prudente e a supervisão evitam certos excessos".
"Nos anos de bolha todos se tornam cheerleader, inclusive a mídia. É a hora em que os jornalistas deveriam fazer as perguntas duras, e acho que houve um fracasso aqui. Os Masters do Universo estavam sempre na capa, na primeira página -- os caras dos hedge-funds, os executivos imperiais. Eu gostaria que tivesse havido mais jornalistas de finanças e de negócios, nos anos bons, que perguntassem: "Peraí, esse cara, essa empresa, tem um lucro de 100% por ano, como fazem isso? Será que eles são mais inteligentes que os outros, ou estão assumindo tantos riscos que vão falir em dois anos?".
"Um bom jornalista tem que ser o cara que, nos tempos bons, desafia o pensamento convencional. Se você não fizer isso, está fracassando em suas obrigações".”
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