O MEDO DA ESTATIZAÇÃO
O jornal inglês “Financial Times” publicou o seguinte artigo de John Authers que li na Folha de São Paulo de ontem, em tradução de Paulo Migliacci:
“Nos Estados Unidos, o termo "palavra n" é usado em referência a um desagradável epíteto racial cujo uso é desaconselhado.
E, embora seja fácil perceber por que o termo agora é considerado reprovável para uso público, está surgindo uma nova "palavra n" que também não deve ser mencionada, ainda que os motivos para tanto sejam muito menos claros. Trata-se de "nacionalização", ou estatização. E a palavra é alvo de tabus também no Reino Unido.
O governo norte-americano já estatizou duas grandes financeiras, as agências de crédito hipotecário Fannie Mae e Freddie Mac. E o Reino Unido nacionalizou o Northern Rock.
Mas muita gente acredita que mais instituições de porte muito grande devem passar pelo mesmo processo. Nos Estados Unidos, as preocupações têm por foco o Citigroup, em que o governo agora deterá 36% de participação. No Reino Unido, o foco na semana passada era o Royal Bank of Scotland, no qual o governo agora detém participação de 95%.
De acordo com George Magnus, principal consultor econômico do banco UBS, "ainda que os governos desejem evitar a estatização de entidades financeiras insolventes, os mercados estão mais e mais convictos de que possivelmente já não existe alternativa menos custosa".
Essa é uma opinião comum em Wall Street e na City de Londres. Mas os governos preferem evitar o termo nacionalização. Ben Bernanke, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), nesta semana recorreu a rodeios semânticos para explicar: "Estatização, em minha opinião, é quando o governo toma o controle do banco, zera as posições dos acionistas e começa a administrá-lo e dirigi-lo. Não planejamos nada parecido. Acredito que esse debate sobre a estatização esteja girando em torno de considerações equivocadas".
O problema é que a definição estreita que ele propõe também poderia ser definida como uma consideração equivocada. O termo "estatização" tem conotações ideológicas desagradáveis. Nos EUA, a palavra implica socialismo, o que contraria muitos dos princípios norte-americanos dominantes. Mas nacionalizar grandes bancos deixou de ser uma questão ideológica para se tornar técnica. Os maiores bancos da Europa e dos EUA já dependem de pesado influxo de dinheiro público. E as diferenças ideológicas estão sepultadas.
Mesmo o antigo presidente do Fed, Alan Greenspan, declarou que estatização pode ser necessária -e o mesmo se aplica a alguns senadores republicanos. Além disso, os esforços dos governos para descartar a estatização não estão reforçando a confiança dos investidores. O índice S&P 500 caiu à sua mais baixa marca em 12 anos ontem.
Os mercados parecem perplexos. O Reino Unido está sob a administração de um governo trabalhista. Nos EUA, o novo governo tem a oportunidade, que não durará muito, de promover a estatização e lançar a culpa (justificadamente) sobre a administração precedente. Assim, por que governos de esquerda parecem tão assustados pela estatização?
Uma explicação se baseia no princípio de "Nixon e a China".
Richard Nixon, com seu histórico belicoso como líder político da Guerra Fria, podia fazer aberturas diplomáticas à China; um líder de esquerda não teria a mesma possibilidade.
Outra possibilidade é que os governos mesmos temam não ter a capacidade de gerir grandes bancos que se provaram impossíveis de administrar até mesmo pelos mais bem pagos executivos do setor privado. Outra teoria é a de que os governos estão garantindo que, quando recorrerem à estatização, será óbvio que não existia nenhuma outra opção.
Mas continua difícil compreender como a confiança pode retornar aos mercados ou ao sistema bancário sem um período no qual os governos exerçam controle sobre os bancos de maneira mais explícita, e isso pode bem tornar obrigatória a palavra "nacionalização".
Quando Miriam Leitão fala ou escreve sobee o assunto, faz comparação de que o Braail está melhor nesse ítem por ter saneado os Bancos na década de 90, mas sem uma palavrinha de que isso, agora lá nos EUA, principalmente, nada mais é de que estatização. Sou contra o governo ser soberano em tudo, mas para quem batia no peito, isso deve estar muito chato de se explicar. Aliás, sua coluna tem enveredado para outros caminhos. A desse dia 01 de março, muita gente fina ficaou sabendo o outro lado de José de Alencar. Ele também erea adépto da escravatura.
ResponderExcluirPrezado Pedro Bueno,
ResponderExcluirObrigado pelos comentários.
Se o outro lado dos "José de Alencar" de hoje é o daqueles que pregam "museus antropológicos" de índios e negros, também sou contra essa atitude. Essas populações precisam é de proteção e privilégios do Estado para proporcionar a eles a correta e harmoniosa inserção na sociedade nacional. Não de isolacionismos que congelem padrões de séculos atrás.
Maria Tereza