terça-feira, 21 de abril de 2009

SEGURANÇA NO MAR: QUESTÃO À DERIVA

Li ontem no Jornal do Brasil:

“Tão antiga quanto a navegação é a pirataria nos sete mares. Contudo, o século 21 reavivou, com violência e ousadia, a prática criminosa que parecia relegada a um passado remoto. Os recentes ataques de piratas somalis a embarcações que atravessam o Golfo de Áden, na costa oriental africana, evidenciam os meios sanguinários e os fins ilícitos dos saqueadores. Sem contar as perdas humanas, o prejuízo causado a navios capturados no litoral da Somália, só no ano passado, ultrapassou US$ 30 milhões, segundo estudos da Chatham House britânica. A ação criminosa exige reação firme da comunidade internacional.

Diferentemente dos lendários bandos retratados com certa dose de romantismo por Hollywood, as gangues de piratas "modernos" são formadas, geralmente, por três tipos diferentes de integrantes. Tratam-se de ex-pescadores, profundos conhecedores do mar; antigos milicianos, aqueles que lutam quando necessário; além de especialistas em tecnologia, que sabem como operar equipamentos como telefones por satélite e GPS. Entre 20 e 35 anos de idade, os membros desses grupos, que entram no negócio por dinheiro, são considerados ricos em países como a Somália – onde a população suplica por ajuda alimentar, depois de 17 anos de conflitos internos.

O modus operandi das gangues é bastante simples. Em lanchas pequenas e rápidas, abordam os grandes navios (em geral, petroleiros) e, sob a força das armas, fazem a tripulação de refém. A partir daí, exigem das empresas responsáveis pela embarcação o pagamento de um resgate milionário em troca da liberdade (ou até da vida) dos trabalhadores capturados. Só nestes primeiros quatro meses do ano, 80 barcos já foram abordados. Em boa parte dos casos, a extorsão gerou dividendos aos agressores. E enormes prejuízos ao comércio mundial.

Ainda no ano passado, o Conselho de segurança da Organização das Nações Unidas adotou uma resolução pedindo a todos os países interessados em preservar a segurança das rotas marítimas que enviassem navios e aviões militares à Somália, a fim de combater a pirataria.

A Resolução 1.838 foi redigida pela França e contou com o respaldo imediato de 15 membros da ONU. Navios de guerra da Organização do Tratado do Atlântico norte (Otan) também fazem escolta nas águas da região. O objetivo é conduzir patrulhas contra piratas e proteger carregamentos do Programa Mundial de Alimentação. Além disso, a 5ª Frota da marinha Americana é presença constate na área – tendo sido responsável pela libertação, a tiros, do capitão Richard Phillips, que passou quatro dias como refém, no início do mês.

Apesar dos esforços, os piratas de Áden continuam em ação. Diante de uma ameaça que até certo ponto se confunde com o terrorismo – e que, por certo, é incompatível com o desenvolvimento civilizado da humanidade – faz-se necessária a adoção de medidas mais rígidas e de forma conjunta. A criação de uma força-tarefa multinacional que esquadrinhe aquele espaço marítimo (pelo qual trafegam mais de 15 mil barcos por ano), com poder policial e bélico, talvez fosse um bom começo. Afinal, além das preciosas cargas, os piratas põem em risco a vida de passageiros e tripulantes.”

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