Li no Jornal do Brasil de hoje,
Do apartheid tecnológico ao limiar da autossuficiência
Na questão da energia nuclear, há muita "ingenuidade", alerta o professor e jornalista Lorenzo Carrasco, autor do livro Máfia verde e neocolonilismo:
– As pessoas pensam que estão defendendo o meio ambiente e, na verdade, são peças de um jogo pesadíssimo de mega interesses econômicos e geopolíticos – diz.
Carrasco entende que, por muitos anos, houve articulada ação política, encoberta por pretensa defesa ambiental, para barrar o desenvolvimento de países como o Brasil, num apartheid tecnológico destinado a manter o monopólio nuclear de grandes potências.
Aos trancos e barrancos, de certa forma o Brasil conseguiu vencer este bloqueio, às vezes com ação extra-oficial de destacados integrantes da inteligência das Forças Armadas, com destaque para o almirante Álvaro Alberto, hoje nome oficial da usina Angra I.
O militar conseguiu contrabandear duas centrífugas rudimentares do espólio da Alemanha nazista, para furor das forças americanas que ocupavam uma parte de Berlim. Foi o embrião para absorção de tecnologia hoje já dominada pelo país
Outro militar, Ernesto Geisel, quando na Presidência da República, na época da ditadura, deu um passo à frente, ao romper o Acordo Militar Brasil-EUA, que bloqueava qualquer iniciativa para autonomia do país na área nuclear. Avançou mais, ao firmar acordo com Alemanha, prevendo absorção de tecnologia para construção de oito usinas nucleares. Outra ação militar oficiosa cooptou o alemão caçado pela Interpol Otto Heiz Schaab para aperfeiçoamento das centrífugas de enriquecimento de urânio no projeto do submarino nuclear.
Com tudo isso, o Brasil tem hoje Angra I e II, que, com 3 mil MW, sustentam metade do consumo do Rio de Janeiro, com produção constante e independente de níveis de reservatórios e regimes de chuvas.
Em defesa da energia nuclear
Especialistas explicam vantagens da fonte potente que não contribui para o aquecimento global
Ubirajara Loureiro
Em rota de colisão frontal com os ambientalistas ortodoxos, cresce no Brasil e no mundo, nos mais diversos segmentos da sociedade, a convicção de que a geração de energia a partir de fontes nucleares, longe de ser algo a ser demonizado, é a única alternativa viável para o suprimento das necessidades energéticas do país no caso de uma repentina e significativa retomada da atividade econômica no parque industrial do país. Desde que o processo seja cercado por indispensáveis requisitos de segurança.
Curiosamente, ao lado de argumentos estritamente técnicos – a energia nuclear não polui nem provoca aquecimento global – a defesa do "nuclear, sim" fundamenta-se na posição de um peso-pesado da defesa ecológica: nada menos do que James Lovelock, guru do movimento ambientalista mundial, que passou boa parte de seus 90 anos apontando os riscos da degradação ambiental. É dele o conceito de Gaia, amplamente difundido entre ecologistas, de que a terra é um organismo vivo que se auto-regula, e cujo equilíbrio depende do controle da atividade humana predatória que causa o aquecimento global. Este sim, no seu entender, o grande risco enfrentado pelo planeta.
Lovelock não está só nesta posição. A seu lado encontra-se ninguém menos do que Patrick Moore, fundador da aguerrida ONG ambientalista Greenpeace, que chegou a enfrentar navios de guerra franceses com botes de borracha para impedir testes nucleares no atol nas Ilhas Aleutas, ao norte do Pacífico.
– Precisamos interromper imediatamente a queima de combustíveis fósseis, que piora o efeito estufa. A única forma de energia imediatamente acessível que não causa aumento de temperatura é a nuclear. Não temos tempo para experimentar – não cansam de repetir Lovelock e Moore.
Segurança em foco
A defecção de dois expoentes da luta ambiental se não estancou os protestos contra as centrais atômicas, pelo menos abrandou, no Brasil e no mundo, a rejeição a priori do uso da fissão nuclear como fonte de energia. Reconhecido o fato de que a usina atômica não tem emissões e não aquece a atmosfera, as reservas contra sua operação hoje restringem-se aos aspectos de segurança:
– O que fazer quando os equipamentos chegarem ao fim de sua vida útil e, principalmente, que destino dar aos resíduos, o chamado lixo atômico? E, o que fazer em caso de acidente ? – perguntam militantes históricos da causa ambientalista, como Sérgio Ricardo de Lima e José Mynssen.
defesa ao vivo
Como resposta a essas perguntas, o engenheiro Pedro Figueiredo, há mais de 20 anos diretor de operações de Angra I, para começar, dá a quem o questiona a respeito um texto de Lovelock esclarecendo:
"O volume do lixo atômico produzido pelas 34 usinas – que fornecem mais de 20% da energia consumida pelo Reino Unido – em 50 anos de atividade equivale a 10m³, mais ou menos à carga de dois caminhões, que pode ser acondicionada numa casa pequena."
Sobre o risco de acidente, Figueiredo, que mora quase ao lado da usina com a mulher e dois filhos, faz o questionamento:
– Qual a instalação industrial, no Rio ou no Brasil, que pode dizer que tem um plano de emergência, para o caso de acidente, que a população conhece, mesmo as com potencial enorme de risco, como uma grande refinaria? – argumenta.
No caso das duas usinas nucleares brasileiras, localizadas entre os municípios de Angra e Paraty, há um plano consolidado por anos de instrução ao público para evacuação de residentes, com sirenes de alarme distribuídas em toda a região a algumas simulações de emergência com moradores da região .
– Há um software desenvolvido pelo prof. Moacir Duarte, da Coppe, que inclui o tempo para uma mulher grávida, levando o filho pela mão e um TV portátil na outra, chegar até a estrada. É tudo cientificamente controlado, incluindo o armazenamento dos resíduos, sob rigoroso controle – explica Figueiredo.
John Albuquerque Forman, geólogo pela antiga Universidade do Brasil, mestre pela Universidade de Stanford, ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo, da Cia Brasileira de Tecnologia Nuclear, um dos que trabalharam na prospecção das reservas de urânio do Brasil – hoje com 303 mil ton, as sextas maiores do mundo, com possibilidade de chegarem a 800 mil ton – alinha outros argumentos em defesa da opção energética nuclear
O geólogo explica que o Brasil tem o combustível, domina o processo de enriquecimento, e dispõe de quadros com know how, construído com muito esforço durante anos, desperdiçado até hoje.
Destaca também que uma usina nuclear é colocada dentro da rede de transmissão, ao contrário de hidrelétricas como Santo Antonio e Jirau, no início de construção, que exigirão 3 mil km de linhas de transmissão cortando a Floresta Amazônica, sem falar que, afirma, o potencial hidrelétrico do Sudeste está praticamente esgotado.
– O problema é que a política energética do Brasil tem influência direta dos barrageiros (as empreiteiras que constroem hidrelétricas). Querem fazer barragens a qualquer custo. É por uma dessas que a experiência de Balbina, no Amazonas, foi um desastre ecológico. As barragens ficaram assoreadas rapidamente e hoje são hoje um terrível criatório de mosquitos – afirma.
Nenhum comentário:
Postar um comentário