Terra Magazine
Júlio: Fundo social afastará "vacas magras" da economia
"A comissão de Serviços de Infraestrutura (CI) do Senado debate, nesta terça-feira, 27, a criação de fundo social com recursos obtidos a partir da exploração do pré-sal. A criação do fundo é uma proposta do governo federal, que já está em discussão no Congresso Nacional.
Um dos participantes da mesa promovida pela CI, o economista Júlio Gomes de Almeida considera que "não deveria haver polêmica" em torno da criação do fundo social.
Dentre outras coisas, diz o economista em entrevista a Terra Magazine, o fundo servirá para acumular dinheiro na bonança e aplicar "nas épocas de vacas magras".
- Se você pegar esse dinheiro e sair gastando com praças, aumento de pessoal, vai ser uma falsa riqueza, não vai dar em nada. O fundo social é para isso: guardar o dinheiro do pré-sal.
Confira a entrevista:
Terra Magazine - Qual a posição do senhor em relação à criação de um fundo social com recursos do pré-sal?
Júlio Gomes de Almeida - Não deveria haver polêmica sobre a criação do fundo. Ele é fundamental por duas razões: primeiro, a riqueza do pré-sal é finita. A gente torce para que tenha muito petróleo ali, mas é finita. Então temos que guardar esse dinheiro em um fundo para que esse recurso sirva para a geração atual e para as próximas gerações. É um compromisso de todo mundo. Toda a riqueza mineral traz esse tipo de coisa.
Para evitar a "maldição" do petróleo...
Exatamente. Como é um recurso finito, você tem que usá-lo para essa e para as próximas gerações. A ideia do fundo é pegar os recursos do pré-sal que correspondem ao setor público e guardar esse recurso em um fundo com prioridades de aplicação.
E quais seriam essas prioridades?
O ideal é que o fundo aplique em educação, inovação, meio ambiente e infraestrutura. Você pode definir mais áreas para a aplicação do dinheiro, mas digamos que essas são as áreas essenciais, que são as que estão na proposta enviada pelo governo ao Congresso. Isso significa o seguinte: nós temos que poupar, em primeiro lugar. Não pode sair gastando por aí esse dinheiro, em prça pública, em pessoal... Do contrário vem a maldição do petróleo.
Que seria o quê, mais objetivamente?
É o fato de você aparentemente ser rico, se portar como rico, mas na verdade continuar tão pobre quanto antes. Mesmo tendo descoberto essa riqueza.
Porque isso acaba desestimulando o desenolvimento de outras áreas da economia, não?
E dilapidada a riqueza que existe. Então se você pegar esse dinheiro e sair gastando com praças, aumento de pessoal, vai ser uma falsa riqueza, não vai dar em nada. O fundo social é para isso: guardar o dinheiro do pré-sal. E onde vai botar esse dinheiro? Em coisas que deem retorno, na educação, infraestrutura, inovação e meio ambiente. Também se fala sobre a doença holandesa...
Sim...
Ou seja, uma outra função do fundo social é destinar o quanto for possível desses recursos de aplicação para o exterior, para evitar muita entrada de recursos externos e, com isso, valorizar demais nossa taxa de câmbio. Isso é importante porque existem muitas atividades domésticas que podem ser prejudicadas com a valorização cambial. A isso se chama de doença holandesa.
Também se discute se o fundo poderá ser usado como depósito de recursos públicos a serem usados em caso de crise na economia. Como funciona isso?
O fundo pode contribuir para isso. Na época de vacas gordas ele arrecada; nas vacas magras, quando o preço do petróleo estiver lá embaixo e os governos reduzirem suas receitas, ele pode contribuir para que todos os níveis de governo não fiquem instáveis. Ele acumula dinheiro na bonança e aplica para reverter a queda de orçamento público nas épocas de vacas magras."
FONTE: reportagem de Diego Salmen publicada hoje (27/10) no portal "Terra Magazine", do jornalista Bob Fernandes.
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