Terra Magazine
"Berzoini: Ataques a mensalão tucano são "muito mais suaves"
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa acolheu nesta quarta-feira, 4, parte da denúncia contra o ex-governador mineiro Eduardo Azeredo (PSDB) por envolvimento no esquema conhecido como mensalão tucano. Para o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), "há um tratamento bem diferente especialmente por setores da imprensa que faz uma leitura muito mais suave das responsabilidades partidárias nos dois casos", em referência à acusação de compra de votos na Câmara dos Deputados pelo governo petista.
- Na época que ocorreu a crise em 2005, havia quase que uma tentativa de linchar publicamente o PT e agora a coisa é muito mais focada na figura do Azeredo e ainda assim com uma suavidade bastante grande em relação aos momentos que vivemos em 2005.
O mensalão, segundo o Ministério Público Federal (MPF), foi um esquema no qual parlamentares supostamente recebiam dinheiro em troca de apoio a projetos do governo petista no Congresso. Em agosto de 2007 o Supremo aceitou a denúncia oferecida pelo MPF.
No caso do mensalão tucano, a denúncia contra Azeredo foi apresentada à Corte pelo ex-procurador geral da República (PGR) Antonio Fernando Souza. Nela, o senador e outros investigados, como o publicitário Marcos Valério, são acusados de criar e administrar um suposto esquema de "caixa dois" durante a campanha para a reeleição de Azeredo ao governo mineiro em 1998. Ou seja, dinheiro público teria financiado a campanha do então candidato.
O caso ficou conhecido como mensalão tucano, ou mensalão mineiro, ou ainda valerioduto tucano, em menção ao esquema de pagamento ilegal a parlamentares administrado por Marcos Valério. Segundo o inquérito que instrui a denúncia, Azeredo é acusado de ser "um dos principais mentores e principal beneficiário do esquema implantado".
Para Berzoini, em ambos os casos o termo 'mensalão' é usado incorretamente, argumento usado também por Azeredo. Na avaliação do petista, "nos dois processos, tudo o que denota ali é o chamado financiamento de campanha irregular com uma diferença, no chamado mensalão tucano, há forte presença de estatais no processo, enquanto no outro caso, não há indícios que sejam robustos nessa direção".
Leia abaixo a entrevista:
Terra Magazine - Como o senhor vê o julgamento do mensalão mineiro?
Ricardo Berzoini - Em ambos os casos, tanto no julgamento do mensalão tucano quanto no de 2005, a palavra 'mensalão' é a mais inadequada. Nos dois processos, tudo o que denota ali é o chamado financiamento de campanha irregular com uma diferença, no chamado mensalão tucano, há forte presença de estatais no processo, enquanto no outro caso, não há indícios que sejam robustos nessa direção. Me parece que há indícios bastante fortes em relação a empresa de mineração e a subsidiária do Banco do estado de Minas Gerais (Bemge).
O senhor observa uma diferença de julgamento entre os dois casos de mensalão, não por parte do STF?
Há um tratamento bem diferente especialmente por setores da imprensa que faz uma leitura muito mais suave das responsabilidades partidárias nos dois casos. Na época que ocorreu a crise em 2005, havia quase que uma tentativa de linchar publicamente o PT e agora a coisa é muito mais focada na figura do Azeredo e ainda assim com uma suavidade bastante grande em relação aos momentos que vivemos em 2005.
O senhor disse que o termo 'mensalão' é incorreto...
Isso foi atribuído com a ideia de que havia uma mesada aos parlamentares e que nunca ficou provada. Não há nenhum indício forte disso. Nos dois casos, independentemente de serem provados ou não, há elementos de financiamento de campanhas sem a devida contabilização e registro. Mas não vi em nenhum dos dois casos a tentativa de compra de votos.
A personalização do caso na figura do Azeredo e não no partido é algo que possa influenciar em 2010, ou algo que fortaleça a campanha petista?
Não. Eu sou contra o oportunismo na política. Esse tipo de situação é decorrente da ausência do financiamento público de campanha no Brasil. O financiamento privado leva a inúmeros riscos e distorções. Então, na minha opinião, se alguma utilidade tiver esse debate, deve ser necessariamente para refletirmos sobre o que devemos mudar no sistema de financiamento de campanha para evitar que coisas como essa se repitam com o PT, ou PSDB, DEM, PMDB. Temos que evitar essas crises."
FONTE: reportagem de Marcela Rocha publicada hoje (06/11) no portal Terra Magazine, do jornalista Bob Fernandes.
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