Será melhor ano da década para emprego, diz Lupi
O presidente Lula deve encerrar o segundo mandato em 2010 com o "melhor ano da década para a geração de emprego". A avaliação é de Carlos Lupi, ministro do Trabalho, que atribui esse desempenho ao crescimento do mercado interno e ao "círculo favorável que contamina o mundo". Se a previsão do governo e de analistas se concretizar, serão criadas 2 milhões de vagas com carteira assinada em 2010. E, se essa meta for atingida, o governo Lula encerrará 2010 com a geração de 10,8 milhões de empregos criados desde 2003. A seguir, os principais trechos da entrevista à Folha. (CR)
FOLHA - Como fica o emprego em 2009?
CARLOS LUPI - A previsão é fechar 2009 com mais de 1,1 milhão de empregos criados, mesmo com as perdas esperadas para dezembro, de 250 mil a 300 mil vagas fechadas.
FOLHA - O que permitirá isso?
LUPI - Desde janeiro, na contramão do mercado, eu já falava na criação de 1 milhão de empregos neste ano. Isso por causa do comportamento do mercado interno e baseado em duas premissas: o ganho real dos salários e o aumento do salário mínimo.
Cerca de 90% das categorias tiveram reajustes acima da inflação. E o aumento real do salário mínimo foi de 64% nos últimos sete anos. Esse ganho do mínimo acarreta também aumento em cascata de vários outros salários, como pisos das categorias, abonos salariais, aposentadorias e seguro-desemprego. Quando houve esse ganho do mínimo, em 1º de fevereiro, mesmo no auge da crise, isso ajudou a jogar alguns bilhões no mercado, o que gera um círculo virtuoso. Além disso, a economia brasileira também está sólida, com a inflação sob controle. E a inflação é sempre a grande vilã do assalariado. O controle da inflação, a economia bem sintonizada, a solidez dos bancos brasileiros e o ganho real do salário mínimo possibilitaram o Brasil sair da crise com mais agilidade.
FOLHA - Os empregos perdidos em 2008 já foram recuperados?
LUPI - Perdemos entre outubro e dezembro cerca de 720 mil vagas. Mas mesmo com essa perda fechamos 2008 com cerca de 1,5 milhão de postos criados. Porque o consumo estava forte. Começamos 2009 muito ruim, negativo em 100 mil [vagas]. Em fevereiro, o saldo foi de 9.000 empregos criados. Em março, 30 mil. Subiu gradativamente e anunciamos que o segundo semestre deste ano teria comportamento diferente do normal. Muitas firmas se precipitaram com demissões, e hoje já há notícias que alguns produtos estão em falta. Demitiram, não repuseram [as vagas] e começaram a faltar alguns produtos. Então hoje, está havendo uma contratação maciça, invertendo a tendência do que ocorre nessa época do ano.
FOLHA - E a previsão para 2010?
LUPI - Será o melhor ano do governo Lula na geração de emprego. A previsão é que serão criados 2 milhões de empregos.
FOLHA - O que permitirá isso?
LUPI - Todo o processo produtivo está a favor. Antes, era só o processo interno da economia. Agora, o mundo está começando a se contaminar por esse círculo favorável. O presidente dos EUA, Barack Obama, comemorou a queda de somente 15 mil empregos em novembro, ante a perda de 250 mil em outubro. O cenário externo contribuirá, e o interno continuará muito forte.
FOLHA - Todos os setores terão desempenho favorável?
LUPI - A indústria, como demitiu muito, acaba tendo que contratar mais. Mas o comércio terá período forte de contratação. As admissões são fortes de setembro a dezembro, depois acabam os contratos temporários. O setor de serviços é o maior empregador do país, com contratações em turismo, restaurantes, hotelaria. E a agricultura também manterá bom nível de admissões. O que sustentará o emprego é a indústria, serviços e construção civil.
FOLHA - E os salários em 2010?
LUPI - A A tendência é de crescimento em 2010 porque o aumento real do salário mínimo empurra [a massa salarial] para cima. A média [dos salários] de quem foi contratado neste ano já é 4% maior do que a média dos contratados em 2008. A maior fatia das contratações está concentrada na faixa de 1 a 3 salários mínimos, justamente onde ocorre mais rotatividade.
FOLHA - A rotatividade ainda é elevada?
LUPI - É altíssima. Porque há muitos setores da economia, como agricultura e comércio, que contratam por períodos determinados e depois dispensam. O comércio deve contratar em três meses [setembro a novembro] de 450 mil a 500 mil. E, em dezembro, chega a demitir 200 mil. No setor de serviços também há muito trabalho temporário, e a rotatividade é grande. Em 2008, foram 15 milhões de admissões e 14 milhões de demissões.
FOLHA - O governo estuda alguma medida para conter a rotatividade?
LUPI - Há alguns estudos em análise. Mas o que se constata é que a rotatividade está relacionada, em grande parte, a contratos temporários e porque as pessoas conseguem empregos melhores, para ganhar mais. Não dá para avaliar genericamente a situação. Estamos estudando várias fórmulas, mas não encontramos ainda a ideal. Uma ideia é transformar acordos setoriais [entre governo, empresários e trabalhadores] em legislação. Como ocorreu com o acordo sobre o trabalho aos domingos no comércio."
FONTE: publicado hoje (26/12) na Folha de São Paulo.
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