Para Itaú Unibanco, PIB teria caído 3% sem gasto público extra, redução de impostos, crédito estatal e ação do BC
"A RECESSÃO no Brasil teria sido muito maior caso o governo não tivesse adotado medidas de estímulo. Isso agora é mais do que óbvio. Quão maior? Nas contas dos economistas do Itaú Unibanco, o PIB de 2009 teria vindo a encolher 3,2%, em vez de apenas estagnar, "crescer zero". Os economistas fizeram a previsão de um futuro que não aconteceu -um exercício "contrafactual". Isto é, dadas certas teorias, premissas e pressupostos sobre o funcionamento recente da economia, procura-se estimar o que poderia ter sido, mas não foi.
Para prever esse futuro virtual, os economistas estimaram que o Banco Central teria começado a reduzir juros apenas no segundo trimestre deste ano, de "modo gradual", dizem. Hipergradual, deve-se dizer, pois o BC começou a reduzir juros apenas em janeiro deste ano. Quando a economia mundial já afundava, o BC vinha numa campanha que levaria os juros a 13,75% dias antes da grande semana de quebradeira de bancos nos EUA, em meados de setembro de 2008. Segundo o Itaú Unibanco, os cortes de juros contribuíram para evitar queda adicional de 0,8 ponto percentual do PIB.
O exercício levou em conta apenas o IPI sobre veículos -considerou-se que não teria havido redução da alíquota vigente em setembro de 2008. Supôs-se que os gastos do governo, as transferências sociais (INSS, Bolsa Família etc.) e os empréstimos do BNDES cresceriam apenas no ritmo médio dos trimestres antecedentes.
No modelo, a fatia de mercado de Banco do Brasil e CEF foi a verificada antes de setembro de 2008. Note-se que, até meados do ano, os bancos estatais eram responsáveis por 80% do aumento do estoque de crédito.
As medidas fiscais e o aumento do crédito oriundo de instituições públicas contribuíram para evitar uma baixa adicional de 2,1 pontos percentuais do PIB.
Exercícios contrafactuais padecem dos problemas sabidos de qualquer estimativa. Mas a vida é assim mesmo, e é melhor fazer previsões do que caminhar no escuro. Mais relevante para a discussão é que a ocorrência simultânea de certos fatos é muito improvável (os economistas sabem disso, óbvio). Mesmo com o nosso BC conservador, os juros não ficariam na lua se o desemprego explodisse, a produção despencasse e os gastos do governo não crescessem. É provável que os juros caíssem mais rápido e para um nível mais baixo do que o atual. Para um nível quão mais baixo? Teriam um efeito tão imediato como o aumento de gastos e crédito estatal?
Não se trata apenas de questões de futurologia do pretérito. As políticas monetária (juros, BC) e fiscal (gastos, Fazenda) são descoordenadas. O governo gasta demais, por costume. Na crise, gastou ainda mais também porque desconfiava do conservadorismo do BC. O BC desconfia do governo perdulário, e assim torna-se mais conservador. O problema vai além disso, claro, mas a crise serviu para ilustrar outra vez como nossa política econômica é bifronte.
Enfim, o resumo da ópera da equipe do Itaú Unibanco é "valeu a força", mas chegou o momento de tirar o excesso de estímulo, dado o risco de inflação (em 2011). Parece óbvio. Mas, a fazê-lo, o mais racional é pisar mais fundo no freio dos gastos do que no breque dos juros."
FONTE: artigo de Vinicius Torres Freire publicado hoje (22/12) na Folha de SP.
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