domingo, 20 de dezembro de 2009

MEIRELLES: DILMA MANTERÁ A ESTABILIDADE

Eleita, Dilma manterá a estabilidade, diz Meirelles

Sobre Serra, presidente do BC diz que não conversou com ele sobre esse tema

Meirelles afirma que ainda não se definiu sobre sua candidatura em 2010 e que no momento pensa em ficar no BC até fim do mandato

"Sobre os dois principais pré-candidatos para 2010 e o risco de provocarem turbulências na economia durante a eleição, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, diz que pode falar em nome da ministra Dilma Rousseff, com quem já conversou sobre o tema.

Segundo ele, Dilma manteria a política econômica atual, inclusive a autonomia informal do BC. Sobre o governador paulista, José Serra (PSDB), que com frequência critica sua atuação à frente do BC, diz que não podia comentar, pois nunca falou com ele sobre o tema. (SÉRGIO MALBERGIER e VALDO CRUZ)

FOLHA - O sr. se filiou ao PMDB e pode ser candidato em 2010. Como estão as tratativas?

HENRIQUE MEIRELLES - O que estou fazendo é exatamente aquilo que disse no início. Eu não iria estar fazendo tratativas políticas durante esse período e, em março, me dedicaria a esse assunto para tomar uma decisão.
No momento, a probabilidade é que eu fique no BC.

FOLHA - Mas também dizem que, se o sr. for convidado para ser vice da ministra Dilma, aceitaria.

MEIRELLES - Eu não comento hipóteses ou rumores.

FOLHA - Na política, sempre se fala em hipóteses...

MEIRELLES - Menos ainda. Eu sou presidente do Banco Central ainda. Não sou político.

FOLHA - Mas o sr. já está se colocando na política, a filiação, a ida à festa do PMDB...

MEIRELLES - Não quer dizer nada. Vamos separar. Hoje [quinta-feira] tem a convenção do PMDB de Goiás. Não vou.

FOLHA - O sr. desistiu da opção política em Goiás?

MEIRELLES - Não é que desisti, é que não estou fazendo prática política.

FOLHA - Como a eleição pode influenciar a economia em 2010?

MEIRELLES - Partindo do pressuposto, que é a hipótese de trabalho do Banco Central, de que a meta de superavit primário será cumprida, portanto a economia deverá estar equilibrada, teremos uma situação econômica muito positiva, com o país crescendo forte, de forma equilibrada.

FOLHA - O sr. acha que os dois principais pré-candidatos, Dilma e Serra, estão comprometidos com esse modelo econômico, com a autonomia de fato do Banco Central?

MEIRELLES - Olha, posso falar pela pessoa com quem eu tenho tido uma convivência maior, de trabalho, que é a ministra Dilma, e ela tem me dito que sim. Quanto ao Serra, não tenho conversado com ele a respeito.
Vocês têm condições de ler os jornais tão bem quanto eu.

FOLHA - O sr. está sugerindo que o Serra não estará comprometido?

MEIRELLES - Não, não estou sugerindo nada. Cada um faz a sua avaliação. Eu não tenho conversado com ele a esse respeito. Eu não vou afirmar algo com base em impressões de jornais. Estou dizendo é que, com ela [Dilma], já conversei a respeito. Com ele, não. Nada impede que eu venha a conversar com ele e forme minha opinião. Quem sabe não seria uma boa ideia numa hora dessas fazer uma reunião com ele e perguntar.

FOLHA - É um convite ao Serra?

MEIRELLES - Não.

FOLHA - É uma frustração do sr. não ter aprovado, em lei, uma autonomia do Banco Central?

MEIRELLES - Não, por uma razão muito simples: porque o Banco Central na minha gestão gozou de total autonomia. Agora, eu acho que será positivo para o Brasil o momento em que for aprovada a autonomia formal.

FOLHA - Pelo seu discurso em favor da prudência, o sr. já deve estar pensando na sucessão do BC caso decida sair do cargo em março. Quem o sr. vai sugerir ao presidente Lula para substituí-lo? Uma solução caseira?

MEIRELLES - Não conversei ainda com o presidente sobre isso. Como não estou pensando nem na minha saída, menos ainda na sucessão.

FOLHA - Na diretoria do BC hoje só há praticamente um componente, Mário Mesquita, oriundo clássico do mercado. É uma diferença em relação às recentes diretorias. Tem algum significado?

MEIRELLES - Primeiro lugar, do meu ponto de vista, o Aldo Mendes [novo diretor] também. Apesar de o Banco do Brasil ser uma entidade que tem a presença de um acionista majoritário que é o governo, é uma instituição de mercado. No passado, já existiram mais representantes do mercado. Acho que é uma evolução natural, do próprio amadurecimento institucional do Banco Central, de que profissionais de carreira da instituição estejam cada vez mais preparados para assumir cargos na diretoria.

FOLHA - O sr. já é o presidente mais longevo do BC do Brasil. Quando assumiu o posto vislumbrava que ficaria tanto tempo?

MEIRELLES - Durante muitos anos, as pessoas no exterior me perguntavam qual é o meu mandato, a duração. Eu sempre respondia: "Um dia". Ele é renovado diariamente.

FOLHA - O sr. ficaria mais tempo no BC num próximo governo?

MEIRELLES - Não, acho que dois mandatos é uma duração para qualquer presidente de banco central, em qualquer país. Em vários países, esse é o limite. Em outros, não há, como nos Estados Unidos, onde a experiência do [Alan] Greenspan, a mim, mostra que não é uma experiência muito boa.

FOLHA - E como ministro da Fazenda no próximo governo?

MEIRELLES - No momento, estou pensando no Banco Central. Caso contrário, eu vou pensar em tanta coisa que não vou fazer outra coisa durante dias."

FONTE: publicado na Folha de SP de hoje (20/12).

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