"Promotores apuram propina paga por empresas de ônibus
Em troca, deputados teriam garantido benefício ao setor
Em uma nova frente de investigação, o Ministério Público do Distrito Federal apura denúncia de que deputados acusados de participar do chamado "mensalão do DEM" teriam cobrado propina milionária de empresários de transporte coletivo em troca da aprovação, na Câmara Legislativa, de uma emenda que beneficiaria o setor.
Em depoimento prestado na última quinta-feira a promotores do Núcleo de Combate a Organizações Criminosas, o ex-senador e empresário Valmir Amaral, dono de uma das principais companhias de transporte público de Brasília, deu detalhes do caso. O Estado obteve cópia das declarações de Amaral ao Ministério Público.
Aos promotores o ex-senador reafirmou denúncia feita há três semanas, quando apareceu de surpresa numa entrevista coletiva convocada pelo presidente licenciado da Câmara Legislativa do DF, Leonardo Prudente (DEM). O deputado, que virou personagem do escândalo após aparecer em vídeo escondendo dinheiro nas meias, é um dos que Amaral acusa de cobrar propina.
O ex-senador disse no depoimento que os donos das empresas de transporte teriam se cotizado para pagar o que os deputados distritais pediam: R$ 1,6 milhão para aprovar uma emenda que criava passe livre para deficientes físicos nos ônibus de Brasília. A emenda interessava aos empresários porque, com a criação do passe livre, eles passariam a receber do governo um subsídio de pelo menos R$ 4 milhões por mês.
O ex-senador disse que a proposta lhe foi apresentada pelo presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Público do DF, Wagner Canhedo Azevedo Filho, filho de Wagner Canhedo, ex-controlador da falida Vasp.
Amaral disse ter ouvido de Canhedo que, primeiro, seria preciso pagar R$ 1 milhão aos deputados para aprovar a emenda. Num segundo momento, os parlamentares cobrariam mais R$ 600 mil caso fosse preciso derrubar em plenário um eventual veto do governo.
A tramitação da emenda se deu justamente como os empresários queriam. O texto foi aprovado na Câmara, o governador José Roberto Arruda vetou o subsídio, mas em seguida os deputados derrubaram o veto.
Segundo Amaral, o rateio da propina foi feito conforme a participação de cada empresa no mercado. A maior fatia, segundo o depoimento, seria paga pelas empresas de Nenê Constantino, dono da Gol Linhas Aéreas e do conglomerado que detém a maior fatia (39%) do mercado de transporte coletivo urbano do DF. A cota que cabia à empresa de Amaral era de R$ 170 mil - ele garantiu aos promotores que não pagou.
O ex-senador disse no depoimento que o dinheiro seria repassado ao presidente da Câmara, Leonardo Prudente, à líder do governo, Eurides Brito (PMDB), e ao deputado Benício Tavares (PMDB). Num dos vídeos entregues ao Ministério Público pelo ex-secretário Durval Barbosa, o homem que deflagrou o escândalo no DF, o deputado Benício Tavares trata da aprovação do subsídio aos donos das empresas de ônibus. Na gravação, Barbosa diz que a emenda foi "bancada por Canhedo".
DEFESA
Procurado pelo Estado, o deputado Leonardo Prudente disse, por meio de assessores, que não se manifestaria porque estava terminando de preparar sua defesa no processo de expulsão a que responde no DEM. Eurides Brito não foi localizada. Auxiliares disseram que ela está processando Valmir Amaral por causa da denúncia. A assessoria de Benício Tavares afirmou que ele só falará sobre o assunto "no momento oportuno".
Wagner Canhedo Filho disse, também por meio de sua assessoria de imprensa, que desconhece os fatos denunciados por Valmir Amaral e que cabe ao ex-senador provar o que disse. A assessoria da Viação Planeta, de propriedade de Nenê Constantino, nega que a empresa tenha dado propina aos deputados."
FONTE: reportagem de Rodrigo Rangel publicada hoje (23/12) no "O Estado de São Paulo" [título colocado por este blog].
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