"Comparação tem de ser matizada, adverte chileno
Para o historiador chileno Alfredo Jocelyn-Holt, da Universidade do Chile, é difícil comparar Chile e Argentina sem considerar as particularidades e a história de cada país.
O historiador, autor dos três volumes de "História Geral do Chile" (ed. Sudamericana), diz que o caso chileno é aparentemente mais exitoso, mas ressalta a menor complexidade do país diante da Argentina. Leia a seguir os principais trechos da entrevista. (TG)
FOLHA - Os últimos fatos mostram que o Chile pós-ditadura deu certo, e a Argentina não?
ALFREDO JOCELYN-HOLT - Essa comparação se simplifica muito se não levarmos em conta as singularidades dos países. É uma análise que deve ser feita dentro da própria história do país. Há a natureza do Estado argentino, com clientelismo forte que opera sob todos os governos. O Chile é aparentemente mais bem-sucedido, mas é mais fácil de governar do que a Argentina. O Chile é um país pobre em recursos econômicos, distante das rotas comerciais, despovoado. Isso nos levou a ter um sistema político mais habilidoso, inteligente, para administrar o pouco que há. Por esse lado, não podemos nos dar certas liberalidades e excessos que a Argentina pode ter.
FOLHA - E qual foi o papel das ditaduras militares no desenvolvimento dos países?
JOCELYN-HOLT - A ditadura chilena foi exitosa sob o ponto de vista econômico. Ao ser exitosa, se projetou no sistema político mesmo depois da sua queda, colocando as condições para a Concertação [coalizão de centro-esquerda que governou o país desde o fim da ditadura] aperfeiçoar o modelo neoliberal.
A continuidade assegura políticas menos erráticas. Na Argentina a ditadura foi claramente derrotada, e o país também possui um sistema federal que pressupõe muita negociação com as Províncias, o que não acontece no caso chileno."
FONTE: publicado hoje (24/01) na Folha de São Paulo.
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