segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

ÊXITO NO CARIBE

"O PASSO ADIANTE DO BRASIL

No comando da Minustah, país foi alçado à condição de líder depois de pacificar o Haiti com estilo bem diferente do americano. Poucas estruturas resistiram intactas à força do terremoto que devastou o território do Haiti e fez emergir o caos em um país já duramente atingido pela miséria. A confiança no trabalho das tropas brasileiras foi uma delas. Integrantes, junto com militares de outros países, da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), elas estabeleceram na nação caribenha uma maneira de pacificar que alçou o Brasil à condição de líder.

– A liderança foi consolidada ao longo desses anos pelas atitudes, pela competência, pela imparcialidade, pela responsabilidade. Se não tivéssemos isso antes, não estaríamos com essa imagem tão positiva – avalia o general de exército José Elito Carvalho Siqueira, que esteve à frente do comando militar da Minustah entre 2006 e 2007 e hoje atua na Secretaria de Ensino, Logística, Mobilização, Ciência e Tecnologia do Ministério da Defesa.

Levados ao Haiti por força da instabilidade política que se seguiu à saída do presidente Jean-Bertrand Aristide, em 2004, os militares brasileiros foram moldando sua maneira de atuação “à medida que foram se identificando e se comprometendo com a missão”, observa o general. No dia a dia da tropa, mesclou-se a preocupação com a segurança, mas também com o bem-estar social da população local: os soldados faziam operações, mas ao mesmo tempo reabriam escolas, asfaltavam ruas, faziam atendimentos médicos. O resultado foi o apoio do povo haitiano, que passou a enxergar nas tropas uma entidade imparcial.

– Mesmo quando fazíamos ações fortes, a população via no soldado da missão de paz, particularmente no brasileiro, alguém que reagia às más situações e apoiava todas as boas situações. Os militares passaram a ter credibilidade perante aquela população tão sofrida – explica o general.

Embora considere um pouco prematuro, o gaúcho Ricardo Seitenfus, representante especial do secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) em Porto Príncipe, diz que é possível falar em uma “escola brasileira”, cuja característica é imprimir uma complexidade maior às operações de paz, atacando não apenas as consequências, mas também “as raízes do mal”:

– É uma escola que percebe que a instabilidade política e a falta de segurança são consequências, são ocasionadas por elementos estruturantes na sociedade na qual isso ocorre.

O modelo de atuação bem-sucedido também está atrelado a uma empatia estabelecida com a população local devido a semelhanças culturais entre os dois países. Para Antonio Jorge Ramalho, professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UNB), que durante sua estada de um ano e cinco meses no Haiti criou o Centro de Estudos Culturais Brasileiros, a situação do país caribenho é melhor compreendida pelos militares brasileiros, porque se parece com a nossa própria situação.

– Se o Brasil disser uma coisa, a percepção que os haitianos têm é de que estamos compartilhando uma experiência. Se os americanos disserem a mesma coisa, a tendência será de cautela, porque no passado eles foram invadidos pelos Estados Unidos – explica Ramalho."

FONTE: reportagem de GISELE LOEBLEIN publicada hoje (25/01) no jornal Zero Hora.

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