quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

SOBRE MALVINAS: LULA CRITICA BRITÂNICOS, EUA E ONU


Brasileiro afirma no México que "não é possível" que Nações Unidas não tomem a decisão de que as ilhas são argentinas

Presidente liga inatividade de organismo sobre o tema ao fato de Reino Unido ser membro permanente do Conselho de Segurança

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem a posição do Reino Unido, que já está prospectando petróleo nas águas das Malvinas, e a da ONU, por não intervir para defender as pretensões argentinas de soberania sobre as ilhas.

Criticou ainda os EUA ao dizer que as potências tornam as Nações Unidas irrelevantes em questões mundiais.

Lula questionou durante seu discurso no fim da Cúpula da Unidade da América Latina e do Caribe, no México, o fato de as ilhas pertencerem ao Reino Unido -algo que remonta à presença britânica estabelecida [à força, com a expulsão dos argentinos] em 1833.

"Qual é a explicação geográfica, política e econômica de a Inglaterra estar nas Malvinas? Qual é a explicação política das Nações Unidas já não terem tomado uma decisão dizendo: "Não é possível que a Argentina não seja dona das Malvinas e seja um país que está a 14 mil km de distância das Malvinas?'", questionou Lula.

"Será que é o fato de a Inglaterra participar como membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, e eles podem tudo e os outros não podem nada?", indagou. A presidente argentina, Cristina Kirchner, que na véspera criticara em discurso a seus pares a decisão britânica de prospectar petróleo nas proximidades das Malvinas, já tinha deixado a cúpula antes da fala de Lula.

O presidente brasileiro insistiu na necessidade de uma reforma do Conselho de Segurança para a inclusão de novos membros permanentes e voltou suas baterias contra Washington, citando especificamente o Oriente Médio -região na qual o Brasil vem ensaiando uma tentativa de protagonismo ao apoiar abertamente o criticado programa nuclear iraniano.

Lula disse que a ONU deveria assumir a responsabilidade de negociar a paz na região. "A ONU perdeu representatividade. Muitos dos países que ficam no Conselho de Segurança preferem a ONU frágil para que eles possam desobedecer as decisões e fazer do seu comportamento enquanto nação a grande personalidade de governança mundial."

No encontro, os representantes dos 32 países (Honduras, com quem parte dos países da região segue rompida desde o golpe que depôs o ex-presidente Manuel Zelaya, em junho de 2009, não esteve presente) aprovaram por unanimidade a reivindicação da Argentina pela soberania sobre as ilhas.

Despedida

Após o discurso de Lula, o presidente mexicano, Felipe Calderón, em tom de despedida, lembrou que o brasileiro está em seu último ano de mandato e o chamou de "líder indiscutível da nossa região, que dá enorme força e equilíbrio à América Latina".

"O Brasil é o nosso maior país, o que tem mais território, o que tem mais habitantes, também teria de ter forçosamente um grande presidente, como é Lula da Silva", disse Calderón, seguido de aplausos.

Em sua fala, Lula disse que não iria se despedir durante a cúpula. "A próxima [reunião] será na Venezuela em 2011, e eu já não estarei mais na Presidência do Brasil. De qualquer forma, não tem aqui nenhuma despedida porque vou encontrar com vocês em muitos fóruns até o dia 31 de dezembro."

FONTE: reportagem de SIMONE IGLESIAS e FABIANO MAISONNAVE, enviados da Folha em Cancún, México, publicada hoje (24/02) na Folha de São Paulo [título e entre colchetes colocados por este blog].

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