O 'OLHO GRANDE' NO PETRÓLEO DO IRÃ É O VERDADEIRO E ESCUSO OBJETIVO
"Governo brasileiro teme que ocorra ataque militar dos EUA ao Irã
Questionado sobre a posição do governo brasileiro em relação ao programa nuclear desenvolvido pelo Irã, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, revelou que há um temor que ocorra naquele país “uma situação parecida com a que ocorreu no Iraque, e tudo indica que a situação está caminhando nesse sentido”.
Na iminência de um ataque militar dos Estados Unidos ao país, o chanceler diz que o Brasil quer ajudar na busca pelo entendimento.
“Como temos um bom diálogo com o Irã e um bom diálogo também com os países ocidentais, vamos ver se é possível chegar a uma conclusão que permita, de um lado, ao Irã continuar tendo um programa pacífico de energia nuclear e, do outro, dar garantias ao Ocidente e à comunidade internacional como um todo, de que o Irã não está usando isso para fins nucleares”, disse.
O ministro tratou do assunto numa palestra feita mês passado na Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República. O "Vermelho" teve acesso ao conteúdo dos debates até então restrito como documento interno do Itamaraty. Entre outras questões, o chanceler fala do eixo estruturante da política externa do Governo Lula.
Sobre a possibilidade de um desgaste da política externa, num ano eleitoral, por conta das posições assumidas em relação ao Irã, Amorim diz que não se trata de apoiar política nuclear iraniana.
“O que o Brasil tem dito é que o Irã, assim como o Brasil, tem direito de desenvolver um programa nuclear pacífico. E é preciso, para isso, que ele esteja se comportando dentro das regras da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e do Tratado de Não-Proliferação (TNP), do qual é signatário”, defende.
Segundo ele, é importante ter em mente que há países que não assinaram o TNP e sabidamente têm armas nucleares. Cita a Índia e Paquistão que fizeram isso declaradamente e Israel, não-declaradamente. “Todas as vezes em que se discute a possibilidade de um Oriente Médio livre de armas nucleares, os Estados Unidos são, quase sempre, os primeiros a se opor, em função de sua aliança com Israel”, explicou.
“O Brasil é, obviamente, contra a proliferação nuclear. Não faria sentido o país assinar o Tratado de Não-Proliferação, dizer na sua Constituição que as armas nucleares estão proscritas, e achar razoável que outros desenvolvam ou adquiram a bomba”, argumentou.
Revisão da TNP
O ministro diz que a posição básica do governo é estabelecer o diálogo. Afirmou que isso será feito em breve na conferência de revisão do TNP quando o Brasil vai cobrar o cumprimento do artigo 6, que versa sobre o desarmamento nuclear.
“Até agora muito se fez e muito se fala sobre a não-proliferação, mas nada se fez pelo desarmamento”, disse ele, lembrando que o Brasil assinou o TNP sob a convicção de que deveria existir um equilíbrio entre não-proliferação e desarmamento.
No caso do Irã, Amorim diz que o Brasil defende o programa nuclear pacífico. “Houve, no passado, suspeitas em relação à quantidade de urânio não-declarada ou não-especificada. Não sei se as respostas oferecidas pelo Irã foram consideradas totalmente satisfatórias ou não. De lá para cá, a Agência Atômica continua inspecionando. Até onde sabemos, não há nenhum indício de desvio no destino do urânio no Irã.”
Ele diz que existem dúvidas ainda sobre um passado um pouco longínquo, mas quando a própria Agência Atômica se refere a essas dúvidas, usa o termo “alegados estudos”. “Quer dizer, nem os estudos são estudos. São estudos alegados. Provavelmente relatórios de serviços secretos de países que não simpatizam com o Irã”, afirmou.
Para o ministro, o Brasil tem um desejo natural de ter boas relações com o Irã, país com quase 80 milhões de habitantes e que terá uma grande influência no Oriente Médio e, portanto, na paz mundial e nos preços do petróleo.
Busca do diálogo
Segundo o ministro, atualmente existe uma proposta cujos conceitos básicos parecem ser favoráveis a um lado e ao outro. O Brasil e a Turquia têm procurado restabelecer as condições para esse diálogo. “O que ouço muito é que os países ocidentais valorizam a interlocução do Brasil e da Turquia, mas isso às vezes vem com um apoio cheio de crítica”, disse, referindo-se as posições de que o Irã só está querendo ganhar tempo.
Ele não descarta essa possibilidade, mas alega que para se passar do estágio atual para à bomba atômica, e há relatórios americanos que dizem isso, não se passa em seis, oito meses. “Não passará provavelmente nem em dois anos. Se o Irã está tentando comprar urânio a 20% é porque ele tem dificuldade. A não ser que tudo faça parte de um despistamento absolutamente diabólico”, diz.
“O Irã precisa mostrar internamente que não está assinando 'on the dotted line', quer dizer, que não está assinando onde mandam assinar, como se tivesse um formulário pronto. Trata-se de poder negociar um pouco, discutir prazo, discutir como seria feita a entrega. Quem sabe pode haver um acordo?”
O maior problema, segundo o ministro, é o anuncio feito pelo Irã de que vai enriquecer urânio a 20%. “Penso que isso é ruim para o mundo, porque se houver no Irã uma tragédia como houve no Iraque, vai haver consequências incalculáveis. Porque o Irã não é o Iraque. O Iraque não tinha um regime bem visto. Saddam Hussein, em geral, não era bem visto no mundo árabe, até porque se tratava de um regime muito secular.”
Na sua opinião, o caso do Irã é diferente. “Claro que a maior parte dos governantes tem grandes restrições ao Irã. Mas o fato é que o regime iraniano têm grande penetração na massa. Se houver um ataque militar ao Irã, isso terá, provavelmente, consequências muito graves, ao meu ver, muito além do Irã”, prevê."
FONTE: reportagem de Iram Alfaia publicada hoje (31/03) no portal "Vermelho" [1º parágrafo colocado por este blog].
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