"E aí, quem vai entrar nessa manobra?
Reproduzo, para que todos vejam aqui, trechos de entrevista publicada pela Folha Online, como é ingênuo – não posso crer que seja cúmplice – entrar nessa tolice de abrir baterias contra Ciro Gomes. Convém ler na íntegra, mas reproduzo trechos para que vocês entendam o que estão fazendo.
Ciro, com toda a razão e coerente com seu jeito de ser, reage à tentativa do repórter de tratá-lo como ex-candidato. Leiam:
Folha – O senhor pretende se reunir com a candidata Dilma Rousseff para discutir colaborações suas para o programa de governo dela?
Ciro – Sua entrevista está completamente fora de tempo, ou então você está querendo enterrar o defunto com ele vivo ainda. É preciso refrasear as perguntas aí.
Folha – Insisto. Na hipótese da decisão de terça-feira ser desfavorável aos seus anseios, o senhor pretende colaborar com o programa de governo da ex-ministra Dilma Rousseff?
Ciro – Eu acho que é uma falta de delicadeza você tratar como defunto quem está vivo, antes de ser enterrado. Publique isto.
A Folha usa isso para dar a seguinte manchete: Ciro Gomes: “Estão querendo enterrar o defunto com ele vivo ainda”.
Estão? Quem estão? Lula? Dilma? Os aliados da base do Governo? Ou a Folha de S. Paulo? Ciro mostrou o que é evidente e que eu tenho registrado aqui. Ele enfrenta, não foge.
Depois, ele esclarece bem a intriga de que ele teria dito que Serra é candidato melhor que Dilma:
Folha – Em entrevista ao portal iG, o senhor declarou que José Serra é mais capaz do que Dilma Rousseff. A sua visão é essa, efetivamente?
Ciro – Eu não dei nenhuma entrevista para o portal iG.
Folha – Independentemente da entrevista, o senhor acredita que José Serra é mais capaz do que a ex-ministra Dilma?
Ciro – O que eu digo a todo mundo que me pergunta é que a Dilma é uma pessoa muito melhor do que o Serra, mas infelizmente para nós outros, o Serra é mais preparado do que ela, mais legítimo do que ela.
Folha – O que confere legitimidade a um candidato?
Ciro – Estrada, serviço prestado, experiência, derrotas, vitórias, compromissos assumidos. Isso é o que confere legitimidade a alguém.
Folha – Já que ele prestou serviços ao país, cumpriu compromissos, por que o senhor o vê como uma figura ruim para o país?
Ciro – A vinculação a um projeto de país que prejudicou o Brasil de forma quase criminosa. Ele foi ministro do governo Fernando Henrique durante quase oito anos. Não adianta fazer de conta, manipular, fazer conivência da grande mídia, lavagem cerebral, não adianta. Ele foi ministro do Planejamento no tempo em que se formatou a privataria. Ele foi ministro da Saúde, ele foi o sucessor do Fernando Henrique, ele foi a Dilma do Fernando Henrique. Isso, infelizmente, é o real. Então, na política, você é você e as suas circunstâncias. Eu, por exemplo, era da mesma turma e rompi quando vi o Fernando Henrique fazer o que estava fazendo. Fui para o deserto, fui falar contra, apelar contra, sofri o pão que o diabo amassou, para sustentar a coerência da minha percepção de mundo em relação ao Brasil.
Dá para entender a quem servem as agressões a Ciro? Dá para perceber o que está sendo montado? Não é possível que não vejam. E que não saibam que, batendo em Ciro, vão receber troco e é isso que a mídia serrista aguarda, ansiosa. O pessoal do “paz e amor” com o sistema, curiosamente, não quer “paz e amor” com os aliados.
O sectarismo e a cegueira política não são privilégio de alguns setores do PT, e felizmente uma minoria ali. Existem em todos, inclusive no PDT. Pessoas que, até inconscientemente, vêem a máquina partidária em primeiro plano. Isso nada tem a ver com disciplina partidária, após as decisões tomadas legitimamente. Mas tem a ver com exercer a política como ela deve ser: o objetivo é servir ao país e ao povo, o partido é a ferramenta deste serviço.
Temos muitos problemas ainda para o enfrentamento que virá. Existem egoísmos, mas também existem legítimas aspirações de lideranças estaduais. Vejam o caso do Paraná: tem toda a razão o senador Osmar Dias, a única candidatura capaz de derrotar o PSDB local, em pretender que o PT dê o seu vice. Mas o PT insiste que só quer o Senado, para concorrer com voto próprio. Ora, o que é isso senão querer um acordo local com a tucanagem? E Osmar tem toda a razão em dizer que, assim, não vai ser candidato para ser imolado, concorre a uma reeleição certa como senador.
E pronto, temos um problemaço para Dilma no Estado.
Em outros estados, teremos candidaturas separadas. Paciência.
Daí a nos agredirmos vai uma distância astronômica.
Faço um apelo para que todos – inclusive meu partido – tenhamos grandeza nesta hora. Alguém acha que estou plenamente satisfeito com todas as alianças que se fazem? Mas eu estou aqui para servir aos meus caprichos e às minhas preferências ou para servir ao povo brasileiro, que vai lutar uma batalha decisiva, um momento de definição de seu destino?
Vou repetir uma frase que ouvi dúzias de vezes de Leonel Brizola: eleição não é corrida de cavalos, para se apostar neste ou naquele. Eleição é o momento de perceber, galvanizar e fazer triunfar o desejo e as necessidades do povo brasileiro.
Lembrem-se, senhores: se não formos grandes o suficiente para o combate que se aproxima, o povo brasileiro nos deixará à margem, como inúteis. Reunir significa aceitar diferenças em nome de uma identidade. Mas só podemos nos reunir se houver respeito e dignidade em nossas relações.
A candidatura Dilma – e dela Ciro não fez nenhum senão, exceto dizer que é inexperiente em campanhas eleitorais – precisa desta grandeza. Porque ela é, neste momento, a possibilidade de um novo projeto de país. E isto está acima de qualquer projeto de partidos ou grupos, por mais respeitáveis que sejam."
FONTE: escrito por Brizola Neto e publicado hoje (24/04) em seu blog "Tijolaço".
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