sexta-feira, 23 de abril de 2010

CARLOS LESSA: "FHC PLANEJOU A MORTE DO BNDES"

"O FMI sempre quis desmantelar o BNDES, porque é um instrumento de soberania nacional - sustenta Carlos Lessa"

"FHC planejou morte do BNDES", critica Carlos Lessa [contra as privatizações conduzidas pelo governo FHC/PSDB/PFL-DEM]

O debate sobre as privatizações no governo FHC volta a emergir e a provocar tiroteios entre petistas e tucanos. Um "Memorando de Política Econômica" de 1999 foi desempoeirado. O ex-presidente do BNDES Carlos Lessa diz que gestão de FHC planejou a morte do banco. "Fiz uma hecatombe para evitar privatização do BNDES"

Seguem-se alguns trechos da reportagem de Claudio Leal publicada no portal "Terra Magazine":

(...) "Neste abril de 2010, no lançamento da pré-candidatura de José Serra (PSDB) à presidência, o ex-governador mineiro Aécio Neves pisou no recalque ao defender o legado de FHC, não por coincidência sentado a seu lado no evento: "Privatizamos, sim, setores que precisavam ser, como a telefonia (...), que negaram espaço à eficiência".

No mesmo 10 de abril, em São Bernardo do Campo (SP), o presidente Lula reanimou o discurso que emparedou Geraldo Alckmin (PSDB) em 2006. "Sou um homem de boa índole, mas em um momento auspicioso, o ex-governador de Minas (Aécio) disse que eles reforçariam as privatizações e foi muito aplaudido. Foi o momento de maior aplauso na festa dele. Eu não quero esses aplausos", Lula refugou.

(...) Dos arquivos implacáveis dos petistas, começa a ser desempoeirado o "Memorando de Política Econômica", de 8 de março de 1999, texto-compromisso do governo brasileiro com o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial - no jargão tecnocrático, "os desenvolvimentos econômicos que levaram à formulação do programa do governo brasileiro apoiado pelo FMI Banco Mundial BID/BIS".

O Jornal da CUT (Central Única dos Trabalhadores), no número 24, remoeu a promessa de privatizar os bancos federais, feita pelo PSDB. No item 18, a equipe econômica de FHC afirmou: "com determinação o governo dará continuidade à sua política de modernização e redução do papel dos bancos públicos na economia".

No trecho mais polêmico, o itinerário a ser traçado: "o Governo solicitou à comissão de alto nível encarregada do exame dos demais bancos federais (Banco do Brasil Caixa Econômica Federal BNDES BNB e BASA) a apresentação até o final de outubro de 1999 de recomendações sobre o papel futuro dessas instituições tratando de questões como possíveis alienações de participações nessas instituições fusões vendas de componentes estratégicos ou transformação em agências de desenvolvimento ou bancos de segunda linha (...)".

Ações não-votantes da Petrobras foram empenhadas: "O Governo pretende acelerar e ampliar o escopo do programa de privatização - que já se configura como um dos mais ambiciosos do mundo (...) O Governo também anunciou que planeja vender ainda em 1999 o restante de sua participação em empresas já privatizadas (tais como a Light e a CVRD) bem como o restantes de suas ações não-votantes na PETROBRAS."

(...) Meus dois antecessores no BNDES estavam preparando o banco para morrer. Queriam convertê-lo em banco de investimento, para depois dizerem: não precisamos de um banco de investimento. Expliquei tudo isso a Lula. Tanto que Lula me deu uma carta branca. Demiti todos os quadros, não sobrou um. Fiz logo uma hecatombe! Demiti cento e tantos. Aí a Miriam Leitão me atacou, não é? - ironiza Lessa.

(...) Concordaram [FHC/PSDB/DEM] com a orientação do FMI pra tomar o empréstimo. O FMI sempre quis desmantelar o BNDES, porque é um instrumento de soberania nacional - sustenta Carlos Lessa.

(...) Lessa reconhece, no entanto, que o primeiro governo de Lula modificou os planos privatistas no setor bancário. Naufragaram os propósitos do "Memorando de Política Econômica" de FHC.

Apesar das investidas desestatizadoras em outros setores, a gestão petista pode incluir um dado a mais no seu memorando de robustecimento dos bancos federais.
Ontem, o argentino Patagonia anunciou a venda de 51% do seu capital votante ao Banco do Brasil. A compra do controle está orçada em US$ 479,66 milhões.

Berzoini: "PSDB vendeu tudo em SP"

Entre as privatizações traumáticas do governo do PSDB, lideram as da Telebras e da Companhia Vale do Rio Doce. Numa entrevista ao repórter Fernando Rodrigues, da Folha de S. Paulo, em 5 de novembro 2006, o publicitário da campanha de Dilma Rousseff, João Santana Filho, expôs o uso da isca privatista na reeleição de Lula, a partir de sondagens sobre o imaginário brasileiro:

(...) Não quero questionar como foram feitas as privatizações no governo FHC, mas o fato é que o processo ficou na cabeça das pessoas como se algo obscuro tivesse ocorrido.

Alckmin negou a pecha de privatista, mas, em debates e comícios, Lula mordia: "O que eles querem? Vender o restante das coisas que não venderam no governo passado. Querem privatizar o que resta neste país. Coisas importantes, como a Petrobras, o BB e a CEF. Como eles nunca trabalharam, querem vender o que têm", discursou em Duque de Caxias (RJ), em 11 de outubro de 2006.

Ex-presidente do PT, o deputado federal Ricardo Berzoini aposta que o "tema mais forte" da campanha será o "papel do Estado na América do Sul". Formado no movimento sindical dos bancários, ele identifica uma polarização entre os que priorizam o Estado reduzido e os que acreditam que ele pode cumprir um papel de execução na área econômica e social".

Berzoini defende a pertinência da questão, em 2010, principalmente com os desdobramentos da crise financeira. E não descarta um flerte desestatizador dos tucanos contra o Banco do Brasil:

- No Estado de São Paulo, o PSDB vendeu tudo ao longo de 16 anos de governo. A Nossa Caixa só não foi privatizada porque o Banco do Brasil comprou. Não tem mais banco público em São Paulo. Pelo retrospecto, dá pra dizer que o PSDB não gosta de banco público e empresa pública.(...)

FONTE: alguns trechos da reportagem de Claudio Leal publicada no portal "Terra Magazine". Partes da reportagem foram omitidas por este blog, pois pareceram 'tucanizadas' em excesso, decorrentes dos fortes laços familiares e afetivos de Carlos Lessa com o seu afilhado de casamento José Serra [subtítulo e entre colchetes colocados por este blog].

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