sexta-feira, 30 de abril de 2010

ÍNTEGRA DA ENTREVISTA DE LULA PARA TV DO LÍBANO

Entrevista exclusiva concedida pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, à LBC TV, do Líbano

Realizada no Centro Cultural Banco do Brasil – Brasília-DF, em 22 de abril de 2010

Jornalista: Boa noite, de Brasília. Luiz Inácio Lula da Silva, Presidente por duas vezes e governa o Brasil numa popularidade enorme. Esse socialista que veio, que era um trabalhador e teve sucesso, e teve o privilégio de levar o Brasil a ter um papel fundamental, forte, político e cultural, especialmente de negociações na América Latina.

Lula, ele está, esse Presidente pragmático, entre amigo dos árabes e lutador para grandes causas de justiça, de liberdade e de pobreza da democracia. Este é... Hoje estará conosco o presidente Lula, na LBC. É por isso que será muito difícil, para quem vai suceder o presidente Lula, quem vai governar depois do Lula.

Boa noite, senhor Presidente. Muito obrigado e seja muito bem-vindo à LBC nessa conversa. Qual é o segredo dessa grande popularidade que o senhor tem?

Presidente:
Eu acredito que o segredo da nossa popularidade são os acertos das políticas públicas, das políticas sociais e da política econômica que estamos colocando em prática no Brasil. Eu tinha muita clareza de que quando o Brasil elegeu um torneiro mecânico para ser Presidente da República, o Brasil tinha que dar certo porque se não desse certo iria demorar mais cem anos para um trabalhador, para um operário chegar à Presidência da República.

Então, eu trabalho todo esse tempo com a cabeça muito firme numa convicção de que o Brasil tem que dar certo, o povo tem que melhorar de vida para que a gente possa provar à sociedade brasileira, aos trabalhadores, aos intelectuais, aos empresários e ao mundo que um operário, saído de dentro de uma fábrica, pode governar um país do tamanho do Brasil. E as coisas deram certo. Eu sempre me inspiro no papel de uma mãe. Não existe nenhum governante melhor do que uma mãe porque se uma mãe tiver dez filhos, cinco filhos, oito filhos, ninguém vai distribuir, de forma mais justa a comida para os filhos do que uma mãe. Não adianta ser bonito, não adianta ser maior. Todo mundo tem que ter direitos iguais e todo mundo tem que comer a mesma qualidade de comida. E no governo tem que ser assim. Nós precisamos repartir aquilo que o Brasil produz de riqueza para que atenda os 200 milhões de brasileiros e não apenas a uma pequena elite, e isso tem dado certo, graças a Deus.

Jornalista: Presidente, vai ser um papel muito difícil, uma responsabilidade, muito grande para quem suceder Vossa Excelência na Presidência. Vossa Excelência acha que quem vier a sucedê-lo nas próximas eleições, será que vai dar o mesmo sonho de um trabalhador simples que chegou à Presidência e viveu o problema dos pobres e sentiu o problema dos pobres?

Presidente:
Olhe, eu tenho, eu tenho uma candidata, e essa candidata obviamente que me ajudou a elaborar o programa e, portanto, é coparticipante do sucesso que o governo vive neste momento. E eu a indiquei porque é uma pessoa da maior capacidade, uma pessoa com capacidade de gerenciamento extraordinária, uma pessoa de uma lealdade fantástica e uma pessoa que está gabaritada para dar continuidade, aprimorar, melhorar e fazer mais do que nós fizemos nesses oito anos.

Por quê? Porque o paradigma que ela tem para começar a trabalhar é diferente do paradigma que eu comecei a trabalhar em 2003. O Brasil está melhor: está melhor na Educação, está melhor na Saúde, está melhor no emprego, está melhor no salário, está melhor na distribuição de renda, a economia brasileira está melhor, o Brasil é mais respeitado no mundo hoje. Então, a pessoa que vier depois de mim vai pegar um Brasil muito mais estruturado, muito mais preparado do que o Brasil que eu herdei. E eu estou convencido de que, quem quer que seja que ganhe as eleições para Presidente da República do Brasil, vai pegar um Brasil muito melhor e, portanto, pode fazer mais. E eu tenho a convicção, também, de que será a minha candidata que vai ganhar as eleições.

Jornalista: Vossa Excelência tem a certeza de que ela vai ganhar. Mas o povo brasileiro que deu tanta popularidade, tantos votos, e Vossa Excelência continuou mais forte nas pesquisas, dará para uma mulher que teve problemas de saúde, Presidente? Essa senhora, ela não foi ainda experimentada no governo. Porque ele deu ao senhor o apoio, ele automaticamente transferirá esse apoio?

Presidente:
É o que falavam, é o que falavam de mim: “O Lula nunca governou, o Lula não tem experiência, o Lula não fala inglês, o Lula não tem diploma universitário”. Falaram isso de mim durante 12 anos, até que um dia o povo falou: “Deixa eu dar uma chance para esse brasileiro”. E me deu a chance e era o que eu precisava para provar que nós estávamos preparados para montar uma boa equipe e estávamos preparados para fazer uma boa governança no Brasil. Eu não utilizo muito a palavra “governar”; eu utilizo a palavra “cuidar”. O que nós estamos fazendo é cuidar do nosso país com muito carinho, e nesse aspecto eu acho que a mulher é vítima de preconceito no Brasil e no mundo, não é? Ainda há muito preconceito contra a mulher, mas eu acho que a ministra Dilma, ela já venceu muitos dos preconceitos; a doença dela não existe mais – graças a Deus, descobriu no começo e resolveu o problema – e ela está, eu diria, do ponto de vista intelectual, do ponto de vista gerencial, do ponto de vista administrativo, ela está perfeita para governar o Brasil. E eu acho que ela é a grande possibilidade que nós temos de dar continuidade. Não é que eu tenha certeza que ela vai ser eleita porque, primeiro, eu tenho que respeitar a vontade do povo brasileiro no dia das eleições. Eu tenho a convicção de que ela, pelo fato de ter melhores condições de governar o Brasil, pelo fato de ela ter melhores condições de dar continuidade ao que nós estamos fazendo, ela tem mais chances de ganhar as eleições.

Jornalista: Senhor Presidente, apesar dessa grande aceitação e desse grande sucesso do Brasil, graças à sua popularidade e esforços de Vossa Excelência para que o Brasil tenha um papel fundamental e forte hoje, no cenário mundial, apesar dos escândalos de corrupção que atingiram o partido de Vossa Excelência, que o senhor pediu desculpas há um tempo atrás, isso não provocou o senhor que pode dificultar que alguém da esquerda tenha esse voto? O que o senhor garante para os brasileiros que esse partido que vai assumir o governo de novo não vai ter mais envolvimentos em novos escândalos?

Presidente:
A certeza que o povo brasileiro tem é que, nunca, na história do Brasil, um governo trabalhou tanto para apurar as denúncias de corrupção, como o nosso governo. Nunca.

Antigamente era fácil não aparecer muita corrupção no jornal, porque você ficava jogando ela embaixo do tapete.

Nós, simplesmente, duplicamos o número de policiais federais. Nós, simplesmente, duplicamos o orçamento do Ministério da Justiça para que a gente pudesse investir em inteligência, para que a gente pudesse investigar. Nós melhoramos e qualificamos a Controladoria-Geral da República [União] e 90% das denúncias são feitas pelo governo. É a Controladoria-Geral da República [União] que faz a investigação em cada ministério, em cada obra, que manda para o Tribunal de Contas e que manda para a Polícia Federal. Portanto, grande parte das denúncias de corrupção, são feitas por nós. E nós já prendemos muitos policiais, nós já prendemos muitos servidores públicos, e vamos continuar fazendo.

Porque eu tenho 64 anos, eu não acho que a gente vai conseguir acabar com a corrupção na Humanidade mas, eu acho que a gente pode diminuir barbaramente, em um país como o Brasil, se a gente continuar com a seriedade que nós estamos trabalhando o combate à corrupção. E eu acho que o povo, o povo tem... veja, qualquer pesquisa de opinião pública feita no Brasil, hoje, quando se pergunta qual é o partido de maior credibilidade do povo brasileiro, o PT aparece em primeiro lugar com 32%, o segundo colocado tem apenas 8%. Porque o PT não são os deputados, o PT não é o presidente da República, o PT são milhões de Lulas, milhões de pessoas que representam os deputados, que estão na periferia deste país, no movimento sindical, no movimento social. Nos mais longínquos e distantes locais deste país, você encontra o cidadão comum, você pode ver que ele tem simpatia pelo PT. É isso que vai ganhar as eleições. Além do que, nós fizemos uma aliança muito forte com outros partidos políticos para garantir não só uma maioria de votos, mas garantir a governabilidade ao chegarmos ao governo.

Jornalista: Ok. Se eu fosse brasileiro, eu já teria votado no PT, com certeza, Presidente.

Presidente:
Olha, eu vou lhe contar uma coisa: eu penso que a maioria do povo árabe no Brasil, e não são poucos, são quase 10 milhões de árabes e descendentes que moram no Brasil, a grande maioria em São Paulo, e eu acho que tem uma grande maioria que tem simpatia pelo PT.

Jornalista: Senhor Presidente, saber a verdade e aqueles que foram os desaparecidos, a investigação sobre os desaparecidos que sofreram (incompreensível) em 64. Precisaria ter aberto essas feridas? Para que o senhor reabriu isso? Por quê? Por que somente o Ministro da Defesa e os militares eram contra?

Presidente:
Não, veja, o problema não é de ser contra ou ser a favor. O problema é de você poder garantir que este país tenha a sua história contada da forma mais verdadeira possível. Ninguém quer fazer caça às bruxas, ninguém quer ficar remoendo o passado. Agora, é muito difícil você querer que uma mãe que perdeu um filho e que não sabe onde ele está, não queira encontrar o corpo do seu filho para enterrar.

Então, é por isso que nós estamos propondo a Comissão da Verdade, que vai ser aprovada pelo Congresso Nacional, da forma mais democrática possível. Nós não queremos mexer na Lei da Anistia, ela foi aprovada por consenso, no Congresso Nacional. O que nós queremos apenas é contar ao Brasil o que aconteceu, da forma mais verdadeira possível. Ou seja, ninguém, efetivamente, tem que ter medo da Comissão da Verdade, ninguém tem que ter medo da verdadeira história. Quem errou, pagou. É assim que a gente consolida a democracia no país. E eu não quero morrer em um país que a sua história tenha sido contada pela metade, eu quero que a história seja contada com o seu todo, e é isso que nós estamos tentando fazer. E, só para você ter ideia, quem está coordenando a investigação de corpos no Araguaia é o Exército Brasileiro. Porque também, veja, não foi a instituição que cometeu um erro. O erro foi cometido por pessoas que pertencem à instituição. Ora, se um ministro meu comete um erro, não é o governo que cometeu o erro, é aquele ministro e, portanto, ele tem que pagar.

Então, eu acho que a democracia, ela exige que a gente tenha abertura de cabeça, abertura de alma, que a gente conviva com coisas que a gente não gosta, sabe? Mas é a democracia, graças a Deus, ela existe.

Jornalista: Parece que o senhor tem fé em Deus. Por quê?

Presidente:
Ora, por quê? Primeiro, porque eu sou um cidadão que tem obrigação de acreditar em Deus. Eu, cada vez que olho para o céu e vejo aquele monte de estrelas, aquele monte de planetas e vejo a Terra uma bolinha deste tamanho, sabe, ser um... é o único lugar até agora que provou que tem inteligência, como nós conhecemos a inteligência. Eu fico imaginando, é no mínimo uma loucura. Tem que ter alguém superior que fez isso. Quando eu chego à Presidência da República, saído de onde eu saí, viver no mundo que eu vivi, chegar à Presidência da República, eu tenho que entender que há o dedinho de Deus ali, eu tenho que entender. E por isso eu sou grato e agradeço todos os dias.

Jornalista: Senhor Presidente, segundo a revista Economist, o senhor é o pragmático entre Bush e entre Chávez. O senhor não teve sucesso em intermediar entre o Bush e o Chávez. Hoje, o senhor acha que poderia intermediar entre Obama e Ahmadinejad?

Presidente:
Olha, nós intermediamos entre Chávez e Bush. E muito. Você está lembrado que no dia 21 de janeiro de 2003, eu propus a constituição do grupo dos amigos da Venezuela. E foi esse grupo dos amigos da Venezuela, do qual faziam parte os Estados Unidos e a Espanha - que foi o primeiro signatário que reconheceu o golpe - mais o Brasil, o Chile, que nós conseguimos fazer com que o processo eleitoral na Venezuela transcorresse normalmente. Eu acho que nós evitamos o pior na Venezuela. E eu tentei, várias vezes, estabelecer uma boa relação entre Estados Unidos e Venezuela.

Da mesma forma que eu já fiz o primeiro gesto com o presidente Obama, quando nós tivemos um encontro de toda a América Latina, lá em Trinidad e Tobago e que nós fizemos uma reunião da América do Sul com o Obama. O encontro do Obama com o Chávez foi muito cordial. Bem, a partir dali os dois deveriam ter tomado a iniciativa de fazer esse processo de paz, porque eu também não posso ficar, sabe, toda hora me metendo nos problemas dos outros. Eu tenho que cuidar do meu país. Mas eu acredito, eu acredito que as pessoas estão ficando inteligentes e as pessoas sabem que somente a paz é que vai garantir o desenvolvimento do nosso país.

Jornalista: Presidente, o senhor irá ao Irã agora, no mês que vem. É que tem uma amizade com o presidente iraniano. Qual seria a mensagem... É uma mensagem que o senhor está levando, está levando uma advertência ou o que o senhor quer dizer? Qual é a mensagem que o senhor está levando para Ahmadinejad, frente às armas nucleares?

Presidente:
Olha, primeiro, eu fico feliz porque o Presidente de Israel esteve em Damasco e esteve, me parece, que no Irã também, recentemente. E eu fui à Palestina, eu fui a Israel, o meu ministro Celso Amorim foi à Síria conversar com o Presidente sírio, e eu vou agora ao Irã, depois de receber o Shimon Perez no Brasil, depois de receber o presidente Abbas aqui no Brasil e depois de receber o Ahmadinejad aqui no Brasil. Eu vou lá agora. Eu vou lá agora porque eu acredito que a paz é a única coisa que pode garantir o desenvolvimento dos povos, que pode garantir o desenvolvimento e a melhoria de vida do povo humilde de cada país. E eu acho que a guerra não conduz a nada; a guerra conduz à destruição e eu sou um homem de paz. Como eu acredito que nós temos que ter argumento para mostrar ao mundo, com muita autoridade moral, aquilo que o Brasil fez. O Brasil é o único país do mundo que tem na sua Constituição a proibição de armas nucleares.

Então, o que nós queremos para o Irã é o mesmo que eu quero para o Brasil, e eu quero dizer ao presidente Ahmadinejad que ele deveria concordar com a proposta da Agência, que propôs para ele um determinado rito de enriquecimento de urânio, que eu acho que era mais importante, até que a gente possa continuar avançando no mundo diplomático.

Qual é a minha preocupação? A minha preocupação é que o bloqueio ou as sanções que a ONU quer impor - já que Líbano e Brasil fazem parte do Conselho de Segurança da ONU - não vai trazer nenhuma solução; vai apenas trazer radicalização.

Então, como eu acredito na política, como eu acredito no diálogo, eu vou ao Irã conversar com o presidente Ahmadinejad. Conversamos com o Primeiro-Ministro da Turquia, que está na mesma política nossa; conversamos com Israel; conversamos com os palestinos. Eu, sinceramente, de vez em quando me pergunto: quem quer a paz no Oriente Médio? Pois eu me pergunto. E eu acho que o povo quer a paz. Eu não sei se toda a classe política quer a paz, eu não sei se todos os grupos querem a paz, eu não sei se todos os países querem a paz. Eu sei que o povo quer.

Por isso, eu quero conversar com todos os interlocutores, porque também não pode ser primazia desse ou daquele país cuidar da paz. Se há 20, 30 ou 40 anos os interlocutores que estão negociando não conseguem a paz, eu acho que é preciso colocar mais interlocutores, colocar gente nova, colocar outros discursos, outras propostas para que a gente possa se colocar de acordo. É nisso que o Brasil acredita.

Nós participamos da primeira reunião de Annapolis, imaginávamos a segunda em Moscou, que já faz dois anos e não acontece.

Parece que tem gente que tem ciúmes que o Brasil esteja interessando em participar de conversas, porque entendemos que temos argumento, sobretudo pela harmonia em que vivem, no meu país, árabes e judeus. Este país é exemplo de convivência harmônica da comunidade árabe e da comunidade judaica. E esse exemplo eu quero levar para o mundo.

Jornalista: Sim. Eu vou para o break um minuto e, depois, vou passar, Presidente, para o assunto da economia brasileira e das relações líbano-brasileiras. Um intervalo.

Jornalista: Vamos retomar esse encontro especial com o presidente Lula, muito popular, muito atencioso, muito simpático e muito popular, grande popularidade. Eu gostaria muito que ele se candidatasse no Líbano que ele seria... com certeza, já teria ganho.

Presidente, na mesma questão do Oriente Médio, a gente quer passar para o assunto Brasil e Líbano. O senhor tem medo de uma operação israelense contra o Líbano se os desenvolvimentos forem dramáticos entre o Irã e o ocidente?


Presidente: Olha, eu penso que o Brasil aposta que não haverá mais qualquer ataque de Israel ao Líbano ou à Palestina, ou ao Irã, e nem do Irã a nenhum país. Veja, eu, na pergunta anterior, quando eu disse que o Brasil deseja para o Irã tudo aquilo que o Brasil quer para si é porque nós aceitamos o desenvolvimento da energia nuclear, o enriquecimento do urânio para fins pacíficos e nunca para a guerra. Eu acho que todo país tem direito a desenvolver energia nuclear, sobretudo quando nós precisamos despoluir o Planeta e a atmosfera, diminuindo a emissão de gás de efeito estufa.

Mas eu estou convencido de que nós precisamos encontrar um jeito de ver os dirigentes políticos entenderem que a paz é a única razão pela qual um país pode se desenvolver, pode investir na educação. O Líbano tem uma história extraordinária, o Líbano é símbolo de um país que viveu num regime democrático, era um país considerado a “Suíça” de todo o mundo árabe. Aí, de repente, o Líbano sofre guerra, sofre ataque, ou seja, destruído, depois é reconstruído, depois sofre novo ataque, ou seja, isso tem que parar. E isso passa por um acordo entre todos os países que têm conflito no Oriente Médio. Não cabe nem, agora, ficar procurando culpado. O que nós precisamos é dizer: “Chega, chega. Israel precisa de paz, a Palestina precisa de paz, o Líbano precisa de paz, o Irã precisa de paz”. Porque somente assim a gente vai desenvolver o Oriente Médio, somente assim os países vão ser ricos e vão poder fazer mais justiça social com seu povo.

Jornalista: Essas são as intenções, Presidente, esses são os desejos. Vossa Excelência acha que tem... vê uma possibilidade de negociações entre os árabes e os israelenses, que cheguem numa paz? O senhor vê isso?

Presidente:
Veja, tem uma proposta árabe muito interessante, que eu acho que todo mundo deveria se colocar de acordo. Todo mundo imaginava que o acordo iria ser consagrado, até que Israel começou a construir casas em territórios que eram tidos como territórios palestinos, e o conflito, então, ficou um pouco nervoso.

Os Estados Unidos estão empenhados em encontrar uma solução; o mundo árabe está empenhado em encontrar uma solução e o Brasil está trabalhando para tentar encontrar uma solução.

É por isso que o Brasil tem brigado para que a gente faça uma reforma no Conselho de Segurança da ONU. O Conselho de Segurança da ONU hoje representa, sobretudo os membros permanentes do Conselho de Segurança, representa a geografia política de 1948. Não representa a geografia política de 2010, ou seja, é preciso que a África esteja representada; é preciso que o Brasil esteja... O Brasil e outros países da América Latina. É preciso que a Índia esteja; é preciso que a Alemanha esteja; que o Japão esteja; que a África possa ter três representantes.

Jornalista: Os países em desenvolvimento.

Presidente:
Para que você tenha gente que possa representar, condignamente, a nova geopolítica do mundo.

Eu digo sempre o seguinte: foi a ONU que criou o Estado de Israel, portanto, a ONU tem que ter força para criar o Estado Palestino, e viver os dois, democraticamente, em paz, construir parcerias e se desenvolverem concomitantemente.

Jornalista: A gente vai voltar ao Líbano, Excelentíssimo Senhor Presidente. O que o senhor acha que os libaneses... Qual o papel que eles tiveram na política, na economia, nesse arranque, nesse avanço. O que os libaneses deram para o Brasil? Porque depois vou perguntar, daqui a pouco, o que o senhor... o que o Brasil poderá dar ao libaneses, hoje.

Presidente:
Os libaneses deram uma contribuição extraordinária para todo o crescimento do Brasil. A imigração libanesa para o Brasil tem 130 anos, ou seja, desde a viajem de D. Pedro, em 1876, que a partir daí começaram a vir libaneses para o Brasil, e por isso tem uma comunidade extraordinária.

Aqui muita gente pensa que McDonald’s é forte, mas no fundo o Habib’s deve ser muito mais forte do que o McDonald’s, porque vende mais barato uma comida de qualidade que é a comida árabe. E eu penso que em toda atividade econômica os libaneses deram uma contribuição extraordinária para o Brasil. Eu acho que é muito importante essa convivência que existe no Brasil. Uma relação de confiança, uma relação... Aqui no Brasil as pessoas se sentem em casa. É por isso que o ministro Celso Amorim foi retirar pessoas do ataque que o Líbano sofreu em 2008, fomos tirar lá os libaneses que estavam lá, os palestinos que estavam lá, as pessoas que queriam regressar ao Brasil. E eu acho que isso demonstra a solidariedade que o povo libanês tem com o Brasil e o carinho que o povo brasileiro e que o governo brasileiro têm com o povo libanês. Aqui nós vivemos em harmonia e somos agradecidos à contribuição. Se você puder sair de Brasília e ir à [rua] 25 de Março, em São Paulo, você vai perceber que você estará andando nas ruas de Beirute, de tanto libanês que existe.

Jornalista: E os libaneses votam no senhor?

Presidente:
Eu penso que muitos votam, que muitos votam.

Jornalista: Nós vamos encorajá-los a votar. Senhor Presidente, o que o Brasil poderá oferecer novamente aos libaneses e ao Líbano, que seja a parte de investimentos, investidores, investimento na energia, na água. Quer dizer, se o senhor viesse falar para a candidata que será eleita, o que o senhor diria a ela para ajudar o Líbano, nos próximos anos?

Presidente:
Vamos ver duas coisas importantes que aconteceram. Nós fizemos uma grande reunião América do Sul-Países Árabes aqui em Brasília e, depois, fizemos uma reunião América do Sul-Mundo Árabe, na Líbia. Por que é que nós estamos fazendo isso? Para que haja um processo de integração maior entre o Mundo Árabe, América do Sul e América Latina, para não ficar apenas no discurso de político. O Brasil é uma potência emergente e o Brasil pode ser, em 2016, a quinta economia do mundo. E o Líbano está colocado num lugar estratégico de entrada para o Oriente Médio.

Portanto, o Brasil pode contribuir muito com o desenvolvimento do Líbano. E o que é que nós temos que fazer? Nós temos que... Primeiro, os Presidentes precisam viajar mais; segundo, os empresários precisam viajar mais; terceiro, os nossos ministros precisam viajar também. A cada vez que vier um Presidente libanês no Brasil tem que trazer uma grande delegação de empresários, e a cada vez que for um brasileiro ao Líbano tem que levar uma forte delegação de empresários. Nós temos sete acordos em andamento e poderemos construir muito mais porque o Líbano é um país de um povo muito evoluído, muito desenvolvido, é um país que pode favorecer a entrada do Brasil no Mundo Árabe com muita facilidade. E, também nós temos muita proximidade cultural e muita coisa de língua. Tem muitos libaneses falando português no Líbano, tem muitos.

Então, cada vez que eu vou para lá, eu encontro um monte de patrícios, que moraram no Brasil, que me conheceram do Pará, que me conheceram do Rio de Janeiro. Então, é uma coisa fácil para o Brasil trabalhar. E eu acho que daqui para frente a tendência natural é evoluir.

Nós tivemos, no ano passado, uma exportação do Brasil de US$ 311 milhões. É importante lembrar que era menos, nós exportávamos US$ 52 milhões, passamos a exportar US$ 311 [milhões]. Mas nós precisamos importar do Líbano, para que haja um equilíbrio na balança comercial.

Só para você ter ideia, o fluxo comercial entre o Brasil e o Mundo Árabe pulou de 2 bilhões e 700 milhões em 2003 para 9 bilhões em 2009, ou seja, cresceu muito, cresceu muito. O fluxo entre o Brasil e o Mundo Árabe cresceu de R$ 2 para R$ 14 bilhões. Então, isso é uma demonstração de que nós temos um potencial muito maior, e nesse potencial o Líbano pode crescer muito.

Jornalista: Numa frase, senhor Presidente, como o senhor resumiria a política econômica que o senhor utilizou e fez do Brasil um dos países mais fortes? A equipe de trabalho com uma visão que é ter um equilíbrio entre os pobres e os ricos? Como Vossa Excelência conseguiu elevar este país para ser... Numa grande frase, numa frase só, o que o senhor diria?

Presidente:
Olha, seriedade. Seriedade porque, em economia, não existe mágica.

Jornalista: O senhor crê ou tem medo desse crescimento muito grande que o Brasil está vivendo, dá medo? Acha que um outro presidente, o Brasil pode... isso degringolar ou recair? O senhor é otimista na decolagem, na arrancada aí, que o Brasil vai continuar nessa arrancada?

Presidente:
Olhe, eu trabalho, eu trabalho com a hipótese de que o Brasil cresça durante vários anos, vários anos, que possa crescer entre os 5 e 6%, não precisa crescer 20%, crescer 5 ou 6% durante vários anos, para que a gente possa consolidar uma distribuição de renda junto à camada mais pobre da população, para que a gente possa terminar os investimentos que estamos fazendo no processo educacional do Brasil e para que a gente possa fazer com que melhore o poder aquisitivo das camadas mais pobres da população.

Se o Brasil crescer, como eu estou pensando, durante alguns anos seguidos, o Brasil, em 2016, poderá ser a 5ª economia do mundo, e o Brasil estará entre as principais nações ricas do mundo. Nós temos potencial para isso, temos conhecimento intelectual, temos investimento em pesquisa, temos gente qualificada para trabalhar, temos riquezas minerais como ninguém tem, temos um potencial agrícola que poucos países do mundo têm e, portanto, está tudo a favor do Brasil, basta que o governo seja sério e que a gente não utilize do mandato para fazer política para si próprio, mas governando para o povo. Aí eu acho que o Brasil vai se transformar nessa grande economia que é o meu sonho.

Jornalista: Senhor Presidente, se a política comercial do Brasil fez dele um país rico, o país está mais poderoso, ou Vossa Excelência pretende que o Brasil seja mais poderoso ainda?

Presidente:
Olha, eu acho que o Brasil tem um potencial maior porque nós, agora, encontramos muito petróleo na camada pré-sal. É muito petróleo mesmo! Então, eu penso que esse petróleo vai ser a segunda independência do Brasil. Mas, além do petróleo, nós fizemos um investimento muito grande em ciência e tecnologia. O Brasil já passou a Rússia e a Holanda em publicações em revistas especializadas na área de tecnologia. Isso é um sinal extraordinário. E também nós fizemos uma nova lei do petróleo, em que uma boa parte do dinheiro do petróleo vai para um Fundo, do povo brasileiro, para que a gente possa investir em educação, ciência e tecnologia, saúde e na preservação ambiental. São temas que nós achamos que, se aplicar o dinheiro do pré-sal, nós estaremos garantindo que o Brasil dê um salto de qualidade enquanto potência mundial.

Jornalista: Mas, presidente Lula, esse gigante que é o Brasil hoje está uma força imperialista, por causa das crises comerciais que aconteceram com a Argentina, com a Bolívia, com o Equador. Não tem que coordenar entre o trabalho comercial e a boa vizinhança?

Presidente:
O Brasil não tem vocação imperialista. O Brasil tem uma vocação de construir parceria nas suas relações bilaterais e nas suas relações internacionais. Nós acreditamos no funcionamento das instituições multilaterais e, por isso, eu digo sempre que não adianta o Brasil crescer se os países vizinhos não crescerem. É preciso que a gente cresça junto. É preciso que cresça o Brasil, mas cresça Argentina, Uruguai, Paraguai, Venezuela, Bolívia, Colômbia, Peru, Equador, Chile. Todos crescendo, todos terão o que distribuir para o seu povo. É assim que nós trabalhamos e é por isso que o Brasil tem um forte investimento em infraestrutura em toda a América do Sul, porque nós queremos fazer um processo de integração com rodovias, ferrovias, telecomunicações, energia, para que a gente possa ser um continente forte e um continente rico.

Jornalista: Senhor Presidente, o senhor pediu para os países desenvolvidos para criarem um regime novo mais equilibrado, justo e seguro. Isso é uma coordenação que fez os Estados Unidos pela política e pela economia? E por onde que se vai começar, por esse novo regime mundial econômico?

Presidente:
Olhe, quando foi feita a primeira reunião do G-20, todos os países estavam de acordo de que era preciso discutir uma nova ordem econômica mundial, de que era preciso controlar o sistema financeiro, de que era preciso acabar com os paraísos fiscais, de que era preciso fazer um certo ordenamento na política cambial, para que todos os países pudessem ter um certo equilíbrio, que a gente defendesse a liberdade de um livre comércio de verdade, que a gente mudasse a forma de ser do FMI e do Banco Mundial, com uma nova organização, com mais países participando.

Tudo isso ainda não aconteceu. O meu ministro estará participando, nesses próximos dias, da reunião do G-20 financeiro, e eu estarei no Canadá para discutir a reunião do G-20 política. E aí é que nós vamos fazer um balanço: o que aconteceu, efetivamente? O Brasil fez a lição de casa, o Brasil praticou o livre comércio, por isso é que a economia brasileira cresceu, porque, ao invés de fechar a economia, nós abrimos crédito. Os bancos públicos brasileiros têm uma importância muito grande no financiamento de casa, no financiamento de carro, no financiamento de empresa.

Agora, pelo que eu estou vendo, na Europa e nos Estados Unidos, parece que as coisas ainda não estão muito bem resolvidas. Aqui no Brasil, no ano passado que foi o pior ano da crise, nós criamos quase 1 milhão de novos empregos no Brasil e este ano vamos criar mais de 2 milhões. No primeiro trimestre criamos 607 mil novos postos de trabalho, formais, numa demonstração de que quem trabalhou colheu, quem não trabalhou não está colhendo.

Jornalista: Senhor Presidente, Sua Excelência deixa o governo dentro de alguns meses e o crime continua e não mudou a imagem do crime. Tem algum plano, alguma estratégia para reduzir a criminalidade no Brasil?

Presidente:
Olha, veja, esse é um processo, esse é um processo. É um processo de longo prazo, é uma coisa que o governo federal tem trabalhado de forma extraordinária. Nós criamos um programa de investimento de R$ 6 bilhões na ajuda aos governos estaduais, para melhorar a polícia, criamos o Bolsa Formação para formar melhor os policiais, criamos o Pronasci para que a polícia aja dentro da comunidade, criamos as Mães de Paz, que são grupos de mães que nós pagamos um salário para conversarem com os jovens que estão correndo o risco de cair na deliquência. Agora, tudo isso é um processo. Na medida em que o Brasil vá se desenvolvendo, na medida em que a gente vá gerando distribuição de renda, na medida em a gente vai formando profissionalmente as pessoas, na medida em que tenha mais oferta de vaga na universidade, nós vamos diminuindo a violência no nosso país. E eu espero que o Brasil possa, nos próximos anos, viver um momento de paz e tranquilidade porque nós somos um povo ordeiro, um povo trabalhador e um povo que quer progredir, porque nós perdemos o século XX e não queremos perder o século XXI.

Jornalista: Senhor Presidente, Vossa Excelência acha que os princípios da liberdade, de ajuda aos pobres, combate à fome, merecem a admiração, em pleno século XXI, merecem esforço, merecem que se trabalhe por isso?

Presidente:
Olhe, primeiro, eu estou muito orgulhoso porque certamente o Brasil vai cumprir todas as Metas do Milênio determinadas pela ONU. Isso, para mim, é motivo de orgulho.

Segundo, porque o que nós estamos fazendo poderia ter sido feito 50 anos atrás. Veja, veja uma coisa interessante: em cem anos, a elite brasileira fez apenas 140 escolas técnicas profissionais. Eu, em oito anos, vou fazer 214, em oito anos, eu vou fazer uma vez e meia o que eles fizeram em um século. Nós estamos fazendo 14 universidades novas. Nós criamos um programa chamado ProUni, que já colocou na universidade, este ano, 726 mil alunos pobres da periferia, fazendo universidade. Nós já fizemos 105 extensões universitárias. Portanto, o Brasil nunca teve a quantidade de jovens com perspectiva de estudar e de se formar como está tendo agora. É por isso que eu acredito que a próxima geração será altamente mais qualificada do que a minha geração. E isso me deixa muito feliz porque significa que o Brasil encontrou o seu caminho e acho que o povo brasileiro merece o que está acontecendo no Brasil.

Jornalista: Excelentíssimo Senhor Presidente, em breve o senhor deixa o governo. O que ganhou, o que aprendeu, com a experiência no governo, em governar?

Presidente:
Olha, eu penso que eu tinha aprendido muito, perdendo três eleições. Aprendi muito com as minhas derrotas e aqui no governo eu consegui o meu doutorado porque o que eu aprendi aqui no governo vai me permitir poder, não só ajudar outras pessoas, mas eu quero viajar para o continente africano, eu quero viajar a América Latina – os países mais pobres –, tentando colocar a nossa experiência, o sucesso da economia brasileira, para que outros países sigam um caminho parecido.

Veja, porque muitas vezes os dirigentes ficam discutindo que não têm dinheiro, mas o problema não é só dinheiro. O problema é o seguinte: o pouco dinheiro que você tem, como é que você distribui ele de forma justa? Como é que você faz com que esse dinheiro chegue na mão de todos? Quando eu criei o Bolsa Família, no Brasil, a elite brasileira dizia que era esmola. Quando veio a crise econômica, quem sustentou o Brasil foi o povo pobre que consumiu mais do que a classe A e B. A classe D e E consumiu mais do que a classe A e B. Enquanto os mais ricos se acovardaram, o povo pobre foi ao shopping e segurou a economia brasileira.

Jornalista: Excelentíssimo Senhor Presidente, o que o senhor vai fazer depois de deixar o governo? Vai se aposentar, vai sonhar, vai escrever, vai apresentar palestras como uma pessoa pobre que vira Presidente?

Presidente:
Olhe, eu não sei o que vou fazer. Uma coisa eu digo para você que eu gostaria de fazer: visitar o Líbano sem ser presidente da República, para conhecer o Líbano sem o aparato de seguranças, poder conhecer todas as cidades, comer um bom charuto, comer um bom quibe, quem sabe eu faça isso.

Mas eu pretendo dedicar um pouco do meu aprendizado para ver se eu presto um serviço à África. É só sonho, por enquanto, eu não tenho nada construído, mas eu, por exemplo, sonho em pegar um ônibus, num país africano e atravessar a África de ônibus, conversando com as pessoas e conversando com os governantes. Vamos ver se há condições de fazer isso.

Quando eu terminar o mandato, eu já estarei com 65 anos, e quando a gente vai ficando depois dos 60, cada ano vai diminuindo um pouco o ímpeto de a gente fazer as coisas, porque a idade vai pesando. Mas eu me considero ainda, eu diria, com muita energia para fazer muita coisa, eu sou um político por natureza, não vou parar de fazer política. A única coisa que eu não quero é ficar dando palpite no próximo governo aqui, no Brasil. Quem ganhou vai governar e eu vou cuidar de outras coisas.

Jornalista: O senhor não vai ser um orientador à próxima presidente?

Presidente:
Não. Olha, rei morto, rei posto. Não existem bons exemplos na história de um ex-presidente ficar dando palpite na vida do novo presidente. Não dá certo.

Jornalista: Senhor Presidente, pela chegada ao governo... O seu grupo está me pedindo para encerrar a entrevista, mas eu tenho mais duas perguntas, as duas últimas perguntas. Através de chegar ao poder, o senhor está explicando para qualquer pessoa pobre e simples do Brasil, está dizendo para ela: você pode chegar, se você for lutador, se você tiver (incompreensível), se você tiver... A chegada incorpora esse sonho no brasileiro? O senhor está dizendo isso para qualquer jovem brasileiro?

Presidente:
Eu acho, eu acho... Esse é o grande legado e é esse o discurso que eu tenho feito para os trabalhadores e para a juventude brasileira. Eu, em 20 anos, eu, em 20 anos, criei uma Central de Trabalhadores, junto com os meus companheiros, criei o maior partido político de esquerda do mundo, hoje democrático, do mundo democrático, e cheguei à Presidência da República. É uma demonstração de que não existe limite para o ser humano se ele quiser, se ele for perseverante, se ele estiver disposto a brigar. Obviamente que precisa se preparar, precisa se preparar. Você precisa conhecer o que você quer fazer, você precisa ter segurança política, você precisa ter apoiadores muito fortes, você precisa ter equipe, porque o problema é de equipe. Se você tiver uma boa equipe, meu filho, você governa o mundo.

Jornalista: Os senhores estão prontos para os Jogos Olímpicos de 2016? E se faltar luz, igual aconteceu no passado?

Presidente:
Não. Tem poucos países do mundo com a garantia energética do Brasil. A gente não pode, não pode pegar um incidente ou um ato de irresponsabilidade e achar que isso é uma coisa eterna. O Brasil estará preparado para fazer o maior... os melhores... o melhor Jogo Olímpico de toda a história dos Jogos Olímpicos. Nós temos tradição, nós gostamos de futebol, nós gostamos de esporte, nós vamos fazer uma coisa espetacular, vamos fazer uma coisa de causar inveja a quem já fez Olimpíadas.

Jornalista: O senhor garante meus bilhetes para eu poder vir aqui assistir os Jogos, os meus bilhetes de avião para eu assistir os Jogos?

Presidente:
Poderá vir comigo.

Jornalista: Senhor Presidente, gostaríamos que o senhor olhasse para a câmera e falasse... que o senhor estivesse na última noite do governo, como o senhor se despediria, o que diria ao povo brasileiro, como sua última frase, o último dia no governo?

Presidente:
Olhe, eu digo para o povo brasileiro o seguinte: o meu maior orgulho, quando deixar a Presidência da República, ao descer a rampa do Palácio do Planalto, [será] chamar todas as pessoas que estarão lá de companheiros, porque eu tenho consciência de que eu vou voltar para onde eu saí, tenho consciência de quem são os meus amigos verdadeiros, quem são os meus amigos do mandato – se bem que alguns do mandato se tornaram amigos verdadeiros –, mas eu sei onde está o meu mundo. Então, eu quero... Esse é o maior legado meu, é poder encontrar um companheiro e falar “boa tarde” ou “boa noite, companheiro”, e ser tratado como um companheiro. E eu acho que eu vou conseguir isso porque eu não perdi a minha relação com os meus companheiros.

Jornalista: Por que o senhor ficou com os olhos lacrimejantes?

Presidente:
Porque é sempre uma coisa, é sempre uma coisa difícil. Eu sei o quanto nós sofremos para chegar à Presidência da República, eu sei o quanto nós fomos atacados, eu sei, depois, o quanto as pessoas mentiram a respeito do nosso governo – tinha gente que pensava que a gente tinha acabado com a política – e nós vamos chegar ao final do governo com uma performance, eu diria, inusitada na história política deste governo e do país. E, portanto, isso me dá muito orgulho, me dá muito orgulho. Eu, se não fizer mais nada, se eu morresse agora, o povo brasileiro teria aprendido uma lição. Sabe aquela frase do Obama: “Nós podemos”? Aquela frase é do povo brasileiro. Nós podemos. E quando o povo quer, o povo pode fazer muito mais. E eu acho que eu sou apenas isso, eu sou a cara do que é possível um cidadão, que acredita na luta, fazer.

Jornalista: Senhor Presidente, essa é uma grande honra para mim, eu poder entrevistar um grande presidente do nível que o senhor está. Onde o senhor anda e onde ande o Brasil, por onde ande todos falam do senhor de uma forma positiva. Isso é muito raro, de tanta popularidade ao redor de um presidente. Eu acho que a humanidade necessita de pessoas como o senhor, os pobres do mundo necessitam de uma pessoa como Vossa Excelência. E nós estamos ao lado do senhor, dentro das possibilidades, na mídia, para a gente ver a próxima missão, se é na África ou como é que o senhor vai ajudar os pobres e o povo. Muito obrigado, mais uma vez, pelo senhor ter dado essa entrevista a nós. Muito obrigado a toda a sua equipe. Muito obrigado aos nossos. Esperamos pela tradução, (incompreensível) pela produção e muito obrigado.

Presidente:
Deixa eu dizer uma coisa para você. Eu tenho em conta que quando um país ou uma liderança começa a crescer em importância política, também começa a arrumar adversários inimigos. Nem todo mundo gosta que eu vá ao Irã, nem todo mundo gosta que eu mantenha uma relação com Israel e com os palestinos, porque há 50 anos tem gente que pensa que é dono da construção dessa relação. Como eu sou um político que vim da minha origem, lá de baixo, eu aprendi a fazer política negociando, eu acredito que os negociadores estão conversando pouco. Normalmente, um presidente não conversa, ele manda um terceiro escalão, um quarto escalão, um quinto escalão quando, na verdade, tem que conversar no olho. Política é química, política é pegar na mão, política é olhar no olho.

Então, o Obama, o Sarkozy, a Angela Merkel, todos esses políticos de países importantes deveriam chamar o Irã para conversar, no olho, e perguntar cara a cara o que ele quer, não pode ficar com terceiro escalão ou quarto escalão conversando. Eu aprendi a fazer política olhando no olho. É no olho que você compreende se a pessoa está dizendo a verdade ou não. E é por isso que eu gosto de fazer política, sim, e é por isso que eu construí muitos amigos.

Jornalista: Podemos ter esperança pela missão do senhor?

Presidente:
Eu tenho, e muita esperança.

Jornalista: E nós todos também temos grande esperança no senhor.

Presidente:
Obrigado.

Jornalista: Muito obrigado, senhor Presidente.

FONTE: publicado no site www.pt.org.br.

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