domingo, 27 de junho de 2010
MÍSSIL AR-AR BRASILEIRO/SUL-AFRICANO
PROTÓTIPO DO MÍSSIL A-DARTER ENTRA EM FASE DE TESTE DE VÔO
BRASIL E ÁFRICA DO SUL ESTÃO INVESTINDO US$ 130 MILHÕES NO PROJETO
"O novo míssil A-Darter, que está sendo desenvolvido em cooperação entre as Forças Aéreas do Brasil e da África do Sul e envolve a participação de empresas dos dois países, entrou na fase de ensaios em voo dos protótipos. Os testes acontecem no Campo de Provas de Overberg, na África do Sul. O início da produção está previsto para 2013 e poderá ser feito em ambos os países.
O investimento conjunto para o desenvolvimento do projeto, segundo a FAB, é de US$ 130 milhões, sendo US$ 53 milhões do Brasil. O governo brasileiro investirá ainda na capacitação da indústria nacional e em transferência de tecnologia, algo em torno de US$ 109 milhões. Os recursos são financiados em parte pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
Desde 2007, uma equipe de 19 militares da FAB, entre engenheiros das áreas de sistemas, Aeronáutica, mecânica e eletrônica, permanece na África do Sul para participar do programa. Outros 27 profissionais brasileiros das empresas Mectron, Avibrás e Opto Eletrônica também participam do projeto, que está sendo desenvolvido nas instalações da empresa sul-africana Denel Dynamics.
O A-Darter é um míssil de combate ar-ar de quinta geração e curto alcance, que será integrado aos caças F-5 da FAB e nos futuros caças do programa F-X2. O míssil também já está sendo testado nos novos caças Gripen da SAAF (South African Air Force). A SAAF comprou 26 Gripen, sendo que 15 já foram entregues. A previsão da FAB é de que o A-Darter esteja pronto para iniciar sua operação em 2014. O míssil será co-produzido no Brasil pela Mectron.
O presidente da Avibrás, Sami Hassuani, disse que existe a estimativa inicial de exportação entre 100 e 200 unidades do míssil, que tem como competidores equipamentos similares dos EUA, Rússia e Israel.
Para Hassuani, o programa A-Darter é uma oportunidade das indústrias brasileiras desenvolverem tecnologia de quinta geração nessa área e de tornarem-se independentes, pois trata-se de segmento sujeito a permanentes embargos por parte dos países detentores da tecnologia de mísseis.
De acordo com apresentação feita pelo Ministério da Defesa, no fim de 2009, sobre Programas Mobilizadores em Áreas Estratégicas, no contexto da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) do governo federal, o projeto tinha concluído 75% do seu desenvolvimento, incluindo os protótipos, lote piloto e a sua certificação. A próxima etapa seria a industrialização do míssil, que terá uma versão brasileira, mas intercambiável com o equipamento produzido na África do Sul.
A primeira fase de desenvolvimento do míssil pelo Brasil incluiu a absorção de tecnologia até chegar ao nível dos sul-africanos, que já estavam mais à frente no desenvolvimento do projeto. A fase seguinte, que já foi iniciada, consiste na reprodução dos sistemas do míssil no Brasil e na adequação industrial do projeto para o desenvolvimento de uma versão brasileira, adaptada às necessidades da FAB.
"O programa do A-Darter é semelhante ao AMX (desenvolvimento de um caça entre Brasil e Itália, com a participação das empresas italianas Alenia e Aermacchi e da Embraer). A diferença é que no A-Darter os dois países terão autonomia para fazer o míssil completo", explica o presidente da Avibrás. A empresa é a responsável pelo desenvolvimento do motor do míssil.
Segundo a Aeronáutica, a principal vantagem do projeto A-Darter para as empresas brasileiras é que ele dá a chance de elas participarem do mercado mundial de exportação de um produto restrito e de alta tecnologia. "Abre-se ao parque industrial brasileiro a chance de vender produtos comparáveis aos disponíveis nos países desenvolvidos e que permanece inacessível à maioria das Forças Armadas do mundo".
Com o programa do míssil, segundo a FAB, o Brasil terá ainda ganhos de conhecimento em tecnologias de detecção infravermelho, redes neurais no apoio à decisão, simulação de ambientes dinâmicos, óptica de alta precisão, controle e navegação, entre outras.
"As empresas nacionais são responsáveis pela reprodução de subsistemas do míssil e para isso têm acesso aos dados do projeto e recebem capacitação para serem fornecedoras", informou a FAB.
PROJETO ABRE OPORTUNIDADES PARA BRASILEIRAS ABSORVEREM TECNOLOGIA
A Opto Eletrônica, especializada em optrônica de precisão, é responsável pelo desenvolvimento do sistema seeker (cabeça de busca infravermelha) do A-Darter, que funciona como olho do míssil. O sistema foi testado no início do ano e, segundo especialistas que acompanham o projeto, seu desempenho foi acima do esperado.
"Assim como a Denel Dynamics, estamos trabalhando no desenvolvimento de uma solução tecnológica autônoma, de forma que o Brasil não dependa de componentes estrangeiros para produzir seu míssil", diz o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento e um dos fundadores da Opto Eletrônica, Mário Stefani.
No Brasil, 25 técnicos e engenheiros da Opto Eletrônica trabalham no projeto do A-Darter e outros quatro estão envolvidos com o programa binacional na África do Sul. Stefani destaca que o custo de desenvolvimento do míssil representa um terço dos custos históricos de programas similares em outros países.
Para a empresa, segundo ele, a parceria com a Denel Dynamics é mais ampla e vai além do míssil A-Darter. "Fornecemos peças para outros projetos da Denel."
A experiência da Opto Eletrônica na área de mísseis começou com o fornecimento de lentes, espelhos e espoleta de proximidade para o míssil MAA-1 Piranha, MAA-1B (mísseis ar-ar, de quarta geração) e do míssil anti-radiação MAR-1, produzidos pela Mectron e que hoje equipam os aviões da Força Aérea Brasileira (FAB). A Opto Eletrônica também fornece sistemas para o míssil antitanque MSS 1.2, vendido para o Exército e Marinha do Brasil.
Criada em 2004, a divisão aeroespacial e de defesa da Opto Eletrônica respondeu por 40% da receita da empresa no ano passado.
A Opto Eletrônica também atua no programa espacial brasileiro, com o fornecimento de câmeras imageadoras de média e alta resolução para o satélite CBERS, de observação da Terra, que o Brasil desenvolve em parceria com a China.”
FONTE: reportagem de Virgínia Silveira publicada no jornal Valor Econômico" e no site “DefesaNet”.
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