"A Embraer decide até o fim deste ano se faz a remotorização do jato 195, que comporta até 122 passageiros, ou se parte para o desenvolvimento de um avião de maior porte, de 130 assentos, disse ontem o vice-presidente para o Mercado de Aviação Comercial da empresa, Paulo César de Souza e Silva. O executivo informou ainda que a empresa não tem planos de fazer um avião de 150 lugares. "O estudo prevê um jato de 130 lugares com duas classes, mas que numa configuração de classe econômica poderia comportar entre 138 e 140 passageiros", comentou.
A empresa também avaliou a possibilidade de lançar uma versão alongada do 195, batizada de 195X, mas não levou adiante o projeto, porque potenciais operadores manifestaram a preocupação de que haveria uma redução importante no alcance da aeronave. "Alongar o 195 implicaria em perda de performance e, neste caso, um novo motor seria mais adequado para aumentar a eficiência da aeronave", explicou o vice-presidente da Embraer.
A Embraer descartou ainda o desenvolvimento de um novo avião turboélice, mas confirmou que tenha feito um estudo sobre esse mercado nos últimos anos. "Esse mercado não é muito grande e as duas empresas que atuam nesse segmento - a ATR e a Bombardier - já suprem bem a demanda. Decidimos continuar concentrando nossos esforços nos E-Jets". A Embraer foi líder no segmento de aeronaves turboélice na década de 80 com o modelo Brasília. A empresa produziu e vendeu mais de 350 unidades do modelo e, atualmente, cerca de 200 aviões ainda estão em operação no mundo.
Para o analista de Transportes do Santander, Caio Dias, a Embraer já estuda desenvolver um produto mais eficiente operacionalmente para fazer frente à concorrência no mercado, representada principalmente pelos novos aviões CSeries da Bombardier e os MRJ da Mitsubishi. "A opção da remotorização da sua família de E-Jets é a mais provável no momento, porque representa um custo mais baixo e pode ser colocada no mercado num prazo menor e a tempo da empresa conseguir desenvolver um novo avião", opina o analista. Além disso, segundo o analista, a família de jatos Embraer 170/190 ainda tem uma aceitação muito grande no mercado mundial e os anúncios de vendas da empresa na feira de Farnborough foi uma prova incontestável de que o interesse pelas aeronaves permanece.
Em teleconferência feita para analistas que acompanham a empresa, em março deste ano, o presidente da Embraer, Frederico Fleury Curado, disse que a companhia não ficaria alheia à chegada de motores mais eficientes e que ofereçam economia de combustível. "Nossos E-Jets são novos, mas não podemos ficar indiferentes à disponibilidade de motores mais econômicos", afirmou. O executivo admitiu que estaria conversando com fabricantes de motores e que a remotorização seria uma coisa certa para se manter a liderança no segmento de até 120 assentos. Em entrevista concedida anteriormente ao Valor, o vice-presidente financeiro e de relações com investidores da Embraer, Luiz Carlos Aguiar, disse que a empresa não iria copiar concorrentes, mas sim ouvir seus clientes atentamente. A partir daí, tentaria desenvolver um jato que vai agregar valor adicional ao que já está fazendo para eles.
Segundo uma fonte que atua no mercado de desenvolvimento aeronáutico, a Embraer precisa tomar decisões rápidas para evitar a perda de mercado. "A família 170/190 já tem 10 anos e qualquer ganho que os aviões incorporarem vão fazer muita diferença para o operador em termos de custos operacionais". A alternativa da remotorização, de acordo com a fonte, seria acompanhada de melhorias aerodinâmicas, o que traria como benefício um avião mais eficiente e com um custo de operação menor. "O desenvolvimento de um novo avião implicaria na construção de uma nova fuselagem, na utilização de materiais mais eficientes e em um novo motor", explicou.
O desenvolvimento de um novo jato, maior que o 195, segundo o especialista, demandaria um investimento mínimo de US$ 2 bilhões. Para o analista do Santander, a Embraer tem competência para colocar esse avião no mercado em um tempo recorde de quatro anos. A remotorização, por sua vez, custaria bem menos, entre US$ 800 milhões e US$ 1 bilhão. A concorrente Bombardier, segundo Dias, está investindo cerca de Us$ 2,5 bilhões no desenvolvimento dos seus novos jatos CSeries e a previsão é que entrem no mercado por volta de 2014."
FONTE: reportagem de Virgínia Silveira publicada no jornal “Valor”.
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