
Entrevista exclusiva concedida por escrito pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, ao jornal “O Estado do Paraná”, publicada em 02 de setembro de 2010
Jornalista: Apontado como uma das principais necessidades de Curitiba para receber a Copa do Mundo de 2014, o metrô de Curitiba ficou de fora das duas etapas do PAC. Por que essa obra não foi viabilizada a tempo? A estrutura da cidade não fica comprometida para atender às exigências da FIFA?
Presidente: Nós vamos investir na construção de metrôs, mas pensando na melhoria do transporte urbano para a mobilidade e o conforto da população ao longo do tempo e não apenas tendo em vista a Copa do Mundo. O PAC 2, por exemplo, prevê investimentos de R$ 18 bilhões para projetos de mobilidade urbana a serem executados a partir de 2011. A chamada pública para a apresentação formal de projetos está prevista para breve e algumas cidades, entre elas Curitiba, já manifestaram interesse à Secretaria Nacional de Mobilidade Urbana, do Ministério das Cidades. Ou seja, a cidade pode vir a contar com recursos previstos no PAC 2 para a construção do metrô. No PAC da Copa, não foram contemplados projetos de construção de metrôs, tendo em conta a sua complexidade e cronograma mais longo, que é incompatível com os prazos da Copa das Confederações (2013) e do Mundo (2014). Para o Mundial, especificamente, foram selecionados outros modais de transportes com cronogramas mais confortáveis, como a construção de linhas de BRT's (sigla, em inglês, para "Ônibus de Trânsito Rápido"), VLT's (Veículos Leves sobre Trilhos), monotrilhos, corredores de ônibus e obras viárias. Os recursos destinados às 12 cidades-sede, originários do FGTS, são de R$ 7,7 bilhões que, somados às contrapartidas dos estados e dos municípios, totalizam R$ 11,5 bilhões. No PAC 1, lançado em 2007, foram priorizados apenas projetos relativos à conclusão das obras de metrô que já estavam em execução através da CBTU e da TRENSURB,empresas vinculadas ao Ministério das Cidades. O volume de recursos destinados a esses projetos foi de R$ 3 bilhões.
Jornalista: Por que, apesar da grande virada que conseguiu no Brasil todo, a candidata Dilma Rousseff não conseguiu repetir esse desempenho no Sul do Brasil, onde até viu a diferença para o Serra aumentar?
Presidente: Até onde eu sei, as pesquisas mais recentes sinalizam para a vitória da candidata Dilma em todas as regiões, inclusive no Sul. Os resultados das pesquisas, embora importantes, são menos importantes que o voto na urna e devem ser avaliados com toda calma. A aceitação da candidatura da ex-ministra Dilma Rousseff vem crescendo em todos os estados do Brasil e isso a gente sente nas ruas, em contato com o povo. A empolgação é cada vez maior. Embora a evolução seja muito favorável a ela, a campanha não pode se acomodar de maneira nenhuma. É preciso muita atenção porque, como se diz por aí, o jogo só acaba quando termina.
Jornalista: A que o senhor atribui o fato de Osmar Dias ser o único candidato a governador da chapa com o PT que não vem crescendo nas pesquisas de intenção de voto junto com Dilma? Como virar o jogo também no Paraná?
Presidente: Volto a dizer: pesquisa não significa voto na urna. Quando estamos bem, temos que continuar trabalhando como se estivéssemos lá embaixo e quando estamos mal, temos que redobrar os esforços para reverter o quadro. Eu estou convencido de que o avanço da ex-ministra Dilma em todo o Brasil pode ajudar as candidaturas dos aliados nos estados, incluindo o Paraná, tanto de governadores quanto de parlamentares. Osmar Dias está perfeitamente afinado com o nosso projeto político, que sempre apontou para um forte crescimento econômico e geração de empregos, combinado com transferência de renda. E é esse projeto que a campanha eleitoral em todo o país, incluindo o Paraná, está referendando e consolidando. Tenho absoluta convicção de que Osmar Dias tem tudo para fazer um excelente governo no Paraná. Ele vem demonstrando há muito tempo sua integridade e capacidade de trabalho no exercício de vários cargos públicos que ocupou, tanto no Executivo quanto no Legislativo. Tem o meu apoio e é meu candidato.
Jornalista: O PT deixa clara a estratégia de eleger mais parlamentares neste ano. O senhor espera que, se eleita, Dilma tenha uma relação melhor com o Congresso que a que o senhor teve?
Presidente: É importante que os partidos aliados ao governo tenham grande representatividade no Congresso Nacional para que os projetos e a governabilidade caminhem da melhor forma possível. Procurei sempre estabelecer uma parceria com o Congresso, sobretudo em propostas que apontavam para melhoria do ambiente econômico e do bem-estar dos brasileiros. Desta forma, aprovamos projetos importantes, que mudaram definitivamente a vida de grande parte da população. Sofri alguns reveses, é verdade, entre os quais a derrubada da CPMF, com a retirada repentina de R$ 40 bilhões por ano do Orçamento, que prejudicou, sobretudo, o financiamento da Saúde. Foi uma coisa de tentar prejudicar o governo, mas que prejudicou, na verdade, a população mais carente, a que mais precisa de uma saúde de qualidade. Mesmo assim, conseguimos grandes vitórias, e o amplo apoio ao governo prova que houve avanços importantes para a população. Espero que Dilma, se eleita, consiga estabelecer uma relação melhor do Executivo com o Legislativo, que é tão importante para o país.
Jornalista: Qual é o futuro político do Lula, após oito anos na Presidência? Vai ser candidato novamente? A algum outro cargo? Vai voltar a presidir o PT? Vai participar diretamente do governo Dilma?
Presidente: O ritmo e a carga horária de trabalho de um Presidente da República são alucinantes. É claro que me preocupo com o que vou fazer quando deixar a Presidência, pois será uma vida completamente diferente dessa que estou vivendo desde 2003, e com a qual já estava habituado. Mas a minha preocupação principal no momento não é com o meu futuro pessoal, e sim com o presente e o futuro do nosso país. Quero continuar trabalhando e cobrando realizações dos meus auxiliares até o último segundo do meu mandato, pois para isso é que eu fui eleito presidente. Em relação ao futuro do país, estou empenhado na campanha da ex-ministra Dilma, pois será a garantia de que o nosso projeto político terá continuidade. Sobre o meu futuro pessoal, penso em trabalhar, através do PT e outros partidos, para finalmente aprovarmos a Reforma Política e a Reforma Tributária. Essas são questões mais afetas ao parlamento que à Presidência. Vou tentar também trabalhar com países africanos e sul-americanos que ainda lutam contra a extrema pobreza e a fome, levando a experiência bem-sucedida que tivemos nesses oito anos no Brasil. É preciso que esses países se tornem fortes do ponto de vista econômico e social e que sejam grandes parceiros do Brasil. Temos plena consciência de que não é preciso que outros países percam para que nós possamos ganhar. Nosso intercâmbio será mais intenso e lucrativo quando todos tiverem um bom nível de desenvolvimento econômico e social. Mas eu pretendo cuidar do meu futuro efetivamente quando tiver todo o tempo do mundo para planejar, ou seja, a partir do dia 1º de janeiro.”
FONTE: Blog do Planalto (http://blog.planalto.gov.br/preocupacao-nao-e-com-futuro-pessoal-mas-com-presente-e-futuro-do-pais/).
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