“Nunca a história registrou semelhante grau de coincidência, que chega quase à unanimidade da comunidade internacional, como a que se manifestou na Assembleia Geral da ONU de 26 de outubro, que rechaçou o bloqueio dos Estados Unidos contra Cuba.
Por Niko Schvarz*
Nunca um ato de política internacional recebeu repúdio semelhante da parte do mundo inteiro contra os culpados por este genocídio. Todos nos perguntamos como é possível que perduro ao longo de quase meio século esta violação brutal e descarada de todas as normas de convivência entre as nações, que carece de qualquer justificativa.
Parecia impossível bater o recorde registrado na votação do ano passado, que reuniu 187 votos contra 3 e duas abstenções. Logrou-se que Palau se somou às reiteradas abstenções de Micronesia e ilhas Marshall e deixou isolados os Estados e Unidos no voto contra a condenação do bloqueio. Ou seja, o agressor, que persiste no ato criminoso e seu “sócio em sociedade” (como diria Guillén), que está preso à potência imperial, que o arma até os dentes e sustenta sua política de agressão contra os palestinos, traduzida na mortífera agressão a Gaza, no ataque à Flotilha da Liberdade e na retomada das construções nos territórios palestinos de Cisjordânia e leste de Jerusalém.
As votações sobre o tema na ONU estão sendo realizadas sem interrupção desde 1992 e nesta última se chegou ao máximo de pronunciamentos contra o bloqueio, que crescem sem cessar ano a ano. O quadro das votações é sumamente ilustrativo e revela uma tendência sistemática. Começa em 1992, quando foram registrados 59 votos a favor da demanda cubana, 3 contra e 71 abstenções. As cifras respectivas no ano seguinte são 88 a favor, 4 contra e 57 abstenções e em 1994 mais de uma centena de países (101) votaram com Cuba, frente a 2 contra (as mesmas de sempre, EUA e Israel, pois isto nunca variou) e 48 abstenções. Os votos afirmativos foram crescendo sem trégua, às dezenas, as abstenções caíram, embora os votos negativos somavam sempre menos que os dedos da mão. Desde o início do milênio os votos afirmativos (pró-Cuba) somam, sucessivamente, 167, 167, 173, 179, 179, 183, 184, 185, 187 e, agora, 187. É uma prova de uma crescente tomada de consciência por parte do conjunto da comunidade internacional.
Cuba sustenta uma controvérsia com os países da União Europeia, que persistem em uma “posição comum” agressiva e contra toda lógica em relação à ilha caribenha. Com eles polemizou inclusive o chanceler cubano, Bruno Rodriguez Parrilla, em uma intervenção usando seu direito de réplica, além de um extraordinário discurso de fundo. Porém, na hora de votar a rejeição do bloqueio todos se somaram.
É um fato realmente inédito que sucessivos governos dos EUA tenham mantido esta política ao longo de mais de 48 anos (com a única exceção de Jimmy Carter), desde que John F. Kennedy, em 3 de fevereiro de 1962, deu a ordem presidencial que impôs o bloqueio total ao comércio de seu país com Cuba. Seu antecessor, o general Dwight Eisenhower, já havia adotado no final do seu segundo mandato medidas agressivas contra a recém-nascida revolução cubana.
Lyndon Jonson (que sucedeu Kennedy após seu assassinato) promulgou a Lei de Ajuste Cubano para favorecer a imigração ilega. Esta norma se manteve sob Richard Nixon e (depois do escândalo de Watergate) sob Gerald Ford. A única exceção, como já foi dito, foi de Jimmy Carter, em cujo governo suspendeu as restrições às viagens a Cuba e a algumas transações econômicas, revisou as regras para controle de ativos cubanos nos EUA, permitiu viagens tipo charter de barcos e aviões e emitiu licenças para operações de agências de viagem. Porém, tudo isto foi revertido pelo governo de Ronald Reagan, depois George Bush, pai, assinou a Lei Torricelli. Bill Clinton assinou a Lei Helms-Burton e ampliou o bloqueio a filiais estrangeiras de companhias estadunidenses. Bush filho intensificou as medidas contra Cuba ao grau máximo: vetou o projeto aprovado pelo Senado para levantar as restrições às viagens, aprovou o chamado Plano para uma Cuba livre, que reforça o bloqueio contra a Ilha, restringindo as viagens e elevando as multas. Já Obama, embora propondo medidas para eliminar restrições às viagens, ao envio de remessas e a licenças de telecomunicações, ratificou no ano passado a lei básica do bloqueio e reiterou o mesmo gesto neste ano.
Agora a comunidade internacional disse com voz forte que o bloqueio, um ato de genocídio e guerra econômica sem paralelo, deve cessar definitivamente e para sempre “
FONTE: escrito pelo jornalista Niko Schvarz. O artigo foi extraído do La República. Tradução e postagem do Vermelho (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=140376&id_secao=7).
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